Efeitos do materialismo
Vianna de Carvalho
Pode-se creditar ao materialismo a crescente estatística de suicídio, aborto, eutanásia e homicídio, quando estes não decorrem da loucura que se manifesta como epidemia nas várias partes do mundo hodierno.
Estes atos são filhos espúrios do egoísmo que encharca os sentimentos humanos com soberba e prepotência, quando o mesmo tem, ou supõe ter contrariados os seus interesses imediatistas, porque lhe faltam os objetivos superiores da vida, colocados apenas nas manifestações do corpo transitório, assim arrojando aqueles que lhes sofrem as constrições aos abismos de difícil curso liberativo.
Acreditando na vida somente do ponto de vista material, preconiza a morte como solução de quaisquer penosas situações que não se resolve por enfrentar.
Os problemas mais ásperos das ocorrências humanas são também transitórios e, quando o homem não se intimida, estabelecendo métodos de superação, adquire experiência que o credencia a tentames mais complexos cujos desafios vence.
O suicida, pelo cultivo da indiferença aos valores espirituais, supõe que morto o corpo, cessada a vida, tomando uma resolução simplista, de cujas consequências só através da dor e do arrependimento que o humilham e despertam, se prepara para recomeços mais penosos do que a situação que desfrutava e não soube aproveitar.
Tentam-se métodos para o suicídio sem dor, como se a manifestação dos sentidos fosse apenas causa e não efeito das agressões praticadas contra o espírito imortal.
A autodestruição do corpo não resolve as contingências da vida, que prossegue em outra dimensão, sendo, aliás, a física um símile imperfeito da espiritual.
A amargura que hoje propele à loucura, amanhã terá passado.
A desgraça de agora será mais tarde superada.
A solidão e o abandono ora sofridos estarão depois olvidados.
É necessário esperar, permanecer no campo de batalha, sem deserção, até a hora da vitória, da paz.
Quem aborta, buscando livrar-se de uma situação incômoda, mas que foi procurada — à exceção do estupro violento, quando a mulher esteve submetida a imperiosa provação — complica a sua e a oportunidade do reencarnante, incidindo em grave conjuntura que depois arrastará, penosamente.
O aborto provocado, que não objetiva salvar a vida da gestante, é sempre crime contra a humanidade, considerando-se que o feto não se pode defender da ação covarde de quem ergue a clava, em desespero ou frieza, para interromper-lhe o renascimento.
Nascem nesse ato infame, ou prosseguem, obsessões perigosas em que os ódios se sustentam mediante intercâmbio psíquico demorado e vampirismo alucinante.
O respeito pela vida em todas as suas expressões conduz a mente à manutenção do equilíbrio ante as leis do Cosmo.
Só o homem, dito civilizado, provoca o aborto objetivando a própria comodidade, apoiando-se em esquemas de conveniência pessoal, econômica e social, disfarce de que se utiliza para sustentar o próprio egoísmo que o atormenta e vence.
A eutanásia é a medida cruel para abreviar o sofrimento de quem dele necessita para equilibrar-se. perante a consciência divina.
Não sendo a dor um castigo de Deus, porém uma forma de recomposição de atitudes e dignificação de valores morais, cada período de sofrimento propicia elevação íntima a quem expunge, especialmente se preservando a serenidade e a resignação.
O sofrimento são as mãos modeladoras do progresso trabalhando quantos se fazem recalcitrantes ao amor.
As enfermidades de demorado período, as limitações confrangedoras, as patologias irreversíveis, são fenômenos propiciatórios da evolução, que não podem ser interrompidos em nome da piedade e do afeto, que escondem o egoísmo que se deseja desonerar das lutas e dos problemas que outrem, sofrendo, impõe.
Quando luz o amor no sentimento e a razão é lúcida, há um convite ao carinho e à assistência ao paciente, o devotamento e a solidariedade que se fazem processos de crescimento moral e espiritual daquele que se propõe ajudar e servir.
Outrossim, as conquistas da ciência cada dia debelam doenças antes incuráveis, resolvem situações que eram inconciliáveis, minoram dificuldades variadas, sendo, portanto, válido aguardar e confiar.
Como a vida é pujante em tudo e todos, tentar interrompê-la é ignorância da sua realidade, que não passa impunemente.
O homicídio remanesce do barbarismo, que acreditava na extinção do inimigo para acabar-lhe com a resistência.
Predominando o mais forte, muitas vezes, o homicida é um fraco que tomou a dianteira no gesto alucinado ou um covarde que, à traição, realizou o crime, ou o maníaco que surpreendeu a vítima desprevenida, sem que, em caso algum, consiga a destruição do ser em face da morte do corpo.
Morto o invólucro material ressumam e se agigantam as realidades íntimas que, negativas, se voltam contra o agente da sua desdita, em antagonismo feroz que toma vulto com o tempo em processo de torpe vingança.
Se alcançado pela justiça terrena, pode o delinquente ressarcir parte do crime perante a sociedade. nem sempre, porém, ante a própria consciência e a vítima que o espreita e aguarda.
Não há justificativa para matar jamais.
O ciclo biológico deve prosseguir inalterado até a sua natural interrupção, quando os agentes mantenedores do corpo cessam de guardar o equilíbrio e preservar as células.
Antepondo-se ao materialismo, o conhecimento espiritual dignifica a vida, dá-lhe direção e sentido, robustecendo o homem e elevando-o incessantemente.
Igualmente, é a grande terapia contra a loucura, impositivo dos resgates de vidas pretéritas que a criatura não conseguiu superar.
Na raiz dos casos de suicídio, aborto delituoso, eutanásia e homicídio há sempre uma psicopatologia que aturde o homem, levando-o à ruína descabida.
O Espiritismo, que é o lídimo equacionador dos problemas gerados pelo materialismo, significa, neste momento, a força intelecto-moral mais condicente com as necessidades humanas, enfrentando os graves conflitos geradores dos sofrimentos e pondo-lhes termo, em definitivo, por meio do esclarecimento e da experiência imortalista de que se faz portador para todos os homens.
Barcelona, Espanha, 26.10.1983.
- Para seguirmos corretamente o espiritismo, devemos submeter todas as mensagens mediúnicas ao crivo duplo de Kardec, sendo eles, a razão e a universalidade.
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