quinta-feira, 7 de julho de 2022

Estranha obsessão

Estranha obsessão

Martins Peralva


Via de regra, quando se fala em obsessão, ocorre-nos logo o seguinte conceito: Espírito ou Espíritos menos esclarecidos influenciando, prejudicialmente, a vida dos encarnados.

Quase ninguém, ou melhor, ninguém admite o lado inverso da realidade, isto é, o encarnado influenciando, prejudicialmente, o desencarnado.

Ninguém se lembra desse estranho e aparentemente paradoxal tipo de obsessão, em que os “vivos” do mundo envolvem os “mortos” na teia dos seus pensamentos desequilibrados e enfermiços, exercendo sobre os que já partiram para o Além terrível e complexa obsessão.

Pois esse tipo de obsessão não é tão insólito, como erroneamente pensamos.

Há muitos Espíritos sofrendo a influenciação dos encarnados e lutando, tenazmente, para se livrarem dessa influenciação.

Quem se familiariza com trabalhos práticos, sem dúvida já presenciou desesperadas reclamações de Espíritos, de que Fulano ou Beltrano (encarnado) não lhe dá trégua, não deixa, um instante sequer, de atraí-lo para junto de si.

Um caso típico em que o encarnado obsidia o desencarnado, identificamo-lo no capítulo “Em serviço espiritual”.

Transcrevamos, inicialmente, a convocação dos trabalhadores para o Serviço assistencial ao caso em apreço, para melhor acompanharmos o seu desenvolvimento.

Tem a palavra Abelardo, cooperador de boa vontade do plano espiritual, que se dirige ao Assistente Áulus:

— Meu caro Assistente — continuou, inquieto —, venho rogar-lhe auxílio em favor de Libório. O socorro do grupo mediúnico melhorou-lhe as disposições, mas agora é a mulher que piorou, perseguindo-o...

Qualquer um de nós, ante esse apelo, faria logo o seguinte raciocínio: Libório é o encarnado amparado pelo grupo mediúnico, e a mulher que piorou é a entidade que o persegue.

Tal entretanto não se dá, Libório é o Espírito perseguido por Sara, criatura ainda encarnada e a quem se ligou, no mundo, por descontrolada paixão.

Sintonizados na mesma faixa vibracional deprimente, estão ligados um ao outro, acusando dolorosa e complexa simbiose obsessional.

Atendendo ao apelo de Abelardo, Áulus e os demais excursionistas do Além demandaram ao local onde Libório fora recolhido, depois de ter sido amparado, horas antes, pelo grupo terrestre.

"Findos alguns minutos de marcha, atingimos uma construção mal iluminada, em que vários enfermos se demoravam, sob a assistência de enfermeiros atenciosos.

Entramos.

Áulus explicou que estávamos ali diante de um hospital de emergência, dos muitos que se estendem nas regiões purgatoriais."

Mais adiante, continua a descrição de André Luiz:

Alcançáramos o leito simples em que Libório, de olhar esgazeado, se mostrava distante de qualquer interesse pela nossa presença.

Um dos guardas veio até nós e comunicou a Abelardo que o doente trazido à internação denotava crescente angústia.

Áulus auscultou-o, paternalmente, e, em seguida, informou:

— O pensamento da irmã encarnada que o nosso irmão vampiriza está presente nele, atormentando-o. Acham-se ambos sintonizados na mesma onda. É um caso de perseguição recíproca.

O caso em estudo é um dos muitos interessantes que o livro "Nos Domínios da Mediunidade" nos trouxe.

A moça enferma — Sara — apesar de socorrida fraternalmente no grupo mediúnico, insiste em não destruir a corrente mental que a vincula ao Espírito em viciosa imantação, nutrindo-se, reciprocamente, das emanações e desejos que lhes são próprios.

Dependendo a cura das obsessões, em grande parte, da conduta dos encarnados, não dá a moça a menor colaboração ao esforço dos componentes e dos supervisores espirituais do grupo.

Os amigos trabalham, por um lado, objetivando o desligamento, e, por fim, a libertação ante o jugo incômodo do Espírito; todavia, a irmã encarnada dificulta a tarefa e fortalece os laços que a prendem ao ex-companheiro da Terra, atormentando-o com as suas reiteradas solicitações, através do pensamento.

Caso difícil, esse, a reclamar dos companheiros do grupo terrestre muita paciência e dedicação, muita tolerância e amor, a fim de que, educando-a, possam levá-la à modificação dos centros de vida mental.

Retirando-se da sessão, horas antes, dirigiu-se Sara para a sua casa, de onde passou a irradiar pensamentos descontrolados na direção do antigo companheiro, provocando no pobre irmão, apesar de recolhido ao hospital de emergência, inquietação e angústia.

Vencida pelo cansaço, vai ela confiar-se ao sono.

Que sucederá?

Aproveitará a bênção do repouso físico ou continuará a sequência de pensamentos enfermiços e deprimentes?

Temos a resposta nas transcrições que a seguir fazemos, iniciadas com a justa observação de Áulus quanto ao estado de angústia de Libório:

“Tudo indica a vizinhança da irmã que se lhe apoderou da mente.

Nosso companheiro se revela mais dominado, mais aflito...

Mal acabara o orientador de formular o seu prognóstico e a pobre mulher, desligada do corpo físico pela ação do sono, apareceu à nossa frente, reclamando, feroz:

— Libório, Libório! Porque te ausentaste? Não me abandones!

Regressemos para nossa casa! Atende! atende!..."

Diante dessa ocorrência, poderá sobre-existir qualquer dúvida, de nossa parte, quanto à obsessão produzida pelos encarnados?

Evidentemente não cabe nenhuma dúvida. Consoante o parecer de Áulus, "isso acontece na maioria dos fenômenos de obsessão, quando encarnados e desencarnados se prendem uns aos outros, sob vigorosa fascinação."

Casos dessa ordem fortalecem a nossa convicção de que, cuidar de um obsidiado, não significa, apenas, o esforço de afastamento do perseguidor, a qualquer preço, como se o serviço assistencial da mediunidade com Jesus se resumisse a simples operação de "saca-rolhas" comum, mas, sobretudo, possibilitar ao enfermo meios de esclarecimento, a fim de que, reajustado mentalmente, coopere, também, no esclarecimento do irmão necessitado.

Os centros espíritas não devem, simplesmente, conduzir aos gabinetes mediúnicos os enfermos, para livrá-los da companhia das entidades desajustadas.

Devem, num trabalho simultâneo, conduzi-los às salas de leitura e estudo do Evangelho e da Doutrina, com o objetivo não só de evidenciar a parcela de cooperação que lhes é atribuída, no serviço desobsessivo, como, especialmente, de convencê-los de que são eles, os obsidiados, as principais peças no serviço de cura.

A leitura e o estudo, bem orientados, conduzem a resultados satisfatórios nos serviços de desobsessão.

Conjugados à meditação, levam a criatura a renovar os centros de vida mental, possibilitando-lhes recursos para realizar, com êxito e de forma definitiva, a sua libertação espiritual.

É por isso que no "Evangelho segundo o Espiritismo" encontramos sábia e generosa advertência de categorizado Espírito, no sentido de que, além do mandamento primitivo, "amai-vos uns aos outros", um outro existe, também de fundamental importância: "instrui-vos"...

Martins Peralva do livro:
Estudando a Mediunidade (FEB)

Nota:    O  livro de André Luiz citado no texto é: 
Nos domínios da mediunidade por Chico Xavier

José Martins Peralva

Nasceu em 1º de abril de 1918, em Buquim (SE). Uma das figuras mais destacadas do Movimento Espírita de Minas Gerais, Martins Peralva iniciou-se no Espiritismo sob assistência e orientação diretas de seu pai, excepcional médium curador. Teve a infância e a adolescência enriquecidas por fatos extraordinários e pelo contato com a Doutrina, o que lhe proporcionou formação espírita essencialmente baseada em Allan Kardec. Quando chegou a Belo Horizonte, em setembro de 1949, a Mocidade Espírita “O Precursor”, contava apenas 6 meses de existência. Integrou-se ao movimento juvenil, foi um dos mentores da Mocidade, função que corresponde hoje à de coordenador. Escreveu cinco obras evangélico-doutrinárias de reconhecido valor: Estudando a Mediunidade, Estudando o Evangelho, O Pensamento de Emmanuel, Mediunidade e Evolução e Mensageiros do Bem. Sempre colaborou em jornais e periódicos espíritas, escreveu durante muitos anos artigos sobre Doutrina Espírita no principal jornal dos mineiros – o matutino O Estado de Minas. Martins Peralva desencarnou em Belo Horizonte (MG), em 3 de setembro de 2007. (Fonte: Reformador, 2007.)
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