quinta-feira, 30 de junho de 2022

Ilusão e realidade

Ilusão e realidade

Juvanir Borges de Souza



O PROGRESSO do Espírito subordina-se a leis sábias e  eternas, dificilmente identificadas pelo homem enquanto se deixa impressionar pelas aparências ilusórias. Sem a intervenção do Mundo Espiritual, sem o auxílio do Alto, através das revelações superiores, em todas as eras da Humanidade, o homem, por si só, ou se arrastaria muito mais penosamente na própria rotina, ou permaneceria estacionário por longo tempo. A evolução e o progresso resultam da conjugação dos esforços dos que se encontram à retaguarda, com a assistência solidária dos que vão à frente. 

A PRESENÇA do Cristo entre  os homens, em pessoa ou através de emissários, em todos os tempos, é a manifestação inequívoca dessa solidariedade. unindo as criaturas e expressando, ao mesmo tempo, o amor infinito de Deus por toda a criação. Revelam-se a beleza e a sabedoria das leis divinas na medida em que o Espirito vai descobrindo e compreendendo seus mecanismos. O progresso individual resulta do ajustamento de suas ações às leis naturais e da aplicação de suas energias espirituais na busca do Bem. Nesse roteiro, toda iniciativa bem orientada recebe o apoio de Cima. Por isso, não bastam o conhecimento e a fé, em sentido amplo. É necessária a ação no Bem, uma vez que os atos praticados por orgulho ou por egoísmo se tornam obras mortas. O Evangelho do Cristo, entendido em espirito, é o código que permite a compreensão dos mecanismos das leis morais da vida, resumidas em uma palavra — Amor.

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Os opositores do Cristianismo, aferrados à ilusão da matéria e dos sentidos físicos, não conseguem compreender o significado do sofrimento e da renúncia do Cristo, como manifestação de amor. Para eles, a epopeia da passagem de Jesus pela Palestina, culminando com a tragédia do Calvário, só faz enaltecer a dor e o sofrimento, detestados pelo homem. Na estreiteza de suas percepções limitadas, só entenderiam um Cristo detentor da glória e do poder humanos, a espalhar a alegria e o encanto da vida no mundo. 

Nem mesmo os chamadas cristãos, quando prescindem do sentido espiritual dos ensinos de Jesus, compreendem o significado da salvação por Ele representada. Daí as práticas simbólicas visando à redenção, quando temas de consegui-la através da vivenda dos ensinos do Mestre, seguindo seus exemplos. 

Muito difere a Revelação Espírita, que pressupõe a responsabilidade individual para a própria ascensão, da doutrina da graça, criada pela Teologia, baseando-se no dom natural concedido por Deus para conduzir as criaturas à salvação. Restabeleceu-se o princípio da Justiça Divina que a criação teológica havia adulterado. 

Foi necessária a Nova Revelação, vale dizer, novos esclarecimentos e nova interpretação para tornar compreensível o verdadeiro significado da vinda do Mestre Incomparável e explicar o sentido espiritual de seu Evangelho. O Consolador é a Revelação Nova, representada pelo Espiritismo. À sua luz compreendemos que a dor e o sofrimento representam socorro e benção para o Espirito imperecível, necessitado de libertar--se das próprias imperfeições.

O aprendiz das novas verdades, despertando para as realidades permanentes da vida, pode então perceber o significado da verdadeira alegria, que não mais se confunde com as ilusões fluentes no mundo. Pode-se encontrar alegria no sacrifício em favor das outros, como pode estar na renúncia, no trabalho desinteressado e útil, na troca do mal pelo bem ou na superação das próprias limitações. Transmutam-se em alegria os sentimentos de amor, fraternidade, compreensão.

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Sem a luz dos conhecimentos revelados pelo Consolador, a mente humana se deixa envolver em densas camadas de irrealismo, tecidas pelas ilusões da vida.

Como a morte do corpo físico não modifica necessariamente o estado mental das criaturas, é fácil imaginar o desespero daqueles, em número incalculável, que se agarram às situações interrompidas bruscamente pela transição. E um sofrimento terrível do qual temos noticia através da literatura espírita e das manifestações mediúnicas. Adaptar-se a novas condições de vida onde a matéria densa deixa de predominar, onde velhos hábitos são entrecortados por imposição irresistível do novo meio ambiente, onde somos privados das paisagens e da presença das pessoas e das coisas que amamos ou às quais nos habituamos, eis o quadro que cada Espirito depara, queira ou não, compreenda ou não, esteja ou não preparado.

Daí o importantíssimo papel do conhecimento espirita. O adepto da Doutrina torna-se naturalmente interessado na vida futura, sabedor de que cedo ou tarde irá deparar-se com novas situações previstas ou imprevistas em seus detalhes, mas que podem ser calculadas e avaliadas antes da travessia da fronteira do túmulo. Sabe que seu futuro habitat de desencarnado corresponderá sempre ao que ele é, em realidade, em essência. Seus companheiros terão ideias, pensamentos e sentimentos semelhantes aos seus.

A volta da carne é o período das avaliações do que produziu, dos proveitos ou perdas trazidos da romagem à vida material.

É a hora do sorriso ou da lágrima, das alegrias ou das tristezas pelo que fez e pelo que deixou de fazer.

É a  hora do encontro com a própria consciência, sem o anteparo do instrumento físico, sem apelo à fuga nas ilusões.

Os instrutores espirituais informam que os mundos espirituais próximos à Crosta desdobram-se em inúmeras colônias correspondentes à projeção territorial das diversas regiões terrenas. Hábitos, usos e costumes, língua, sentimentos. pensamentos, inclinações e tudo mais que carregamos como bagagem determinam a colônia que vamos habitar, o lugar que nos espera.

Ao desencarnar, deixamos para trás, compulsoriamente, tudo que não passa nas barreiras do novo lar. Bens materiais, dinheiro, fazendas, posição social, título, honoríficos, ilusões, tudo se desvanece. Deparamos, então, com nossa condição de átomos pensantes diante das profundas transformações ao nosso redor. Felizes as Almas que podem compreender as metamorfoses interiores e exteriores. O Espiritismo, bem estudado e praticado, facilita essa compreensão, explicando satisfatoriamente que todas as mutações estão catalogadas nas leis divinas, que tudo tem sua razão de ser e que todos nós somos viajores da eternidade, demandando nossa felicidade, que haveremos de construir à custa de trabalho, de sacrifícios e de esforços sem fim.

A vida prossegue sem cessar. Enquanto na carne, muitas vezes o Espirito se ilude, julgando-se figura central no mundo, arrogando-se uma importância tal, capaz de perturbar a marcha dos acontecimentos, pelo seu desaparecimento do cenário da vida.

No entanto, os potentados, os reis e imperadores, os grandes conquistadores, os filósofos e pensadores, os fundadores de escolas, os condutores de povos, os comandantes de exércitos, os capitães da indústria e o do comércio, assim como o homem simples e ignorado, o operário, o camponês obscuro, o felá ou o mendigo, todos, sem exceção, passam e morrem, sem que seu desaparecimento da cena perturbo o rumo natural das coisas, ao fim de breves dias, meses ou anos. Os problemas surgem e desaparecem e a vida prossegue constante, incessante.

Isto nos dá mostra de como nos deixamos enlear pelos conceitos provisórios, pelos título  e convenções humanas, iludindo-nos com os valores transitórios, em prejuízo dos méritos verdadeiros e definitivos da Alma.

O Espiritismo, como escola filosófica capaz de elucidar os problemas presentes e os do após a morte, esclarece e consola, mostrando-nos as realidades de agora e de além, tudo com uma lógica ao alcance da percepção intelectual de todos que se descompromissam com os preconceitos. 

Deixa de haver, ante seus princípios, o mistério, o enigma, desde que se compreenda que toda realidade se encerra no Espirito, seja no estado livre, seja quando preso à matéria.

Revivendo o Evangelho como roteiro do aperfeiçoamento moral, a Doutrina assegura ainda ao adepto sincero a vantagem de prevenir o obscurantismo intelectual, firmando rumos seguros ao evitar situações futuras desagradáveis, induzidas pelas ilusões da vida na carne. Não há dúvida de que prevenir-se e educar-se é multo melhor do que corrigir-se.

Quando os acontecimentos de nossa vida na Terra contrariam as melhores aspirações de elevação intelecto-moral, buscamos contorná-los de muitas formas. Uma delas é a de fugir à luta, abrigando-nos nas ilusões. Entretanto é na adversidade que encontramos as melhores oportunidades de aperfeiçoamento espiritual, desde que recusemos a fuga, resistindo às induções de desânimo e rechaçando os pensamentos e emoções negativos.

Não se resolve nenhum problema íntimo sem a disposição de enfrentá-lo. Por mais dura seja a tarefa, ou mais pesado o fardo, quaisquer que sejam as tribulações, o posicionamento interior é decisivo. Aquilo que não podemos afastar ou superar, temos de aceitar como provação, atentos  à verdade de que estamos na senda de nosso próprio bem, sob a proteção infalível das leis divinas, sempre agindo em nosso favor, desde que não nos desviemos conscientemente de nossas responsabilidades. 

Progredir, evoluir espiritualmente é expandir a consciência para níveis superiores.

Além das benesses das consolações e da libertação que a Doutrina nos proporciona, devemos encará-la como o luzeiro que ilumina o áspero caminho da ascensão, bem diferente da estrada larga e cômoda das alegrias e ilusões mundanas.

Juvanir Borges de Souza
Revista Reformador Mai. 1983

Juvanir Borges de Souza 
Nasceu em Cataguazes, MG, 1916 e desencarnou Rio de Janeiro, 2010. Juvanir Presidiu a Federação Espírita Brasileira (1990-2001). Autor das obras:  Tempo de transição, Tempo de renovação, Novos tempos e Amai-vos e instrui-vos. (FEB - editora) 
Compilou os títulos: Bezerra de Menezes – ontem e hoje, e O que dizem os espíritos sobre o aborto? Produziu também um importante texto, em forma de folheto, para comemorar o Centenário da FEB intitulado: Escorço Histórico da Federação Espírita Brasileira.
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Artigo original Revista Reformador Mai.1983.

 


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