segunda-feira, 15 de abril de 2019

Vi-te Senhor

Vi-te Senhor

Rodrigues de Abreu



Eu não pude ver-Te, meu Senhor,
Nos bem-aventurados do mundo,
Como aquele homem humilde e crente do conto de Tolstoi.

Nunca pude enxergar,
As Tuas mãos suaves e misericordiosas,
Onde gemiam as dores e as misérias da Terra;
E a verdade, Senhor,
É que Te achavas, como ainda Te encontras,
Nos caminhos mais rudes e espinhosos,
Consolando os aflitos e os desesperados. . .

Estás no templo de todas as religiões,
Onde busquem Teus carinhos,
As almas sofredoras,
Confundindo os que lançam o veneno do ódio em Teu nome,
Trazendo a visão doce do Céu,
Para o olhar angustioso de todas as esperanças. . .

Estás na direção dos homens,
Em todos os caminhos de suas atividades terrestres,
Sem que eles se apercebam,
De Tua palavra silenciosa e renovadora,
De Tua assistência invisível e poderosa,
Cheia de piedade para com as suas fraquezas.

Entretanto,
Eu era também cego no meio dos vermes vibráteis que são os homens,
E não Te encontrava pelos caminhos ásperos. . .

Mocidade, alegria, sonho e amor,
Inquietação ambiciosa de vencer,
E minha vida rolava no declive de todas as ânsias. . .

Chamaste-me, porém,
Com a mansidão de Tua misericórdia infinita.
Não disseste o meu nome para não me ofender;
Chamaste-me sem exclamações lamentosas,
Com o verbo silencioso do Teu amor,
E antes que a morte coroasse a Tua magnanimidade para comigo,
Vi que chegavas devagarzinho,
Iluminando o santuário do meu pensamento,
Com a Tua luz de todos os séculos!

Falaste-me com a Tua linguagem do Sermão da Montanha,
Multiplicaste o pão das minhas alegrias,
E abriste-me o Céu, que a Terra fechara dentro de minha alma...

E entendi-Te, Senhor,
Nas Tuas maravilhas de beleza,
Quando Te vi na paz da Natureza,
Curando-me com a Dor.


Rodrigues de Abreu por Chico Xavier do livro: 
- Parnaso de Além-Túmulo / Espíritos diversos.
Poema posteriormente incluído também no livro:

- À luz da oração / Espíritos diversos.



Rodrigues de Abreu: - Poeta nascido em Capivari, S. Paulo, a 17 de Setembro de 1899, e desencarnado, tuberculoso, em Campos do Jordão, aos 24 de Novembro de 1927. Publicou Casa Destelhada, Noturnos e Sala dos Passos Perdidos, além de inúmeros trabalhos esparsos na imprensa do seu Estado. Foi cognominado — “o poeta triste das rimas róseas.”



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