quarta-feira, 17 de abril de 2019

Elitização

Elitização 

Juvanir Borges de Souza


Jesus e Kardec

É justa a preocupação de grande parcela do Movimento Espírita com o que se convencionou denominar "elitização", ou seja o cultivo da Doutrina Espírita predominantemente pelos que apresentam melhores condições intelectuais ou pelos que tem melhor situação social. 



Seria profundamente inquietante se prevalecesse a ideia de distinção entre aqueles que se fazem objeto do esclarecimento espírita — os homens. 

O Espiritismo — é sempre bom recordar, é o conhecimento de uma realidade que interessa a toda a Humanidade, independentemente da posição provisória que cada indivíduo ocupa nas sociedades humanas, seja em decorrência de sua maior ou menor capacidade intelectual, ou de sua moralidade, ou de suas crenças ou descrenças, já que a Doutrina veio para todos. 

Torna-se evidente, portanto, que a ideia elitista, no sentido de se eleger determinadas classes sociais como privilegiadas na propagação da Doutrina, contraria de frente a própria natureza do Espiritismo, como não se coaduna com a Mensagem do Cristo, que também se dirige a todos, sem exceção.

Nosso Movimento, em plena expansão, não incorrerá no erro de estabelecer distinção entre "pobres" e "ricos", entre "intelectuais" e "trabalhadores braçais", entre as diferentes raças ou as diversas classes sociais, porque quaisquer discriminações dessa natureza implicariam em contrariar a índole e o caráter universalista da Doutrina dos Espíritos. 

Em todo caso, é bom que se ergam, vez por outra, as vozes autorizadas dos autênticos espíritas cristãos, prevenindo os incautos contra as ciladas do caminho, que são muitas e diversificadas. 

Daí a necessidade permanente do estudo da Doutrina e do Evangelho de Jesus, os parâmetros naturais que orientam o adepto, por mais difíceis sejam as dificuldades a enfrentar. 

Mas o estudo doutrinário não deve objetivar somente o enriquecimento intelectual, como ocorre com muitos, que se tornam ricos intelectualmente mas vazios na ação correta, fazendo da Doutrina e do Evangelho simples alavancas para o predomínio de suas ideias pessoais, seus preconceitos, seu personalismo exagerado. 

O verdadeiro seguidor da Doutrina não pode prescindir da sua conjugação com o Evangelho, a moral cristã que exsurge nítida e luminosa em espírito. 

Essa é a fórmula natural e segura contra o intelectualismo vazio de ações no bem, contra o orgulho e o preconceito. É a vigilância necessária, que, começando no íntimo do adepto, opõe à vaidade e ao personalismo exagerado a humildade do trabalhador consciente.

A maior parte da população da Terra é constituída de pobres, de carentes, do ponto de vista intelectual, de necessitados de esclarecimentos. Seria incorreto e injusto esquecer-se essas massas humanas c atenda-se somente as chamadas elites, no que concerne ao conhecimento espírita e à sua prática. 

Todos fazem jus às claridades da Doutrina Espírita, às suas consolações, ao seu conhecimento, inclusive os dotados de inteligência mais cultivada, mesmo porque, por mais desenvolvido seja o habitante deste orbe, sua inteligência e compreensão são sempre limitadas. Mas as massas carentes jamais deverão ficar em segundo plano. 

O exemplo maior para a atuação do Movimento Espírita no seio das comunidades vem do Mestre e Senhor. na sua passagem pela Terra. Ele atendeu aos discípulos com linguagem à altura de seu entendimento. Dirigiu-se às multidões heterogêneas com outra forma de transmissão de conhecimentos, reconhecendo as dificuldades de toda ordem das massas. Curou mazelas individuais, mantendo colóquios com cegos, estropiados, surdos-mudos, adúlteros, famintos, mas também com homens ricos, fariseus orgulhosos, saduceus vaidosos, admiradores de sua obra ou perseguidores tenazes, enfim com toda a gama de uma sociedade humana representativa das carências e necessidades que existiam na época e subsistem na atualidade.

Ao Espiritismo cumpre realizar uma transformação de tal ordem, no mundo, que, praticamente, ninguém deverá ficar marginalizado. Os que já alcançaram grande progresso intelectual e moral simplesmente reajustarão suas ideias e conceitos à realidade e às verdades do Consolador. Os que se transviaram em erros e desvios maiores e menores terão a oportunidade das retificações mais profundas ou menos trabalhosas. Os mais rebeldes, os que mais necessitam de conhecimentos e de experiências, também iniciarão uma longa jornada de educação espiritual e de identificação de valores verdadeiros. 

Aí está a própria missão do Espiritismo, a de transformar este orbe, preparando-o para uma nova fase — a de um mundo regenerado. 

Aos espíritas sinceros, aos obreiros do bem que acorrerão de toda parte, cabe a tarefa imensa de servirem como instrumentos confiáveis do Cristo de Deus. 

Cumpre às gerações atuais e às que virão, compreendendo cada vez maior número de trabalhadores dedicados, cuidarem para que a Doutrina Consoladora se mantenha pura e íntegra, sem divisões injustificáveis, sem transviamentos impostos pelas imperfeições dos homens. 

A Doutrina Espírita assenta-se em bases firmes e inamovíveis. Sua progressividade será natural, na medida dos esforços de seus adeptos, sem saltos ou sobressaltos provocados pelos inquietos e apressados. 

A Espiritualidade Superior, responsável pela Nova Revelação, saberá escolher o momento certo de atender às novas necessidades e aspirações dos trabalhadores da última hora.

Precatemo-nos, pois, contra os afobados, as precipitadas, que pretendem introduzir "novidades" no Espiritismo, sem se darem conta de que nem conseguimos ainda aplicar integralmente os ensinos da Doutrina e do Evangelho do Cristo.

Precisamos atentar para a solidez dos princípios doutrinários, os quais após quase um século e meio de sua revelação, mantém-se íntegros, sólidos, a demonstrar sua superioridade e sua origem transcendente. 

Esse fato de suma importância demonstra que a Doutrina independe dos avanços das ciências da matéria, que fizeram progresso espetacular neste século. Demonstra ainda que o Espiritismo não se coloca a reboque de nenhuma ciência materialista, nem mesmo daquelas que pretendem substitui-lo com nomenclatura própria para definir fenômenos já estudados e catalogados anteriormente na Codificação. 

E mais ainda Apesar da prudência do Codificador, inspirado e seguro, ao afincar que se qualquer verdade nova viesse a se firmar, em desacordo com qualquer dos princípios da Doutrina Espírita, esta absorveria o novo conhecimento, até o momento atual as descobertas científicas só lhe tem confirmado os ensinos, o que demonstra sua superioridade.

Tudo isso está a demonstrar a segurança da Doutrina dos Espíritos, que pode e deve ficar a cavaleiro das arremetidas dos inseguros e dos especialistas de ciências que pretendem competir com o Espiritismo. Demonstra também que as Casas Espíritas e os espíritas precisam estar atentos contra a invasão de práticas não espíritas, de modismos prejudiciais de variada origem, uma vez que o trabalho autenticamente espírita é sobejamente conhecido e tradicionalmente praticado. Em suma, os métodos de trabalho podem variar, mas os princípios doutrinários precisam ser mantidos e preservados sem tergiversações.



Juvanir Borges de Souza
Revista Reformador Abr. 1996

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Juvanir Borges de Souza

Nasceu em Cataguazes, MG, 1916 e desencarnou Rio de Janeiro, 2010 Juvanir Borges de Souza, o qual presidiu a Federação Espírita Brasileira (1990-2001) e dirigiu o Grupo Ismael. Suas atividades na Federação Espírita Brasileira iniciaram –se com palestras e artigos em Reformador, as quais ele nunca abandonou, mesmo quando suas responsabilidades foram acrescidas de pesados encargos administrativos.Assim é que surgiram as obras que fazem parte do catálogo da FEB Editora: Tempo de transição, Tempo de renovação, Novos tempos e Amai-vos e instrui-vos. Compilou os títulos: Bezerra de Menezes – ontem e hoje, e O que dizem os espíritos sobre o aborto? Produziu também um importante texto, em forma de folheto, para comemorar o Centenário da FEB intitulado Escorço Histórico da Federação Espírita Brasileira. (Fonte: Reformador, 2010.) Fonte: FEB.


Abaixo cópia da matéria original na Revista Reformador de abr.1996 - FEB.




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