Perante o corpo
Carneiro de Campos
Examinando a infinita caravana dos que partem da Terra em busca dos portos da imortalidade, constatamos que a maior incidência de “causa-mortis” é o suicídio.
Suicídio pelos desregramentos do paladar naqueles que converteram o estômago em tina de alimentos supercondimentados, graxas e acepipes que intoxicaram as vísceras, aniquilando as suas atividades.
Suicídio pelo desequilíbrio de emoção daqueles que transformaram o aparelho nervoso em casa elétrica violentada por descargas poderosas que lhes arrebentaram as turbinas, desarranjando os centros dinâmicos da vida.
Suicídio pelo ódio dos que, absorvidos em miasmas mentais que penetraram pelo aparelho respiratório, produziram distonias e enfermidades pulmonares, com decorrentes complicações cardíacas e hepáticas de deploráveis consequências.
Suicídio por quantos transformaram o patrimônio sexual em prazer animalizante, cansando os centros genéticos, nos intermináveis banquetes de paixões sem nome.
Suicídio em quantos viciaram a mente na indolência e na preguiça, perturbando a admirável harmonia dos fulcros motores, sensitivos e intermediários, engendrando e gerando enfermidades sem nomenclatura que aniquilaram os tecidos sutis do perispírito.
Suicídio por aqueles que utilizaram o verbo de forma displicente e malsinante, colaborando para o acúmulo de descargas mentais dos outros, nos centros espirituais que enfermaram ao impacto das ondas da revolta e cólera provocadas pela insensatez.
Suicídio dos que exorbitaram do fumo, álcool, barbitúricas e sucedâneos, nas orgias da banalidade a que o corpo participou como escravo dos excessos mal contidos pela indisciplina moral.
Suicídio dos que se ausentaram da fé-roteiro que os dignificasse na ginástica da reencarnação, pelo caminho da Eternidade...
Os suicidas chamados conscientes constituem minoria insignificante face aos outros suicidas ditos inconscientes que, todavia, desenfreados, se atiraram voluntariamente nos abismos da ilusão onde despertam infelizes e enlouquecidos, constituindo farândola de desafortunados, que perambulam ligados às vibrações grosseiras em torno do Orbe onde se demoram desarvorados, indefinidamente...
Se você tem olhos para perceber os clarões do Cristianismo ou a luminescência do Espiritismo, levante-se e ande.
Recorde o encontro de Jesus com o cego de Jerico e veja. Veja para discernir, veja para avançar, veja para viver e ser feliz.
A Doutrina Espírita — que tudo nos dá e nada nos pede — é o anticorpo para os males que afligem o mundo e para as misérias morais que maceram os espíritos na Terra.
Medite nos seus ensinos e conclua que a vida tem objetivos mais altos e nobres, além dos impositivos do viver que muitas vezes é vegetar e do gozar que normalmente é sofrer.
Transfira a paixão do corpo que perece para o espirito que viverá sempre e descortinará horizontes sem fim e alegrias sem nome, cantando a melodia da felicidade que vibrará na acústica dos seus ouvidos espirituais.
Cada um leva da vida a vida que leva.
Não há metamorfose moral por imposição miraculosa além do túmulo.
Depois que se arrebentam as peias do casulo de cinza e lama, o espírito se imanta por sintonia perfeita às zonas vibratórias onde encontra material especifico, semelhante aquele de que se reveste, escravizando-se ou libertando-se das formas-pensamento que cultivou nos dias da jornada terrestre.
Merece considerar que o mundo além da morte é continuação das atividades da vida aquém da morte e que cada um despertará depois da tarefa com os resultados do trabalho ligado à consciência e às mãos.
Respeite desse modo, a organização somática que lhe serve de veículo para a evolução, honrando com a disciplina e a ordem a engrenagem celular, os vasilhames de transformação, os centros elétricos, ossos e cartilagens, glândulas e gânglios onde trilhões de vidas microscópicas laboram, infatigáveis, sucumbindo para ressurgir, a fim de que o espírito imortal possa realizar o culto do dever para o qual renasceu, reconhecido e jubiloso ao corpo, sem o qual o crime e o abuso da razão se converteriam em azorrague implacável a zurzir indefinidamente...
Carneiro de Campos por Divaldo Franco do livro:
Crestomatia da imortalidade
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