Como sentir a presença de Deus
Jácome Góes
Em que dimensão imponderável do universo estaria Deus? Seria Ele apenas um princípio místico de fé? Como se processa a sua real identificação? Enquanto alguns declaradamente materialistas assim questionam porque só acreditam na realidade tangível, outros, contudo, embora definindo-se espiritualistas, ainda permanecem hibernados no torpor de uma alienada abstração que os faz estagnar na superfície de frágeis conceitos, assumindo uma postura de ostensiva indiferença... E assim, sem fiel e autêntico compromisso com a essência pura da criação, seguem apenas os rituais religiosos, distanciando-se, porém, do puro sentimento de autêntica religiosidade, que exige esforço e renúncia na sincera conquista da alquimia íntima...
Quando a fé não expressa revolucionária mudança de atitudes mentais, partindo da subjetiva intenção para ser devidamente confirmada através da dinâmica da ação, apenas traduz insegurança, ou até mesmo camuflada hipocrisia...
Quando a criatura dissocia-se do Criador, já que não consegue senti-Lo na intimidade mais profunda do seu ser, numa simbiótica conexão de legítimo amor, distancia-se da própria verdade e, por extensão, até mesmo da realidade em sua dimensão holística... A partir daí proliferam as promessas que quase nunca são cumpridas, consolidando, assim, flagrante omissão, pois o correto seria firmar corajosos propósitos que confirmassem luminosa redenção. E se toda esta sombria realidade acontece, é porque falta concentrada lucidez para desenvolver suficiente sensibilidade espiritual, visando ao crescimento íntimo através da ressurreição da legítima fé que só será dinamizada em atos, quando for possível sentir Deus em si, de forma tão real e intensa, capaz de não tomar nenhuma atitude sem ouvi-Lo através da própria consciência.
Essencialmente feliz é também aquela pessoa que desenvolveu a plena capacidade para sentir Deus no multicolorido cenário da natureza, onde existe uma divina e soberana harmonia, desde a formação dos astros, passando pela amplitude dos infinitos horizontes, até alcançar uma micro realidade que os olhos do corpo não conseguem ver, mas só com a visão da alma é possível reconhecer!
Felizes, sim, os que sentem Deus na semente que se transforma em caule, tronco, folhas, flores e produz sazonados frutos que embelezam e alimentam!
Felizes os que reconhecem a criação de Deus nos rios que nascem nas encostas dos montes, seguem seu sinuoso caminho na busca do mar, e diante de obstáculos naturais desabam em cachoeiras produzindo a energia que ilumina os campos e as cidades!
Felizes os que são sensíveis ao trabalho das abelhas que colhem o néctar das flores e produzem o mel, numa pura demonstração da fértil, poderosa e divina doação!
Felizes os que sentem Deus no esplendor do sol, na argêntea luz da luz e no brilho das estrelas que formam a constelação nos limites estreitos do mundo e nas amplas dimensões da vida!
Felizes os que sentem Deus na doação incondicional dos pais, quando se tornam cocriadores alimentando seus filhos com a seiva revitalizante do superlativo carinho na forma mais pura de amar!
Felizes os que sentem Deus no conforto das lágrimas que expressam tristeza sem desespero e no sorriso que canta a alegria sem os excessos da euforia!
Felizes os que sentem Deus no sublime gesto de humildade que, pedindo perdão, buscam a paz na consciência, assim como na nobre atitude de generosidade, que perdoando constroem a fraterna reconciliação!
Felizes os que sentem Deus na palavra que ensina e abençoa; nos olhos que confirmam a sinceridade dos sentimentos; nas mãos que amparam e acariciam, assim como no gesto solidário que a dor alivia!
Felizes os que sentem Deus na prece que pede e no estado de prece que doa!
Felizes os que O sentem em todas as expressões vivas do legítimo amor, pois somente assim, na pura sinceridade das intenções, será possível dignificar a própria existência e enobrecer a alma através de luminosas ações!
Felizes, sim, na acepção mais autêntica, são aqueles que sentem Deus vibrando na amplitude da criação, mas, essencialmente, nas dimensões mais íntimas do próprio coração!
- Para seguirmos corretamente o espiritismo, devemos submeter todas as mensagens mediúnicas ao crivo duplo de Kardec, sendo eles, a razão e a universalidade.
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