sábado, 21 de setembro de 2024

A melhor didática

A melhor didática

Richard Simonetti



Num lar modesto, em bairro da periferia, Dona Isabel, humilde viúva, deixa a costura com que provê as necessidades da família e convida os filhos, quatro meninas e um menino, para o culto doméstico.

Iniciada a reunião, uma das garotas, Neli, de nove anos, pronuncia a oração:
“- Senhor, seja feita a vossa vontade, assim na Terra como nos Céus. Se está em vosso santo desígnio que recebamos mais luz, permiti, Senhor, tenhamos bastante compreensão no trabalho evangélico! Dai-nos o pão da alma, a água da vida eterna! Sede em nossos corações, agora e sempre. Assim seja!...”
Joaninha, a filha mais velha, lê, em seguida, trecho de um livro doutrinário que discorre sobre a irreflexão, velho hábito humano de agir primeiro e pensar depois. Conclui com a leitura de uma notícia dando conta de lamentável episódio envolvendo uma jovem que se suicidou.

É a vez de Dona Isabel, que abre o Novo Testamento e lê o versículo trinta e um, capítulo treze, do Evangelho de Mateus:
“- Outra parábola lhes propôs, dizendo: - O Reino dos Céus é semelhante ao grão de mostarda que o homem tomou e semeou no seu campo”.
Comenta em seguida:

“- Lemos hoje, meus filhos, uma página sobre a irreflexão e notícia de um suicídio em tristíssimas circunstâncias. Afirma o jornal que a jovem suicida se matou por excessivo amor; entretanto, pelo que vimos aprendendo, estamos certos de que ninguém comete erros por amar verdadeiramente. Os que amam, de fato, são cultivadores da vida e nunca espalham a morte. A pobrezinha estava doente, perturbada, irrefletida. Entregou-se à paixão que confunde o raciocínio e rebaixa o sentimento. E nós sabemos que, da paixão ao sofrimento, ou à morte, não é longa a distância. Lembremos, todavia, essa amiga desconhecida, com um pensamento de simpatia fraternal. Que Jesus a proteja nos caminhos novos. Não estamos examinando um ato, que ao Senhor compete julgar, mas um fato, de cuja expressão devemos extrair o ensinamento justo”.

Prosseguindo em seus comentários, Dona Isabel recorda que poucas pessoas se dispõem a meditar sobre o significado da vida e a respeito do que lhes compete fazer. As ações humanas, em grande parte, são como semeaduras mal feitas. A jovem suicida é apenas um exemplo. Há verdadeiros espinheiros no coração humano, fruto de irreflexões. E lembra as sementes de mostarda como símbolos de pequenas iniciativas - o pensamento positivo, a boa palavra, o gesto de bondade - cultivando a reflexão, com as quais conseguiremos frutos abençoados de felicidade e paz. E acentua: Tenhamos cuidado com as coisas pequeninas e selecionemos os grãos de mostarda do reino dos céus. Lembremos que Jesus nada ensinou em vão. Toda vez que “pegarmos” desses grãos, consoante a Palavra Divina, semeando-os no campo íntimo, receberemos do Senhor todo o auxílio necessário. Conceder-nos-á a chuva das bênçãos, o sol do amor eterno, a vitalidade sublime da esfera superior. Nossa semeadura crescerá e, em breve tempo, atingiremos elevadas edificações. Aprendamos, meus filhos, a ciência de começar, lembrando a bondade de Jesus a cada instante. O Mestre não nos desampara, segue-nos amorosamente, inspira-nos o coração. Tenhamos, sobretudo, confiança e alegria!”

Dona Isabel estende-se, ainda, em alguns comentários preciosos sobre o assunto, após o que troca ideias com os filhos, desfazendo dúvidas e procurando sedimentar em seus espíritos princípios de legítima religiosidade.

Uma das meninas pergunta:

“- Mamãe, se Jesus é tão bom, por que estamos comendo só uma vez por dia, aqui em casa? Na casa de Dona Fausta, eles fazem duas refeições, almoçam e jantam. Neli me contou que no tempo do papai também fazíamos assim, mas agora... Por que será?”

Esboçando um sorriso, a viúva explica:

Ora, Marieta, você vive muito impressionada com essa questão. Não devemos, filhinha, subordinar todos os pensamentos às necessidades do estômago. Há quanto tempo  estamos tomando nossa refeição diária e gozando boa saúde? Quanto benefício estaremos colhendo com esta frugalidade de alimentação?”

Outra filha intervém:

“Mamãe tem toda razão. Tenho visto muita gente adoecer por abuso da mesa”.

Além disso - acentuou Dona Isabel, confortada -, vocês devem estar certos de que Jesus abençoa o pão e a água de todas as criaturas que sabem agradecer as dádivas divinas. É verdade que Isidoro partiu antes de nós, mas nunca nos faltou o necessário. Temos nossa casinha, nossa união espiritual, nossos bons amigos. Convençam-se de que o papai está trabalhando ainda por nós”.

O diálogo prossegue, produtivo. Dona Isabel responde às indagações dos filhos, revelando-se uma preceptora amiga e inspirada, e também dotada de carinhosa energia, respondendo às impertinências do filho adolescente, um tanto rebelde, dominado por ideias diferentes.

Cumprido o horário, encerra-se a reunião com prece de agradecimento feita por uma das meninas.

* * *

A experiência aqui resumida está no livro “Os Mensageiros”, do Espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, oferecendo-nos um exemplo do que é o “Evangelho no Lar”, que se difunde no meio espírita. Trata-se de uma reunião da família, na intimidade doméstica, para conversar sobre a moral cristã, à luz da Doutrina Espírita.

Nem sempre os pais preocupam-se com a iniciação religiosa dos filhos. Não raro esperam que façam suas próprias opções na idade adulta.

Trata-se de grave engano. Ninguém, em perfeito juízo, deixa que as crianças decidam se devem frequentar os bancos escolares para a formação cultural e profissional.

Igualmente importante, indispensável, é a formação moral e espiritual. A liberalidade aqui não passa de perigosa omissão.

Muitos males que afligem as pessoas seriam evitados ou superados se houvessem recebido orientação religiosa, em doses adequadas ao seu entendimento, desde a infância.

Nos Centros Espíritas há cursos de iniciação dirigidos à infância, sustentados pelo esforço de valorosos companheiros.

* * *

Forçoso reconhecer, entretanto, que levar as crianças a participarem dessa abençoada atividade é apenas parte das responsabilidades dos pais, em favor de sua formação religiosa, posto que a melhor didática para o ensino do Evangelho - a base da verdadeira religiosidade - é o diálogo em família.

Curioso como as pessoas sentem certo constrangimento ao falar em Jesus fora dos círculos religiosos. É que não estão familiarizadas com suas ideias, raramente evocadas no lar, esse poderoso laboratório formador de tendências comportamentais.

No entanto, Jesus não é o mestre ausente, escondido no interior dos templos, mas o companheiro amigo de todas as horas, capaz de nos inspirar o melhor, onde estivermos.

Suas lições não são de cunho esotérico, destinadas aos reduzidos grupos iniciáticos.

Ele nos fala do cotidiano, com ideias claras e objetivas, sempre ilustradas com exemplar vivência, ensinando-nos a valorizar o contato com o semelhante, no esforço do Bem.

E se o grande recurso de comunicação entre os seres humanos é a palavra, o Mestre nos explica como usá-la adequadamente, conversando sobre assuntos edificantes, instrutivos, produtivos, evitando as conversas divorciadas de valores morais e recheadas de banalidades, onde marcam presença a fofoca, a maledicência, o destempero verbal e até a imoralidade, que  tanto conturbam o ambiente social.

Trazer Jesus para o lar - esta a grandiosa tarefa que compete aos pais, dialogando com os filhos a respeito de suas lições, estimulando-os ao cultivo das sementes abençoadas do Reino de Deus.

***

- Institua o “Evangelho no Lar”. Quando nos reunimos para estudar os ensinamentos de Jesus é como se abríssemos as portas de nossa casa aos benfeitores espirituais, da mesma forma que desentendimentos e brigas, gritos e xingamentos, favorecem o assalto das sombras.

- O roteiro é de fácil aplicação, em reuniões semanais e horário fixo: prece, evocando a inspiração de Jesus; leitura de pequeno trecho de “0 Evangelho Segundo o Espiritismo” ou obra similar; comentários pelos presentes, estabelecendo-se diálogo fraterno em torno da lição apresentada e, ao final, a prece de agradecimento. Uma semeadura muito simples, de aproximadamente trinta minutos, mas que rende bênçãos de harmonia e paz para a semana inteira.

- Ao comentar as lições, considere-as um roteiro para analisar seu próprio comportamento. É fácil dialogar quando temos a humildade de reconhecer nossas fraquezas.

- Jamais use a moral evangélica para criticar possíveis falhas dos familiares. Uma das lições mais importantes de Jesus, para que possamos conversar pacificamente, é não incorrer em julgamento.

- Não permita que eventuais contratempos impeçam a realização da reunião. Sem assiduidade e perseverança, fica difícil sustentar qualquer iniciativa, particularmente aquelas que dizem respeito à nossa edificação espiritual.

Richard Simonetti do livro:
Uma razão para viver

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