sexta-feira, 29 de março de 2024

Desconhecimento de Si Mesmo

Desconhecimento de Si Mesmo

Joanna de Ângelis


Aturdindo-se com as preocupações a que empresta importância demasiada – opinião dos outros, aparência, conquista das coisas externas, convívio social e disputas insignificantes -, a pessoa descuida-se de si mesma e permanece ignorante da sua realidade profunda, das suas potencialidades latentes.

Considerando, com uma óptica pessimista, que apenas a sua é uma existência trabalhosa e difícil, perde os parâmetros do equilíbrio para uma análise correta sobre os acontecimentos, descambando no abismo da autocompaixão, das depressões, da infelicidade.

A sua autoestima esmaece, vaticinando a ruína da jornada e não se esforçando para reverter a ordem dos pensamentos derrotistas, que vitaliza durante os largos períodos de ócio físico e mental.

A vida apresenta-se com as mesmas características para todos os seres vivos. Ocasiões são mais severas, circunstâncias surgem penosas, enfermidades se apresentam desgastantes, problemas caracterizam períodos que devem ser enfrentados com naturalidade e valor, como se fossem impostos a resgatar pela honra de existir.

Excetuando-se as conjunturas expiatórias da miséria socioeconômica, das enfermidades congênitas e degenerativas, dos comprometimentos físicos, mentais e morais decorrentes das reencarnações repletas de loucura, os acontecimentos aflitivos fazem-se experiências iluminativas para o crescimento interior. Essas provações constituem recursos propiciatórios para a evolução. Assim não ocorressem, e seria já a Terra o paraíso anelado, e a vida física se tornaria de natureza eterna. A sua fragilidade e impermanência, as transformações biológicas a que está sujeita atestam a limitação do seu curso e a finalidade educativa para o Eu superior que a organiza.

É necessário um exame profundo, sério, constante do Si, da sua constituição, dos objetivos que deve perseguir, dos meios a utilizar, de como encontrar os recursos para lográ-lo. Essa análise tem por meta a autoconscientização, mediante a qual se aplainam as arestas, e o curso do rio existencial desliza na direção do mar da paz. Para tanto, é imprescindível o autoexame dos comportamentos mentais, emocionais e físico-sociais.

Tudo começa na mente e aí estão as matrizes das próximas ações. O exercício do bem-pensar, eliminando as ideias perniciosas a que se está viciado, constitui passo decisivo para o autodescobrimento. Cada vez interrogar-se mais a respeito de quem é, e quais as possibilidades de que se pode utilizar para o desenvolvimento íntimo, significa um meio adequado para interpenetrar-se. Sistematicamente, manter-se vigilante contra os hábitos prejudiciais da autocompaixão, da censura ao comportamento dos outros, da autopunição e autodesvalorização, da inveja e de outros  componentes do grupo das paixões dissolventes e anestesiantes. Preencher os lugares que ficarão vagos com a eliminação desses sórdidos comparsas mentais, com a presença do altruísmo, da fraternidade, do autoamor.

Reconhecer-se fadado ao triunfo e avançar na sua busca, sem pieguismo ou presunção, torna-se a próxima etapa do programa de autodescobrimento. Insistentemente reagir aos pensamentos inquietadores, estabelecendo a confiança no Poder Criador, de Quem procede, e em si mesmo, gerando harmonia e coragem para os enfrentamentos, certo de que está destinado à gloria estelar que alcançará a esforço pessoal.

Aquele que se conhece, sabe de quais recursos se podem utilizar para o desempenho das tarefas e funções que lhe cumpre executar, aceitando-as como parte do processo existencial, no qual está inserido. Essa compreensão dá-lhe dignidade, enriquecendo-o de entusiasmo a cada conquista, como perspectiva da próxima vitória.

Se identifica fragilidade num ou noutro ângulo do caráter e da personalidade, direciona suas resistências morais nesse rumo e fortalece-se. Errando, não se lamenta, porquanto aprendeu como fazer noutro ensejo. Não anuindo ao desequilíbrio, igualmente não se culpa por ele, nem a ninguém, porque descobre o valor da aprendizagem que enceta. Acertando, não se jacta, pois sabe que longo é o caminho pela frente.

O autodescobrimento enseja humildade perante a vida, sem postura humilhante, porque faculta a irradiação do amor desde o centro do Si, consciente da sua realidade e origem divina.

Joanna de Ângelis por Divaldo Franco do livro:
Autodescobrimento - Uma busca interior

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