O Desafio da Morte
Joanna de Ângelis
Entre os grandes enigmas do pensamento universal a morte vem
ocupando lugar de primazia em face do profundo significado de que se reveste.
Desde recuados tempos tem permanecido com indecifrável ponto de
interrogação, que dilacera sentimentos e desencoraja projetos de vida.
Alterando a estrutura da forma do ser, que desconecta os órgãos e os
transforma na diluição da massa que desaparece na intimidade de outros
elementos, assinala a existência física de forma perturbadora, desorientando o
comportamento de todos quantos a veem arrebatar aqueles a quem amam. Não
apenas sob esse ponto de vista, mas também pela inexorabilidade de que se
reveste, ameaçando aqueloutros que ficam.
No seu curso incessante, vê a chegada dos futuros candidatos ao seu
arrebanhamento, atuando, às vezes, de maneira incompreensível, quando
conduz quem está saudável e deixa o enfermo, quando toma o jovem em
detrimento do idoso, ou irrompe cruel ceifando muitas vidas do mesmo clã,
enquanto outros parecem inatingíveis.
Interfere, abruptamente, nos planos mais bem delineados, nunca
podendo ser detida, porquanto nenhuma força humana consegue impedir-lhe a
execução do programa.
Com a mesma naturalidade com que convoca o mendigo, assim procede
com o poderoso, visitando reis e vassalos, nobres e plebeus, humildes e
orgulhosos numa colheita inestancável.
Odiada por muitos e aguardada por outros tantos, prossegue no ritmo que
assinala o transcurso dos evos, alterando a face do planeta e da Humanidade.
Utilizada pelos perversos contra aqueles a quem têm como inimigos,
também os devora insensivelmente, demonstrando a vacuidade dos valores
terrestres.
Apesar de todo o seu poder, é, no entanto, somente a mensageira da
Vida que se encarrega de conduzir de retorno todos quantos saíram do Grande
Lar e se encontram em viagem rápida pelo veículo do corpo.
Sem a sua rítmica presença, a vida humana se tornaria impossível, em
face do desgaste a que está condenado o ser biológico e em face das
ocorrências naturais do comportamento psicológico de todos os indivíduos.
Sem a sua natural presença, as inimizades se prolongariam desgastando
os litigantes e as afeições particularistas impediriam o avanço da vera
fraternidade. Ela, porém, chega silenciosa e interrompe os programas
estabelecidos, abrindo espaços para alterações expressivas, que logo tem lugar.
Sob outro aspecto, é somente abençoado veículo que transporta os
passageiros físicos de uma para outra realidade, modificando-lhes a estrutura
vibratória e conduzindo-os fielmente, tais como são, sem produzir-lhes
alterações significativas que já não os assinalassem antes.
Esse processo deve ser encarado com naturalidade, porquanto ocorre
incessantemente, desde que viver é também morrer, considerando-se que a
energia que vitaliza o corpo vai sendo consumida enquanto está ativa até cessar
de o manter.
A morte é portadora de grave advertência moral, qual seja convidar o ser
humano à reflexão da ocorrência que a sucede.
Ela pode dar-se lentamente, através da exaustão dos órgãos, na velhice ou na enfermidade, ou violentamente pelos acidentes de todo porte.
Indispensável, todavia, é a preparação humana para o seu enfrentamento,
porque o despertar além do portal de cinzas é inevitável, e cada qual acorda
conforme adormeceu.
Tida por etapa final da vida, conseguiu demonstrar que é apenas o
recomeço da mesma, dando curso a uma programação anterior, que nunca se
interrompe.
Ei-la presente na Criação através do desaparecimento de umas formas
para o surgimento de outras, aprimorando os aspectos de tudo como escultor
que arranca do bruto a essência da beleza e a insculpe em formas ideais.
Esse desafio impõe-se para ser atendido com sabedoria e enfrentado
com paz, de modo que, ao ser alcançado pelo seu convite aquele que retorne
siga feliz, e os demais que ficam, permaneçam confiantes.
Sem provocar qualquer dor, ela mesma é somente o interromper dos
laços que fixam o Espírito à matéria, libertando-o sem traumatismos, desde que
se haja conduzido com equilíbrio e a venha aguardando com naturalidade.
A morte é, portanto, o traço de separação entre o estado orgânico do ser
e o espiritual que ele é, permanente e eterno.
À medida que se está a morrer, enquanto se vive, conveniente que se
esteja também construindo o porvir e liberando-se do passando, como aprendiz
que armazena os valores que o deverão acompanhar para sempre.
Joanna de Ângelis (Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, no dia 20-6-1998, em Londres, Inglaterra).
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