quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Na obra da luz

Na obra da luz

Valérium




O poço foi cavado na terra firme.
Servia a todos, sustendo a vida em derredor.
Água límpida aos sedentos.
Água ao transporte para serviço a distância.
Água pura à limpeza.
Água canalizada à irrigação.
Certo dia, porém, o poço foi abandonado a si mesmo.
Desde então, poluiu-se-lhe a água, que secou, pouco a pouco.
Derruíram-se-lhe as paredes.
Caíram pedras dentro dele.
Atulhou-se-lhe o seio com folhas secas.
Cresceram pragas em torno, ocultando-lhe a boca aberta.
Em breve tempo, o antigo poço transformou-se em sepulcro ignorado ou cilada permanente aos transeuntes incautos.
A grande fonte de vida tornou-se a grande armadilha da morte.

*

Tal é o destino da obra construtiva, impropriamente desprezada.
Tudo segue dignamente, se perseveramos na tarefa edificante.
Alegria do suor respeitável.
Alegria da obrigação retamente cumprida.
Alegria da vitória nas tentações.
Alegria da felicidade estendida a todos.
Mas, abandonada ao léu das circunstâncias, desajusta-se a máquina do serviço.
Tisnam-se os ideais.
Morrem as esperanças.
Cai o estímulo.
Enferrujam-se as peças da ação.
E, em pouco tempo, o que era tarefa florescente do amor é cova do egoísmo, provocando a queda e a desilusão de muitos.

*

Não se ausente da obra de luz e fraternidade a que você se dedica.
Quando o coração valoroso deserta do serviço começado no bem, o mal aparece em seu lugar.




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