segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

A outra face

A outra face

Joanna de Ângelis



Considerando-se o estágio moral em que transitam incontáveis criaturas humanas pelos caminhos do planeta terrestre, ainda vivenciando os instintos agressivos, é compreensível que os relacionamentos nem sempre se realizem de maneira pacífica.

Predominando a natureza animal em detrimento da espiritual, o orgulho se arma de mecanismos de defesa, resultantes da prepotência e da argúcia, para reagir ante os acontecimentos ameaçadores ou que sejam interpretados como tais...

A ação decorrente do raciocínio e da lógica cede lugar aos impulsos agressivos, e estabelecem-se os conflitos quando deveriam vicejar entendimentos e compreensão.

Em razão da fase mais primitiva que racional, qualquer ocorrência desagradável assume proporções inadequadas, que não se justificam, porque os recursos morais da bondade sucumbem ante a cólera que se instala e leva à alucinação.

De certa maneira, remanescendo os comportamentos arbitrários de existências pregressas que não foram domados, facilmente a ira rompe o envoltório delicado da gentileza e acontecem os lamentáveis atritos, que devem e podem ser evitados.

A educação equivocada, que estimula o forte à governança, ao destaque, contribui para que a mansidão e a humildade sejam deixados à margem, catalogadas como fraqueza do caráter e debilidade moral.

O território no qual cada indivíduo se movimenta, após apropriar-se, é defendido com violência, como se a posse tivesse duração infinita, o que constitui lamentável equívoco.

Essa debilidade do sentimento se manifesta na conduta convencional do ser humano que opta por ser temido, quando a finalidade da sua existência é tornar-se amado.

Multiplicam-se, indefinidamente, as pugnas, que passam de uma para outra existência até que as Soberanas Leis imponham a submissão e o reequilíbrio através de expiações afligentes.

A lei é de progresso e, por consequência, a todos cabe o esforço de libertação das heranças enfermiças, dos hábitos primitivos, experienciando conquistas íntimas que se irão acumulando na estrutura emocional que se apresentará em forma de paz e de concórdia.

O conhecimento espírita, porque iluminativo, é o mais eficiente para a edificação moral, defluente da conscientização de que o avanço é inevitável e a repetição das atitudes infelizes constitui estagnação e fracasso...

As dificuldades, portanto, as diferenças de opinião, os insultos e agravamentos devem ser considerados como experimentos, como testes ao aprimoramento espiritual, ao aprendizado das novas condutas exaradas no Evangelho de Jesus.

Quando isso não ocorre, fica-se sujeito à influência maléfica dos Espíritos inferiores que se comprazem em gerar situações embaraçosas, responsáveis por essas condutas lamentáveis.

Indispensável vigiar-se as nascentes do coração, a fim de dominar-se a ira, esta fagulha elétrica responsável por incêndios emocionais de resultados danosos.

Considere-se, ademais, a ocorrência de uma parada cardíaca, de um acidente vascular cerebral de consequências irreversíveis, não programados, mas que sucedem somente por falta de controle emocional, provocados pela raiva...

*   *   *

Aprende a dominar os impulsos da ira, porque a existência terrestre não é uma viagem deliciosa ao país róseo da alegria sem fim...

Esforça-te por compreender o outro lado, a forma como os outros encaram as mesmas ocorrências...

Luta por vencer a arrogância, porque todos os Espíritos que anelam pela paz, pela vitória das paixões têm, como primeiro desafio, a superação dos sentimentos inferiores, aqueles que devem ser substituídos pelos de natureza dignificante.

Se alguém te aflige, é porque se encontra necessitado de ajuda e não de combate, é a sua forma de chamar a atenção para a sua solidão e angústia.

Fogo com fogo aumenta o incêndio devorador.

Treina colocar no braseiro a água da paz e se apagarão as labaredas ameaçadoras.

Não foi por outra razão,. que Jesus propôs: Não resistais ao homem mau, mas a qualquer que vos bater na face direita, oferecei-lhe também a outra, conforme anotou Mateus, no capítulo 5, versículo 39 do seu Evangelho.

Esbordoado, no Pretório, Ele exemplificou o ensinamento verbal, não reagindo às agressões, quando os soldados, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-na sobre sua cabeça... mantendo-se em silêncio...

Oferecer a outra face é mais do que expor o lado contrário, a fim de sofrer nova investida da perversidade.

Trata-se da face moral, nobre, que se encontra oculta, aquela rica de sentimentos elevados que distingue uma de outra criatura.

Ninguém é o que apresenta exteriormente, tanto existem conteúdos cruéis ocultos pela educação, pela dissimulação e hipocrisia, como sentimentos relevantes e bons.

Ao seres alcançado por qualquer ocorrência desagradável que te golpeie a emoção, ferindo-te a delicadeza das reservas íntimas, ao invés de reagires, desvela a outra face, a do amor, da compaixão, da misericórdia, agindo com serenidade.

A outra face é o anjo adormecido nas paisagens luminescentes do teu mundo interior.

Ali possuis tesouros de amizade e de ternura que desconheces.

Com essa, a brutal, a reagente, a defensiva, já estás identificado, devendo encontrar-te cansado de vivenciá-la.

Imerge, desse modo, no rio de águas silenciosas do teu mundo íntimo e refresca-te com o seu contributo. Logo depois, deixa que os tesouros do amor do Pai que se encontram adormecidos, fluam suavemente e se incorporem aos conteúdos habituais, substituindo-os ao longo do tempo e predominando por fim.

À medida que tal aconteça, renascerás dos escombros como a Fênix da mitologia, que se renovava e renascia das cinzas que a consumiam.

O bem é a meta que todos devemos alcançar.

Não te permitas, portanto, perturbar, pelas emoções doentias e viciosas que te consomem, destruindo as tuas mais caras realizações espirituais.

És responsável pelos teus atos, qual semeador que avança, seara adentro, atirando os grãos que irão germinar com o tempo.

Certamente muitos se perderão, outros, no entanto, produzirão multiplicadamente, ensejando colheita superior ao volume ensementado.

Necessário cuidar do tipo das sementes que serão distribuídas pelas tuas mãos.

Semeia bondade e colherás alegria de viver, nunca revidando mal por mal.

*   *   *

Uma faísca, um raio que atinja um depósito de combustível e logo se apresentará a destruição.

Controla-os, na corrente das tuas reflexões, gerando a disciplina da contenção da sua carga poderosa de energia, canalizando-a para os labores enobrecidos que te exornam a luta, as conquistas já logradas que te honorificam.

A outra face encontra-se coberta por camadas de experiências desastrosas.

Retira esse lixo mental e permite que se apresente irisada de sol espiritual a outra face, para que o amor real seja a marca do teu comportamento em qualquer circunstância ou ocorrência difícil.

Joanna de Ângelis por Divaldo Franco,
na reunião mediúnica do 
Centro Espírita Caminho da Redenção,
15/04/2009, em Salvador, Bahia.

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