segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Lendo e comentando

Lendo e comentando

Hermínio C. Miranda



DURANTE MUITOS ANOS o nome do modesto escriba que assina estes comentários esteve associado à revista inglesa "Two Worlds", de Londres, e, através das páginas acolhedoras de "Reformador", tornou-se conhecido nos meios espiritas brasileiros o pensamento de Silver Birch, guia espiritual do grupo mediúnico que se reúne regularmente em casa de Maurice Barbanell, editor de "Two Worlds", e médium do querido Espírito. Solicitado por outros assuntos — especialmente o exame crítico de livros estrangeiros — deixei de ler por algum tempo os artigos da revista, e, agora, ao reabri-la, por sugestão de uma amiga e confreira, sinto as emoções de um reencontro com as ideias e a ternura compassiva de Silver Birch.

Retomando, pois, contato com a revista procurarei, de tempos em tempos, escrever algo sobre ela, com o que espero atender aos leitores que, bondosamente, se lembram com saudade da antiga temática da coluna "Lendo e Comentando".

Tenho, pois, diante de mim, alguns exemplares de "Two Worlds". Comecemos pelo de maio de 1975.

* * *

O grupo recebe dois visitantes americanos, Bryce Bond, médium, jornalista e radialista, e Hilda Brown, que faz conferências sobre cura (suponho seja cura espiritual) numa universidade.

Impulsionado pela sua objetividade de jornalista e americano, Mr. Bond submete Silver Birch a um cerrado interrogatório. É uma delícia observar com que finura, inteligência e firmeza, se porta o Espírito, não perdendo nenhuma oportunidade de ministrar lições sutis e preciosas ao seu interlocutor.

De início, Mr. Bond deseja saber a que tribo pertenceu Silver Birch, nos Estados Unidos, em que Estado ele viveu, e que idade tinha. O interrogado não se perturba:

— "Não sou um pele-vermelha, diz ele. Utilizo-me do corpo astral de um índio porque este que me serve possuía muitos atributos psíquicos na terra, e, por conseguinte, colocou-se à minha disposição, quando fui convidado e aceitei esta missão. Minha vida na terra, como indivíduo, vai muito mais longe do que a do índio através do qual falo com vocês."

E prossegue, mais explícito: 

— "Ele é meu médium tanto quanto este outro o é também. Não seria possível, para pessoas como eu, que deixaram o mundo de vocês há muitos séculos, e alcançaram certo estágio evolutivo, chegarem até vocês e comunicarem-se neste plano, onde as vibrações são inteiramente diferentes. Preciso dispor do que no seu mundo seria um transformador; alguém através do qual as vibrações possam ser graduadas ou reduzidas, a fim de permitir a comunicação com vocês. Ao mesmo tempo, devo manter-me em contato com a fonte que me inspira e me permite pontilhar o conhecimento que puder transmitir."

E, a seguir, uma lição preciosa:

— "Dar a você nome de tribos, locais e datas não serviria para estabelecer evidência alguma, porque posso obter essa informação com a maior facilidade."

De fato, teria sido aparentemente mais satisfatório para o jornalista que o Espírito lhe dissesse que pertenceu à tribo A ou B, viveu em tal Estado, neste ou naquele século. Ele poderia, mais tarde, verificar que, perfeitamente, existiu aquela tribo, naquele Estado, naquela época. E daí? Não pode qualquer Espírito obter, livremente, essa informação?

Outro aspecto importante é a observação de que os Espíritos de mais elevada hierarquia utilizam-se, com frequência, de outros Espíritos, como intermediários, para alcançarem o nosso plano. No caso, a entidade informa que se serve do perispírito ("astral body”) de um índio, além do seu próprio médium. Há, pois, dois médiuns no processo da sua comunicação, um encarnado e outro desencarnado. Esse fenómeno é mais comum do que parece, muito embora os Espíritos nem sempre a ele se refiram. De outras vezes, os comunicantes provocam um desdobramento no médium encarnado, e deslocam o perispírito deste até uma determinada região espiritual, de onde se torne possível transmitir-lhes a mensagem.

Ao leitor interessado em aprofundar-se neste assunto, recomenda-se a notável obra "Estudando a Mediunidade", do confrade Martins Peralva, que se apoiou, com inteligência, e ampliou, com sabedoria, os conceitos e esclarecimentos prestados por André Luiz, no livro "Nos Domínios da Mediunidade".

* * *

Ao retomar o texto de "Two Worlds", verificamos que Mr. Bond não se deu muito por achado, e prossegue o seu interrogatório. Quem foi Silver Birch na terra? Há quanto tempo viveu aqui? O Espírito responde, novamente, com serenidade e muito equilíbrio:

— "Não estou preocupado com personalidades. Quando foi necessário, produzi, mais de uma vez, evidência conclusiva quanto à autonomia da minha individualidade em relação à do médium. Não julgo mais necessário dizer quem fui eu na terra. Se eu lhe desse o nome de alguém famoso, não haveria meios de prová-lo, e isso não teria a menor importância. Peço que me julguem inteiramente e somente pelo que eu digo e pelo que tento ensinar, na suposição de que isso representa um apelo à razão, à inteligência e ao bom senso. Se, com esses métodos, eu for incapaz de conquistar as pessoas de seu mundo, então terei falhado. Dizer que fui um faraó não adiantaria nada. Seria unia simples tentativa de atribuir-me certa glória terrena, considerada importante no seu mundo, mas não no nosso. No nosso mundo, o teste não está nas suas posses materiais, mas no que você fez da sua vida. Julgamos almas, não dinheiro ou "status". Almas é o que nos importa. O mundo em que vocês vivem está com suas prioridades erradas. No seu próprio país (Estados Unidos), o culto do bezerro de ouro ficou acima do culto ao Grande Espírito. A obediência é a Mamon e não a Deus, pela esmagadora maioria. Eis o responsável por todas as desordens, dificuldades e conflitos que envolvem vocês, hoje. Está de acordo?"

— Estou, certamente.

— "Se eu disser — prossegue Silver Birch — que fui José de Arimatéia ou João Batista, será que isso me acrescenta um pouquinho que seja de autoridade? Suponha que eu diga ter sido chefe dos Iroqueses, em 1867, no Estado de Manitoba... teria isso algum significado?"

— Não, respondeu Mr. Bond, que não insistiu mais nas suas perguntas.

* * *

É agora, a vez de Hilda Brown perguntar. Ela deseja saber como pode alguém conhecer qual a melhor maneira de servir.

— "A infinita sabedoria do Grande Espírito — responde Silver Birch — deu a cada um de nós uma pequena campainha que nos adverte. É conhecida pelo nome de consciência. Ela sempre nos dá, infalivelmente, a decisão imediata sobre o que está certo. Infelizmente, com muita frequência, os seres humanos equivocam-se, porque pensam que aquilo que está certo pode não ser tão proveitoso como outra opção. Mas, a consciência dá o veredicto imediato."

Voltando-se novamente para Mr. Bond, felicita-o pela sua mediunidade curadora, e este responde, modestamente:

— Não sou eu quem cura.

— "Naturalmente que não, observa o Espírito. É alguém que pertenceu a uma das minhas tribos."

Em seguida, em resposta a uma pergunta, Silver Birch informa:

— "Encontro-me, ocasionalmente, com inteligências que nunca se encarnaram na terra, mas que são muito evoluídas espiritualmente, e que constituem parte do que vocês chamam de hierarquia. Isso, porém, não posso provar a vocês."

Mr. Bond, mais cauteloso, informa que não está solicitando provas, e fórmula outra pergunta.

E é ainda o querido Espírito quem tece considerações que denotam grande acuidade:

— "Pedimos que vocês aceitem apenas o que seja razoável. O mundo de vocês sofre há muito tempo, em consequência da aceitação de credos, doutrinas e dogmas antiquados, estéreis, infecundos, que não guardam relação alguma com a religião ou com a realidade das coisas espirituais. Por isso é que entronizamos a razão como árbitro supremo."

Na prece de encerramento, Silver Birch pede a Deus, na sua linguagem inimitável: — "Neste mundo cheio de escuridão, dúvida, desânimo, caos e confusão, imploramos que nos seja permitido servir aos menos afortunados do que nós, para que nos qualifiquemos como verdadeiros embaixadores do maior poder do universo. Esta é a prece de teu servo índio que procura sempre servir."

* * *

Há outros interessantes artigos neste número de "Two Worlds". Passemos rapidamente por eles, destacando apenas uma ou outra referência, para nos demorarmos um pouco mais num trabalho que me pareceu da mais alta utilidade.

Peggy Mason, por exemplo, está justamente preocupada com as "avançadas" conquistas da ciência moderna, e suas experimentação no campo da biologia e da genética. O Dr. Herbert W. Franke, especialista em física e cibernética, informa que, em poucas décadas, o homem enviará uma nave espacial pilotada por "ciborgues", ou seja, cérebros humanos, separados do corpo, conservados vivos por um mecanismo que mantém um constante fluxo de sangue fresco. Diz o Dr. Franke que "o cérebro de um feto seria o mais apropriado para ser programado..."

Em Cleveland, nos Estados Unidos, cientistas altamente treinados estão transplantando cérebros de macacos para o corpo de cães. Nessa mesma cidade, uma escola de medicina já conseguiu conservar vivos, durante 18 horas, cérebros de macacos rhesus, separados de seus respectivos corpos. Tais cérebros reagem indubitavelmente aos ruídos, o que prova, como diz muito bem a Sra. Mason, que os corpos astrais desses pobres animais continuam presos ao órgão vital que lhes foi extirpado dos corpos físicos.

Lembra a autora, mais adiante, que notícias do mundo espiritual esclarecem-nos que tem sido difícil libertar e tratar o Espírito daqueles que "doaram" seus corações para fins de transplante.

Compreendo bem as angústias da Sra. Mason, pois também já escrevi, sobre esse tema depressivo, um artigo intitulado "Uma Ética para a Genética", publicado em "Reformador" de junho de 1971. página 127. (Ver também "O Desafio da Humanização da Tecnologia", em "Brasil Espírita" de julho de 1971, encartado em "Reformador" do mesmo mês e ano.)

* * *

M. H. Tester atribui o espetáculo da desordem mundial a que estamos presenciando à falência das religiões ortodoxas. Tenho minhas dúvidas acerca da validade de colocar as coisas dessa maneira tão radical e sumária. A mim, parece algo incongruente culpar "as religiões", esquecendo-se de que há, em todo esse quadro de desvios, fracassos e falências morais que infestam as doutrinas religiosas, uma poderosa contribuição humana. São os homens que erram e não as instituições. O Espírito da Verdade disse a Kardec que são de origem humana os erros que se introduziram no corpo doutrinário do Cristianismo. Pode ser cómodo transferir agora a culpa para as religiões ortodoxas, mas, ela está em nós mesmos que, no passado, ajudamos a criar as de formação e os dogmatismos que hoje sufocam os ideais cristãos de que tanto necessita a humanidade desarvorada.

* * *

George St. George debate com Tester o problema da ortodoxia cristã. Ao que depreendo — passei algum tempo sem ler "Two Worlds" —, Tester anda particularmente impaciente com o que denomina "a falência das religiões ditas cristãs", e tal impaciência atinge, de certa forma, o próprio Cristo, de quem ele critica alguns ditos retirados aqui e ali nos Evangelhos, para acabar condenando não apenas as religiões cristãs, mas também os Evangelhos, o que é injusto. Muita gente, a meu ver, não entendeu que há uma diferença muito grande entre o pensamento do Cristo e aquilo que o moderno cristianismo prega e pratica. Não Vamos, porém, entrar nessa discussão. Palavras, apenas, como diz Silver Birch e já dizia William Shakespeare. Há muito o que fazer e o tempo para polemicar é tempo roubado ao serviço daquele que deseja ser útil.

* * *

Finalmente, o notável artigo a que há pouco me referia. Intitula-se "Exorcism — but with a vital difference" (Exorcismo — mas com uma diferença vital), e é de tutoria de Jean Mathers. Não me lembro de ter lido outro trabalho dessa escritora; desejo, porém, render ao seu grupo minha homenagem pela sensibilidade e pelo tato no problema da desobsessão. Jean Mathers conquista, logo de início, minhas simpatias, ao falar no trabalho excelente que pode desenvolver um pequeno grupo mediúnico:

— Um grupo (A expressão comumente usada em Inglês é "rescue circle", ou seja círculo de resgate, ou grupo de resgate.) competente, bem treinado e disciplinado, operando harmoniosamente e compassivamente, torna-se instrumento pelo qual muitas almas que vivem num inferno de sua própria criação podem ser conduzidas, através do arrependimento e da compreensão, a um estado ante o qual sentirão forte desejo de abandonar seus erros passados e colocar firmemente os pés na trilha da evolução espiritual.

Para ilustrar seu comentário, com o qual estamos de pleno acordo, ela conta um caso ocorrido no grupo do qual faz parte, e que funciona há mais de 20 anos. O Espírito manifestante chamava-se Tom e foi possível resgatá-lo das suas angústias ao cabo de meia hora de diálogo inteligente e esclarecedor. Outros, como reconhece a autora, desceram tão fundo nas suas ilusões, que exigem semanas, meses ou anos de paciente tratamento.

— "É muito importante — escreve a Sra. Matheus — que esse trabalho não seja empreendido sem orientação correta, e total proteção." (O destaque é do próprio original.)

Tom estava desorientado e atónito; podia, entretanto, sentir as vibrações de amor fraterno que envolvia o grupo mediúnico, mas que, não obstante, nele causavam uma curiosa sensação de mal-estar, decorrente do próprio choque das vibrações.

O diálogo começa a desenrolar-se com extraordinário tato, paciência e afeição da parte da doutrinadora de nome Sheila. São esses primeiros momentos do contacto os mais difíceis. Ainda não sabemos a que vem o Espírito, nem qual é o seu problema, e, por isso, não estamos ainda em condições de lhe oferecer outra ajuda senão a amorosa paciência de ouvi-lo, mesmo que ele chegue gritando impropérios. A doutrinadora informa que ele está entre amigos, custando a convencê-lo disso.

De repente, ele dá um grito:

— Não se atreva a tocar no meu ouro! Ninguém vai tirá-lo de mim! Aí está, pois, a primeira informação valiosa. Os médiuns clarividentes já haviam percebido o Espírito rodeado de pilhas de moedas de ouro, que ele tomava e fazia tilintar, contando-as e recontando-as, "com uma expressão de incrível avareza a sombrear-lhe a face".

A doutrinadora informa que ninguém ali está interessado no seu ouro, e sim no seu bem-estar. O Espírito deseja ficar sozinho com a sua riqueza, mas as vibrações fraternas do grupo começam a envolvê-lo, e a doutrinadora pede-lhe que fique um pouco mais, dizendo que o sente infeliz, e que gostaria de ajudá-lo.

E ele:

— Você ganha para ajudar? Seja como for, eu não preciso de ajuda. Por que você quer me ajudar? Você nem me conhece. . .

Aos poucos, a história vai se desdobrando. Tom só possuiu um interesse na vida: ganhar dinheiro. Não se casou. Para que família? Só para gastar o dinheiro dele. Não teve amigos, nem ninguém a quem se ligasse por sentimento de particular afeição. Não precisou de ninguém, e sentia-se perfeitamente feliz em ter todo o tempo disponível para ganhar mais dinheiro. Mas, isso lhe dava felicidade?

— Felicidade? pergunta ele, surpreso. Que é a felicidade? O que eu queria é segurança, não felicidade.

Tom passara fome e frio na infância. Seu pai, sempre doente, quase não podia trabalhar. Sua mãe não ganhava o suficiente para sustentá-los. Além de tudo, era uma imbecil, pois quando conseguia algum alimento, acabava partilhando o pouco que tinha com os vizinhos...

Tom começou a dedicar-se à tarefa de ganhar dinheiro. A princípio, viveu bem e com relativo conforto; depois, começou a temer que o dinheiro um dia se acabasse e ele recaísse na miséria. Foi essa a gênese da sua avareza. Quanto a ajudar o próximo, não havia como, nem por quê. Seus pais morreram na miséria, e, quanto aos outros, ninguém ligava para ele... E, assim, vivia Tom agora, ainda cercado pelo seu ouro, num ambiente estranho que ele não estava entendendo direito, porque "muitas coisas não estavam bem ultimamente, e ninguém aparecia para ajudá-lo".

Observem a sutileza da doutrinadora:

— Que tipo de coisas não tem estado bem? Você quer dizer na sua casa? — É. As luzes não se acendem. Não consigo ver muito bem. Posso apenas sentir as coisas. E havia também alguns vizinhos que não vejo mais. Veja bem, não que eu deseje tê-los em minha casa xeretando, mas é que seria bom para mim um pouco de ajuda de vez em quando.

Estava claro, pois, que Tom não sabia que havia desencantado.

O momento é de extrema delicadeza. A informação crua de que o comunicante é um Espírito desencarnado, em tais condições, pode provocar-lhe um choque de imprevisíveis consequências. A doutrinadora, porém, revela-se à altura da situação pelo seu preparo e carinho. Sua pergunta:

— Você acredita na vida depois da morte, Tom?

Ele confessa que nunca teve muito tempo para pensar nisso. Talvez... não sabia. Sua velha mãe acreditava. Em pequeno, levava-o à igreja, mas ele não gostava. Era mais fria ainda do que sua casa, e, além disso, "ir à igreja não enche barriga".

O diálogo prossegue. A inteligente doutrinadora diz-lhe que, ao que parece, ele não se tem alimentado bem ultimamente. É verdade, reconhece Tom, mas, se quisesse gastar algum dinheiro, poderia comer bem.

E ela: — Você esteve doente?

Esteve, sim. Tosse e dor no peito, mal conseguindo respirar, às vezes. A sensibilidade da doutrinadora indica que o momento da revelação está chegando, e ela diz-lhe:

— Tom, nós acreditamos que a vida continua depois que a gente morre. Não achamos que a morte seja o fim. Uma risada estrepitosa é a resposta de Tom.

— Você não quer dizer que eu esteja morto, quer?

— Não é isso que eu quero dizer. Eu digo que você está vivo, mas num mundo diferente.

Longo silêncio. Os componentes do grupo concentram-se em pensamentos de carinhosa afeição para ajudar o Espírito naquele momento de crise.

— Bem, diz ele, afinal, em voz pausada. Acho que isso explicaria uma porção de coisas que me confundem. Minha casa era a mesma e, no entanto, era diferente. Eu não podia compreender isso. E também os vizinhos. Não é de se admirar que eles não estivessem aqui. Contudo, ainda estou na posse de meu ouro! Isso não é muito bom para mim, é? Mas, não quero perdê-lo. Como poderia me sentir em segurança sem ele? O que será que vai me acontecer? Estou com medo.

A doutrinadora fala-lhe, então, da mãe, pois, em casos como este, quase sempre estão presentes os Espíritos que mais de perto se interessam pelo que sofre. A esta altura, mesmo sem compreender direito o que se passa, Tom já está disposto a dar um pouco de seu ouro para que seus pais tenham, afinal, algum conforto.

— Tom, diz a doutrinadora, você acaba de dizer a primeira palavra que vai ajudar você a encontrá-los.

— Você quer dizer por que eu disse que vou dar-lhes algum dinheiro?

— Não, porque você usou a palavra "dar". Essa é uma que você não está acostumado a empregar. Seus pais não precisam de dinheiro agora, mas ainda precisam de que você se doe a eles.

E ele, em voz baixa e, obviamente, comovida:

— Diga-me onde estão eles.

Ainda resta, porém, o problema do ouro que ele não quer abandonar. Sheila, com extrema habilidade, continua seu trabalho, pois Tom compreendeu também que, se o ouro não serve de nada para seus pais, certamente não servirá para ele. Sheila esclarece:

— Se você quiser, pode jogar fora esse ouro. Não vai ser fácil, porque você levou uma vida para juntá-lo. Somente nos últimos minutos você começou a entender que não são as coisas materiais que importam. Por muitos anos, você nem deu nem recebeu amor. Seu ouro impediu-o. Agora, se você puder perdoar a si mesmo pelos anos desperdiçados, aí estará a oportunidade de começar uma nova vida.

— Deus nunca me perdoará, diz ele.

Sheila prossegue, firme e carinhosa, a dizer que Deus perdoa sempre, mas, antes, ele próprio deve perdoar-se. Se ele atirasse fora o ouro, aquela ferida interior provocada pela autorrecriminação começaria a cicatrizar.

— À medida que sua atitude muda e você começa a pensar nos outros e em como ajudá-los, a ferida desaparece.

Realmente, não foi fácil para Tom jogar fora suas pilhas de ouro, mas ele o fez, penosamente, a princípio, e, depois, com alegria, com um sentimento de libertação e euforia. Sentia-se livre pela primeira vez em muito tempo, e começou a distinguir umas figuras iluminadas que se dirigiam para ele. Reconhecer os pais e eles pareciam tão felizes, e lhe estendiam os braços...

— Antes de você partir - diz ainda Sheila — não quer recitar, por favor, o Pai-Nosso, com um dos componentes do grupo?

— Com todo o prazer - diz Tom. Acho que ainda posso lembrar-me dele dos tempos de criança. Pai-Nosso...

Hermínio C. Miranda
Revista Reformador Set. 1975
FEB

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Foto do artigo original.




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