Angústia materna
Richard Simonetti
- Estou desesperada! Meu filho morreu num estúpido acidente! É tão grande minha dor que tenho vontade de morrer! Por que, meu Deus? Por quê?! Uma vida interrompida cruelmente! Mal começara a existência!..
Clara, jovem senhora que atendia no plantão de entrevistas e encaminhamento à assistência espiritual, contemplou a mulher atormentada que tinha à sua frente, aguardou que extravasasse as mágoas, em meio a copioso pranto, e lhe disse, bondosa:
- Dona Arminda, não se entregue ao desalento... Nada acontece por acaso. Razões ponderáveis, inacessíveis ao nosso entendimento, determinaram que o menino regressasse ao Plano Espiritual.
- Não me conformo! Não aceito perdê-lo tão cedo. Tinha apenas treze anos!... Era praticamente uma criança!...
- É preciso corrigir nossos raciocínios. A senhora não o perdeu. Ele apenas transferiu-se de residência...
- Tal ideia não significa nada. Não posso vê-lo! É como se não existisse!...
- Engano seu. Enquanto houver amor nossos afetos estarão conosco. Viverão em nossa lembrança... Recorde os dias felizes de sua convivência e considere que, em Espírito, ele virá, mais tarde, visitá-la. Se preparar o coração, libertando-o de sentimentos negativos, poderá senti-lo junto de si, nas emoções de terna saudade, plena de felizes recordações...
A infeliz mãe fez uma pausa no pranto copioso e, ansiosa, perguntou:
- Por que ocorrem semelhantes tragédias?
- Há Espíritos que vêm para experiência breve. Não raro, faz parte de seu planejamento sensibilizar os pais, renovando-lhes as disposições, ajudando-os a superar as ilusões do Mundo. Talvez a senhora nunca se interessasse por tais questões, não fosse a mágoa que a motiva. Posso dizer-lhe, sem medo de errar; que a Doutrina Espírita lhe oferecerá uma nova visão da Vida, permitindo-lhe caminhar com mais segurança. Temos nela o Consolador prometido por Jesus, uma Bênção Divina, que nos explica os porquês da existência, demonstrando-nos que não estamos entregues à própria sorte. Deus vela por nós e nos conduz a glorioso destino.
A visitante reiniciara o fluxo das lágrimas, Clara procura animá-la, desviando o rumo de seus pensamentos:
- Tem outros filhos?
- Sim, mais três.
- E o marido?
- Sofre muito. Era extremamente ligado ao menino. Mas é mais forte, vem reagindo... Eu é que não me conformo! Não me conformo!...
- É preciso seguir em frente, tornar à normalidade. A Vida continua. Sua família precisa de seu bom ânimo. Coragem! A tempestade passará!
- Não consigo! Só quem perdeu um filho sabe o quanto isso dói. Perdoe-me se lhe pareço indelicada, mas é fácil falar em coragem, serenidade, bom ânimo, disposição de lutar, quando tudo corre bem.
- A senhora tem razão. Nossa crença é tranquila quando nos demoramos entre flores. Conservá-la em meio aos espinhos é um teste terrível. Sei bem o que isso significa, porquanto passei por experiência semelhante à sua.
Enxugando lágrimas discretas, Clara completa:
- Meu esposo e dois filhos, toda minha família, joias de minha vida, faleceram há dois anos, num desastre de avião...
***
O desencarne de afetos caros ao nosso coração, em ocorrências trágicas, situa-se como provação das mais dolorosas. Mas há um sofrimento maior: a inconformação, quando estagiamos em voluntário pesadelo, recusando-nos a regressar à normalidade.
Para preservarmos a própria integridade indispensável que não nos percamos em interminável questionamento, como se pedíssemos contas ao Céu.
Em nenhuma outra circunstância se faz mais imperiosa a confiança em Deus e a submissão à Sua Vontade, considerando que o Senhor sabe o que faz.
Richard Simonetti do livro:
Atravessado a rua
Declaração de Origem
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