domingo, 24 de abril de 2022

O velho triângulo

O velho triângulo

Richard Simonetti



A jovem inconsequente apaixona-se perdidamente pelo rapaz e percebe que é correspondida. No entanto, ele é casado e, até conhecê-la, sempre vivera relativamente bem com a esposa e três filhos. Cedendo à mútua atração, estabelecem uma ligação extraconjugal. Mas, embora empolgados pelo domínio das sensações, não são felizes. Uma sombra de permanente intranquilidade, misto de consciência torturada, temores e incertezas os perturba. Quanto à esposa traída, embora desconheça a situação, percebe que o marido se distancia da comunhão afetiva. Suas perplexidades, somadas ao comportamento indisciplinado do chefe da casa, afetam o ambiente do lar, com larga soma de prejuízos para os filhos.

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Temos aqui o chamado triângulo amoroso, tantas vezes repetido na Terra, fruto exclusivo das tendências à poligamia que ainda caracterizam o comportamento humano.

Situados muito mais próximo da animalidade do que da angelitude; motivadas muito mais pela satisfação do próprio ego que por impulsos de afetividade, as criaturas humanas tendem a ver em representantes do sexo oposto uma oportunidade sempre renovada de autoafirmação, seja na troca de olhar, o flerte, seja na conversa fortuita, cultuadas as emoções da conquista, seja nas experiências do sexo. Somente uma minoria de Espíritos mais amadurecidos consegue superar o instinto, centralizando-se num relacionamento duradouro, autêntico e sem desvios.

Dizem os psicólogos que há uma espécie de atração química que se pode estabelecer ao primeiro contato entre um homem e uma mulher, independente de estarem ou não vinculados a outro compromisso afetivo. É o que chamam o “toque do sino”, o despertar da atração por alguém.

Sob o ponto de vista espírita, diríamos que, ao reencarnarmos, não voltamos à Terra assim como quem deixa a família e parte para experiências em região distante. Normalmente, familiares, amigos e até inimigos nos acompanham, de vez que compomos grupos que caminham juntos na estrada do aprimoramento espiritual. São personagens de um mesmo drama — a Evolução — que trocam de vestes para novos papeis no cenário terrestre.

Velhos parceiros de experiências afetivas, inspiradas nos desvios do sexo, reencontram-se ligados pelos laços da consanguinidade: pai e filho, irmão e irmã, mãe e filho... A própria natureza do novo relacionamento impõe sublimação, e a paixão, o desejo de posse, são trabalhos no cadinho purificador do lar, para que surja o amor legítimo e puro.

Poderá ocorrer, também, que o reencontro se dê fora do lar, como o de estranhos que se vissem pela primeira vez e instintivamente sentissem mútua atração.

Muitos acabam traindo compromissos matrimoniais e partem para perigosas aventuras. Conhecemos companheiros espíritas que justificam semelhante comportamento, proclamando: “Tenho grande apreço pela esposa e amo profundamente os filhos, mas a outra é minha “alma gêmea”. “Reencontrei-a e não posso viver sem ela.”

Além de desertores, cometem a desfaçatez de distorcerem princípios espíritas para justificar seus desatinos.

O Espiritismo é bastante claro ao demonstrar que o reencontro de afeiçoados e desafetos do passado, no lar ou fora dele, não se apresenta jamais como apelo irresistível à inconsequência e, sim, como oportunidade renovada de buscarmos nossa edificação espiritual, seja perdoando ao inimigo de ontem, seja enxergando um irmão ou uma irmã em representante do sexo oposto por quem sintamos atração, sempre que a vida nos houver situado em outro compromisso afetivo.

Nesta circunstância, impõe-se com veemência a necessidade daquele “orai e vigiai” recomendado por Jesus. Sempre que o homem ou a mulher não resistem ao apelo do passado e partem para ligações extraconjugais, fugindo do dever, forma-se um clima de perturbação que gera sofrimento e desequilíbrio para todas as pessoas envolvidas. Lembrando ainda Jesus, dessa situação os responsáveis não sairão sem “choro e ranger de dentes”. Hoje tecem teias de sedução e prazer em que se deleitam. Amanhã, entretanto, reconhecerão desolados que apenas embaraçaram o fio do Destino.

Richard Simonetti do livro:
Temas de hoje - Problemas de sempre

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