Hereditariedade
Emmanuel
Realmente, não podemos negar os princípios da hereditariedade em formação do corpo físico.
O fruto é a síntese da árvore.
A casa construída revela a qualidade do operário que lhe assegurou o levantamento.
Nossos pais, na Terra, por isso mesmo, são os artífices da genética, plasmando o instrumento adequado à nossa materialização, a longo prazo, entre os homens.
Urge, porém, considerar que a moradia material nada tem a ver, substancialmente, com o seu inquilino provisório, como o leito nada possui de comum com o enfermo que o ocupa, excetuando-se naturalmente o valor do serviço prestado a um e outro, porquanto, sem o domicílio, o homem estaria relegado à intempérie e, sem o catre acolhedor, o doente pereceria por deficiência de proteção.
Na consanguinidade terrestre, reunimo-nos uns aos outros, de modo geral, pelos princípios da afinidade.
Pais delinquentes atraem espíritos viciosos que, se lhes filiando à carne transitória, lhes impõem duro trabalho regenerativo, ao passo que lares dignos invocam a presença de almas enobrecidas e belas que elegem na sensibilidade e no amor, na ciência e na virtude o seu clima ideal.
Semelhante regra, contudo, tem as suas exceções porque no ambiente sombrio da viciação e do crime podem aparecer criaturas aformoseadas pelo mais alto nível de evolução, aí cumprido difíceis tarefas de renunciação e soerguimento para que a luz se faça entre os que se refocilam nas trevas, enquanto que nos círculos felizes podem surgir almas torvas, emissárias de sofrimentos e sombras, trazendo agoniado reajuste à assembleia familiar em que temporariamente estagiam.
Desse modo, a família terrena é a forja de laço purificadores, em que cada espírito renascente, embora recolhendo da ascendência doméstica o corpo que mereceu, é, no fundo, o herdeiro de si próprio, de vez que cada qual de nós traz consigo do passado remoto e próximo as bênçãos e as chagas, as aflições e as alegrias que semeou para si mesmo nos caminhos imensuráveis do tempo.
Sejamos cultores da sabedoria e do amor, da bondade e da educação, ainda agora, porquanto, se somos hoje os escravos da espinhosa plantação do pretérito, seremos amanhã venturosos senhores de nossos próprios destinos, se esposarmos o bem por norma inalterável de nossa paz, desde hoje.
Emmanuel por Chico Xavier do livro:
Semeador em tempos novos
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