domingo, 24 de fevereiro de 2019

Angèle, nulidade sobre a Terra

Angèle, nulidade sobre a Terra

Allan Kardec



Angèle, nulidade sobre a Terra - (Bordeaux, 1862)

Com este nome, um Espírito se apresentou espontaneamente ao médium.

1. Arrependei-vos das vossas faltas?
— R. Não.
— P. Então por que me procurais?
— R. Para experimentar.
— P. Acaso não sois feliz?
— R. Não.
— P. Sofreis?
— R. Não.
— P. Que vos falta, pois?
— R. A paz.

Certos Espíritos só consideram sofrimento o que lhes lembra as suas dores físicas, convindo, não obstante, ser intolerável o seu estado moral.

2. Como pode faltar-vos a paz na vida espiritual?
— R. Uma mágoa do passado.
— P. A mágoa do passado é remorso; estareis, pois, arrependida?
— R. Não; temor do futuro é o que experimento.
— P. Que temeis?
— R. O desconhecido.

3. Estais disposta a dizer-me o que fizestes na última encarnação?
Isso talvez me facilite a orientar-vos.
— R. Nada.

4. Qual a vossa posição social?
— R. Mediana.
— P. Fostes casada?
— R. Sim; fui esposa e mãe.
— P. E cumpristes zelosa os deveres decorrentes desse duplo encargo?
— R. Não; meu marido entediava-me, bem como meus filhos.

5. E de que modo preenchestes a existência?
— R. Divertindo-me em solteira e enfadando-me como mulher.
— P. Quais eram as vossas ocupações?
— R. Nenhuma.
— P. E quem cuidava da vossa casa?
— R. A criada.

6. Não será cabível atribuir a essa inércia a causa dos vossos pesares e temores?
— R. Talvez tenhais razão, mas não basta concordar.
— P. Quereis reparar a inutilidade dessa existência e auxiliar os Espíritos sofredores que nos cercam?
— R. Como?
— P. Ajudando-os a aperfeiçoarem-se pelos vossos conselhos e pelas vossas preces.
— R. Eu não sei orar.
— P. Fá-lo-emos juntos e aprendereis. Sim?
— R. Não.
— P. Mas por quê?
— R. Cansa.


Instruções do guia do médium - Monod

Damos-te instrução, facultando-te o conhecimento prático dos diversos estados de sofrimento, bem como da situação dos Espíritos condenados à expiação das próprias faltas.

Angèle era uma dessas criaturas sem iniciativa, cuja existência é tão inútil a si como ao próximo. Amando apenas o prazer, incapaz de procurar no estudo, no cumprimento dos deveres domésticos e sociais as únicas satisfações do coração, que fazem o encanto da vida, porque são de todas as épocas, ela não pôde empregar a juventude senão em distrações frívolas; e quando deveres mais sérios se lhe impuseram, já o mundo se lhe havia feito um vácuo, porque vazio também estava o seu coração. Sem faltas graves, mas também sem méritos, ela fez a infelicidade do marido, comprometendo pela sua incúria e desleixo o futuro dos próprios filhos.

Deturpou-lhes o coração e os sentimentos, já por seu exemplo, já pelo abandono em que os deixou, entregues a fâmulos, que ela nem sequer se dava ao trabalho de escolher. 

A sua existência foi improfícua e, por isso mesmo, culposa, visto que o mal é oriundo da negligência do bem. Ficai bem certos de que não basta abster-vos de faltas: é preciso praticar as virtudes que lhes são opostas.

Estudai os ensinamentos do Senhor: meditai-os e compenetrai-vos de que eles, se vos fazem estacar na senda do mal, também vos impõem voltar atrás, a fim de tomardes o caminho oposto que conduz ao bem. O mal é a antítese do bem; logo, quem quiser evitar o primeiro deve seguir o segundo, sem o qual a vida se torna nula, mortas as suas obras, e Deus, nosso pai, não é o Deus dos mortos, mas dos vivos.

— P. Ser-me-á permitido saber qual teria sido a penúltima existência de Angèle? A última deveria ter sido consequência dela, isto é, da penúltima.

— R. Ela viveu na indolência beatífica, na inutilidade da vida monástica. 

Preguiçosa e egoísta por gosto, quis experimentar a vida doméstica, mas seu Espírito pouco progrediu.

Sempre repeliu a voz íntima que lhe apontava o perigo, e, como a propensão era suave, preferiu abandonar-se a ela, a fazer um esforço para sustá-la em começo. Hoje ainda compreende o perigo dessa neutralidade, mas não se sente com forças para tentar o mínimo esforço. Orai por ela, procurai despertá-la e fazer que seus olhos se abram à luz. É um dever, e dever algum se despreza.

O homem foi criado para a atividade; a atividade do Espírito é da sua própria essência; e a do corpo, uma necessidade.

Cumpri, portanto, as prescrições da existência, como Espírito votado à paz eterna. A serviço do Espírito, o corpo mais não é que máquina submetida à inteligência: trabalhai, cultivai, portanto, a inteligência, para que dê salutar impulso ao instrumento que deve auxiliá-la no cumprimento de sua missão. Não lhe concedais tréguas nem repouso, tendo em mente que essa paz a que aspirais não vos será concedida senão pelo trabalho. Assim, quanto mais protelardes este, tanto mais durará para vós a ansiedade de espera.

Trabalhai, trabalhai incessantemente; cumpri todos os deveres sem exceção, isto com zelo, com coragem, com perseverança.

A fé vos alentará. Todo aquele que desempenha conscientemente o papel mais ingrato e vil da vossa sociedade, é cem vezes mais elevado aos olhos do Onipotente do que aquele que, impondo esse papel aos outros, despreza o seu.

Tudo é degrau que dá acesso ao Céu: não quebreis a lápide sob os pés e contai com o concurso de amigos que vos estendem a mão, sustentáculos que são dos que vão haurir suas forças na crença do Senhor.

Monod

Allan Kardec - Livro: O Ceú e o Inferno ou a Justiça Divina Segundo o Espiritismo - Segunda Parte / Capítulo VII / Espíritos endurecidos.

Curta nossa página no Facebook:

Declaração de Origem

- As mensagens, textos, fotos e vídeos estão todos disponíveis na internet.
- As postagens dão indicação de origem e autoria. 
- As imagens contidas no site são apenas ilustrativas e não fazem parte das mensagens e dos livros. 
- As frases de personalidades incluídas em alguns textos não fazem parte das publicações, são apenas ilustrativas e incluídas por fazer parte do contexto da mensagem.
- As palavras mais difíceis ou nomes em cor azul em meio ao texto, quando acessados, abrem janela com o seu significado ou breve biografia da pessoa.
- Toda atividade do blog é gratuita e sem fins lucrativos. 
- Se você gostou da mensagem e tem possibilidade, adquira o livro ou presenteie alguém, muitas obras beneficentes são mantidas com estes livros.

- Para seguirmos corretamente o espiritismo, devemos submeter todas as mensagens mediúnicas ao crivo duplo de Kardec, sendo eles,  a razão e a universalidade.

- Cisão para estudo de acordo com o Art. 46 da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610 /98 LDA - Lei nº 9.610 de 19 de Fevereiro de 1998.
- Dúvidas e contatos enviar e-mail para: regeneracaodobem@gmail.com 



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário, sugestão, etc...