domingo, 20 de setembro de 2020

A razão de ser do espiritismo

A razão de ser do espiritismo

Victor Hugo




Quando o obscurantismo da fé dominava as mentes, levando-as ao fanatismo desestruturador da dignidade e do comportamento; quando a cultura, enlouquecida pelas suas conquistas no campo da ciência de laboratório, proclamava a desnecessidade de qualquer preocupação com Deus e com a alma, face à fragilidade com que se apresentavam no proscênio do mundo; quando a filosofia divagava pelas múltiplas escolas do pensamento, cada qual mais arrebatadora e irresponsável, inculcando-se como portadora da verdade que liberta o ser humano de todos os atavismos e limitações; quando a arte rompia as ligações com o clássico, o romântico e a beleza convencional, para expressar-se em formulações modernistas, impressionistas, abstracionistas, traduzindo, ora a angústia da sua geração remanescente dos atavismos e limitações do passado, ora a ansiedade por diferentes paradigmas de afirmação da realidade; quando se tornavam necessários diversos comportamentos sociais e políticos para amenizar a desgraça moral e econômica que avassalava a Humanidade; quando a religião perdia o controle sobre as consciências e tentava rearticular-se para prosseguir com os métodos medievais ultramontanos e insuportáveis; quando as luzes e as sombras se alternavam na civilização, surgiu o Espiritismo com a sua razão de ser para promover o homem e a mulher, a vida e a imortalidade, o amor e o bem a níveis dantes jamais alcançados. 

Realizando uma revolução silenciosa como poucas jamais ocorridas na História, tornou-se poderosa alavanca para o soerguimento do ser humano, retirando-o do caos do materialismo a que se arrojara ou fora atirado sem a menor consideração, para que adquirisse a dignidade ética e cultural, fundamentada na identificação dos valores morais, indispensável para a identificação dos objetivos essenciais e insuperáveis da paz interna e da consciência de si mesmo durante o trânsito corporal. 

Logo depois, no Collège de France, proclamando ser Jesus um homem incomparável, no seu memorável discurso, o acadêmico e imortal Ernesto Renan confirmava, a seu turno, embora sem qualquer contato com a Doutrina nascente, a humanidade do Rabi galileu, rompendo a tradição dogmática do Homem Deus ou do ancestral Deus feito homem. 

Sob a ação do escopro inexorável das informações de além túmulo, o decantado repouso ou punição eterna, o arbitrário julgamento mais punitivo que justiceiro, cediam lugar à consciência da vida exuberante que prossegue morte afora impondo a cada qual a responsabilidade pela conduta mantida durante a trajetória encerrada. 

As narrações da sobrevivência tocadas pela legitimidade dos fatos, fundamentadas na lógica da indestrutibilidade do ser espiritual, davam colorido diferente às paisagens da Eternidade, diluindo as fantasias e mitos que as adornaram por diversos milênios. 

Permitiu que o ser humano se redescobrisse como Espírito imortal que é, preexistente ao berço e sobrevivente ao túmulo, facultando-lhe compreender a finalidade existencial, que é imergir no oceano do inconsciente, onde dormem os atos pretéritos e as construções que projetam diretrizes para o momento e o futuro, a fim de diluir as volumosas barreiras de sombra e de crueldade a que se entregou e que lhe obnubila a compreensão da sua realidade, emergindo em triunfo, para que lobrigue a imarcescível luz da verdade que o há de conduzir pelos infinitos roteiros do porvir. 

Intoxicado pelos vapores da organização fisiológica, mergulhado em sombras que lhe impedem o discernimento, vagando pelos dédalos intérminos da busca da realidade, somente ao preço da fé raciocinada e lógica, portadora dos instrumentos que se derivam dos fatos constatados, o homem e a mulher podem avançar com destemor pelas trilhas dos sofrimentos inevitáveis, que são inerentes à sua condição de humanidade, vislumbrando níveis mais nobres que devem ser conquistados. 

O Espiritismo traçou novos programas para a compreensão da vida e a mais eficaz maneira de enfrenta-la, desafiando o materialismo no seu reduto e os materialistas no seu cepticismo, oferecendo-lhes mais seguras propostas de comportamento para a felicidade ante as vicissitudes do processo existencial. 

Não se compadecendo da presunção dos vazios de sentimento e soberbos de conhecimentos em ebulição de ideias, demonstrou a sua força arrastando desesperados que foram confortados, violentos que se acalmaram, alucinados que recuperaram a razão, delinquentes que volveram ao culto do dever, perversos que se transformaram, ateus que fizeram as pazes com Deus, ingratos que se reabilitaram perante os seus benfeitores, miseráveis morais que se enriqueceram de esperança e de alegria de viver, construindo juntos o mundo de bem-estar por todos anelado. 

O Espiritismo trouxe a perfeita mensagem da justiça divina, por enquanto mal traduzida pela consciência humana, contribuindo para a transformação da sociedade, mas sem a revolução sangrenta das paixões em predomínio, que sempre impõe uma classe poderosa sobre as outras que são debilitadas à medida que vão sendo extorquidos os seus parcos recursos até a exaustão das suas forças, quando novas revoluções do mesmo gênero explodem, produzindo desgraça e ódios que nunca terminam... 

Trabalhando a transformação moral do indivíduo, propõe-lhe o comportamento solidário e fraternal, a aplicação da justiça corretiva e reeducativa quando delinqui, conscientizando-o de que as suas ações serão também os seus juízes e que não fugirá de si mesmo onde quer que vá. 

Todo esse contributo moral foi retirado do Evangelho de Jesus, especialmente do Seu Sermão da montanha, no qual reformulou os valores humanos até então aceitos, demonstrando que forte não é o vencedor de fora, mas aquele que vence a si mesmo, e poderoso, no seu sentido profundo, não é aquele que mata corpos, mas não é capaz de evitar a própria morte. 

Revolucionando o pensamento ético e abrindo espaço para novo comportamento filosófico, a Sua palavra vibrante e a Sua vivência inigualável, colocaram as pedras básicas para o Espiritismo no futuro alicerçar, conforme ocorreu, os seus postulados morais através da ética do amor sob qualquer ponto de vista considerado. 

Nos acampamentos de lutas que se estabeleciam no Século XIX, quando a ciência e a razão enfrentavam a fé cega e a prepotência das Academias e dos seus membros fascinados como Narciso por si mesmo, o Espiritismo surgiu como débil claridade na noite das ambições perturbadoras e lentamente se afirmou como amanhecer de um novo dia para a Humanidade já cansada de aberrações de conduta como fugas da realidade e sonhos de poder transitório, transformados em pesadelos de guerras infames, cujas sequelas ainda se demoram trucidando vidas e dilacerando sentimentos. 

A razão de ser do Espiritismo encontra-se na sua estrutura doutrinária, diversificada nos seus aspectos de investigação científica ao lado das demais correntes da ciência, do comportamento filosófico com a sua escola otimista e realista para o enfrentamento do ser consigo mesmo e da vivência ético-moral-religiosa que se estrutura em Deus, na imortalidade, na justiça divina, na oração, na ação do bem e sobretudo do amor, única psicoterapia preventiva-curativa à disposição da Humanidade atual e do futuro.

Victor Hugo por Divaldo Franco
Psicografia de Divaldo Franco, no dia 7 de junho de 2001, em Paris, França. 
Publicado no Jornal Mundo Espírita de novembro de 2001.

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Significado do desenho da Cepa Espírita na foto:

Histórico

Por ocasião dos estudos e pesquisas iniciais da Revelação Espírita, e já em trabalho de lançar O Livro dos Espíritos, o codificador espírita recebeu uma comunicação mediúnica (a identidade do médium é desconhecida), assinada por várias entidades espirituais, cujo texto seria utilizado dentro do prefácio da obra, intitulado "Prolegômenos". No ínterim desta comunicação, um parágrafo assim se expressa:

"Coloca no cabeçalho do livro a cepa que te desenhamos, porque é o emblema do trabalho do Criador. Aí se acham reunidos todos os princípios materiais que melhor podem representar o corpo e o espírito. O corpo é o tronco; o espírito é o licor; a alma ou espírito ligado à matéria é o bago. O homem purifica o espírito pelo trabalho e tu sabes que só mediante o trabalho do corpo é que o Espírito adquire conhecimentos."
De fato, em anexo àquela mensagem, os Espíritos enviaram um desenho, de autoria da espiritualidade (psicopictografia), conforme Kardec assegurou, através da nota de rodapé posta na página seguinte à reprodução da imagem: "A cepa que se vê na página anterior é o fac-símile da que os Espíritos desenharam."

Significado do desenho

Bem como a própria comunicação explica, o desenho é uma representação gráfica do trabalho de Deus — ou seja, a Criação. Embora pareça ilustrar especificamente a criação dos Espíritos (os seres inteligentes, indivíduos, pessoas), não deixa de representar também o princípio material (da qual se originam os corpos físicos, substâncias, planetas etc.), ao se referir ao "corpo", assim como o termo "espírito" pode representar o princípio espiritual (do qual se originam as individualidades, ou seja, os Espíritos).

O galho da videira (que dá sustentação aos frutos) significa a forma física, quer dizer, o corpo humano, pois é esse envoltório físico que possibilita a manifestação do Espírito no mundo material. O licor da uva (a essência, o líquido que contém o sabor) significa o Espírito, pois este é a própria essência do Ser, a consciência, o indivíduo. O bago, ou seja, a uva, a parte carnosa que contém o licor, é a representação da alma (Espírito encarnado), da ligação entre o Espírito e o organismo físico, intermediada pelo perispírito.

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