domingo, 7 de setembro de 2025

Arquivos espirituais da Independência do Brasil

Arquivos espirituais da Independência do Brasil

Hermínio C. Miranda


Quadro de Pedro Américo retratando o grito de D. Pedro I
— Foto: Divulgação/Museu Paulista


Chama-se historiografia à arte de escrever a História, ou seja, descrever os acontecimentos que se desenrolaram ao longo do tempo no plano humano. Chama-se historiologia à filosofia da História, isto é, à maneira de analisar e interpretar os acontecimentos. O historiador ou historiógrafo não deve imaginar fatos inexistentes para preencher lacunas ou justificar a “sua” filosofia da História. Deve limitar-se a narrar os fatos tal como se apresentam na documentação existente ou na melhor e mais verossímil tradição. Além desses limites, cessam os contornos da historiografia e os historiadores viram ficcionistas sofisticados, no afã de preencher os claros dos registros históricos com narrativas imaginárias e suposições mais ou menos engenhosas.

Duas correntes podemos distinguir na classificação dos historiadores quanto à posição que tomam diante da historiologia, isto é, quanto ao ponto de vista que adotam como filosofia da História: de um lado, uma corrente materialista, que nega a interferência divina na História e, de outro lado, o grupo dos que veem no traçado geral da História a marca sutil e poderosa de Deus. Entre esses dois extremos, muitas nuanças pessoais de caráter misto.

Quase que seria dispensável dizer-se que a historiologia moderna é essencialmente materialista, ainda que nem sempre marxista. O marxismo vê na História apenas um jogo cego de forças econômicas, que se confrontam e se guerreiam tanto quanto os homens. Outros integrantes da corrente materialista podem negar aos fatores econômicos tanta importância, mas não conseguem ver na aventura humana nem mesmo um sopro de inspiração divina. Está colocado nesta última posição, por exemplo, o eminente historiador americano Will Durant, autor de um verdadeiro monumento de saber histórico, desdobrado em vastos painéis vivos, escritos em magnífica linguagem, mas de um ponto de vista puramente humano, como se a História tivesse apenas a sua face visível e não fosse nada mais senão um relato linear das coisas que os homens fizeram antes de mergulhar nas sombras da “morte”.

Não há como censurar esses autores. Falta-lhes simplesmente a visão espiritual para vislumbrar as motivações ocultas dos movimentos históricos e a própria continuidade da atuação humana ao longo de muitas encarnações, durante as quais os Espíritos incumbidos de determinadas tarefas vão e vêm entre o mundo encarnado e o outro, trabalhando num e noutro, ativamente, sempre dentro de um plano superiormente articulado, visando a um objetivo bem estudado e programado. Isso não quer dizer que os homens sejam simples marionetes de forças superiores, sem vontade própria e sem consciência do que realizam. Ao contrário, é exatamente a faixa considerável de livre-arbítrio que lhes é reservada que os leva, muitas vezes, a desvios amplos que retardam a chegada aos objetivos programados.

Os antigos historiadores eram, ao contrário dos modernos, profundamente místicos. Para eles, sim, o homem era simples joguete dos deuses, a realizar, no plano humano, a vontade férrea das forças ocultas do Universo, tanto as boas como as outras. A mitologia grega, que misturava misticismo, história e ficção, punha juntos deuses, homens e mulheres num só quadro narrativo, a realizarem os movimentos históricos. Como sempre, a virtude está a meio do caminho. Aqueles que têm hoje algum conhecimento do mecanismo das forças espirituais sabem que a História não é só o que os homens fazem, nem somente o que fazem os poderes divinos por meio dos seres desencarnados. Ela resulta de uma integração desses dois campos vibratórios, desses dois planos onde a vida se desenrola sob as bênçãos de Deus. Seria inadmissível para os espíritas supor que há uma História
espiritual da Humanidade inteiramente autônoma e separada da História dos homens encarnados. Na verdade, elas se entrelaçam inextricavelmente, porque os seres que atuam do lado de lá da vida são os mesmos que por aqui estiveram antes, no comando de movimentos históricos, políticos, sociais, culturais, artísticos, enquanto os homens encarnados são os mesmos Espíritos que, do mundo espiritual, acompanharam os acontecimentos da Terra, neles participaram ativamente e acabaram por se incumbir de tarefas a serem realizadas aqui, ao renascerem. A História é, pois, o desdobrar de um plano articulado, executado em estrito regime de cooperação, como um concerto a quatro mãos. Tem, como background musical, as grandes massas sinfônicas da orquestração universal. Os desvios e as falhas que aí ocorrem não provêm de erros do compositor na partitura, que é perfeita, mas de descuidos e imperícias dos executantes, ainda presos às imperfeições humanas.

Há muito que essa historiologia me fascina. Tentei mesmo um ensaio tímido, escrevendo um livro chamado Mecanismos secretos da História, ainda inédito, para oferecer algumas interpretações e sugestões em torno desse tema extraordinário. As bases para esses estudos, porém, ainda são muito precárias, porque contamos apenas com os falhos e imperfeitos registros humanos. Trinta anos após um fato importante, quantas versões mais ou menos prováveis existirão dele? Qual a verdadeira, ou, pelo menos, qual delas se coloca mais próxima da realidade?

Há, porém, registros indeléveis e muito vivos de acontecimentos do passado mais remoto, na memória dos seres que os presenciaram. Essa fonte inesgotável de consulta acha-se praticamente inexplorada, a não ser por alguns autores desencarnados. Podemos admitir, e esperar, no entanto, que um dia a História da Humanidade será toda reescrita dentro dessa concepção historiológica, colhendo-se nas fontes autênticas o testemunho sereno daqueles que se incumbiram de tarefas memoráveis. Espero merecer a honra e a alegria de trabalhar nessa equipe de levantamento da crônica humana, porque sou daqueles que veem na História a presença inequívoca de Deus e, por isso, também, a importância das lições que elas encerram para melhor entendimento do presente e mais lúcida projeção do futuro. Se tirássemos melhor proveito dos ensinamentos contidos no passado, mais breve seria a nossa redenção espiritual, que é o objetivo supremo da História, ponto onde convergem as metas individuais e as coletivas.

Essa visão espiritual da História, por mais curioso que pareça, é revelada inesperadamente num pensador de origem judaica, profundamente interessado na figura do Cristo, o Dr. Hugh J. Schonfield, no livro The Politics of God (A política de Deus). 

Mas não é deste autor que pretendo cuidar agora, e sim de Humberto de Campos, que através de Chico Xavier escreveu, nos idos de 1938, um ensaio de história espiritual do Brasil chamado Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho.

Desse livro, consagrado por nove edições, com mais de 50.000 exemplares vendidos, na oportunidade em que se comemorou o Sesquicentenário da Independência do Brasil, quero destacar alguns capítulos.

*

Ao que nos informa o Espírito Humberto, as Cruzadas haviam confundido as lições do Evangelho “ensanguentando todas as bandeiras do mundo cristão”. Era preciso começar tudo de novo.

Assim, no último quartel do século XIV, decidiu Jesus confiar à gente que viria compor o povo brasileiro a tarefa de revigoramento da mensagem de amor que Ele pregara na Palestina. Como nos parecem longos e pacientes os caminhos e os métodos daqueles que, muito acima de nós, estão fora do alcance do tempo... O minucioso planejamento começa com a movimentação do primeiro tarefeiro. Jesus chama Helil, “encarregado dos problemas sociológicos da Terra”, e lhe atribui a primeira etapa do gigantesco trabalho. Já no fim do século, em 1394, renasce ele em Portugal, filho de D. João I e de D. Filipa de Lancaster. Chamou-se Henrique, o infante de Sagres, e foi o primeiro a sonhar e pôr em prática os planos de expansão mundial do pequeno e valoroso reinado português.

Mas quem foi Helil no passado?

Ao editar o livro de Humberto, a FEB esclarece, em nota do cap. 1, que o autor espiritual preferiu a forma árabe Helil em vez da hebraica Hilel, mais usada.

A Enciclopédia Britânica informa que Hilel viveu entre o ano 70 a.C. e o ano 10 da nossa era. Foi, assim, quase contemporâneo de Jesus e membro eminente do Sanhedrin. Seu espírito de há muito devia estar ligado ao do Mestre, porque seus ensinamentos são notavelmente coincidentes com os do Cristo: “O que for desagradável para ti, não faças ao teu próximo, nisto se resume toda a Lei; tudo o mais não passa de comentário”. “Não julgues o teu semelhante antes de te colocares em seu lugar”. 

Hilel foi um dos mais eminentes rabis do seu tempo, conhecido e amado pela sua tolerância, caridade e humildade.

Tornou-se príncipe (nasi) do Sanhedrin. Atribui-se a ele a criação das sete regras que formaram a base da hermenêutica rabínica.

Esse foi o homem que Jesus escolheu para o primeiro impulso à civilização brasileira. Lançadas as bases do programa de expansão mundial na Escola de Sagres, o antigo Rabi recolheu-se novamente ao mundo espiritual e de lá continuou sua ativa colaboração, agora invisível, mas não menos ativa. Quando Cabral parte do Tejo em busca das Índias lendárias, são aproveitados “todos os seus ascendentes mediúnicos. As noites de Cabral são povoadas de sonhos sobrenaturais e, insensivelmente, as caravelas inquietas cedem ao impulso de uma orientação imperceptível”.

Descoberto o Brasil, Helil se preocupa. A terra é grande e rica demais e pode despertar a cobiça das nações poderosas. 

Jesus o tranquiliza, dizendo que “as injunções políticas terão nela atividades secundárias”, porque o sinal da fraternidade universal estaria presente na sua história. Quanto ao receio da conquista, “as potências imperialistas da Terra esbarrarão sempre nas suas claridades divinas e nas suas ciclópicas realizações”.

E foi assim que o Brasil gigantesco, riquíssimo, presa aparentemente fácil para a pilhagem mundial, pois apenas tinha na sua defesa o minúsculo Portugal, atravessou os séculos sem perder uma fração do seu imenso território com oito mil quilômetros de costa aberta para o mar.

Em seguida, Jesus atribui a Ismael a guarda “dos patrimônios imortais que constituem a Terra do Cruzeiro”. Alguns emissários de confiança das forças espirituais são enviados à reencarnação no Brasil: Anchieta, Nóbrega, Bartolomeu dos Mártires. O primeiro voltaria depois, na notável personalidade de frei Fabiano de Cristo, para trazer, mais uma vez, o clarão do seu espírito sereno, envolto nas doces luzes da humildade e do serviço ao próximo. É curioso observar que, tanto na primeira vez como na segunda, nasce em Portugal, mas seu espírito tem a irresistível intuição de servir o Brasil. Diz Humberto que a vida como Fabiano constituiu “a última pedra que faltava na sua coroa de apóstolo da imortalidade”.

Muitos desses vultos se repetem na História do Brasil. Estácio de Sá, por exemplo, que fundou e defendeu a “muy heroica e leal” cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, como diziam as antigas crônicas, voltou aqui de outras vezes, como assegura Humberto.

“Ainda há poucos anos” — prossegue o autor espiritual — “podia ser encontrada (a personalidade de Estácio de Sá) na figura do grande benemérito do Rio de Janeiro, que foi Osvaldo Cruz.”

Talvez desejasse salvar muitas vidas humanas — e o conseguiu — para repor as que, nos combates pela defesa do Rio, teve de
permitir que se eliminassem.

*

Chegou, afinal, o momento em que a terra brasileira deveria adquirir maioridade política. O país estava maduro e a opressão se tornara insuportável. Era grande a miséria do povo, esmagado ao peso de impostos desumanos, numa terra em que tanta riqueza podia dar para todos. A fim de lançar a primeira e trágica semente, a ser regada com sangue e lágrimas muitas, é convocado o espírito valoroso de um antigo inquisidor arrependido e desejoso de resgatar suas faltas. Esse homem foi Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, líder de um grupo de intelectuais que, reunidos em Vila Rica, atual Ouro Preto, sonharam com a libertação do Brasil, não apenas dos laços políticos que o prendiam à Corte Portuguesa, mas de suas dores e angústias, da sua pobreza no meio da opulência, da tristeza de seu povo na imensa paisagem de belezas indescritíveis. O movimento aparentemente fracassou, com a “liquidação” dos sonhadores pela denúncia de Silvério dos Reis.

Tiradentes, enforcado e esquartejado, regressou à pátria espiritual redimido, não antes de passar pela minuciosa devassa inquisitorial que em tempos passados ele dirigia, sentado na cadeira imponente de Inquisidor.

Ismael recebe-o de braços abertos, declarando que ele acabara de redimir suas antigas faltas e que passaria a ser “um símbolo para a posteridade, com o seu heroísmo resignado nos sofrimentos purificadores”. “Qual novo gênio” — diz-lhe Ismael — “surges para espargir bênçãos sobre a Terra do Cruzeiro em todos os séculos do seu futuro.”

É por isso que vimos nos cartazes comemorativos do Sesquicentenário da Independência a frase que a intuição ditou: “Tudo começou com ele...” E continua com ele, poderíamos acrescentar.

Para o crescimento da jovem nação, tudo é aproveitado sabiamente pelo atento mundo espiritual. Quando Napoleão invade Portugal, por intermédio de Junot, D. João VI traz, na fuga para o Brasil, preciosos impulsos políticos, culturais e econômicos.

Ainda na Bahia, abre os portos brasileiros ao comércio mundial.

No Rio, mais tarde, fundaria a Escola de Medicina, o Real Teatro São João, o Banco do Brasil. Organizam-se instituições que se tornariam respeitáveis e tradicionais, como a Academia de Marinha, o Conselho Militar, a Biblioteca Real. Com D. João veio também a imprensa e, portanto, o livro, terreno fértil onde tanta sementeira é realizada. Até mesmo esboços de indústrias, hoje poderosas, como a siderurgia, surgiram naqueles recuados tempos.

Mas D. João VI tinha de retornar à Europa, porque assim o exigia a inquietação dos seus súditos portugueses. E voltou, embora muito a contragosto. Deixou seu filho Pedro no Brasil para viver missão histórica das mais importantes, que a sua acuidade política pressentiu claramente. Chegou mesmo a aconselhar ao filho que, se surgisse, como esperava, qualquer movimento separatista, ele, Pedro, tomasse logo a coroa para si, evitando que o país caísse em mãos de aventureiros.

Os trabalhadores invisíveis reconhecem as fraquezas do jovem regente, mas se utilizam prudentemente do lado positivo de sua personalidade ainda imatura. Para contrabalançar muitas de suas imprudências, está ao lado do Príncipe a figura serena de Leopoldina, a quem o autor espiritual do livro dedica as expressões de maior carinho e grande admiração, dado que foi “trazida ao Brasil de acordo com as determinações do mundo invisível, para colaborar na realização dos elevados projetos de Ismael e dos seus mensageiros”. “Somente o seu coração doce e submisso” — prossegue Humberto — “poderia suportar resignadamente as estroinices do esposo, em um dos períodos mais delicados da sua vida, sem provocar escândalos que acarretariam atraso na marcha dos acontecimentos previstos.” (Grifo meu.)

O texto evidencia que Leopoldina foi o poder moderador, arauto do mundo espiritual junto ao Príncipe. Amou o Brasil à primeira vista, e a História registra, fielmente, o seu admirável trabalho em favor da Independência. Dá testemunho disso o grande José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca. O momento era de extrema tensão e fortes paixões estavam desatadas. Para as tropas portuguesas aqui residentes, aqueles que a História consagrou como heróis da Independência eram simples rebeldes, inclusive o Senhor Regente. No mundo invisível, Tiradentes trabalha ativamente. A certa altura, consulta Ismael sobre se não teria chegado o momento decisivo. Sentia que era preciso aproveitar a exaltação patriótica dos ânimos. “As possibilidades estão dispersas, mas poderíamos reunir todas as forças para o fim de derrubar as últimas muralhas que se opõem à liberdade da Pátria do Evangelho”, diz ele.

Ismael aconselha prudência e moderação, assegurando, não obstante, que a libertação do Brasil não vinha longe. Ele achava que era preciso “difundir a educação individual e coletiva, dentro das nossas possibilidades, formando os espíritos antes das obras”. Além do mais, era preciso servir-se da autoridade do Príncipe — elemento de que dispunha o mundo espiritual. Para isso, D. Pedro seria envolvido nas “claridades fraternas da nossa assistência espiritual. Povoemos suas noites de sonhos de amor à liberdade, desenvolvendo-lhe no espírito as noções da solidariedade humana”.

A Independência tinha que ser obtida sem sangue. A 9 de janeiro, já no ano da emancipação, “D. Pedro, diante da massa de povo, sente a assistência espiritual dos companheiros de Ismael, que o incitam a completar a obra da emancipação política da Pátria do Evangelho, recordando-lhe, simultaneamente, as palavras do pai no instante das despedidas”. Foi assim o dia do “Fico”.

Houve depois um momento de extrema tensão, a 11 de janeiro, quando as tropas fiéis à Corte Portuguesa passaram a considerar o próprio D. Pedro como rebelde, desobediente à ordem de regressar à Europa. O povo brasileiro juntou-se aos soldados que apoiavam D. Pedro, dispostos a enfrentar os portugueses no Campo de Santana. A aflição é grande no mundo espiritual. Ismael mais uma vez interfere e, “sem um tiro, o chefe português obedeceu, com humildade, à intimação do príncipe D. Pedro, capitulando a 13 de janeiro e retirando-se com as suas tropas para a outra margem da Guanabara, até que pudesse regressar com elas para Lisboa”.

Há lutas, porém, inevitáveis, na Bahia. Num desses episódios dolorosos, sacrificou-se a valorosa e querida Joana Angélica, que hoje, do mundo espiritual, derrama sobre todos nós a ternura do seu coração afetuoso em mensagens repassadas de amor ao Mestre.

Nesse ínterim, o centro nevrálgico do movimento desloca-se para São Paulo, onde também se reúnem os trabalhadores invisíveis, no Colégio de Piratininga, sob a direção de Ismael.

Ultimavam-se as providências para formalizar a separação.

Entende Ismael que a independência do Brasil já se encontrava definitivamente proclamada, e que desde 1808 “ninguém lhe podia negar ou retirar essa liberdade”. Mas eram precisos um gesto histórico e uma data. Tiradentes é mais uma vez chamado à ação direta, com a incumbência de acompanhar D. Pedro no seu regresso ao Rio. De São Paulo deveria partir o brado libertador. “O grito da emancipação” — diz Ismael — “partiu das montanhas e deverá encontrar aqui o seu eco realizador.”

Em seguida, a vasta assembleia espiritual entra em prece “pelo bem do Brasil”.

Tiradentes segue atentamente a figura do Príncipe, até o ponto em que “ele deixa escapar o grito de ‘Independência ou Morte!’, sem suspeitar de que era dócil instrumento de um emissário invisível, que velava pela grandeza da pátria”.

“Eis por que” — prossegue Humberto — “o 7 de setembro, com escassos comentários da história oficial que considerava a independência já realizada nas proclamações de 1º de agosto de 1822, passou à memória da nacionalidade inteira como o Dia da Pátria e data inesquecível da sua liberdade. Esse fato, despercebido da maioria dos estudiosos, representa a adesão intuitiva do povo aos elevados desígnios do mundo espiritual.”

Era, pois, o toque pessoal de Tiradentes na formalização da Independência do Brasil.

*

A proclamação, no entanto, era apenas o começo da obra gigantesca que se impunha aos seres encarnados e desencarnados incumbidos da formação da nacionalidade brasileira. Era preciso, agora, consolidar a obra, dar uma estrutura política ao país, contornar as tendências separativistas, estabelecer relações internacionais, criar, enfim, as bases da jovem nação. Foi inestimável, nesse momento, a experiência e a clarividência do velho Andrada. Ele também voltaria em outra vida, como Ruy Barbosa, para consolidar a República, como consolidara o Império. As paixões, porém, estavam exaltadas e curto seria o reinado de D. Pedro I, que continuava a experimentar as pressões da Corte Portuguesa.

Ismael sonda o futuro e busca novamente apoio na sabedoria infinita de Jesus. Era preciso encontrar um espírito sábio, tranquilo e esclarecido para prestar os serviços de que necessitava a nova Nação. A tarefa é difícil e de imensa responsabilidade, porque muita coisa no futuro haveria de depender daquele começo de vida. Jesus manda chamar à sua presença um Espírito muito chegado ao seu: Longinus. Expõe-lhe o problema e lhe pergunta:

— Sente-se o teu coração com a necessária fortaleza para cumprir uma grande missão na Pátria do Evangelho?

Longinus, mergulhado em “expectativa angustiosa e refletida esperança”, declara-se disposto a servir e acrescenta:

— Muitas existências de dor tenho voluntariamente experimentado para gravar no íntimo do meu espírito a compreensão do vosso amor infinito, que não pude entender ao pé da cruz dos vossos martírios no Calvário, em razão dos espinhos da vaidade e da impenitência, que sufocavam, naquele tempo, a minha alma. (Grifos meus.)

Era, pois, um companheiro da primeira hora, mas sentia que havia falhado no seu testemunho e estava ansioso por recompor-se perante seu Grande Amigo. Está pronto. Jesus lhe assegura que se a missão for bem cumprida “constituirá a tua última romagem pelo planeta escuro da dor e do esquecimento”. Sem dúvida alguma, a tarefa é dura, mas o prêmio é enorme. “A autoridade, como a riqueza” — diz-lhe o Cristo —, “é um patrimônio terrível para os espíritos inconscientes dos seus grandes deveres.”

Renasceu Longinus a 2 de dezembro de 1825, para um longo reinado e uma longa existência. Tomou o título de D. Pedro II, mas gostava de assinar-se apenas Pedro de Alcântara, como qualquer cidadão de seu país.

Assim, poderia ele sair-se bem do encargo ou falhar. Mas quem era Longinus? A Britânica informa que Cassius Longinus viveu entre os anos 213 e 273 da nossa era. Era retórico e crítico de Filosofia. Não se sabe ao certo a origem do nome Cassius que acrescentou ao nome; supõe-se que o adotou de algum patrono romano. Nasceu, provavelmente, em Emesa (Homs), na Síria, terra de seu tio Fronto, um retórico. Estudou em Alexandria, com Orígenes, o pagão, e lecionou durante trinta anos em Atenas.

Gozou de enorme reputação pelo seu saber. Porfírio dizia que ele era “o primeiro dos críticos”, e Eunapius chamou-lhe “biblioteca viva e museu ambulante”. Numa visita ao Oriente, lecionou grego e tornou-se conselheiro de Estado de Zenóbia, rainha de Palmira.

Foi graças à sua orientação que Zenóbia articulou a recuperação da independência de seu país, mas o movimento foi esmagado por Aureliano. Zenóbia, que seria levada a Roma para a humilhação do desfile no triunfo de Aureliano, foi resgatada pelo seu Conselheiro. Longinus deixou obra extensa e variada, mas da qual pouca coisa sobreviveu. Um dos livros a ele atribuído é uma espécie de manual prático para estudantes: sugestões para inventos, arranjos de frases, estudos sobre estilo, testes de memorização etc. Como D. Pedro II, fundou o Colégio Pedro II, sementeira de homens ilustres há mais de século. Gostava mesmo de ir lá, às vezes, arguir os alunos, como simples mestre-escola visitante, reproduzindo inconscientemente seu antigo trabalho de professor na velha e lendária Atenas.

Seu reinado foi longo e pacífico. Apenas uma vez deixou-se envolver em conflitos sérios, com a Argentina e o Paraguai. É, por isso, advertido docemente pelo próprio Mestre. Após uma prece no seu oratório particular, o Imperador parece adormecer e em espírito é levado à presença de Jesus, “que lhe fala como nos maravilhosos dias da ressurreição, após os martírios indizíveis do Calvário.” (Grifo meu.) O Senhor o adverte com brandura e amor:

— Pedro, guarda a tua espada na bainha, pois quem com ferro fere, com ferro será ferido. A tua indecisão e a tua incerteza lançaram a Pátria do Evangelho numa sinistra aventura.

Parece Jesus falando novamente a Pedro, que acaba de decepar a orelha de Malcus...

*

É assim que os poderes espirituais fazem a História, escrevendo-a primeiro na memória e no coração dos seres que devem, por assim dizer, materializá-la no plano humano. Há falhas, às vezes, porque os espíritos não são constrangidos; são convidados. Fica-lhes o livre-arbítrio e, por isso, estão sujeitos a deslizes que podem retardar o programa, mas nunca invalidar o objetivo superior traçado no mundo espiritual. No Brasil, a tarefa tem sido realizada com inexcedível carinho e sucesso. O país permaneceu unido na geografia, na língua, nos costumes, nas tendências de seu povo generoso. As tentativas de assalto desfechadas pelos poderes estrangeiros sempre encontraram aquela barreira de luz de que falou o Cristo. As grandes transformações políticas realizam-se tradicionalmente sem sangue, indicando o seguro poder orientador que tudo supervisiona e prevê. A grande meta continua a ser a educação do povo, insistentemente lembrada pelos Guias da nossa nacionalidade.
O maior problema é o da educação nacional, para que os filhos das outras terras, necessários e indispensáveis ao progresso econômico da nação, não se sintam dispostos a reviver, no Brasil, as taras de suas antigas organizações, e sim absorvidos no círculo espiritual do Evangelho, e possam integrar as suas fileiras de fraternidade e evolução. 

É o que diz Humberto à página 235 do seu notável livrinho [pág. 210 da 33a edição]. E mais adiante:

No Brasil, a chamada contribuição estrangeira é indispensável; e o único recurso contra a incursão do elemento nocivo e ameaçador da estabilidade das instituições brasileiras é a educação ampla do povo, em cujos labores sagrados deveriam viver todos os programas do bom nacionalismo. (Grifos meus).
Temos, portanto, excelente matéria-prima humana. Não precisamos importar cultura, pois aqui mesmo estão aqueles que podem e devem e querem criar uma cultura nova, matriz genial de que outros povos se utilizarão no futuro. As novas estruturas do pensamento, já planejadas para o Brasil, serão sínteses de conhecimento e moral, realizando, afinal, o ideal da ciência iluminada pelas doces claridades do Evangelho de Jesus.

Hermínio C. Miranda do livro:
Reencarnação e Imortalidade

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