Marcha Evolutiva
Louis Neilmoris
Todos nós seguimos um irresistível curso evolutivo. A força dessa marcha arrasta as multidões e remodela o ambiente físico em que vivemos. A cada novo patamar alcançado, vemos um novo horizonte se abrir aos nossos olhos e, fatalmente, podemos pensar: "Poderíamos já ter chegado a tal ponto há mais tempo! Além disso, a cada degrau escalado, vemos novos degraus superiores se projetarem à nossa vista, o que nos faz desejar: "Bem que poderíamos já ter chegado lá!”
No desdobrar dessa nossa jornada, observamos o desenvolvimento evolutivo dos nossos semelhantes. Alguns avançam mais ou menos aceleradamente enquanto outros se figuram como retardatários.
A discrepância do ritmo da marcha nos leva a questionar sobre a razão da distância de quem está bem mais à frente em relação aos mais atrasados. A lógica espírita nos aponta então que a vontade e os esforços empregados por cada um são as causas máximas para desenhar tal cenário. Assim se faz a justiça divina, que premia automaticamente aqueles que fazem jus ao próprio mérito.
Com efeito, o indivíduo quer outrora tenha permanecido desatento pode então deliberar acelerar sua evolução e assim indagar como fazer isso. Ora, o interessado em se adiantar espiritualmente pode se espelhar nas virtudes dos irmãos superiores e verificar as imperfeições que ele próprio ainda conserva, para então traçar o que há de bom a ser buscado e do que depurar, naquilo que lhe pesa.
Para nós, encarnados, que vivemos numa dualidade entre homem e Espírito, dois cursos se apresentam: a evolução do personagem terreno que cada qual representa e a evolução espiritual. Aquele que ignora ou desdenha sua identidade espiritual — que é a principal, preexistente e sobrevivente à vida física - fica suscetível a se fascinar com a ideia de ter que se realizar completamente nesta encarnação e, desta maneira, empregar todas as forças para obter o gozo material, então falsamente justificado pelo imediatismo de viver a única vida, em conformidade com a convenção da sociedade local.
Aos iniciados na espiritualidade, é natural haver uma batalha consciencial, mais ou menos feroz, acerca daquilo que seja bom para ambos, ou seja: realizar se o quanto possível como personagem humano - que tem prazo de validade -, porém afinado com os propósitos superiores do ser espiritual - que é imortal -, sendo que muito comumente o planejamento encarnatório prevê que o Espírito deva passar por muitas provações e renúncias na carne, a fim de que vença metas; que o indivíduo passe pelos transtornos de uma dura semeadura, cujos frutos somente sejam colhidos bem adiante, no retorno à pátria astral.
Merece nota aqui o fato, errôneo, de algumas pessoas cogitarem a ideia de que, para demonstrar maior grau de espiritualização, se deve menosprezar a vida física, como se não nos coubesse qualquer nível de felicidade nos dias correntes, como se devêssemos esperar o desencarne para, só então, pensarmos em nos realizar — quem sabe na colônia Nosso Lar, ou outra mais acima. Tal concepção seria equivalente ao céu dos cristãos clássicos. Nossa identidade espiritual não tira férias enquanto encarnamos; representamos um papel no teatro terreno ao mesmo tempo em que conservamos o Espírito, que vive, modela-se e influi no nosso cotidiano na Terra - vez ou outra, desabrochando instintos e intuições do que temos acumulado das sucessivas reencarnações.
Embora seja raro, existe um tipo de planejamento reencarnatório em que o Espírito desça predestinado a uma vida bastante favorável, já com uma boa sustentação financeira, em uma família bem arranjada, saúde física e mental, ao lado de boas companhias e tudo mais que lhe permita viver bem. Em geral, tais benefícios são concedidos a pretexto de um objetivo grande, que envolva um colegiado, em missão, como a de liderar um povo num importante estágio político, ou promover o progresso científico através de descobertas e invenções. Essas missões são concedidas geralmente a Espíritos mais adiantados, que tenham com o que contribuir para a Humanidade, e que tenham já superado a mesquinhez do egoísmo, uma vez que todo esse favorecimento é uma prova gigante. Todavia, não devemos considerar evoluído e missionário qualquer um que se apresente como líder ou gênio, nem qualquer que tenha obtido alto posto diante da sociedade. Destes, muitos são entidades em grande prova que, presunçosos que são, se julgaram altamente capazes e exigiram tal oportunidade para demonstrar suas faculdades. Falidos moralmente - apesar de terem alcançado êxitos materiais — eles retornam alquebrados à vida espiritual, mas recolhem dessas quedas proveitosos aprendizados - conquanto dolorosos.
Com efeito, onde estaria o equilíbrio para se viver na dimensão material de hoje e cumprir as metas programadas para a evolução espiritual?
Bem, Emmanuel — respeitado mentor espiritual de Chico Xavier - disse certa vez:
Duas asas conduzirão o Espírito à presença de Deus: uma se chama amor e a outra se chama sabedoria — Emmanuel. EMMANUEL, (Emmanuel) Chico Xavier.
Ou seja, o equilíbrio está em duas frentes:
- Na prática da moral crística, que Emmanuel sintetizou como asa do amor (ou caridade). Guiando-nos por esse sentimento, sempre estaremos afinados com a superioridade, angariando assim melhor sintonia com os Espíritos mais evoluídos e, por conseguinte, com Deus. A espiritualidade não abandona aqueles que não se projetam nesse objetivo, mas, até por uma questão lógica, os amigos espirituais não podem fazer muito por quem se fecha no seu casulo de ignorância e rebeldia;
- Na aquisição do conhecimento, a asa sabedoria. A marcha evolutiva nos convida a contribuir com nosso progresso pessoal, com os semelhantes e com o meio ambiente, o que implica na aquisição do conhecimento. As reencarnações, a dor, as provas e tudo que nos sucede têm por intento primordial nos possibilitar o aprendizado, pelo qual experimentamos nossas capacidades, dentre as quais a de praticar a caridade. Por essa razão é que, normalmente, o progresso intelectual se adianta em relação ao progresso moral.
- Para seguirmos corretamente o espiritismo, devemos submeter todas as mensagens mediúnicas ao crivo duplo de Kardec, sendo eles, a razão e a universalidade.
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