quinta-feira, 25 de maio de 2023

Olhando para trás

Olhando para trás

Joanna de Ângelis



Respondeu-lhe Jesus: - Ninguém, tendo posto a mão ao arado e olhando para trás, é apto para o reino de Deus. (Lucas: 10:16)

Todo aquele que busca seguir Jesus, não tem passado, nem presente, apenas o futuro.

A sua é a decisão de vir a ser, das suas possibilidades de crescimento e de renovação interior permanente.

Surgida a oportunidade do encontro com o Mestre, nem sempre a pessoa logra desatar-se das amarras constritoras do passado.

Não raro, esse passado constitui uma terrível marca na trajetória da evolução humana.

Vive-se de recordações ingratas que o assinalaram dolorosamente; de reminiscências amargas, quando se sonhava com o amor e a ternura; de evocações dos momentos de ansiedade e amargura que se pensava seriam de bênçãos e renovação transcendente; de apelos às horas da escravidão aos gozos que se converteram em tenazes de dor, dilacerando os mais belos sentimentos...

Desfilam, então, pela mente, as frustrações e os desejos não fruídos; as decepções e os anseios que ficaram ceifados; os abandonos a que se viu relegado mil vezes, e, por tudo isto, e muito mais, não pode seguir adiante, porque se detém, olhando para trás.

Não poucos homens e mulheres, igualmente se demoram na paisagem das lembranças felizes que não retornarão.

Repassam, mentalmente, as alegrias experimentadas, que os emularam ao avanço e depois escassearam; os tesouros de ternura com que foram aquinhoados e hoje cessaram; as expectativas de realização externa, que abriam estradas emocionais para o progresso e agora se apresentam sem trânsito; as carícias que os enriqueceram de emoção e ora estão distantes; os folguedos e a juventude que já passaram...

Vivem de evocações que os mantêm olhando para trás, sem que se animem a reiniciar a marcha, a avançar com segurança.

A vida terrestre, no entanto, é impermanente.

As alegrias de agora podem ser o prenúncio de lágrimas de depois. Assim como as dores acerbas deste momento, podem significar a cirurgia da libertação para os grandes voos do espírito.

Todo aquele que, realmente, encontra Jesus, é convidado a uma decisão; tomar da charrua do dever e, sem saudades nem ansiedades mórbidas, avançar, passo a passo, com equilíbrio.

A decisão é pessoal, que deve ser seguida pela ação.

Não é indispensável que se fuja do mundo ou se adote uma conduta ascética, severa, que inspira o ódio contra o mundo.

A posição ideal é a da neutralidade dinâmica. Isto é, viver no mundo sem que se lhe escravize. Fomentar o progresso com decisão, assumindo responsabilidades que promovam outros homens e as várias expressões da vida.

Maria de Magdala, por exemplo, tomou da charrua e recuperou a virtude que a elevou às culminâncias da doação total.

Saulo, igualmente, segurou a charrua, e, sem recordar-se do passado, carregou a sua cruz e plantou-a no monte da sublimação.

Gandhi, da mesma forma, segurou a charrua e ofereceu-se em holocausto, tornando-se uma grande luz para milhões de vidas.

Hoje como ontem a humanidade necessita de criaturas que, tomando da charrua não olhem para trás, seguindo animadas, após superadas as dificuldades habituais.

Se desejas seguir Jesus e tornar-te pleno; se almejas a renovação e a paz através do Evangelho; se queres a glória interior sem receios nem fronteiras, toma da charrua do amor clareado pela fé e, mediante a ação da caridade, não olhes para trás.

Joanna de Ângelis por Divaldo Franco do livro:
Antologia Espiritual

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