quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Cilícios morais

Cilícios Morais

Joanna de Ângelis


Divaldo Franco e Joanna de Ângelis


A empresa da transformação moral para ser melhor assumida pela pessoa consciente das suas responsabilidades de evolução, assume proporção desafiadora, hoje como ontem, e mais agora, face às circunstâncias e compromissos que a envolvem.

Estabelecido o programa a desenvolver, surgem os impedimentos mais variados, que parecem conspirar contra os propósitos de enobrecimento.

São as heranças ancestrais em forma de hábitos perniciosos arraigados, que ressumam, levando o candidato ao Bem a reincidir nos erros a que se vincula.

Desestímulos constantes assaltam-lhe a casa mental e os equipamentos orgânicos, produzindo-lhe penosas sensações de enfado ou de desagrado, como se estivesse lutando contra uma correnteza volumosa, quase invencível.

Distrações variadas, preenchendo-lhe os espaços emocionais, propõem alteração de conduta e abandono do compromisso difícil.

A insignificante colheita inicial de resultados apresenta-se como fator desestimulante, que se manifesta como perda de precioso tempo.

Preocupações que surgem, inesperadas, desviam-lhe a atenção da meta, induzindo a seguir pelas variantes do imediatismo.

O volume de ocorrências de pequena monta em ameaças constantes, encaminha-lhe o interesse para outras áreas que parecem mais urgentes.

Tudo isso faz parte das dificuldades que repontam, quando são tomadas decisões de alto significado para a vida espiritual.

Liberdade é alvo que fascina, mas por caminho atapetado de urze e abrolhos.

Sem um esforço perseverante e uma vigilância constante, o candidato ao tentame abandona-o com facilidade, transferindo-se para os prazeres de resposta imediata.

Como a conquista do bem estar real é inevitável para quem aspira aos ideais enobrecedores da Humanidade, abandoná-la é irrisão e loucura, porque as aquisições vãs sempre deixam frustração e amargura.

*

Relacionas dores e insucessos durante a existência, que esperavas fosse assinalada pelas alegrias da fortuna, do conforto, da família feliz e das tuas aspirações coroadas de êxito.

Anotas prejuízos na jornada e decepções que te assinalam profundamente, quando anelavas pelos sorrisos, compensações e glórias terrenas.

Referes-te a enfermidades que te excruciaram, ou ainda te maceram, em detrimento da saúde que desejavas permanecer fruindo.

Vês os que se banqueteiam no prazer intérmino, enquanto lutas afanosamente para a conquista do apenas necessário.

Surda revolta, então, assenhoreia-te, e pensas em largar tudo, ou quase tudo...

São essas reflexões infelizes e ingratas.

Recompõe o raciocínio e olha aqueles teus irmãos crucificados em traves invisíveis, sob dores cruéis e sem consolo; os esfaimados de pão, de esperança e de amor; os que nasceram fanados sob cegueira, surdez, mudez rigorosas ou estiolados pelas degenerescências difíceis de catalogadas; os que tombaram dos tronos da ilusão e estão abandonados pelos seus incensadores; os esquecidos nos guetos de miséria; os odiados; os atormentados...

Possuis recursos valiosos que desconsideras, e as pequenas ocorrências a que atribuis significado superior à realidade, superaste, permanecendo em condição de avançar e ser feliz.

A flor que se anuncia é formosa; mas o fruto que surge é alimento que dá vida e energia.

*

A tua conquista espiritual cilicia-te, sim, porque te aprimora.

A contribuição em dor ou em soledade, em perda ou em renúncia, em tristeza ou em cansaço faz parte do processo de conquista de mais elevado patamar, que alcançarás após a luta vencida.

Não reajas, desse modo, ao aguilhão do esforço de crescimento; não maldigas a montanha, que estás galgando; não lutes contra o estímulo-dor que te elege para a glória sideral.

Toda ascensão produz sofrimento nas primeiras tentativas, para retribuir com a beleza do horizonte ilimitado, quando visto do alto.

Jesus, coroado de espinhos e na cruz, estava sob rude testemunho, que passou; no entanto, a ingratidão e indiferença daqueles a quem ama, até hoje certamente representam-Lhe um cilício moral intérmino, que te cabe extirpar quanto antes, coroando-te de estrelas fulgurantes que conseguirás ao imolares as paixões inferiores, substituindo-as por expressões de sacrifício e de abnegação.

Joanna de Ângelis por Divaldo Franco do livro: No rumo da Felicidade




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