segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

O exilado

O exilado

Hermínio C. Miranda


Hermínio C. Miranda


O exilado e outras histórias que os espíritos contaram, foi lançado em 1986.


Já disse alhures (referência ao livro Diálogo com as sombras), que são muito rígidas as especificações de um bom doutrinador, tão rígidas e complexas que temos de nos contentar em sermos apenas razoáveis, quando muito. Dentre os seus vários atributos há dois pelo menos que ele não deve ter: o orgulho e, logicamente, sua parceira constante: a vaidade. Muitas vezes nosso doutrinador sentiu-se inadequado, insuficiente, incompetente mesmo no exercício de sua tarefa. Poucas vezes, contudo, foi tão evidente a sua insuficiência quanto naquela noite de segunda-feira. 

Habituados à tarefa do diálogo com os companheiros trazi­dos ao nosso Grupo, aprendemos com o tempo que, de maneira usual, eles dão logo de início o tom da conversa. Como alguém que chega para dar um recital de piano, senta-se, abre a partitura e informa aos ouvintes: 

- Vou executar uma sonata em Ré Menor. 

A não ser que iniciem a manifestação com uma tentativa de mistificação, eles costumam logo deixar bem claro ao que vieram, seja pela irritação, pela revolta, pela angústia, pela ati­tude de orgulho e presunção. Aliás, até mesmo a mistificação é uma tomada de posição, é também uma tonalidade daquele espí­rito em particular ou daquela situação específica. Não sei se me faço entender com clareza com estas reflexões, que já se alon­gam mais do que eu esperava ou pretendia. Talvez o exemplo elucide melhor do que toda essa exposição. 

Logo que se acomodou à organização mediúnica o visitante daquela noite falou claro e firme com um toque inequívoco de ironia: 

- Pois muito bem! Estou à sua disposição. Prefiro ouvir. Já que o senhor tem o renome de ser tão sábio e conhecer tantas coisas que ignoro e tem tanta experiência das coisas da vida e dos fatos da morte, me apraz ouvi-lo. 

Não era difícil perceber que ele trazia um plano de conversação cuidadosamente elaborado, uma estratégia bem definida na batalha dialética que pretendia travar conosco. Logo se via que não era homem de improvisações e nem lhe faltavam inteligência, conhecimento, poder verbal e autoridade. 

Quando o doutrinador lhe diz, com toda sinceridade e convicção, nada ter a ensinar-lhe, ele ironiza também a atitude que, obviamente considera de falsa modéstia, mas prefere classificar o seu interlocutor como "profissional da humildade". E prossegue: afinal de contas, se o doutrinador está ali e "convida" alguém para vir falar com ele é porque se coloca na posição de mestre, conselheiro, orientador ou o que seja. Se insiste em dizer que não é, então, por que o chamou; qual a finalidade daquele encontro? O doutrinador diz que se trata de um intercâmbio afetivo, pois estamos ali reunidos para oferecer-lhe o nosso amor fraterno. E esse é o novo tema que ele passa a explorar à exaustão, em todas as suas nuances e consequências, expondo suas variações em torno da ideia central de que não sabe o que fazer da nossa oferenda e deseja que expliquemos em termos práticos e objetivos para que serve o afeto que lhe transmitimos.  

Mais adiante - bem mais adiante - pergunta, sempre irônico: "O senhor se considera um escritor, não é?" Faz uma pausa e prossegue, desejoso de saber com que finalidade ele escreve. O doutrinador responde que procura transmitir ideias que, aliás, não são suas e sim da doutrina de Jesus e da Espírita. Não é essa, porém, a resposta que ele deseja receber. E, sempre sarcástico, observa que o escritor com o qual conversa não sabe nem por que e para que escreve. De fato, confirma este, pois nunca pode um autor assegurar como o leitor vai receber ou porque vai rejeitar o que ele escreve; cabe-lhe somente veicular suas ideias; nada mais. 

Mas o nosso caro companheiro não se dá por satisfeito e informa que não é nada disso - o objetivo do escritor é influenciar o leitor. 

E daí volta ao tema inicial de nossa conversa e que se resume no seguinte, em linhas gerais o nosso doutrinador é um mero aprendiz, pouco sabe dos mistérios da vida e da morte e, portanto, nada tem a ensinar a alguém. No que estão de acordo afinal, manifestante e doutrinador.

Ainda há pouco dizíamos que o doutrinador sentia-se inadequado e insuficiente. E é verdade pura. Que pode ele ensinar que este Espírito não saiba? Revelou-se ele um ser inteligente experimentado, culto, dinâmico e de grande agilidade mental. Tanto quanto o doutrinador, está ele convicto de alguns dos "mistérios" básicos da vida e da morte, como sobrevivência reencarnação, existência de Deus e até mesmo o princípio fundamental da responsabilidade pessoal em face de lei universal de ação e reação. A divergência está apenas - e isto é um dos importantíssimos apenas - em que o nosso querido companheiro não quer admitir para si mesmo o conceito da responsabilidade cármica. Esse é o núcleo, o cerne de toda a sua filosofia de vida. Por isso uniu-se ele a inúmeros outros companheiros igualmente obstinados quanto a essa premissa, para destruir de uma vez por todas, se possível, a obra saneadora do Cristo, assentada, de um lado, no conceito do amor e, de outro, no da responsabilidade de cada um perante as leis divinas.

Em vista da importância deste aspecto, parece-me conveniente deixá-lo expor com suas próprias palavras o pensamento.

- Se o senhor quer ajudar realmente o homem, o senhor passe a orientá-lo no sentido de buscar o que os senhores chamam de libertação ou liberação no conhecimento

E mais adiante: 

- A religião tem um traço fundamental de pessimismo. Toda religião tem um traço pessimista que marca os seres, marca como ferro em brasa e evita que ele avance mais depressa.

E muito solene: 

- Os senhores precisam entender: o necessário é que o homem se conscientize de que existe esse universo imenso que é força e poder e que o homem é parte dessa imensidão; portanto, o homem é força e é poder; e que ele deve, para liberar-se ou libertar-se, penetrar esse universo - e há uma só maneira de penetrá-lo, que é pelo seu intelecto - penetrá-lo, conhecê-lo, con-quis-tá-lo! O homem não tem que ficar esperando liberar-se através do sofrimento. O sofrimento é uma invenção. Não existe sofrimento; existe movimento do universo; existe força, poder, energia. Essa é a realidade. Se o senhor disser que o amor é força, é poder e é energia. O senhor pode incluir o amor. Para mim tanto faz. O que quero que fique claro é que o amor não é subalternidade; o amor não é submissão como o senhor diz. Se é, não serve para mim.

Todo esse poder quase incontrolável, na sua opinião, aí está ao alcance do homem que infelizmente, não sabe como utilizá-lo, “porque está sendo doutrinado a ser inferior! O homem está sendo manipulado pelas forças contrárias à inteligência, para que se subalternize. Para que se diminua.”

É por isso, aliás, que ele declarou que o doutrinador está se tornando um profissional da humildade. E é isso, no seu entender, que estamos desejando fazer das criaturas. 

Vê-se, portanto, da veemência com que fala, da facilidade com a qual encadeia seus argumentos - ainda que discordemos deles - que se trata de um espírito autoritário, inteligente e que tem devotado aos problemas humanos uma importante quota de meditação, ainda que deliberadamente deformada, pois se destina ao fim exclusivo de justificar tudo o que ele é e faz, bem como a rejeitar o que ele não deseja ser ou fazer. 

- Isto não está certo! Os senhores não tem o direito! Os senhores não estão sendo honestos com a própria doutrina que professam, porque, segundo ouvi, o Codificador era um homem do intelecto, um homem da razão. 

- É verdade, mas ele também escreveu que "fora da caridade não há salvação." 

Faz uma longa pausa e retruca: 

- Até os grandes homens podem ter seus momentos infelizes, seus momentos de má inspiração. E ainda não terminei! Se os senhores querem ainda salvar alguma coisa da doutrina que estão ensinando, façam isso mesmo. Tirem o pieguismo; coloquem a parte racional do próprio Kardec dos senhores para funcionar. Mandem o homem pesquisar. Construam laboratórios nos seus centros de estudos. A base do universo, meu senhor, é a ciência, queiram os senhores ou não. 

- Então, meu querido, como eu dizia de inicio, nada tenho realmente para lhe ensinar. Por que você se colocou aqui na posição do aprendiz? 

Diz irônico que veio aprender, sim, porque o doutrinador está na condição de mestre, e que ali está para "dar o seu amor"... 

- Eu não vim aqui dar nada!

- Não? O que veio fazer, então?

Deixa escapar um pequeno sorriso, mas nada tem a dizer. Antes de nossa prece, pede licença para dizer mais alguma coisa. 

Assim: 

- O que eu lamento é que o senhor vai ainda ter uma decepção tão grande! Por mais que os senhores - deixa-me dizer assim - os senhores façam, por mais que lutem, vão ter de compreender que não poderão embargar a marcha do tempo, da ciência. O que tem que vir, virá. Já sei que o senhor vai me perguntar: "Se somos tão insignificantes e se o que tem de vir. virá, porque o senhor está aí, reclamando?" Porque, meu senhor, urge elevar a criatura. É necessário que o homem se levante o quanto antes. E os senhores podem atrapalhar. Os senhores já tem atrapalhado. Olhe, os senhores têm derrubado nossos muros muitas vezes. Nós os temos levantado novamente e os senhores voltam a derrubá-los. Por isso, perdemos tempo, mas acabamos levantando. E quantas vezes os senhores derrubem, quantas vezes levantaremos. Nós somos muitos. Somos muitos mais... 
Vou lhe dizer uma coisa: somos muitos mais e cinco de nós valemos pelo menos por cinquenta dos senhores. Sabe por que? Porque somos sinceros, honestos e unidos naquilo que somos e todos pensamos como um. Digamos, cinco pensam como um e então é um com a força de cinco. E os senhores podem ser cinquenta, mas um pensa assim, outro pensa assado... 
E por isso, os senhores são cinquenta com a força, às vezes, de cinco, ou de um. 

- Pois é, mas se cinco pensam errado, o erro fica multiplicado por cinquenta, na sua opinião. 

Mas ele não é de ceder fácil e exemplifica seu ponto de vista: 

- Um dos senhores acha que a doutrina deve ser explicada assim; o outro acha que deve ser explicada ligeiramente assim: o outro acha: "Bom, pode ser assim, desde que se modifique um pouquinho aqui." Então, no fundo. os senhores não conseguem nem cinco pensando igual. 

Mesmo assim, com essas dissonâncias, ele admite que os tais "senhores", podem, sim, interferir, atrasando. 

E prossegue: 

- E eu tenho interesses também no mundo. Tenho sim, no mundo dos vivos e defendo meus interesses.

- Mas você não disse que o conceito fundamental é libertar o homem? Como é que tem que pensar tudo igual? Não pode variar um pouquinho aqui e acolá?

O doutrinador fica sem resposta a essa questão. 

Concluída a prece, ele declara:

- Não tenho mais nada a dizer. Poderia fazer-lhe um convite, para que o senhor também considerasse essa opção, utilizando-se das possibilidades suas e de seus companheiros em favor do conhecimento, em favor da ciência. 

- Acho que estamos fazendo isso, meu irmão. E como você me faz esse convite gentil e amável, aceite o nosso - considere também a opção do amor. 

- Por que o senhor não esquece os mortos? 

- Devo esquecê-los? 

- Deve sim. O senhor os atrapalha muito... Deixe os mortos viverem, meu senhor. Isto é, aparentemente, um paradoxo, mas para o senhor, não. Deixe os mortos viverem em paz.

- Você está vivendo em paz? 

Novo silêncio significativo. 

Sua tese está em que cuidemos nós dos vivos, que os mortos cuidarão de si mesmos, esquecendo-se de que os "mortos" estão cuidando dos "vivos". 

- Você não está dizendo que tem interesses aqui? - pergunta o doutrinador. 

- Claro, tenho. O senhor não tem interesses aqui? 

- Tenho. Por que, então, devemos abandonar os nossos e vocês não os seus? Os interesses são intercomunicáveis, meu caro. Somos todos uma só família de espíritos. Temos amigos e irmãos aí, como vocês têm aqui, amigos, irmãos e companheiros. Como temos amores. Aqui é o nosso campo de provas; aqui erramos muitas vezes e se hoje você prega a doutrina da irresponsabilidade, é porque as suas dores são muitas, meu querido. 

E mais adiante: 

- O ser humano é uma criatura que traz em si a fagulha do amor. Sem isto não existiria. Você não se criou sozinho; não se produziu. Tudo o que você sabe e mais o que sabe e não quer dizer, você aprendeu nas múltiplas existências que viveu aqui entre nós e no mundo espiritual. Você é um ser igualzinho a nós, com dores, com mágoas, com esperanças, com erros... 

- Isso é tolice. A gente não precisa desse mundo daí para evoluir. 

- Mas precisou sempre não é? Onde você aprendeu o que hoje sabe? Não foi aqui? 

Bom sinal. Começa a ouvir e já não parece tão convicto. 

- Vocês são muito radicais - diz ele, a certa altura. Tomam uma coisa pela outra"... 

- Meu caro, tomar uma coisa pela outra não é ser radical. 

- ... e transformam aquilo em lei.

- Você não acabou de dizer que o que fortalece vocês é exatamente o radicalismo da posição que assumem? Novamente você está em contradição...

Pausa. E em seguida: 

- É, o senhor é muito esperto em achar erros nos outros. 

- Nós nos explicamos pelos nossos erros; não pelos acertos, que são tão poucos... Não acha? 

Pouco depois inicia-se a indução magnética. Ele começa a bocejar e em alguns momentos mais, mergulha na sonolência, a voz vai se arrastando e as palavras surgem espaçadas, embora o pensamento continue lúcido. Ainda insiste na necessidade de atualizar os processos de comunicação entre os dois planos, abandonando técnicas "primitivas" como a da incorporação e a da psicografia, para utilizarem-se do método mente-a-mente, sem interferências, ou seja, uma espécie de fascinação, na qual o instrumento mediúnico e aqueles que o cercam, longe de perceberem o envolvimento, não o admitem e até aplaudem sem exame crítico tudo quanto vem por aquele canal, o que, aliás, o Espírito corrobora com o seu comentário final antes de mergulhar no transe: 

- Assim ninguém vai ficar sabendo quem está falando, porque não havendo comunicação verbal o mesmo espírito... está compreendendo o que estou dizendo? - o que vier do emissor humano é aceito como do emissor humano, um emissor para os outros humanos. 

Ou seja: uma vez preparado um ser encarnado para funcionar como porta voz das suas ideias e comandos tudo fica mais fácil, pois se torna quase impraticável distinguir o que provém do encarnado, do que provém dos espíritos, mesmo porque ora ele fala pelos espíritos e ora julga falar por si mesmo, quando está apenas transmitindo um recado muito bem implantando na sua mente. Daí o combate sem tréguas aos chamados trabalhos de doutrinação ou de diálogo, nos quais o espírito se incorpora e, de certa forma, fica um tanto limitado às condições que o processo lhe impõe. 



Momentos depois, após a necessária indução, ele começa a falar: 

- Tirem essas cabeças da minha frente, essas mandíbulas, esses dentes trancados! É horrível! Essas cabeças secas, com essas expressões horríveis, secas... Acho que essas cabeças são curdas

- Alguém cortou essas cabeças, não é? 

- Não sei. Horríveis... (Pausa) Deixa eu ver: vou acender a tocha aqui para poder ver. Está muito escuro. - Isso é uma caverna? 

- É, eu moro aqui. Ah! ali está, naquele canto ali. Ah! eu preciso... Eu faço... bem... ora... faço remédios, faço tudo. Unguentos, óleos... Eu uso... aquela ali já pode jogar fora; aquelas ali também. Já não servem mais. Por que não servem mais? Por que, sabe?, existem substâncias que são muito úteis. Eu faço... com essas cabeças... como direi? não sei as palavras. Eu faço com que elas sequem, elas escorrem, eu as aqueço até que saem todos os óleos e preparo unguentos que são úteis.

- Úteis para que? 

- Sim, para curar, para... ora... para muitas coisas. 

- Quer dizer, você é um feiticeiro, um mago, um alquimista... 

- É isso. Preciso misturar esses ingredientes. 

- E como você obtém as pessoas? 

- Ora, você as caça. 

- Onde? 

- Ora, por aí. .. Escravos... fugidos... 

- Você vive onde? 

- Vivo aqui nesta colina. 

- Que país é este? 

- País? Existe país? Que é país? 

- Não há um governo aí? Um rei, uma autoridade, enfim? 

- Não sei. Talvez lá embaixo, outras tribos... Todos me respeitam. 

- Muita gente vai aí te procurar?

- Alguns.

- E você vive sozinho aí? 

- Vivo. Seria impossível ter alguém.

- Onde você nasceu? 

- Onde eu nasci? (Pausa). De onde eu vim? Engraçado... 

Não sei bem. A velha dizia... a velha... Não, não era minha mãe. A velha me criou. Ela sempre contava uma história: que eu tinha vindo das águas. Me apanhou no mar... na água... Porque eu tenho uma pele diferente. Sou muito diferente deles. Sou mais claro. 

- Mas aí vivem pessoas de cor?

- Não, mas são mais escuros. 

- E você nunca conseguiu saber de onde veio? 

- Não, não sei. E para que essa conversa toda? Nunca me fez falta saber disso Nunca precisei saber. 

- E a velha, morreu? 

- Já. Ela me ensinou tudo o que sabia. 

- É, mas ela não te ensinou a cortar cabeças, não é? 

- Não. Ela não ensinou, mas ela... é que eu às vezes gosto de saber o que tem dentro dessas cabeças. Quero ver que cor é o cérebro... 

- Mas não importa destruir uma vida? 

- Não, não... São escravos fugidos. Não faz diferença nenhuma. 

- Não são criaturas humanas? 

- Ora, que diferença faz? Eles não contam - um a mais ou a menos... 

- E você nunca foi incomodado por isso? Nunca ninguém lhe interpelou sobre pessoas que sumiam? 

- "Eles" têm medo de mim. 

- Você não sabe, então, o nome dessa região aí? Que língua eles falam aí? Como é que você se entende com eles? 

- Que língua eles falam? Língua? Ora ... 

- Eles entendem bem você? 

- Eu aprendi com eles. A velha me criou. Eu falo igual a eles. Só sei que aqui tem essa colina cá no alto. Lá embaixo, tem um nome qualquer. Fidi, Fiji... Que é isso. Fiji. Lá embaixo passa a grande água. Bem lá embaixo ... 

- Você nunca foi lá? 

- Não. A velha não deixava. 

- E como chamam a você? Que nome lhe dão? 

- Como me chamam? Saba.

- E você é muito idoso? É velho? 

- Velho? Você não está me vendo? Tenho uma linda barba e esses cabelos...

Como se vê. uma estranhíssima história. Uma criança de origem desconhecida e raça diferente é apanhada na praia e criada por uma velha feiticeira que instrui o menino nas suas artes, mas ao que parece, ele não fica limitado às suas práticas primitivas e se dedica ao que já então, poderia chamar-se de "ciência". Quer saber o que há dentro dos cérebros humanos, para que servem e que se pode fazer das substâncias que eles contêm. Que importância tem se para isso tem de matar gente? Afinal de contas, não são meros escravos? 

Aspecto curioso de sua narrativa observa-se no fascinante problema do anacronismo que, com relativa frequência, ocorre com pessoas em regressão: ao mesmo tempo em que revela ignorar os conceitos de país, nação, ou língua, parece saber muito bem o que é cérebro. 

O doutrinador procura projetar para frente, no tempo, os sensores da sua memória, a fim de saber como terminou aquela história. 

- Para frente para onde? Aqui não tem frente! Tem cá em cima e tem lá embaixo. Que é caminhar no tempo? - pergunta ele. 

Faz uma pausa e retoma a palavra: 

- Estou cansado. Estou aqui me arrastando. Não posso andar. Eu vou morrer? E isto que é morrer? 

- Não sei. Vamos ver. 

Longa pausa e de repente, noutro tom: 

- Olha aquele ali. Sou eu outra vez! (Mostra-se perplexo). 

Estou cá embaixo. Que horror! Que coisa horrível isso! Homens... homens sem cabeça. Sem cabeça! E todos correndo atrás de mim! Me tira daqui, me tira! Onde está a velha? Que coisa horrível. Homens sem cabeça... sem cabeça ... homens ... 

Faz uma pausa maior e pronuncia outra palavra-chave. 

- Java. Tenho um barco Estou aqui. Eu... não sei. 

Outra história terrível. Tem enorme dificuldade em articular a palavra, ou melhor, em transmitir seu pensamento. Aliás, parece que pouco sabe do que se passa com ele e em torno dele, pois o pouco que percebe está além de uma névoa que não consegue penetrar e romper. Sente vagamente a vida em volta, mas não tem a mínima condição de comunicar-se com quem quer que seja. Está literalmente aprisionado num corpo muito deficiente, no qual o cérebro é tão atrofiado que praticamente não existe ou pelo menos não funciona senão para manter um mínimo de coordenação, um fio tênue de vida vegetativa. É pouco mais do que uma coisa viva. 

Nesse ponto foi retirado. 



Na semana seguinte foi trazido ainda magnetizado. Despertou já incorporado à médium e no auge da indignação. 

Pouco a pouco, no entanto vai ficando mais razoável, a partir da lembrança de uma pessoa que lhe foi (e continua sendo) muito cara, "uma joia", diz ele. 

- Não pude evitar que me tirassem essa joia - prossegue ele. E não pude evitar que me levassem essa joia para o mundo. E o pior ainda - diz já em altos brados - é que não pude evitar que pusessem essa joia numa ilha... É como se fosse uma ilha, com o mar à sua volta! E eu não posso transpor esse mar, porque não posso! Estou isolado. 

- Mas você diz que ela está numa ilha. 

- Sim, é um isolante, para isolá-la de mim. Aliás, porque fui falar nisto aqui, não sei. Por que fui parar nisto aqui? Não sei. Onde eu estava que, de repente, fui parar nisto? Fui apanhado na rede de vocês. Eu, o cauteloso! Eu, o sabido! Eu, o experiente! Olha onde me foram colocar. Mas que coisa mais peculiar! Mas como? Como fui falar dessas coisas? Não tinha a menor intenção de falar disto. Mas que coisa. 

Só podemos imaginar, ante a sua convincente perplexidade, que ele tenha recebido no mundo espiritual uma sugestão pós-hipnótica para falar daquilo logo que despertasse, já incorporado. Outro aspecto curioso nisto: sabemos a quem ele se refere, ou seja, a uma pessoa encarnada que identificamos prontamente. 

- Meu caro irmão - diz o doutrinador - é importante sabermos que você também tem suas afeições, seus interesses pessoais. O sentimento de afeição, de amor é legitimo, meu caro. Não é vergonhoso, não. Nós lhe respeitamos ainda mais por isto. Se pudermos fazer alguma coisa, transmitir alguma mensagem a este ser, por favor... Se alguma coisa podemos fazer, ajude-nos a fazê-lo. Alguma coisa que você queira dizer. Você a ama... É uma criatura muito querida ao seu espírito... Nós entendemos, meu querido irmão. É claro que entendemos ... 

- Ora vejam só! Que coisa! E que essa gente não compreende. Há limites, o senhor sabia? Há limites. Há barreiras. E, afinal, não somos tão todo-poderosos como queremos parecer. Ora vejam só! 

Suas frases são espaçadas; parece pensar mais do que consegue dizer. Pouco depois, já algo recuperado do estupor em que mergulhou ante sua inesperada e involuntária revelação, começa a dizer que conhece bem a Doutrina Espírita e conheceu pessoalmente Zoellner . 

- Tive oportunidades, mas você sabe qual é o problema? O maior problema - acho até que será o eterno problema do homem - é você não querer admitir que exista algo mais real do que a realidade da sua ciência. Que exista algo mais profundo do que a profundidade da sua ciência, está entendendo? Você admitir que exista algo que esteja acima da ciência. E talvez seja a própria ciência... não sei... 

- Algo que ainda não alcançamos, mas que poderemos chegar lá se tivermos suficiente humildade para aprender. A gente evolui, mudando. 



A rigor a história desse querido e valoroso companheiro termina aqui, ou seja, estaria nesse ponto concluída a tarefa do doutrinador junto dele, no entanto, consideramos tão importante o debate que a partir desse ponto foi travado com ele que resolvemos abrir espaço para reproduzi-lo, pela ampla colheita de ensinamentos que a sua experiência revela no dilatado curso de muitos milênios. 

Dizíamos no início deste relato que o nosso doutrinador se sentiu insuficiente perante este companheiro. Pois agora, vamos demonstrar por que foi assim. 

É de supor-se que a regressão da memória obtida na sessão anterior tenha sido de considerável importância no seu despertamento, como sempre acontece, mas o que mais o deixou atônito foi a revelação - inesperada e involuntária - das suas remotas e repetidas ligações com uma pessoa encarnada que conhecíamos. Não saberia dizer o que houve ali. Posso apenas imaginar que, ao se ouvir falando daquilo, daquele segredo tão íntimo e bem guardado, que ele não tinha a mínima intenção de desvelar, ficou tão impactado que perdeu o controle da situação. Foi como a rachadura inesperada em um dique – rompeu-se tudo e a água correu impetuosa e sem freio pela encosta abaixo. Havia, portanto - deve ter pensado ele - situações sobre as quais não estava em seu poder exercer domínio. Havia mistérios acima da sua ciência, havia enigmas que transcendiam o entendimento. Não sei se é isso; é o que eu penso.

Vamos, pois, ao seu relato. Imagine-o o leitor a falar em tom de perplexidade e até de humildade; pensando muito nos intervalos das frases e até das palavras; inteligente e lúcido, e mesmo com vigilante senso de autocrítica e, acima de tudo: finalmente, tocado pela emoção. Parece que, afinal, aceitara o afeto que desde o primeiro momento vínhamos tentando oferecer-lhe. Parece que sabia agora o que fazer dele. E ainda: o doutrinador não era mais um aprendiz bisonho ao qual ele viera humilhar, mas um companheiro que ele como que levantava ao seu nível intelectual, aceitando-lhe conceitos e ouvindo-o com atenção, ainda que discordando aqui e ali. Em suma: foi uma noite inesquecível. 

Sua perplexidade maior, contudo, ainda está em contemplar as limitações que finalmente, vê em si mesmo, em face do conhecimento que ele pensava dominar. 

- Ele, (o cientista) não pode admitir - prossegue ele - que a ciência, a deusa que ele cultuou a vida inteira, de repente, tenha algo que esteja acima disso. A ciência que ele domina. compreende? A ciência de que ele é senhor! 

- Senhor até aquele ponto, não é meu querido? Ela prossegue, ela continua. É a ciência sem o amor...

E nós que somos homens de ciência não podemos admitir que o que chamam de Verdade seja uma coisa tão simples como uma fonte de água inocente! Não pode ser tão simples! E por isso, um homem como Zoellner, que queria provar que aqueles fatos eram de ciência (fatos mediúnicos, espíritas) teria que ser combatido, para provar que existem fatos que podem ser místicos ou qualquer coisa... Se você aceita essa realidade, a ciência vai perecer.

- Não, não...

- Ou você vai nivelar a ciência, ser lá. 

- Não, meu querido. A ciência é um instrumento para o conhecimento. Ela não é uma finalidade em si mesma. E ela tende naturalmente para Deus. Porque ela a ciência é uma decifração de Deus. Não vamos chegar lá nunca, mas o que é aprender? E como você disse em nossa primeira conversa, é ler o livro do Universo. Não é proibido cultivar a mente.

- Mas quanto mais você lê o livro do Universo, mais você se sente grande. 

- Não. Mais se sente pequeno 

- Não, porque você sente que é parte daquele todo. 

- É parte, sim, em grão de pó em todo esse infinito. O conhecimento do Universo deve nos trazer é humildade, não orgulho. 

- Mas o infinito é pó e eu sou um grão de pó; logo, eu participo da grandeza do infinito. 

- Sim, meu caro, mas quanto mais você se apercebe da grandeza do Infinito, mais você deve se convencer da sua pequenez diante dele. Isso não impede que você cultive o conhecimento, a ciência. Mas é preciso que você faça acompanhar tal conhecimento do amor, da emoção. Para que você quer o conhecimento? Para dominar ou para entender? Para servir ou para ser servido? Depende das suas opções. Você está chegando agora à conclusão de que toda a sua ciência não o levou a nada, pois continuam a existir diante de você certas limitações. Claro que vai havê-las sempre. A aceitação desta nossa grandeza... Sim, somos criados filhos de Deus com todo o potencial da grandeza. Mas o que é grandeza? Vamos definir bem o que é isso. É ser mau, é impor a sua vontade? 

Embora ele ouça atentamente, é óbvio que o seu pensamento segue um curso inexorável que nem mesmo ele consegue deter. Parece desejar subitamente repassar tudo, aproveitar a presença de ouvintes complacentes para dizer o que pensa. O leitor me perdoe algumas observações intercaladas que acabam quebrando o fluxo do diálogo, mas me parecem importantes à inteligência do que se diz. Pelas referências a Zoellner, o nosso caro visitante daquela noite deve tê-lo combatido tenazmente, pois a seu ver, o grande astrônomo e físico alemão enveredara pelos atalhos de uma ciência espúria só porque esta ciência demonstrava fatos que a "outra" não conseguia admitir por pura vaidade de seus arautos. 

Prossigamos, contudo, dado que ele nos transmite mais uma importante informação. 

- Você alguma vez já olhou para o sol? - pergunta ele. 

- E difícil olhar, mas podemos fazê-lo, se o fizermos com rapidez. 

- E já imaginou se você tiver consciência de que é parte daquele sol? Eu uma vez vi a Luz e fiquei fascinado por ela. Fiquei tão fascinado... 

- A mariposa também se fascina pela luz e pensa que é parte dela até que se queima e descobre que não. 

- Mas eu sou parte dessa Luz! 

- É, meu caro, é parte dessa Luz mas não é a Luz, como dizia o Cristo. Somos, sim, parte da Luz! Temos em nós aquela centelha divina do amor - porque sem ela não seríamos o que somos - mas o fato de Deus ter colocado em nós a sua centelha de luz não quer dizer que sejamos deuses; continuamos sendo criaturas e não o Criador de Universos. O dia em que tivermos a ciência superior e também o amor, então, sim, partilharemos desse ato universal da criação. Mas quando chegarmos lá, já não teremos mais o desejo de dominar, de destruir, de construir tronos para nos sentarmos neles ou pedestais para nos colocarmos neles. 

- Oh, como, de repente, isso está tão estranho! É estranho... Que estranho! O que você provocou em mim? 

- Meu caro companheiro e irmão, não é nossa intenção aqui humilhar ou arrancar você dos seus pedestais, tirar a coroa de sua cabeça, desvestir os seus mantos; desejamos apenas mostrar a você que além da grandeza da ciência, estão outras grandezas, outros poderes. 

- Estou vendo tanta coisa! Mas está tudo confuso na minha cabeça... tanta coisa estou vendo! 

- O que você está vendo, por exemplo? Vamos procurar ordenar isso. 

- Tudo partiu desta visão da Luz. 

- Que luz era essa? Algum ser especial? 

- Não. Quando digo visão da Luz quero dizer... eu tive um lampejo da Verdade, compreende? A visão da Verdade. E aquilo me enlouqueceu. 

- Mas essa visão, esse lampejo, essa luz continua a sua espera. Chegaremos lá por aproximações sucessivas. As conquistas que você realizou em termos de conhecimento, de pesquisa, de estudo não estão perdidas para você. Elas são válidas até o ponto em que...

- Agora me veio tudo isso na minha mente. Sabe? É por isso que eu... Meus Deus! Eu já fui deus, compreende? Pelo menos. assim me julgava. 

- Você foi endeusado, não é ?

- Não, eu me sentia deus, eu me sentia o poder, a força... 
(Longa pausa. Parece recordar). Eu me sentia dono da vida e da morte. Você sabe que os chefes egípcios todos não eram simplesmente chefes do povo; eles eram deuses também.

- E você foi um deles... Mas quando eles eram realmente iniciados nos mistérios profundos da sabedoria antiga, sabiam que não eram deuses. 

- E foi de lá que os romanos herdaram o conceito da divindade para os chefes. 

- Sim, mas insisto em dizer que não eram os verdadeiros iniciados; eram espíritos ainda com uma dose muito grande de vaidade pessoal que se punham como deuses. É um processo de auto-hipnose em busca de poder para oprimir e conquistar. Não estamos julgando nem condenando - estamos procurando analisar fatos no sentido puramente histórico. 

- É uma loucura isso! Quando você se sente tão grande, quando você quer ser tão grande, você tem que criar pequenos à sua volta. 

- Não, meu caro. Pelo contrário. Isso me parece uma deformação ótica de nosso espírito. O Cristo não apequenou ninguém para que ele se tomasse grande; ele simplesmente é grande. O que ele deseja é o contrário: é elevar todos a um padrão superior de qualidade espiritual para que todos... (sejam grandes). 

- Vou lhe falar com franqueza: não tenho grande estima pelo Cristo. 

- Sim. É compreensível. Não estamos tentando impingi-lo a você. É uma aceitação que tem de ser espontânea. 

- Aliás, não sei se devo dizer que é falta de estima. Não sei... 

- Não importa. Pelo fato de sermos - de estarmos tentando ser amigos, companheiros, discípulos, servidores dele, não quer dizer que você tenha também, aqui entre nós, de aceitá-lo de qualquer maneira. Você não está sendo obrigado a isso. É uma decisão que você tem de tomar sozinho, pelas suas próprias condições espirituais. 

Segue-se outra informação curiosa: 

- Eu sei quem o Cristo é. Eu sei... Eu sei! A dificuldade não está aí. Eu sei... 

- Está em você, claro; não pode estar nele, não é? 

- A dificuldade está em que... 

- Tem que reconhecer que ele é maior? 

- Não... A dificuldade está em querer ser o iniciador, em achar que sou tão grande quanto ele... Ou que eu poderia ser tão grande quanto ele, que eu posso, que eu sou

- Que você pode ser, chegar lá, é claro que pode. Todos nós podemos. Ele disse certa ocasião, como você deve estar lembrado, que qualquer um de nós poderia fazer tudo aquilo que ele fazia e até mais. Ou seja, temos uma perspectiva muito ampla, muito consistente, de evolução espiritual. 

- Vou lhe dizer uma coisa: antes do Cristo ser o Cristo, antes do Cristo vir ao mundo, eu já sabia... Eu já sabia da grandeza do ser. 

- Sim, sabemos da existência dele. Ele nos precedeu... 

- Não. Não estou dizendo que eu sabia dele, eu sabia a verdade. A verdade da origem do homem, eu sabia. 

- Por isso você achou que não precisava dele ... 

- Só que eu vivi neste mundo querendo de volta um trono que não estava no mundo e eu não sabia. 

Esta informação, como outras que constam desse diálogo, somente faria sentido para nós um pouco mais adiante no debate. 

- Mas aqui você ocupou muitos tronos, não é? Botou várias vezes a coroa na cabeça. Você sabe que para chegarmos aos tronos passamos por cima de muitos cadáveres, precisamos derramar muito sangue. Então, meu caro, não sei se vale a pena essa conquista puramente terrena, que fica toda aqui. 

- Por que você me fez rememorar essas coisas todas? 

- Meu caro companheiro, às vezes é necessário essa busca interior... 

- Venho de uma linha de conquistadores... Só que eu estava no mundo querendo conquistar uma coisa que não estava no mundo. 

- Enquanto isso você conquistou o mundo, naquilo que lhe parecia mais real: os territórios, as pessoas... destruindo tudo à sua passagem. Mas, meu caro, não queremos dizer com isso que esteja tudo perdido.

- Você me conheceu? 

- Eu sei quem você é mas vejo também em você inúmeras virtudes ... 

- Não. Eu só estava vendo tudo de maneira errada. 

- Você tem um grande amor pela arte, pela beleza, pela arquitetura. Você tem um grande respeito pelas pessoas que... 

- Meu Deus por que agora estou vendo as coisas assim? Acho que por isso sempre fui um insatisfeito no mundo! Quanto mais eu conquistava... não estava ali... Eu sabia que não era aquilo que eu queria. E não há coisa mais decepcionante do que a posse daquilo que você desejou. Quando você tem aquilo na mão, você vê que quer mais além. Não era bem aquilo... 

- O mais além também não vai ser aquilo que você quer, porque não é ali que está a felicidade, a maneira de entender a vida.

- Conquistei gente, dominei povos... 

- Mas como dizíamos há pouco, essas realizações não estão perdidas pelo que representam de lição, de aprendizado... 

- Oh, como podemos ser tão ridículos! 

- Não, meu querido. Não se trata disso. É que você mudou muito subitamente sua visão espiritual por causa do choque emocional... 

- E quanto mais eu sabia, eu via... é como se você quisesse subir uma montanha para tocar o céu, compreende? E quanto mais você sobe, mais ele está longe de você. E fui subindo as montanhas do mundo, subindo nos tronos, para tocar naquela grandeza que eu sabia que estava lá. Mas esqueci que ela não estava lá; estava aqui, em mim. Esteve em mim o tempo todo. Só que eu não soube vê-la. E ainda continuo querendo tocar o céu com as mãos... Mas por que o céu é tão inatingível? Se você tomar um avião e sair, ainda assim não tocará o céu, você não tocará o céu nunca. Você nunca tocará o Infinito... 

- Mas como você diz, você estava procurando fora de si mesmo as coisas que estão em você. Você tem de construir a sabedoria da paz em seu próprio espírito. O que você busca não está no mundo. 

- Eu me perdi! 

- Não. Você perdeu tempo, isso sim. 

- Eu me perdi duas vezes, quantas vezes, meu Deus! Preciso ver tudo. Preciso. Você me ajude. Me ajude! É algo que está aqui dentro. Preciso ver... 

Ele agora quer ir até o fundo do poço escuro da memória. 

Faz-se uma longa pausa e ele retoma a palavra: 

- Meu Deus! Já fui tão grande! Mas a própria grandeza me apequenou. Sabe qual o problema com todos nós, os seres em evolução? É a impaciência. Eu vi a grandeza do ser e quis conquistá-la de imediato. E achei que para isso precisava subir nas coisas do mundo, subir no mundo porque a grandeza estava lá, porque eu era grande. Esqueci que quanto mais eu subia no mundo, mais longe ficava daquela grandeza que eu queria tocar...

Nova pausa, longa e tensa. Por fim, uma declaração que parece vir do fundo do ser: 

- Eu sou um exilado! Você compreende?

- Sim, meu querido. Sei. Muitos de nós somos. 

- Sou um exilado - repete ele - Meu Deus, e não fiz nada, não fiz nada; na verdade, nada fiz. 

- Isto significa, portanto que você já veio para cá em virtude de uma experiência falhada alhures. Mas você não está sozinho nessa dificuldade. Muitos de nós cometemos as mesmas falhas e é sempre tempo de recomeçar. 

- Ah! não é tempo de recomeçar...

- Claro que é. Você é um espírito imortal. E sabe que nesta hora, em que nos aproximamos de um novo ciclo... 

- O conhecimento pode ser uma arma terrível! 

- O conhecimento em si, é neutro. Tudo depende da utilização que lhe damos. 

- É uma arma terrível. Muitas vezes tentei sufocar o conhecimento nos outros porque eu sabia... Queria ser o único a saber, porque sendo o único eu teria sempre o domínio sobre os ignorantes, compreende? Vou lhe dizer: muitos daqueles que combatem a Verdade não é por ignorância, não; é por saber, é por reconhecê-la, e ter medo do que ela possa ela possa fazer a você. E por isso combatemos, por sabermos que ela é uma realidade e por isso é preciso que ela desapareça porque se ela surgir estaremos perdidos. Porque deixaremos de ser aquilo que queremos fazer crer que somos. Você compreende de que estou falando? 

- Compreendo perfeitamente. Mas aí está outro engano de ótica em que nos colocamos: a gente pensa que a verdade vai nos destruir; mas não; ela vai destruir a mentira em nós, não a nós. O conhecimento que você tem de ciência, de filosofia, de estratégia, de governo, de comando, de administração é todo válido. 

- Você sabe porque muitos combatemos as ideias Espíritas? É justamente porque elas são verdadeiras. Porque o dia que o mundo inteiro aceitá-las, nós acabamos, compreende? 

- Não é aqui que está o seu engano.

- Não poderemos ser mais os oráculos, não poderemos mais ser a fonte, o guia, aquele que se procura para saber da verdade porque não seremos mais os donos da verdade! Compreende? 

- Não, meu querido. Vocês não são donos da verdade. O grupo a que você pertence são os oráculos da mentira e ela por si só cai; não pode subsistir porque não é da essência divina. Deixem que a mentira se destrua e permaneçam espírito, imortais, que são, destinados à Verdade e ao Amor. Isso você pode fazer. 

- Queremos ter hoje a conquista da ciência que ainda não podemos ter sem isto. Não tivemos paciência de esperar, meu amigo. Não temos humildade para reconhecer que somos parte da Verdade, mas não somos a Verdade... Somos parte da Luz, mas não somos a Luz! Que temos força, que temos poder, mas não somos a força, nem somos o poder. 

- Mas temos também que entender meu caro, que a nossa destinação é a luz, a força e o poder. E quando soubermos utilizar inteligentemente e com amor, desses recursos, desse potencial, então, sim, estaremos em paz. Aquele que pode e sabe e ama, não destrói, não bota coroas na cabeça, não deixa atrás de si um rio de sangue. O Cristo deixou atrás de si um sulco de luz para que nós o seguíssemos. 

- Oh, você fala em rio de sangue! Realmente, deixei muitos rios de sangue, mas sabe que, no fundo, foi porque eu sabia dentro de mim que a morte não existe. Então não fazia diferença matar. 

- Sim, é um raciocínio também de ótica confusa, como você próprio reconhece. Mas ficou aí um conceito que é válido, ou seja, o da imortalidade do espírito. A utilização foi errada, mas o conceito é válido. E conceitos assim você tem muitos deles. 

- É como se você tivesse o conhecimento, mas houvesse entre ele e o seu cérebro, uma cortina que impede a visão correta. Você sabe. Alguma coisa dentro de você diz que é assim, que você pode matar que ninguém morre, ou melhor, alguma coisa dentro de você diz que ninguém morre e, então, você mata! 

- Bem, meu caro. Você tem muita coisa em que pensar. Quero apenas, se você me permite, reafirmar ... 

- Meu Deus! Vejo tudo tão claro na minha mente! Eu já tive um mundo tão bom! (Pausa). 

- Você se lembra ainda disso? 

- Eu me lembro... Não sei por que mistérios estou me lembrando, não sei por que sortilégios... Mas vejo tudo tão claro! Meu Deus, estou vendo! 

- Muitos de nós não pudemos ficar lá exatamente porque não nos afinávamos com as harmonias que estavam programadas para aquele mundo. E se não demonstrarmos boa vontade para com este agora, seremos exilados de novo, não é? 

- Meu Deus! Tanto tempo que se perde! Como se você já tivesse construído um arranha-céu e, de repente, botasse tudo embaixo e você tivesse que começar da choupana, ou melhor, nem é da choupana, você tem que começar de uma caverna, compreende? Primeiro fazendo um buraco no chão. E você sabe que pode construir um arranha-céu! Dentro de você, você sabe! Meu Deus!... Que coisa louca! 

- Vamos então começar tudo de novo? 

- Não tem por onde começar! 

- Tem sim. Claro que tem. 

- Se eu pudesse desintegrar-me. Se pudesse voltar ao seio que me criou, para começar de lá! Voltar ao seio da Mãe Natureza, da Mãe Criadora, da Mãe Divina! Não ter sido criado para ser criado outra vez! 

- Um momento. Você não está sendo justo. Decorridos todos esses milênios de milênios, você dispõe hoje de conhecimento que o ajudará a reconstruir sua vida muito mais depressa do que... (voltando para recomeçar) 

Mas ele interrompe, agitado: 

- Muita gente fala em Mãe Divina, mas você sabe o que é isso? É aquela certeza interior que você veio de um Criador ... Eu sei. Não posso voltar ao seio da Mãe Divina. 

- É claro, mas se fosse possível, seria muito mais longo o tempo para o seu aprendizado, do que você partindo do ponto em que se encontra hoje. Não lhe parece aceitável isso? 

- Meu Deus! Há tanto conhecimento no Universo e esse mundo em que vocês vivem está todo partido; um pouco aqui, um pouco ali, um pouco lá. E cada um deturpou um pouco e por isso é tão difícil encontrar uma unidade de pensamento. Cada um quis uma fatia maior da verdade e cada um quis ensinar aquilo que trazia no seu íntimo, mas não sabia bem o que era, nem onde estava! Era um conhecimento vago. E acabamos nos perdendo cada vez mais, cada vez mais...

- Mas, meu caro. Vamos ao seu caso específico, por favor. Me permita. 

- Não posso pensar no meu caso especifico porque eu sou muitos!, compreende? Eu sou legião, eu sou grupo, eu sou arquipélago; não sou uma ilha. 

- Sim, meu caro, mas o seu exemplo vai servir para muitos. E nós mantemos a nossa individualidade. Escuta. Dá licença. Deixa eu dizer-lhe uma coisa importante. Você, e inúmeros de nós, fomos exilados uma vez porque não aceitamos determinadas condições que o nosso mundo exigia. O tempo é escasso, realmente, em termos de mudança de ciclo, aqui onde estamos hoje. Mas se demonstrarmos aos nossos amigos espirituais, aos poderes que nos orientam a boa vontade de fazer urna retomada honesta, seremos conservados aqui. Não precisamos voltar para as cavernas de outros mundos para recomeçar tudo novamente. E você está demonstrando hoje aqui essa boa vontade. Vamos nos agarrar nesta esperança. 

- Eu uma vez quis conquistar o Universo... Meu Deus! Que pensamento! O Universo é inconquistável, compreende? Saiba isso de alguém que sabe. O Universo é como um oceano, é como a água que, se você colocar na mão, escorre pelos dedos... Você mergulha nela, mas não a possui, compreende? Você jamais possuirá o Universo. Você está mergulhado nele mas não o possui. 

- E isso é alguma tragédia? Precisamos possuir o Universo para sermos felizes? 

- Mas você não entende que não pode, compreende? Quando você entende isso já é tarde. 

- Não é tarde, não. Você está enganado mais uma vez. Está cometendo mais um erro. Você é um espírito imortal, 

- É tarde - choraminga ele - Muito tarde! Agora compreendo porque a puseram numa ilha magnética: para que eu não me aproximasse dela! Você sabia que os Espíritos podem construir uma ilha magnética em torno de uma criatura? 

- Sei. 

- Você não pode tocá-la; seus pensamentos não podem atingi-la... 

- Alguma coisa que possamos fazer, meu querido? 

- Não. Creio que não. 

- Por ela, ou para ela... Uma mensagem sua ... 

- Para que? Que poderia eu dizer? 

- Isto que está nos dizendo aqui hoje. É importantíssimo. Escuta: ela está numa boa posição espiritual? 

A pergunta é um teste, para confirmar ou invalidar mero lampejo de intuição que tivéramos quando pela primeira vez ele falou nessa pessoa. E ele nos confirma a intuição com a sua resposta lenta e sofrida: 

- Ela participou muito das minhas batalhas. Ela partilhou muito do meu poder, da minha glória... 

- Então ela não está bem. Não se aflija, meu querido. Todos nós chegaremos lá. Sei de quem você fala. Estamos procurando fazer tudo que é possível para que tais coisas se modifiquem em nós. Precisamos ter paciência. Você não disse que um dos nossos grandes males está em sermos impacientes? Com as falhas e erros alheios precisamos ser pacientes. Temos de ser intransigentes é com os nossos. 

- Caminhei tanto pelo mundo com coroas na cabeça... 

- E espada na mão... 

- E espada na mão - confirma ele. E cetros... Tenho uma longa caminhada... 

- Pois é, meu caro. Você tem muitas qualidades positivas. Nós lhe respeitamos pelos seus erros também, porque o erro é uma condição que suscita em nós não a comiseração, mas a empatia, não é assim? Respeitamos você, portanto, pelos seus erros, mas também pelas suas qualidades que sabemos serem muitas. Você dispõe de conhecimentos muitos, de sensibilidades... 

- Me sinto tão idiota! Corri tanto atrás de uma grandeza que esteve o tempo todo dentro de mim. E no entanto. eu não sabia! Não soube... Não soube desenvolvê-la. 

- Agora que você desceu dos pedestais e apeou dos cavalos e abandonou a espada e tirou a coroa, vamos começar a construir outro tipo de imagem para você mesmo. 

- Você pensa que foram só os cavalos? 

- Não. Sei que os cavalos foram utilizados nos tempos bravios da Idade Média mas depois disso sei que você galgou outras posições. 

- E antes disso, também. Muito antes... Só que, na verdade, nunca saí do chão do mundo. E mesmo agora estou aí, estou no chão.

- Então, somos velhos amigos e companheiros! Serei, tanto quanto possível, o portador da sua mensagem junto ao ser a quem você ama.

Ele tem um riso incrédulo e desalentado:

- Ah, meu amigo... Que é isto, que é isto? Você está falando com um homem que não tem mais ilusões. Acho que há muito tempo não tinha mais ilusões. 

- Não acho que estou falando com um homem que não tenha mais ilusões. Nem estou pedindo a você que tenha ilusões. Pelo contrário, estamos exatamente tentando desfazer as suas ilusões. Você é que está cheio de ilusões... ou estava, pelo menos até agora, como você mesmo reconhece. 

- Engraçado. todos dizem que procuram a Verdade, uma Luz, mas muitos, como eu, ao encontrarem a Luz, querem apaga-la porque têm medo dela; para que os outros não vejam. Que, sim, esteve ali e a Verdade era aquilo.

- Coisa muito parecida disse o Cristo sobre a paz: os homens queriam a paz mas não procuravam as coisas que traziam a paz. Vamos procurá-la, então, onde ela está? A paz, a verdade, o amor... 

- Onde?

- Em nós, em Deus... Você não sabe ainda onde está? 

Suspira fundo e diz desalentado:

- Eu sempre soube, meu amigo. 

- Então fica mais fácil a sua procura. 

- Acho que teria de voltar a ser um molusco, para esquecer que fui um homem e tive inteligência. Para esquecer que a mente está corrupta, porque mente corrupta é poluída, meu amigo. É um “handicap” terrível...

- Sim, mas a água poluída também se filtra pelos filtros do Universo e se purifica para voltar a ter serventia. 

- Ah, se o molusco soubesse o quanto é feliz! Porque ele não tem inteligência... Porque o seu único problema é arrastar-se para alimentar-se e procriar. 

- Mas você já avaliou o tempo que levaria um molusco para chegar até onde você chegou em termos de conhecimento e de realizações pessoais? 

- Que importa se ele não sabe da existência desse tempo? 

Pior é estar eu aqui e saber da existência do tempo. Ele não tem consciência - o tempo não lhe pesa, mas para mim o tempo pesa. Eu sei... 

- Quer dizer também que você dispõe do tempo infinito à sua frente. Você não é imortal? Não é indestrutível? O tempo aí está à sua espera. 

- Ah, meu Deus! (Longa pausa). Que eu vou fazer agora? Para onde ir? Como ir? Que bagagem levar? Eu não tenho nada! Eu conheci. Ah, você não sabe... 

Longo silêncio, que o doutrinador respeita. Por fim, novo desalento: 

- Meu Deus, o pior castigo. Eu queria perder a consciência, mas não consigo. Queria perder a inteligência, mas parece que esse vai ser o meu castigo. Vou continuar com todo o meu conhecimento. Meu Deus! Não posso me livrar disto! Quero neste momento, esvaziar a minha mente e não consigo. Quero tirar tudo de dentro dela e não posso. Está tudo aí. É como um salão em que estivessem amontoados todos os tesouros do mundo e agora não me servem de nada. Quero me livrar deles porque tenho fome! É a maldição de Midas. É assim que me sinto. Não posso nem comer... E não posso me livrar deste poder que eu criei! (Chora). Não posso me livrar, você compreende? Não posso! Queria não pensar e não consigo. Continuo vendo o que eu sei. Eu sei! Eu conheço. Eu soube e conheci o tempo todo. Não posso me livrar disso. É a maldição de Midas. Tudo o que toco transformo em algo inútil. Quis tanto o poder do conhecimento e da mente e agora que tenho o que sempre quis ele não pode me valer de nada. É uma maldição, é uma praga! 

O doutrinador ora e depois lhe diz que ele precisa repousar. 

Adormece-o por meio de passes e ele é retirado, deixando entre nós, uma profundíssima impressão. Sua palavra vai se extinguindo aos poucos. 

- Quero me livrar disso. Apague essa luz. Quero ficar no escuro! Apague... esta luz... Preciso do escuro... Por favor, apague essa luz... Tenho medo de saber... Eu tenho a maldição... 

Aí está o dramático relato do nosso caro irmão. Como o leitor percebe ele viveu no lendário mundo que aqui conhecemos pelo nome de Capela uma experiência prodigiosa. Galgou elevado nível de conhecimento, teve lampejos fugazes da verdade integral, pura, luminosa quanto às vastíssimas potencialidades da criatura humana, mas falhou porque foi impaciente. Queria tudo, chegar logo, "tocar o céu com a mão" dominar o Universo. Não percebeu que a grandeza estava nele mesmo a ser desenvolvida e não nas coisas exteriores, como também não percebeu ou não quis admitir que a Verdade era simples demais para ser verdadeira! 

E como o mundo em que vivia (“um mundo bom”, diz ele) estava em fase de transição para uma condição melhor e mais avançada e ele era um dos rebeldes, foi exilado para a Terra. E aqui, com as matrizes mentais de seus vastos conhecimentos, sabendo no íntimo que era capaz de construir um arranha-céu, teve de contentar-se em cavar um buraco no chão e ali viver, pois não havia alternativa senão aquela. Ele que fora grande, que ainda era e continuava sendo grande... 

Só que entre a sua fantástica experiência espiritual e a sua rude condição de ser fisicamente primitivo, desceu uma pesada cortina que tudo velou, menos a vaga intuição de que ele um dia vira a Luz... 

No correr dos milênios lançou-se novamente no encalço da grandeza e novamente buscando-a nas coisas exteriores: o poder, a força, a opressão, as coroas. Mas não era aquilo que ele queria... Ele queria o universo interior, queria desenvolver suas potencialidades, e não sabia como.

Via tudo agora inútil, o tempo perdido, o desalento pelo recomeço. Achava-se ridículo. E até no combate à verdade equivocou-se, não porque a ignorava, mas porque a sabia verdadeira, porque achava que se ela vencesse por toda a parte, como irá inexoravelmente vencer, ele e os seus companheiros - somos legião, disse ele - estariam perdidos. Mais um engano. 

Tudo quanto desejava agora, era uma espécie de suicídio espiritual, uma desintegração de si mesmo, tentando o impossível: voltar ao seio de Deus e recomeçar a jornada, sem memória e sem erros, a partir de um simples molusco. Desejava, no mínimo, passar uma esponja cósmica na memória, esquecer tudo quanto sabia, calar o pensamento para sempre. Nada disso conseguiu . Por isso não sabia o que fazer, para onde ir, como ir e que bagagem levar, pois nada tinha em realidade, senão todo aquele tesouro inútil acumulado, quando apenas ansiava por um pedaço de pão para saciar sua fome espiritual... 

Sobre sua identidade, ou seja, sobre as suas identidades, deve sobrepairar o silêncio, em respeito às suas decepções e angústias. Pelo menos em uma delas, no entanto, foi confirmada a intuição de nosso doutrinador pela presença de um Espírito já de elevada condição que, mesmo não se manifestando, deixou nos algo assim como o seu ”cartão de visita”. Transmitiu à nossa médium o nome que teve numa antiga encarnação na França, onde desempenhou importante tarefa junto dele. O nome em si nada significava, mas para o doutrinador foi como que um "recado" silencioso e discreto. 

Quanto à querida irmã nossa que foi sua companheira em muitas das suas memoráveis e dolorosas experiências, o leitor certamente compreende que devemos também nos calar. Curioso, no entanto, o comentário dele acerca do isolamento magnético a que ela foi levada, a fim de colocá-la fora do alcance dele - e até de seus pensamentos - para não envolvê-la mais na sua aflitiva problemática. O benefício aqui parece duplo: tanto ela fica resguardada de novos e graves desenganos e tem novas chances de recuperação, quanto ele fica sem o estímulo que certamente ela sempre lhe proporcionou para suas arremetidas, e, consequentemente, para novos fracassos espirituais. 

Estava em elaboração este relato quando me foi proporcionada a oportunidade de ler a comunicação número 144 de "Caminho, Verdade e Vida", de Emmanuel. Destaco da página 304 os seguintes tópicos: 

- Não somente o corpo da criatura humana padece a obsessão de Espíritos perversos. Os agrupamentos e instituições dos homens sofrem muito mais. E quando Jesus se aproxima, através do Evangelho, pessoas e organizações indagam com pressa: "Que temos com o Cristo? Que temos a ver com a vida espiritual ?" 

É preciso permanecer vigilante à frente de tais sutilezas, porquanto o adversário vai penetrando também nos círculos do Espiritismo evangélico, vestido nas túnicas brilhantes da falsa ciência". (Destaques desta transcrição) 

Hermínio C. Miranda
Do livro: 
O exilado (E outras histórias que os Espíritos contaram)

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Acesse a comunicação citada acima:  
Capítulo 144 do livro: Caminho, Verdade e Vida, de Emmanuel


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