quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Livre-arbítrio, liberdade e evolução (Trecho do livro: Sinal da Vitória)

Livre-arbítrio, liberdade e evolução

J. W. Rochester

(Trecho do livro: Sinal da Vitória)



— É  o desprezo de Siomara - disse ele com voz sufocada. 

O sábio sorriu e abanou a cabeça: 

— Não, Siomara é jovem, ela pode esquecer e perdoar os erros de seu companheiro de infância; aquele ante o qual tu deves corar, és tu mesmo, Pretextato, foi tua dignidade humana que calcaste aos pés, resvalando mais baixo que o animal, pois o bruto não se entrega absolutamente a excessos desse gênero. Qual não deverá ter sido o transbordamento de teus instintos brutais, provocados pela embriaguez, se eles te arrastaram a um crime! 

— Álcia morreu? — balbuciou Pretextato empalidecendo.

— Não, ela vive, mas isso não te exime da culpa; na Terra, onde para executar um crime o homem tem necessidade do corpo, instrumento cego de uma força brutal emanada do cérebro, não é a mão que fere a culpada, mas o pensamento que dirige o golpe; não é o ato que é preciso julgar, mas a intenção. Muito tempo ainda vaguearás neste mundo, aprisionado em um corpo perecível, para aprenderes a disciplinar teu pensamento, o qual, livre, pela força exclusiva de sua vontade, incendiaria mundos. Não foi sem razão que a Sabedoria Divina subordinou a ação do pensamento indisciplinado ao jugo carnal que ele deve arrastar consigo. Cora, portanto, diante de ti mesmo e reconhece quanto és ainda escravo da matéria, quanto tua vontade é ainda dirigida para o mal e para a destruição; aprende, meu filho, que somente aquele que possui a força e não a emprega senão para o bem, adquire por isso a liberdade de ação. Trabalha, pois, para dominar e manter sob tua dependência a besta feroz que montas, da qual tua alma é o cavaleiro, se não quiseres ser atirado à terra e destruído. 

— Ah! a vida é tão curta para semelhante trabalho! — murmurou Pretextato.

 — Tua vida ainda será longa, e, mesmo se progredires pouco, não deves desesperar, porque te resta a Eternidade; e essa palavra, tão obscura para o homem, sabes tu o que ela exprime? A Eternidade é a clemência infinita do Pai Celeste, é a Paciência sem precipitação é o eterno encorajamento dado às almas na sua penosa ascensão para a Luz. A Eternidade é a mão compassiva e cheia de mansuetude que fecha durante um breve sono os olhos fatigados do peregrino terrestre, dá-lhe o esquecimento do passado, e, no seu despertar, substitui o corpo gasto e dorido por um corpo Novo, para recomeçar a marcha, pondo em seu coração esperança, esta lâmpada inextinguível, que ilumina o a  caminho cheio de obstáculos, por meio do qual ele se eleva aos pés do trono da Perfeição. 

— Que é a Perfeição, este mistério que me é mais difícil ainda de compreender que o da Eternidade? perguntou Pretextato trêmulo e pálido de emoção. O olhar inspirado do sábio ergueu-se para o Céu. 

— A Perfeição — disse ele com voz vibrante — é a calma completa proveniente da harmonia de todos os sentimentos, o saber absoluto, a luz sem sombras, a felicidade sem pesar, a vontade sem hesitação, o amor em sua mais sublime concepção; enfim, o trabalho sem fadiga, tornado supremo gozo da alma. Enquanto eu estiver na Terra, como homem ou como espírito, esforçar-me-ei para velar por ti, meu discípulo, e ajudar-te, em tuas vidas sucessivas, a alcançar esse porto de paz e felicidade. 

Essa conversa produziu em Pretextato profunda impressão; cada palavra do homem estranho, tão humano e tão simples apesar do poder que sua ciência lhe conferia, caíra sobre ele qual férrea pancada, desvendando-lhe os abismos de seu ser, abrindo-lhe horizontes novos; e Pretextato sentiu-se dominado por um desejo imenso de se aperfeiçoar, de se tornar tal como desejaria Orion.

— Mestre, perguntou ele no dia seguinte, dize-me ainda o que devo fazer para, bem empregar minha vida e progredir mais depressa. 

— Já te disse, deves domar a besta humana que ruge em ti, e estabelecer justo equilíbrio entre tuas ações, teu coração e tua razão. Digo; justo equilíbrio, a fim de que apenas o cálculo do cérebro não entorpeça teu coração e não faça de ti uma dessas criaturas que não viverá a não ser para si próprias, adaptam tudo segundo as suas conveniências e medem a alta e a baixa dos eflúvios do coração pelo estreito cálculo da razão. O egoísmo prende à Terra, sombreia a alma e torna isolada a criatura; o império do coração sobre o cérebro habilita-a aos grandes devotamentos, aos atos sublimes, mas por vezes arrasta-a, ai! muito longe; é o equilíbrio que se faz necessário. 

— E como posso evitar tornar-me um egoísta, estreito de coração? 


— Seria difícil evitares o tornar-te o que já és, respondeu Orion, esboçando um sorriso; estás tão completamente cego por esse sentimento que jamais te ocorre a ideia de sacrificares o teu eu pelos outros, e aceitas a afeição que te tributam como propriedade legítima. 


— Tu me tens por egoísta. Entretanto, por aqueles que amo, parece-me que eu poderia tudo sacrificar — balbuciou Pretextato. O sábio sacudiu a cabeça: 


— Examinemos se em tua curta vida já sacrificaste alguma coisa por aqueles que pensas amar. Tomemos três pessoas que, até ao presente, têm estado mais próximas de teu coração: tua mãe, Lucrezius, Siomara. 

Para essa mãe (Vipsânia) que não tem vivido senão para ti, renunciaste a uma criatura indigna, que lhe repugnava como filha? Não, de seu amor sem egoísmo tu extorquiste a aquiescência para o casamento. 

Quando teu velho amigo, teu segundo pai, Lucrezius, te propôs desposares sua filha, dizendo-te: "a reputação de Marius é má, receio confiar-lhe Siomara, porém morreria feliz sabendo-a sob tua proteção e a de Vipsânia", tu sacrificaste um frívolo capricho por Álcia, para assegurar ao ancião um fim suave e calmo? Não. 

Teu coração não tremeu quando tua companheira de folguedos partiu, desventurada para um futuro incerto. Se ela tivesse de ser conduzida à morte, não seria tua mão que a teria retido; como não te retiveste ante uma vida de aventuras e de deboche, arriscando-te a morrer apesar de minhas advertências e sabendo bem que tua perda seria para tua mãe uma sentença de morte.

Pretextato tinha baixado a cabeça, rubro até à fronte, e algumas lágrimas deslizaram por suas faces.


— Tuas lágrimas provam que tu me compreendes; aprende, portanto, a sacrificar-te pelo único sentimento que nos eleva às esferas superiores; seguindo o impulso de teu coração, alçar-te-ás ao poder celeste.

J. W. Rochester por Wera Krijanowskaia do livro: 
Sinal da Vitoria (1893)

(Trecho do livro, Sinal da Vitória, de J. W. Rochester por Wera Krijanowskaia, onde acontece um belo diálogo entre o mestre Orion e o aprendiz Pretextato a respeito de liberdade, livre-arbítrio e evolução. 

- Os destaques no texto são nossos.
RDB

John Wilmot - Conde de Rochester

Saiba mais sobre o Conde de Rochester: 

https://regeneracaodobem.blogspot.com/2018/09/o-conde-de-rochester.html


Sinopse do livro:  Descreve os fatos ocorridos em Roma no século IV. Seu objetivo é mostrar a dissolução de costumes da sociedade romana e, na mesma época, a ascensão do Cristianismo. Ressalta a perseguição que era movida contra os cristãos. Usa a forma romanceada para narrar as dificuldades de uma moça de comportamento e costumes rígidos, tendo que viver dentro dessa sociedade corrompida. O conhecimento que faz com cristãos, granjeando a amizade dessas pessoas, vai valer-lhe para superar as dificuldades e o sofrimento. Ao mesmo tempo, o autor vai descrevendo todos os flagelos e perseguições que foram movidos contra os cristãos por essa sociedade corrupta.

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