Espelho da Vida
Eros
Ele sempre vivera naquele tranquilo e fértil oásis no coração do deserto.
Entre tamareiras frondosas, figueiras velhas e verdes, águas abundantes, ele aprendera a amar a vida e a dedicar-se a servi-la. A sua palavra era sábia e o seu coração afável.
Muitas vezes permanecia junto a uma das fontes cristalinas, conversando com peregrinos e viajantes, ou simplesmente contando histórias aos que se lhe acercavam.
Oportunamente, um estranho viandante suarento, após saciar a sede e lavar o rosto, ao experimentar um grande bem estar, interrogou-lhe:
- Como são as pessoas daqui?
E ele, tranquilo, contrainterrogou:
- Como são as pessoas do lugar de onde você vem?
Queixou-se, o recém chegado:
- São perversas, invejosas, odientas. Têm o mau hábito de perturbar o seu próximo, de se envolverem na vida alheia, de gerar conflitos e aranzéis.
- Mas, as daqui, também são assim, com essas mesmas características - respondeu, tranquilo.
- Se assim é, não ficarei aqui. - Explodiu, o viajante.
Logo após alguma reflexão, partiu.
No fim da tarde, acercou-se da fonte um jovem jornadeiro, que sorveu o líquido precioso, refrescou-se, e sentindo que o ancião o observava, indagou, gentil:
- Por favor, pode informar-me como são as pessoas deste oásis?
Conforme acontecera antes, o interpelado contrainterrogou:
- E como são aquelas do lugar de onde você vem ?
- Oh! - respondeu, sorrindo - são generosas, alegres, muito camaradas, ajudando ao seu próximo em tudo quanto é possível. Sinto-me muito vinculado a elas.
- As daqui também são assim. - Concluiu.
O jovem, interessado, meditou um pouco e logo aduziu:
- Ficarei uma temporada aqui.
Um homem, que ali estivera por todo aquele tempo, observando os acontecimentos, e parecendo-lhe paradoxal a resposta, inquiriu, por sua vez, ao idoso gentil:
- Como é possível que, ante duas perguntas iguais, o senhor haja dado duas respostas diferentes?
- As respostas - asseverou - são perfeitamente idênticas, em relação a cada qual. As pessoas, em toda parte, são iguais, com defeitos e com nobreza, com abnegação e vícios. Conforme cada qual as vê, assim também é aquele que as considera. Sempre carregamos conosco o mundo, que tem os contornos que lhe oferecemos.
A pessoa saudável e amiga sempre a tudo vê por essas lentes, qual ocorre com o avaro e perverso.
Eros por Divaldo Franco do livro:
A Busca da Perfeição
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