sexta-feira, 20 de maio de 2016

Chico Xavier fala sobre a sua mediunidade no Pinga Fogo - TV Tupi 1971

Chico Xavier fala sobre a sua mediunidade 

Pinga Fogo - TV Tupi / 1971



Herculano Pires — Chico, segundo os dados estatísticos referentes à sua obra, num exame total de sua obra, você teria recebido até agora comunicações, poesias principalmente, em número muito grande e inclusive romances de mais de 400 autores. Eu perguntaria a você se leu todos esses autores, se você tem conhecimento das obras de todos eles, e se você conseguiu armazenar no seu inconsciente toda essa fabulosa bagagem de mais de 400 autores brasileiros, portugueses e alguns até de outras línguas.

Chico Xavier — As estatísticas do casal Ibsen são autênticas. Devo declarar de público que isso para mim seria impossível e peço permissão para dizer que eu tive na vida três empregos: a primeira vez me empreguei aos oito anos numa fábrica de tecidos.
Trabalhei até os doze anos frequentando também a escola primária. Dos doze anos aos vinte anos, trabalhei num bar e depois num armazém, isto é, no comércio. E de 1931 a 1961 eu trabalhei durante trinta anos no Ministério da Agricultura, documentadamente. De modo que não seria possível para mim me inteirar do estilo de todos esses poetas, escritores, cronistas, jornalistas, amigos desencarnados. Absolutamente não.

João de Scantimburgo — Chico Xavier, eu não ponho em dúvida a sinceridade do seu ministério espiritista. Eu creio firmemente que o senhor trabalha com profundo amor à sua causa e à sua doutrina. Mas eu vou insistir no aspecto mais conhecido da sua obra, das suas atividades que é aquela de escritor psicográfico. O senhor afirmou, logo à minha primeira pergunta, que escreveu 107 livros e que tem 4 no prelo. Na literatura brasileira o senhor é, depois de Coelho Neto, o mais prolífico dos escritores que já redigiram na língua portuguesa. 
Por outro lado, o senhor disse, respondendo a uma pergunta minha, que havia feito apenas um curso primário. O senhor, para todos os que aqui estão e o estão assistindo pelo vídeo, em casa, é um homem que tem uma grande fluência ao falar. O senhor constrói com perfeição a frase, o senhor tem lógica na exposição da sua doutrina logo, o senhor é um autodidata, que se compenetrou da doutrina que esposou e a estudou profundamente e passou a exercer o seu trabalho expondo essa doutrina. Eu insisto que a escrita automática no senhor deve ser mais o produto do inconsciente do que o produto da mediunidade. Não sei se o senhor conhece uma coleção de livros publicados na França, com o título genérico ”À maneira de...", em que os autores fazem a imitação de vários autores. Por exemplo: Marcel Proust, cujo centenário acaba de passar. Se o senhor ler uma página de Marcel Proust e uma página do livro ”A maneira de...”, não distinguira, ainda mesmo que tenha profundo conhecimento do estilo de Marcel Proust. Esta é uma imitação consciente. Eu tenho para mim que o senhor ao fazer, redigir os livros psicografados agiu sob impulso do inconsciente.
O meu antigo companheiro de imprensa e caro companheiro de imprensa Herculano Pires, cuja inteligência brilhante eu sempre respeitei e sempre aplaudi, criou um embaraço para a minha pergunta, ao falar em 400 autores que o senhor teria citado. O senhor citou 400 autores ou o senhor escreveu à maneira de 400 autores como escreveu Humberto de Campos, como Guerra Junqueira, como Antero de Quental, como Augusto dos Anjos?

Chico Xavier — Creio que o número anunciado está superado em mais de 400 comunicantes. Eles escreveram à maneira deles, mas respeito o ponto de vista do senhor, como respeito qualquer homem de Ciência que ainda não pode aceitar, por exemplo, o realismo da mediunidade. Respeito muito, mas continuo acreditando que eles escreveram à maneira deles, porque em algumas centenas, vamos dizer mais de três centenas destes 400 e tantos, hoje me parece que são quase 500, eu não tinha a menor ideia do que eles escreviam.

João de Scantimburgo — O senhor conhece um caso famoso ocorrido na Inglaterra, de escrita psicografada: uma senhora que psicografou a obra de Oscar Wilde e os meios literários ingleses não acreditaram como sendo uma obra psicografada de Oscar Wilde.
Ainda mais; entre as minhas carreiras, além de jornalista eu também tenho a de Filosofia e não me consta que obras tão complexas como a de Platão, a de Aristóteles, a de Santo Agostinho, a de São Tomaz de Aquino, a de Descartes, a de Kant, e a de outros filósofos e outros pensadores tenham sido psicografadas. Não seria por causa da dificuldade de psicografar essas obras?

Chico Xavier — Bem, eu devo voltar um pouco o nosso pensamento inicial para dizer ao senhor que desde 1931 a presença de Emmanuel em minha vida tem sido a presença de um professor. Ele tem corrigido minhas expressões, ele tem procurado melhorar o meu vocabulário, melhorar as minhas atitudes do ponto de vista verbal e como o livro está à frente da presença apagada que eu possa trazer, ele sempre teve muito cuidado em podar tanto quanto possível as minhas impropriedades que eu sei que são muito grandes. De modo que eu posso declarar de público que qualquer estrutura fraseológica mais feliz de que eu possa ser portador, isso se deve à influência de Emmanuel, à presença dele junto de mim, compreendendo a responsabilidade de um programa como este. Quanto aos escritores da antiguidade e aos escritores dos tempos modernos, com todo o respeito ao senhor, eu me permitiria perguntar, se eles também não seriam médiuns?

João de Scantimburgo — Este programa é de perguntas e não de debates.

Chico Xavier — Não, não é de debates, absolutamente. Apenas respeitando imensamente a Igreja Católica, em cujo seio formei a minha fé e que devo declarar de público, que nunca perdi e não quero perder. Então eu digo aqui de público eu não conheço essas obras, mas gostaria de conhecê-las, em português, mas os espíritos amigos se referem, por exemplo, a duas personalidades do mundo católico que deveriam ser mais conhecidas em nosso ambiente cultural. Por exemplo: Na latinidade, especialmente na língua portuguesa, eu não conheço absolutamente nada. Eles se referem a Santa Brígida, da Suécia e a Santa Clara, de Montefalco, na Itália, as biografias atestam a presença de mediunidades extraordinárias, a ponto, diz Emmanuel, que Santa Brígida deixou muitas páginas, vamos dizer, do ponto de vista de autenticidade absolutamente psicográfica. Seria muito interessante, estimaria muito conhecer a vida dessas duas grandes figuras da Igreja Católica, que eu venero tanto, ao que me parece pela palavra dos nossos amigos espirituais, foram duas criaturas portadoras de mensagens especiais para os cristãos. 

Herculano Pires — Almir, eu queria que você me concedesse apenas o direito de fazer uma observação a respeito do que o Chico acabou de falar. Eu queria lembrar a existência, no meio católico, também de fenômeno psicográfico. As edições Paulinas, aqui de São Paulo, há uns cinco anos mais ou menos, publicaram um livro muito curioso, e que se chama O Manuscrito do Purgatório. É um livro recebido na Espanha, num convento de lá, por uma freira. Ela recebeu o livro através do espírito de outra freira que havia morrido no próprio convento. Um trabalho evidentemente de psicografia católica. Esse livro foi traduzido para o português pelo padre Júlio Maria, tão conhecido, principalmente pela sua atuação na revista Ave Maria. E saiu publicado aqui em São Paulo, com todas as autorizações eclesiásticas, tendo vindo, também, da Espanha com essas autorizações. Mas acrescento o seguinte: As próprias edições Paulinas anunciaram que outros livros da mesma natureza seriam publicados por ela. Entretanto, não foram. Mas existem, portanto bastaria esse livro: O Manuscrito do Purgatório, que foi publicado, para provar que existe uma psicografia católica.

Chico Xavier — Emmanuel pede para mencionarmos diante do nosso caro escritor e entrevistador que levantou o problema com tanta distinção e com tanto carinho, que não podemos esquecer um problema muito importante em nossa vida cristã. E que o livro é mesmo um instrumento de cultura extraordinário, um instrumento que está entre este mundo e o outro. É tão importante, que o primeiro livro que veio para a humanidade é um livro do mundo espiritual, um livro de pedra que foi os 10 Mandamentos, de Moisés. 

Herculano Pires — Psicografia na pedra! Moisés como médium psicógrafo.

João de Scantimburgo — Chico Xavier, embora o senhor possa considerar elucidada a questão que vou propor, ao responder ao entrevistador Herculano Pires, eu vou fazer uma pergunta: - O que o senhor tem escrito de Augusto dos Anjos, por exemplo, não seria apenas reminiscência de leitura?

Chico Xavier — Em 1931, quando eu ia fazer 21 anos, o espírito de Augusto dos Anjos sentia muita dificuldade em escrever por meu intermédio. Nesse tempo eu trabalhava num armazém e esse armazém me dava também serviços para cuidar de uma horta muito grande com plantações de alho, porque o alho na região em que eu nasci é um fator econômico de muita importância. Então, depois das 6 horas da tarde, para mim, era um prazer regar os canteiros de alho e os espíritos começavam a conversar comigo. Eu achava muito prazer naquelas horas, porque eu me isolava de todo o serviço do armazém para ficar plenamente à disposição dos espíritos amigos. Então ele começou a ditar uma poesia que está no Parnaso de Além Túmulo, o primeiro livro da nossa mediunidade. A poesia chama-se ”Vozes de uma Sombra”. E ele começou a falar com aquelas palavras maravilhosas, muito
técnicas, eu com o regador na mão, custava a compreender. E ele falava e falava que gostava de escrever no campo e que aquela era uma hora em que ele queria ditar, para que eu ouvisse para poder compreender na hora de escrever, porque muitas vezes escrevo também como médium ouvinte. Então eu sentia aquela dificuldade, então ele falou assim comigo: ”Olha, você quer saber de uma coisa? Eu vou escrever o que puder, pois a sua cabeça não aguenta mesmo.” E a poesia está no livro, mas só o que ele pode, mas era muito mais, era uma beleza. Ele falava de fótons, cores, de mundos, galáxias. Quem era eu para entender aquilo, eu que estava regando canteiros de alho?

Chico Xavier - Trecho transcrito do Programa Pinga Fogo
TV Tupi 1971 

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Programa Pinga-Fogo com Chico Xavier, um verdadeiro marco do jornalismo brasileiro.

Nas noites de 28 de julho e 21 de dezembro de 1971, a TV Tupi Canal 4 de São Paulo apresentou, em seu programa jornalístico Pinga-Fogo, o médium espírita Chico Xavier, respondendo perguntas dos jornalistas Saulo Gomes, Reali Ir., Helle Alves, Herculano Pires, Freitas Nobre, Vicente Leporace e Durval Monteiro; do intelectual católico João Scantimburgo e do cientista Dr. Hernani Guimarães. Nestes programas que apresentaram aos brasileiros o que era realmente o Espiritismo, Chico Xavier deixou ensinamentos para milhões de pessoas de todas as classes sociais e culturais, sobre o porquê da vida, quem somos nós, para onde vamos após a morte do corpo físico físico, entre outros temas.

O primeiro programa, previsto para durar,  60 minutos, durou quase três horas.

O segundo, com quatro horas de duração, consagrou definitivamente Francisco Cândido Xavier (1910 - 2002), o maior médium de todos os tempos. 


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