Vitória da Luz
Vianna de Carvalho
- Para seguirmos corretamente o espiritismo, devemos submeter todas as mensagens mediúnicas ao crivo duplo de Kardec, sendo eles, a razão e a universalidade.
"A hipótese zoológica que encara o homem como descendente de uma raça símia, antropoide, não é imoral nem antiespiritualística. Os que a abraçaram nestes últimos tempos não o fizeram com o propósito de hostilidade ao Cristianismo e por professarem doutrinas pagãs." - CAMILLE FLAMMARION (1)
O Espiritismo crê no evolucionismo, que tem por causa uma Inteligência Superior, ao contrário do evolucionismo científico, que dispensa a Mão do Criador. Aceitamos como verdade, portanto, que todos nós, criações e criaturas – inclusive a própria lei da evolução –, somos dirigidos pela Sabedoria Universal. Aliás, é bom lembrarmos a frase “nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre; tal é a lei”, esculpida no frontispício do dólmen de Allan Kardec.
Na atualidade, os primatologistas dedicam incontáveis horas à pesquisa metódica ou à averiguação científica junto aos primatas no campo e em cativeiros, o que lhes permite investigar e instituir as bases evolutivas do comportamento humano.
Os estudiosos da conduta dos antropoides afirmam que, no ambiente selvagem, os chimpanzés caçam juntos, pois eles já notaram que um caçador solitário quase sempre não logra êxito. Isso, porém, não prova que essa espécie de primata, considerada a mais próxima do homem, perceba a cooperação, ou o auxílio mútuo, da mesma maneira que nós, os humanos. Observações científicas atuais demonstram, no entanto, pela primeira vez, que os chimpanzés entendem que o auxílio cooperativo é essencial para assegurar a eficácia de uma ação. Os estudos também mostram que eles, até mesmo sem a expectativa da recompensa ou do prêmio, estão dispostos a colaborar entre si para assegurar o sucesso comum diante de uma empreitada.
Grupos de antropólogos evolucionários contemporâneos (2) submetem chimpanzés a desafios cooperativos a fim de observarem suas reações e condutas. Os cientistas concluíram que, se esses animais percebem que dão conta da tarefa sozinhos, dificilmente pedem ajuda aos outros. Mas quando precisam de apoio, não vacilam: escolhem parceiros que tenham mais possibilidades e sejam mais participativos. Caso os selecionados estejam presos, eles abrem as fechaduras de suas jaulas e os liberam – por reconhecerem nos escolhidos a aptidão para a cooperatividade e por descobrirem que atuando juntos atingirão com mais facilidade o mesmo fim.
Não obstante essas experiências ofereçam o primeiro indício de participação intencional ou cooperação consciente fora da humanidade – e anunciem a probabilidade de que tais aptidões possam ter estado presentes em nosso ancestral comum há milhões de anos –, tal constatação não quer dizer que os chimpanzés consigam se comunicar explicitamente sobre um objetivo comum nem compartilhá-lo, como ocorre entre as criaturas humanas. Entretanto, aí estão os indícios da atuação conjunta entre os primatas não humanos para o alcance de objetivos comuns. De acordo com a confirmação dos pesquisadores, eles agiam, ainda que sem recompensa, sobretudo, visando a seus próprios fins e, continuavam colaborando entre si.
Reconhecer que também pertencemos à árvore dos primatas é o primeiro passo para entender a origem de nosso comportamento e mudar de vez a relação com a vida e com os semelhantes.
O corpo espiritual é quem modela o corpo físico, e tanto um como o outro foram estruturados através dos incontáveis séculos, de forma laboriosa e paulatina, e reelaborados em duas esferas distintas da vida (a física e a espiritual), sob a orientação dos instrutores divinos que supervisionam a evolução terrestre.
Nossa existência na Terra não funciona em regime de separação; em realidade, todos somos participantes de uma Natureza comum, pois tudo o que vemos tem ligação com nós mesmos e com todas as partes do planeta. Os mesmos fundamentos e processos naturais que cooperam para o benefício de uns, cooperam igualmente para o de outros.
É necessário compreender que temos um papel ativo e reativo no espetáculo da vida. Nossa cooperação e participação são imprescindíveis em quase todos os eventos e, por vezes, demoramos a perceber a complexidade da textura existencial. À medida que evoluímos, mais valorizamos nossa ação participativa no cenário universal.
Poucos de nós têm a felicidade de possuir uma clara consciência de nossa ligação com tudo o que é vivo. Temos dificuldade de dividir e prover. A avareza humana não se fundamenta apenas em reter a posse de recursos financeiros, mas também em conter, de modo automático e doentio os conteúdos da própria vida interior. O avarento tem uma sensação ilusória de prejuízo externo, quando, na verdade, o medo é o da perda dos valores internos, já quase inexistentes. Para o mesquinho, partilhar algo ou contribuir para o êxito do semelhante é ter agravada, ainda mais, a ideia fictícia de esvaziamento de bens de capital ou de consumo. Essa perda das coisas concretas representa, inconscientemente, uma subtração do que ele tem de mais íntimo.
Por trás do impulso de conter, existe uma impressão dolorida de empobrecimento, a criatura fica atravancada, agarrada às coisas perecíveis, sem vislumbrar a realidade transcendental que surge a sua frente. Nossa participação nos episódios de hoje terá seu impacto no amanhã de todos. Não podemos viver simplesmente para nós mesmos. Milhares de filamentos invisíveis ligam-nos a outros concidadãos planetários.
O que nos une além das fronteiras físicas diz respeito ao que fazemos em favor da vida das pessoas, da Natureza, enfim, do planeta como superorganismo pulsante, que os antigos chamavam de Gaia. Disse La Fontaine: “Toda força será fraca, se não estiver unida”. Em algum lugar, ou de alguma forma, os eventos mais simples e os fatos aparentemente pueris constituirão partes fundamentais no caminho sagrado de toda a humanidade.
Vivemos atualmente a “ética da exclusão”, e a Vida Maior nos convida a viver a “ética da solidariedade”. Se formos descrentes quanto à eficácia da cooperação, basta imaginar o que aconteceria com um organismo dinâmico, cujos órgãos não trabalhassem em regime de comunhão recíproca.
Em 1863, em Paris, escreveu o espírito Henri Heine a respeito da parábola dos trabalhadores da última hora: “Tal é um dos verdadeiros sentidos desta parábola que encerra, como todas as que Jesus dirigiu ao povo, o germe do futuro, e também sob todas as formas, sob todas as imagens, a revelação dessa magnífica unidade que harmoniza todas as coisas no Universo, dessa solidariedade que religa todos os seres presentes ao passado e ao futuro.” (3)
Somos parte do conjunto planetário. Quando um cresce, não é só ele quem cresce, todos crescem. Pertencemos a muito mais do que nosso círculo de familiares, parentes ou amigos. De certa forma, quando contribuímos para a tarefa de um grupo, beneficiamos inimaginável número de criaturas. Trabalhar em equipe reflete o desígnio e o alvo de Deus para nós.
Bibliografia:
(1) Flammarion, Camille. Deus na Natureza, 7ª ed., pág. 182, Feb Editora.
(2) Pesquisas realizadas por Alicia P. Melis e Brian Hare no Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, em Leipzig, Alemanha, e publicadas na Science Magazine de 3 de março de 2006.
3 Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XX, item 3, p. 249, Boa Nova Editora.
Considera o teu estágio na Terra, no corpo físico, uma oportunidade especial para o teu crescimento espiritual.
Esforça-te por aproveitar cada momento da superior experiência evolutiva, a fim de poderes amealhar valores imperecíveis que te acompanharão para sempre.
Tem em mente que o processo evolutivo é realizado através de etapas formosas que proporcionam o aperfeiçoamento moral, a liberação dos atavismos perturbadores, a conquista de bens internos intransferíveis.
Não malbarates os ensejos de aprendizagem através do jogo ilusório do prazer insaciável, mantendo a certeza de que o tempo é amigo daquele que o utiliza com sabedoria, tornando-se adversário silencioso de quem o gasta na inutilidade.
A viagem corporal constitui recurso de alta valia para a aquisição da plenitude, o que equivale dizer, da autorrealização, que se converte em paz interior e em sentimento de felicidade.
O corpo é instrumento do Espírito que o deverá comandar seguramente com disciplina e amor.
Dotado de impulsos resultantes do fatalismo biológico, a razão e a consciência devem constituir-lhe orientação segura e recurso de sabedoria para a solução dos desafios e o enfrentamento das dificuldades que são naturais.
Não desgastes futilmente, porquanto ele te responderá conforme a maneira com que utilizes a sua vitalidade.
De acordo com a forma como te conduzas mentalmente, ele refletirá os teus anseios e necessidades de maneira gentil ou através de inquietações e sofrimentos contínuos.
Engajado na organização material, o Espírito tem portos, desenvolver as emoções superiores, a fim de conseguir a compreensão legítima da finalidade existencial.
Reserva as tuas reflexões para o desempenho das tarefas que terás de atender, porque todos aqueles que retornam à vida física estão comprometidos com a retaguarda.
Mesmo os missionários do amor, da caridade, da ciência, da religião, da política e das realizações humanas aceitaram a experiência do retorno, por gratidão às conquistas passadas, oferecendo-se para auxiliar todos aqueles que se encontram na retaguarda, à semelhança de estrelas em noite escura...
Recebe o retorno das tuas ações, como quer que se apresentem na atualidade, modificando a estrutura daquelas que te afligem e sublimando aqueloutras que te alegrem.
O Espírito é sempre o construtor dos projetos evolutivos dentro das Leis vigentes no Universo.
De acordo com as suas reflexões mentais, palavras e atos, desenha os planos para o futuro que o aguarda silenciosamente, mas inflexível.
Ninguém, por isso mesmo pode evadir-se da consciência, dos deveres relevantes, do crescimento espiritual.
As Leis Divinas estabelecem que o progresso é irrefragável, e nada o detém. Pode-se estacioná-lo no caminho por algum tempo. No entanto, momento chega em que o amor de Deus enseja a expiação ao calceta, e ele, encarcerando-se no corpo, impossibilitado de complicar o processo de evolução, reeduca-se, desperta para a realidade.
Seja qual for a situação em que te encontres hoje na jornada física, agradece a Deus a oportunidade ímpar, por oferecer-te os instrumentos de libertação e de felicidade.
Se defrontas sofrimentos e inquietações, reserva-te a serenidade, e continua agindo com equilíbrio, de forma a fruíres mais tarde a paz que ora te falta.
Se te encontras algemado a limites e a dores excruciantes, mantém a paciência, porque esse fenômeno logo passará, facultando-te emoções grandiosas.
Se experimentas solidão e desconforto, guarda a confiança em Deus e avança, mesmo que chorando, na expectativa dos reencontros felizes e das alegrias inefáveis.
Se te atormentaram alguns Espíritos inferiores, que te inspiram ideias perturbadoras e te exploram as resistências, ora por eles e ama-os quanto possas. São os irmãos que deixaste desafortunados em dias não muito distantes.
Se encontras adversidades por onde deambulas, recolhe as lições delas defluentes, porque as semeaste ontem, tendo agora o ensejo de recolhê-las e superá-las.
Se sofres humilhações e adversidades em toda parte, não recalcitres contra o aguilhão, antes compreende que essas experiências irão fortalecer-te interiormente, da mesma forma que os vendavais enrijecem as árvores que lhes sofrem a violência.
Tudo tem uma razão de ser no Universo. Mesmo aquilo que não entendas, está vinculado a causas legítimas que desencadearam esses efeitos afligentes.
As Leis Morais que vigem em toda parte, emanadas de Deus, são soberanas em sua justiça e alcançam todos os Espíritos: bons e maus, superiores e inferiores, angélicos e perversos, naturalmente de acordo com o seu nível de evolução.
Se permaneceres confiante e trabalhando pelo próprio crescimento espiritual, fruirás alegrias desde o momento em que te entregues ao mister. O fato de estares a serviço do bem e da verdade, do dever e da dignidade, já constitui divina dádiva, que estás transformando em sabedoria.
Ninguém transita na Terra sem experienciar o resultado dos seus atos anteriores, o que é perfeitamente compreensível.
Grande número de queixosos afirma que não se lembra do momento em que delinquiu, o que lhe serviria de justificativa para não resgatar afrontas nem crimes.
Deus concede o parcial olvido do passado, por compreender que as lembranças boas ou más não se restringem apenas ao indivíduo, mas ao grupo no qual se movimentou, facultando-lhe, então, caso recordasse, tomar conhecimento das ocorrências que foram praticadas pelos demais da esfera fraternal.
Todavia, esse olvido não é total, porquanto, através dos impulsos emocionais, das tendências, das ocorrências, todos têm conhecimento de como devem ter sido.
Ademais, graças à mediunidade, às recordações espontâneas, quando necessárias, a alguns sonhos, volvem as cenas felizes ou desventuradas, ressurgem os afetos ou os adversários na paisagem mental.
O importante, portanto, é o hoje, não o que se foi, aquilo que desencadeou a ocorrência que agora vives.
Desse modo, aquieta os sentimentos doridos, procura compreender os objetivos existenciais e atua no bem tanto quanto te seja possível.
Faze um pouco mais: vai além dos teus limites...
Inscreve-te, de imediato, emocionalmente, nos compromissos de iluminação interior, e trabalha para que a luz divina de onde procedes desenvolva-se no âmago do teu ser, clareando-te totalmente e tornando-te uma chama que esparze caridade e alegria.
A reencarnação é tesouro de elevado significado e grandioso valor.
Vive-a com serenidade e júbilo, burilando-te espiritualmente e avançando pela estrada que Jesus percorreu, nela deixando Suas pegadas luminíferas.
Também Ele, que não tinha dívidas, experienciou amarguras e incompreensões, sofreu perseguições inclementes e dolorosas, prosseguindo, porém, afável e gentil, mesmo com aqueles que tentavam dificultar-Lhe o ministério divino.
Se malbaratas esta chance, não te poderás queixar nem aspirar por nova oportunidade com rapidez, porque a marcha do progresso obedece a códigos que não podem ser desconsiderados.
Abençoa, desse modo, a atual existência, com as lições do Evangelho de Jesus, vivendo-as no dia a dia, feliz e agradecido a Deus com as tuas atitudes renovadas.