Crendices e superstições
Joanna de Ângelis
Fixações nos centros perispirituais, pelo longo processo evolutivo, no trânsito das faixas primárias para as conquistas da inteligência, as crendices se alastram nos Espíritos infantis dando margem a lamentáveis espetáculos de superstição, que favorecem a ignorância e promovem o desequilíbrio da emoção.
Atraso moral e espiritual dos habitantes da terra, a presença e a amplitude da feitiçaria e seus talismãs, que baterão em retirada ante a alvorada de luz e bênção da fé racional, que enfrenta a dúvida filosófica, as conquistas da inteligência e da técnica materialista, tranquilamente, em todas as épocas, dirimindo problemas e sustentando a confiança em Deus.
Paradoxalmente, a década em que o homem conseguiu a arrancada da Terra, nos rumos da lua, sonhando com a conquista de outros planetas, é, também, a do retorno à barbárie e às crendices, em fuga espetacular dos cálculos computados em aparelhagens quase perfeitas para os abismos da imaginação desregrada.
A decantada morte da fé religiosa, prevista pelos expoentes da cultura materialista dos séculos passados e atual, de forma alguma poderia defrontar mais chocante reação das mentes tecnizadas destes dias...
É verdade que o homem aturdido, decepcionado ante as promessas mirabolantes das doutrinas religiosas do passado, rebelou-se, passando a “adorar” as máquinas que construiu, barafustando, porém, em direção das áridas províncias do ceticismo. Ressequido e inquietado, interiormente, deixou-se estimular pelo fantasioso, ressuscitando velhas superstições a que ora se entrega em espetáculos deprimentes e ridículos.
O universo atômico por ele defrontado reconduziu-o ao reino da energia e ontologicamente ao transcendental.
Mal armado para o exame das realidades espirituais, por contumaz suspeição que nele se arraigou, preferiu as imagens-chavões do “sobrenatural” do “maravilhoso”, do “mistério”, para fugir ao niilismo aniquilante que elaborou e cruelmente o despedaça.
Ninguém nega a interferência das forças vivas e pulsantes, do universo, no comércio contínuo com as mentes humana. Daí às fantasias absurdas que subestimam a Divindade e atribuem poderes excepcionais ao demônio — que é apenas a personificação simbólica que a si se atribuem Espíritos viciosos e perversos — vai uma distância imensa de ética, cultura e razão...
No fundo, os supersticiosos padecem atrofia do espírito, preferindo o temor ao amor, sufocando a esperança nos crepes da desconfiança com que se desesperam e se realizam...
Mediante processo de transferência psicológica, ao invés de mergulhar-se nos íntimos painéis de si mesmo, a combater os inimigos de dentro, desterra-os para as praias em que se demora o próximo, atribuindo a este os danos que causa por negligência e despautério, responsabilizando-o.
E se enleia nas teias muito bem distribuídas das artimanhas das Entidades trevosas que o açulam e lhe estimulam os “instintos agressivos”, de forma a retê-lo nas fortes amarras da temeridade e do desvario.
Iniciada a façanha da crendice e da superstição, só mui dificilmente empreende a viagem de volta à responsabilidade e à lucidez que lhe exigem esforço, educação e disciplina intransferíveis para que se possa alçar das mágoas, dos paués (palustre: adj. Que vive ou cresce nos pântanos. Paués) das queixas e vulgaridades aos altiplanos da nobreza, edificação e paz.
Proliferam, vertiginosamente, os números dos enganados e os desditosos enganadores da Terra e do além-túmulo em nefário intercâmbio de loucura e desfaçatez.
Abjuram a verdade e afeiçoam-se à ilusão; abominam o bem e se comprazem na ignomínia.
Superstições, supersticiosos!
De todos os tempos as superstições e os supersticiosos são herança torpe do obscurantismo espiritual e da insensatez perniciosa, que encontram guarida porque o homem ainda prefere a treva à luz, a piedade ao respeito, o sofrimento ao amor...
Ninguém, no entanto, interfere nos planos e desígnios de Deus, por mais se esforce, presunçoso e almeje.
Feiticeiros de todas as épocas que a desregrada imaginação popular deu aso a largas fantasias, são os médiuns vinculados aos Espíritos da sombra, em realizações infelizes.
Epíteto genérico de que se utilizou a intolerância clerical para silenciar os imortais, foram e são homens do caminho de lutas de todos nós, um dia chamados a darem conta da mordomia de que estiveram investidos.
Com Jesus, o Libertador, deixa à margem do caminho crendices, superstições, ilusões, e cresce para o serviço da tua e da redenção de todos.
Através do Espiritismo compreenderás que, construtor do porvir, és árbitro da felicidade ou da própria desdita, herdeiro dos valores que possuis e legatário futuro das aquisições que reúnas.
Ilibado, sem peias mentais nem conexões morais degradantes, com a retaguarda evolutiva, crê, ama e passa servindo, indene ao mal e aos maus, lecionando discernimento e fé com que, descompromissado com a ignorância, alcançarás a vitória sobre toda sombra e toda dor.
- Para seguirmos corretamente o espiritismo, devemos submeter todas as mensagens mediúnicas ao crivo duplo de Kardec, sendo eles, a razão e a universalidade.
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