Nova ordem social
Eurípedes Barsanulfo
Divaldo Franco e Eurípedes Barsanulfo |
A nova ordem social por todos anelada, na qual os direitos do homem constituam a essência das suas expressões dignificadoras, não poderá ser estabelecida através do desrespeito à ordem vigente, nem da convulsão fratricida.
Todo empreendimento de elevação moral da sociedade, nos dias modernos, deve apoiar-se na educação infanto-juvenil — base do futuro da humanidade — ao mesmo tempo envolvendo as massas, nesse processo de aquisição dos valores que estruturam o comportamento do indivíduo para melhor compreender e viver os objetivos da sua evolução.
Sem uma consciência das nobres finalidades da vida, o homem pode adquirir recursos para a sua e a comodidade do clã, nunca, porém, para a felicidade e a paz interior.
Transposta a meta imediatista do que considera essencial, parte, insatisfeito ou atormentado, deprimido ou violento, na busca de novas sensações que o atraem pela novidade ou que o perturbam, graças à comunicação massificadora decorrente dos veículos de informação.
Por outro lado, a metodologia da afirmação dos interesses, mediante a imposição da violência e do constrangimento, redunda no esvaziamento ideológico pelos desforços que inspira e graças às reações de igual teor que provoca.
Dessa atitude para a insurreição, a luta de classes e as famigeradas reações terroristas, que abrem as portas para as guerras civis, há um passo apenas, conduzindo o povo a mergulhar nos ódios acirrados e criminosos.
Dir-se-á que a mão armada, através da história, levantou impérios e nações, arrancando-os do talante infeliz de ditadores famigerados que usurparam o poder...
Não nos referimos, porém, a tal questão política, senão à social de profundidade, que é a do homem em si mesmo, transformando-se e moralizando-se, do que decorrerá a sua real conquista e integração nos códigos da justiça e da liberdade.
Nesse sentido, o movimento de renovação social teve começo, nas suas expressões mais legítimas, com Jesus, que sensibilizou as massas sem deixar de conquistar alguns dos seus exploradores, que se renderam ao conteúdo da Sua ideologia superior.
Zaqueu, de tal forma se permitiu convencer da verdade que Ele ensinava, que propiciou soldo digno aos servos, propondo-se a resgatar qualquer dívida, com correção monetária excessiva.
Nicodemos ficou tão perplexo ante a inteireza revolucionária dos Seus ensinos, que Lhe propôs a magna questão dos destinos humanos quanto à necessidade da vida eterna, recebendo a resposta que a propicia ao homem em termos de plenitude, através da reencarnação.
José de Arimateia respeitou-Lhe os postulados, dos quais se convenceu, tornando-se-Lhe simpático e adeso.
Pilatos, aferrado à dominação arbitrária que a posição governamental lhe impunha, perturbou-se de tal forma que, irresoluto, foi vencido pela “consciência de culpa”, caindo em torpe alienação mental.
... E quantos outros, que não tiveram a coragem de adotar a Sua conduta?
A Sua mensagem foi tão extraordinária, que nem o túmulo, após a crucificação do Excelso Revolucionário do amor, conseguiu encerrar o Seu apostolado...
Demonstrando pela confirmação, reiteradas vezes, a sobrevivência da vida, fez que os códigos da justiça humana, ao largo do tempo, sofressem modificações para melhor, abrindo as portas para a fraternidade, a liberdade e o amor.
Certamente que ainda não foram logrados os objetivos dos “direitos do homem”, por negligência do próprio homem, que ainda confunde liberdade com licença, direito com desrespeito, fraternidade com exploração do mais fraco e dependente...
O progresso é lei inevitável no processo de crescimento das sociedades. Todavia, cada conquista realizada pela força produz desequilíbrios na área moral, que retardam a marcha da evolução, face ao imperativo da reencarnação que traz de volta o agressor, o adversário, em condição dolorosa que lhe propicia reparar os danos, assim sofrendo as consequências dos seus atos transatos não perturbando o processo da evolução geral.
É comum este fenômeno nas chamadas “sociedades ricas”, onde o fantasma da miséria econômica foi afastado, embora não totalmente, mas permitindo, em contrapartida, a miséria moral, que se reflete nos vícios, nos crimes, nas alienações e no terrorismo como forma de afirmação da personalidade das gerações novas e insatisfeitas.
O Espiritismo possui a chave para o problema, educando o homem, moral e espiritualmente, auxiliando- o a sair da faixa dos instintos para os sentimentos e destes para a razão.
Proclama a revolução moral, imediata, cujas vítimas são os vícios e as imperfeições, os atavismos ancestrais negativos e as paixões dissolventes...
Sem mecanismos de evasão à responsabilidade, mas sem a violência geradora do caos, não se apoia em pieguismos narcisistas e ergue a flama da verdade, demonstrando que o homem integral não é o vencedor transitório do mundo, mas o conquistador de si mesmo, assim fomentando o trabalho digno como alavanca propulsora dos objetivos que levam à nova ordem social, que é de paz, de amor, de liberdade com responsabilidade, de bem.
Para esse cometimento, ninguém se pode eximir, porquanto, membro do organismo social, cada homem, em se transformando para melhor, está realizando o programa de revolução espiritual da nova ordem pela qual todos lutamos.
Eurípedes Barsanulfo por Divaldo Franco do livro:
Antologia Espiritual
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