A Sutil Sabedoria das Leis Divinas
João Marcus (Pseudônimo de Hermínio C. Miranda)
Há muito mais sabedoria nas leis divinas do que pode apreender a nossa limitada inteligência. E não apenas nas leis que regulam o comportamento da matéria, na sua imensa cadeia estrutural desde o átomo até as grandes famílias de galáxias que se perdem pelo espaço, muito além do que pode alcançar a nossa imaginação. Há também uma sabedoria imanente nas leis da moral, essas que governam os mecanismos muito mais complexos das questões espirituais. Todo esse sistema cósmico, essa tremenda equação espírito-matéria, funciona num regime de perfeito equilíbrio e integração, sem uma falha, sem um recuo, sem um desvio. Aos pouquinhos vamos compreendendo que, em nosso próprio interesse, precisamos viver em sintonia com elas, porque, sendo imutáveis e inflexíveis, qualquer ajuste, porventura necessário em nossas relações com elas, deve ser feito à nossa própria custa; não é a lei que se vai modificar para atender ao nosso caso particular.
Veja, por exemplo, o leitor a doutrina da reencarnação, que corresponde ao funcionamento prático da lei de causa e efeito. Somos responsáveis por todos os atos que praticamos e até pelos mais escondidos pensamentos temos que responder cedo ou tarde. Não que haja um tribunal externo, montado alhures no espaço para fiscalizar e espionar cada gesto, cada palavra e cada intenção; nem para registrá-los num livro de contabilidade celeste onde se daria, ao fim da existência física, um balanço frio e impessoal para que nos fossem cobradas as contas que fizemos ou nos fossem atribuídos os prêmios que ganhamos. Não há esse tribunal inquisitorial no espaço; o que existe é um dispositivo automático de registro dentro de nós mesmos, onde fica tudo documentado para revisão posterior. Há um caderno secreto nos refolhos do nosso perispírito, onde inconscientemente, mas infalivelmente, vamos tomando nota de cada impulso do nosso espírito livre, como um aluno diligente tomaria notas de cada palavra que se lhe dissesse em aula.
Mais tarde, quando se levantar o pesado véu da matéria que nos obscurece o entendimento integral de seres encarnados, vamos rever essas notas, estudar as lições que elas contêm, e começar o penoso trabalho de correção do que nelas existe de errado. Para isso precisamos reencarnar: há uma simetria perfeita em tudo quanto fazemos. Se aqui erramos, aqui mesmo deveremos trabalhar para retificar a falha. Nenhuma passagem é mais reveladora dessa lei inflexível, mas justa, como todas as leis cósmicas, que aquele ensino singelo de Jesus ao recomendar que primeiro se reconciliasse o homem com seu inimigo e depois fizesse a sua oferenda, e mais: que o fizesse enquanto juntos caminhassem pelas estradas e não depois que suas rotas se tivessem afastado uma da outra. São palavras de profunda sabedoria, porque nelas se contém um conselho verdadeiramente científico, cuja prática nos poupará tanta angústia e aflição mais tarde. E que, perdida a oportunidade da reconciliação enquanto estamos lado a lado com o irmão de quem divergimos, não sabemos quando poderemos reencontrá-lo para estender-lhe a mão, andar a metade do caminho em sua direção ou todo o caminho, se for preciso. Quanto arrependimento amargo e perfeitamente evitável não há, por aí, na carne e no mundo espiritual (principalmente neste), em pessoas que não tiveram um pouco mais de paciência e compreensão ou humildade e sabedoria! Coisas simples como aceitar um pai que nos parecia ranzinza demais, um irmão de sangue e de espírito que se nos afigurava intolerante, um marido ou uma esposa a quem julgamos cruéis, indiferentes, maldosos. O simples fato de termos o que se chama usualmente “uma diferença” com certa pessoa com quem convivemos ou com a qual nos encontramos com frequência, já é um sinal muito forte a evidenciar que aquele é um dos espíritos com o qual precisamos aplicar o sábio princípio de reconciliação, ensinado pelo Cristo. Vamos aproveitar enquanto caminhamos lado a lado e que, pelo menos de nossa parte, todos os esforços sejam feitos para restabelecer a paz que se quebrou nesta ou em outras vidas que se foram. Sabemos lá das razões que levaram aquele espírito a nos detestar ou a desconfiar de nós?
Veja, por exemplo, o leitor a doutrina da reencarnação, que corresponde ao funcionamento prático da lei de causa e efeito. Somos responsáveis por todos os atos que praticamos e até pelos mais escondidos pensamentos temos que responder cedo ou tarde. Não que haja um tribunal externo, montado alhures no espaço para fiscalizar e espionar cada gesto, cada palavra e cada intenção; nem para registrá-los num livro de contabilidade celeste onde se daria, ao fim da existência física, um balanço frio e impessoal para que nos fossem cobradas as contas que fizemos ou nos fossem atribuídos os prêmios que ganhamos. Não há esse tribunal inquisitorial no espaço; o que existe é um dispositivo automático de registro dentro de nós mesmos, onde fica tudo documentado para revisão posterior. Há um caderno secreto nos refolhos do nosso perispírito, onde inconscientemente, mas infalivelmente, vamos tomando nota de cada impulso do nosso espírito livre, como um aluno diligente tomaria notas de cada palavra que se lhe dissesse em aula.
Mais tarde, quando se levantar o pesado véu da matéria que nos obscurece o entendimento integral de seres encarnados, vamos rever essas notas, estudar as lições que elas contêm, e começar o penoso trabalho de correção do que nelas existe de errado. Para isso precisamos reencarnar: há uma simetria perfeita em tudo quanto fazemos. Se aqui erramos, aqui mesmo deveremos trabalhar para retificar a falha. Nenhuma passagem é mais reveladora dessa lei inflexível, mas justa, como todas as leis cósmicas, que aquele ensino singelo de Jesus ao recomendar que primeiro se reconciliasse o homem com seu inimigo e depois fizesse a sua oferenda, e mais: que o fizesse enquanto juntos caminhassem pelas estradas e não depois que suas rotas se tivessem afastado uma da outra. São palavras de profunda sabedoria, porque nelas se contém um conselho verdadeiramente científico, cuja prática nos poupará tanta angústia e aflição mais tarde. E que, perdida a oportunidade da reconciliação enquanto estamos lado a lado com o irmão de quem divergimos, não sabemos quando poderemos reencontrá-lo para estender-lhe a mão, andar a metade do caminho em sua direção ou todo o caminho, se for preciso. Quanto arrependimento amargo e perfeitamente evitável não há, por aí, na carne e no mundo espiritual (principalmente neste), em pessoas que não tiveram um pouco mais de paciência e compreensão ou humildade e sabedoria! Coisas simples como aceitar um pai que nos parecia ranzinza demais, um irmão de sangue e de espírito que se nos afigurava intolerante, um marido ou uma esposa a quem julgamos cruéis, indiferentes, maldosos. O simples fato de termos o que se chama usualmente “uma diferença” com certa pessoa com quem convivemos ou com a qual nos encontramos com frequência, já é um sinal muito forte a evidenciar que aquele é um dos espíritos com o qual precisamos aplicar o sábio princípio de reconciliação, ensinado pelo Cristo. Vamos aproveitar enquanto caminhamos lado a lado e que, pelo menos de nossa parte, todos os esforços sejam feitos para restabelecer a paz que se quebrou nesta ou em outras vidas que se foram. Sabemos lá das razões que levaram aquele espírito a nos detestar ou a desconfiar de nós?
Mas, aqui entram os que, não aceitando a reencarnação, objetam enfáticos: Como é que eu não me lembro de nada das minhas vidas anteriores? Não seria preferível que eu soubesse de tudo para compreender melhor as coisas que me acontecem e corrigir o que fiz errado?
À primeira vista parece que a objeção é procedente, mas, se começamos a estudá-la melhor, vemos logo que não poderia funcionar assim o mecanismo da reencarnação. Os argumentos são muitos e têm sido repetidos com bastante frequência, de modo que qualquer leitor de obras espíritas saberá defender seu ponto de vista reencarnacionista com relativa facilidade. O esquecimento é necessário ao progresso do Espírito, que só evolui quando caminha por suas próprias forças, escolhendo livremente entre o bem e o mal. De que lhe serviria o conhecimento de uma existência anterior, dos crimes que praticou, dos ódios que se abrigaram em seu coração, dos inimigos que teve, das riquezas ou poderes que possuiu, ou das misérias e angústias por que passou? Para que trazer, para uma existência que começa de novo, as aflições e preocupações de uma que se foi e já mergulhou no passado? Não é mais fácil nos reconciliarmos com uma criatura que não mais desperta em nós a lembrança do dano que nos causou? As vidas que se entrelaçam estão cheias de exemplos dessa natureza. Numa existência, matamos um desafeto e lhe roubamos a esposa e os bens, encharcando de ódio a nossa vida e a dele. Os nossos caminhos se separaram antes que pudéssemos refazer a amizade, mas ainda não é tarde. É bem provável que ele nos volte, numa vida subsequente, como filho de nossa própria carne, para que lhe possamos restituir o bem da vida que lhe tiramos da outra vez e os bens materiais que dele subtraímos impiedosamente. É um processo inteligente e suave, pois que aquilo que lhe arrebatamos num instante, assumindo uma dívida enorme, agora lhe pagamos aos pouquinhos, sem grandes sacrifícios, amparando-o, educando-o à nossa custa, orientando-o para o bem. Quando, depois do desenlace de mais uma existência, nos reencontrarmos no Além, em plena consciência do passado, já estaremos reconciliados e mais amigos que nunca, pois nada é mais forte para cimentar uma ligação fraterna que a lembrança de antiga e superada inimizade.
Se, porém, no decorrer da existência corpórea, identificássemos o antigo desafeto de passadas eras, não teríamos a mesma serenidade para concertar com ele um pacto de paz e harmonia, porque as antigas feridas voltariam a sangrar e os sepultados ódios subiriam à tona, toldando-nos o entendimento e os bons propósitos. Além de tudo isso, há também razões de ordem prática e menos transcendentais. Não podemos trazer para uma nova existência antigos preconceitos, impertinências, intolerâncias, nem sequer o mesmo conservadorismo estreito que impediria o nosso progresso e nos tornaria velhos rabugentos desde a primeira infância. É que tudo evolui e progride, e, ao cabo de alguns decênios, precisamos mesmo ceder lugar aos espíritos que vão chegando, para que, com a nossa caturrice muito natural da velhice, não comecemos a servir de estorvo a novas ideias e novas conquistas. Os próprios costumes sociais e políticos também mudam com os tempos, enquanto que nós, presos aos limitados horizontes de uma existência carnal, não podemos alcançar muito longe nem acompanhar a marcha das modificações históricas e sociais. Com todos os seus erros, desvios e desvirtuamentos, temos que reconhecer que vive hoje no mundo uma população materialmente mais sadia e mais ciosa da sua liberdade. Rapazes e moças de boa formação encaram com simplicidade e ausência de malícia o fato de brincarem, passearem e se divertirem juntos jovens de ambos os sexos. Usamos roupas mais saudáveis, ainda que mais sumárias. Peças que fariam verdadeiro escândalo entre nossos avós, são hoje aceitas com naturalidade, não porque os costumes degeneraram, mas porque não há maldade nem deformação moral alguma no simples fato de irmos à praia expor nosso corpo à luz tonificante do Sol e aos benefícios saudáveis da água do mar. Mas como poderíamos aceitar as novas condições de liberdade, mesmo que sadia e controlada, se ainda trouxéssemos em nossa lembrança a memória das exageradas e muitas vezes insinceras restrições medievais? Será que teríamos bastante serenidade para aceitar todos esses “modernismos” e essas “loucuras”?
Com o avançar da idade vamo-nos concentrando no passado, nos “bons tempos”; não nos abandona a memória de parentes e amigos que morreram. E o pior é que muitos ainda se amarguram mais por julgarem que os “perderam” irremediavelmente, que nunca mais os verão, que desapareceram para sempre, na misteriosa escuridão da morte. Mesmo com o conhecimento espiritual, sentimos a necessidade de partir para voltar, depois de uma permanência mais ou menos longa no espaço, onde fazemos um extenso e profundo exame de consciência, onde tomamos alento para um novo mergulho na carne e onde planejamos, com auxílio de mais experimentados irmãos, a nova existência, em suas linhas gerais, não presos a um determinismo fatalista, mas dentro de alguns limites que nós próprios nos impomos no interesse do nosso processo evolutivo.
Só depois de tudo assentado é que voltamos para renascer. Não trazemos na memória o conhecimento de tudo, mas, no silêncio do nosso quarto, podemos às vezes ouvir os ecos e os lampejos da intuição a nos segredar docemente, através da voz da consciência, o que melhor nos convém fazer, quais as regras morais que devemos seguir, quais os exemplos que devemos dar e as atitudes que devemos tomar.
E renascemos como uma nova folha imaculada diante dos olhos, para que dela façamos o uso que melhor nos convier. Assim, aos poucos nos vamos adaptando às novas condições de vida, aceitando os progressos e conquistas da nova era e até mesmo contribuindo para que se processe rapidamente. Foram-se as impertinências e o exagerado conservadorismo obstrutivo que nos pesou tanto nos últimos anos da existência anterior. Já começamos a aprender por métodos mais avançados; recursos modernos, como televisão, rádio, práticos e velozes meios de comunicação, passam a ser coisas naturais, que aceitamos sem resistência e que facilmente e sem atritos se incorporam ao cotidiano. Nossa própria filosofia se altera profundamente muito embora os princípios morais norteadores sejam fundamentalmente os mesmos, porque, no que diz respeito à moral, só podemos andar para frente e nunca involuir. Se dantes pertencíamos a uma organização religiosa intransigente e intolerante, dogmática e obscura, na nova existência poderemos abraçar uma doutrina mais liberal, mais pura, que nos ajude decididamente a caminhar, mostrando-nos melhores roteiros. Há ou não há uma sabedoria muito sutil e profunda no mecanismo da reencarnação?
João Marcus (Hermínio C. Miranda)
do livro: Candeias na noite escura
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O livro: - Candeias na noite escura, trata-se de uma compilação de artigos de Hermínio publicados na Revista Reformador, entre 1961 a 1980, assinadas sob o pseudônimo de João Marcus.
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Nota explicativa: - Hermínio C. Miranda também assinava seus artigos como João Marcus e H.C.M. Este expediente foi sugerido pelo editor da Revista Reformador para que pudessem ser publicados mais artigos dele em um único número da revista.
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