sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Instruções dos Espíritos sobre a Regeneração da Humanidade

Instruções dos Espíritos sobre a Regeneração da Humanidade

Revista Espírita Abril 1866 
Allan Kardec



(Paris, abril de 1866. Méd. Sr. M. e T., em sonambulismo.)


Os acontecimentos se precipitam com rapidez, também não vos dizemos mais como outrora: "Os tempos estão próximos"; nós vos dizemos agora: "Os tempos estão chegados."

Por estas palavras não entendeis um novo dilúvio, nem um cataclismo, nenhum transtorno geral. As convulsões parciais do globo ocorreram em todas as épocas e se produzem ainda, porque se prendem à sua constituição, mas não estão ali os sinais dos tempos.

E, no entanto, tudo o que está predito no Evangelho deve se cumprir e se cumpre neste momento, assim como o reconhecereis mais tarde; mas não tomeis os sinais anunciados senão como figuras das quais é preciso tomar o espírito e não a letra. Todas as Escrituras encerram grandes verdades sob o véu da alegoria, e foi porque os comentaristas se prenderam à letra que se enganaram. 

Faltou-lhes a chave para compreenderem seu sentido verdadeiro. Esta chave está nas descobertas da ciência e nas leis do mundo invisível que vem de nos revelar o Espiritismo. 

Doravante, com a ajuda destes novos conhecimentos, o que era obscuro se tornará claro e inteligível.

Tudo segue a ordem natural das coisas, e as leis imutáveis de Deus não serão modificadas. Não vereis, pois, nem milagres, nem prodígios, nem nada de sobrenatural no sentido vulgar dado a estas palavras.

Não olheis o céu para nele procurar os sinais precursores, porque ali não os vereis, e aqueles que vô-los anunciaram vos enganaram; mas olhai ao vosso redor, entre os homens, será aí que os encontrareis.

Não sentis como um vento que sopra sobre a Terra e agita todos os Espíritos? O mundo está à espera e como tomado de um vago pressentimento da aproximação da tempestade.

Não credes, entretanto, no fim do mundo material; a Terra progrediu depois de sua transformação; ela deve progredir ainda, e não ser destruída. Mais a Humanidade chegou a um de seus períodos de transformação, e a Terra vai se elevar na hierarquia dos mundos.

Não é, pois, o fim do mundo material que se prepara, mas o fim do mundo moral; é o velho mundo, o mundo dos preconceitos, do egoísmo, do orgulho e do fanatismo que se desmorona; cada dia dele carrega alguns destroços. Tudo acabará para ele com a geração que se vai, e a geração nova erguerá o novo edifício que as gerações seguintes consolidarão e completarão.

De mundo de expiação, a Terra está chamada a se tornar um dia um mundo feliz, e sua habitação será uma recompensa em lugar de ser uma punição. O reino do bem, nela, deve suceder ao reino do mal.

Para que os homens sejam felizes sobre a Terra, é preciso que ela não seja povoada senão de bons Espíritos, encarnados e desencarnados, que não quererão senão o bem. Este tempo tendo chegado, uma grande emigração se cumprirá nesse momento entre aqueles que a habitam; aqueles que fazem o mal pelo mal, e que o sentimento do bem não toca, não sendo mais dignos da Terra transformada, dela serão excluídos, porque lhe trariam de novo a perturbação e a confusão e seriam um obstáculo ao progresso. Eles irão expiar seu endurecimento nos mundos inferiores, onde levarão seus conhecimentos adquiridos, e terão por missão fazer avançar. Serão substituídos sobre a Terra por Espíritos melhores, que farão reinar entre si a justiça, a paz, a fraternidade.

A Terra, dissemos, não deve ser transformada por um cataclismo que aniquilaria subitamente uma geração. A geração atual desaparecerá gradualmente, e a nova lhe sucederá do mesmo modo sem que nada tenha mudado a ordem natural das coisas.

Tudo passará, pois, exteriormente como de hábito, com esta única diferença, mas esta diferença é capital, é que uma parte dos Espíritos que aí se encarnam não se encarnarão nela mais. Numa criança que nasça, em lugar de um Espírito atrasado e levado ao mal que nela teria encarnado, será um Espírito mais avançado e levado ao bem. Trata-se, pois, bem menos de uma nova geração corpórea do que de uma nova geração de Espíritos. Assim, aqueles que esperam ver a transformação se operar por efeitos sobrenaturais serão frustrados.

A época atual é a da transição; os elementos das duas gerações se confundem.

Colocados no ponto intermediário, assistis à partida de uma e à chegada da outra, cada uma já se mostra no mundo pelos caracteres que lhe são próprios.

As duas gerações que sucedem uma à outra têm ideias e objetivos inteiramente opostos. Pela natureza das disposições morais, mas, sobretudo, das disposições intuitivas e inatas, é fácil distinguir à qual pertence cada indivíduo.

A nova geração, devendo fundar a era do progresso moral, se distingue por uma inteligência e uma razão geralmente precoces, juntadas ao sentimento inato do bem e das crenças espiritualistas, o que é o sinal indubitável de um certo grau de adiantamento anterior. Ela não será composta exclusivamente de Espíritos eminentemente superiores, mas daqueles que, tendo já progredido, estão predispostos a assimilar todas as ideias progressistas e aptos a secundar o movimento regenerador.

O que distingue, ao contrário, os Espíritos atrasados, é primeiro a revolta contra Deus pela negação da Providência e de toda força superior à Humanidade; depois, a propensão instintiva às paixões degradantes, aos sentimentos anti-fraternos do egoísmo, do orgulho, do ódio, do ciúme, da cupidez, enfim, a predominância do apego a tudo o que é material.

São esses vícios, dos quais a Terra deve ser purgada pelo afastamento daqueles que recusam se emendar, porque são incompatíveis com o reino da fraternidade e que os homens de bem sofrerão sempre com o seu contato. A Terra deles estará livre, e os homens caminharão sem entraves para o futuro melhor que lhes está reservado neste mundo, por prêmio de seus esforços e de sua perseverança, à espera de que uma depuração ainda mais completa lhes abra a entrada dos mundos superiores.

Por essa emigração de Espíritos não é preciso entender que todos os Espíritos retardatários serão expulsos da Terra e relegados aos mundos inferiores. Muitos, ao contrário, a ela retornarão, porque muitos cederam ao arrastamento de circunstâncias e do exemplo. Uma vez subtraídos à influência da matéria e dos preconceitos do mundo corpóreo, a maioria verá as coisas de maneira toda diferente de quando viviam, assim como tendes disto numerosos exemplos. Nisto, eles são ajudados pelos Espíritos benevolentes que se interessam por eles e que diligenciam de esclarecê-los e lhes mostrar o falso caminho que seguiram. Por vossas preces e vossas exortações, vós mesmos podeis contribuir para a sua melhoria, porque há uma solidariedade perpétua entre os mortos e os vivos.

Aqueles poderão, pois, retornar, e com isto serão felizes, porque será uma recompensa. Que importa o que foram e o que fizeram, se estão animados dos melhores sentimentos! 

Longe de serem hostis à sociedade e ao progresso, serão auxiliares úteis, porque pertencerão à nova geração.

Não haverá, pois, exclusão definitiva senão para os Espíritos essencialmente rebeldes, aqueles que o orgulho e o egoísmo, mais do que a ignorância, tornam surdos à voz do bem e da razão. Mas aqueles mesmos não são votados a uma inferioridade perpétua, e virá um dia em que eles repudiarão o seu passado e abrirão os olhos à luz.

Orai, pois, por esses endurecidos, a fim de que se emendem enquanto para isso é tempo ainda, porque o dia da expiação se aproxima.

Infelizmente, a maioria, desconhecendo a voz de Deus, persistirá em sua cegueira, e sua resistência marcará o fim de seu reino por lutas terríveis. Em seu desvio, correrão eles mesmos para a sua perda; levarão à destruição que engendrará uma multidão de flagelos e de calamidades, de sorte que, sem o quererem, apressarão o advento da era da renovação. E como a destruição não caminhará com muita rapidez, ver-se-ão os suicídios se multiplicarem numa proporção estranha, até entre as crianças. A loucura jamais terá atingido um maior número de homens que serão, antes da morte, riscados do número dos vivos. Aí estão os verdadeiros sinais dos tempos. E tudo isto se cumprirá pelo encadeamento das circunstâncias, assim como o dissemos, sem que seja em nada derrogada uma lei da Natureza.

No entanto, através da nuvem sombria que vos envolve, e no seio da qual ribomba a tempestade, já vedes despontar os primeiros raios da era nova! A fraternidade põe seus fundamentos sobre todos os pontos do globo e os povos se estendem a mão; a barbárie se familiariza ao contato da civilização; os preconceitos de raças e de seitas, que têm feito verter ondas de sangue, se extinguem; o fanatismo e a intolerância perdem terreno, ao passo que a liberdade de consciência se introduz nos costumes e se torna um direito. 

Por toda a parte as ideias fermentam; vê-se o mal e se experimentam os remédios, mas muitos caminham sem bússola e se perdem nas utopias. O mundo está num imenso trabalho de parto que terá durado um século; desse trabalho, ainda confuso, vê-se, ainda, no entanto, dominar uma tendência para um objetivo: o da unidade e da uniformidade que predispõe à confraternização.

Estão ainda ali os sinais do tempo; mas, ao passo que os outros são os da agonia do passado, estes últimos são os primeiros vagidos da criança que nasce, os precursores da aurora que verá se levantar o século próximo, porque então a nova geração estará em toda a sua força. Tanto a fisionomia do século dezenove difere da do século dezoito em certos pontos de vista, tanto a do século vinte será diferente do século dezenove em outros pontos de vista.

Um dos caracteres distintivos da nova geração será a fé inata; não a fé exclusiva e cega que divide os homens, mas a fé raciocinada que esclarece e fortalece, que os une e os confunde num comum sentimento de amor a Deus e ao próximo. Com a geração que se extingue, desaparecerão os últimos vestígios da incredulidade e do fanatismo, igualmente contrários ao progresso moral e social.

O Espiritismo é o caminho que conduz à renovação, porque arruínam os dois maiores obstáculos que a ela se opõem: a incredulidade e o fanatismo. Ele dá uma fé sólida e esclarecida; desenvolve todos os sentimentos e todas as ideias que correspondem aos objetivos da nova geração; é porque é como inato e no estado de intuição no coração de seus representantes. A era nova o verá, pois, crescer e prosperar pela própria força das coisas. Tomar-se-á a base de todas as crenças, o ponto de apoio de todas as instituições.

Daqui até lá, quantas lutas ter-se-á ainda que sustentar contra estes dois maiores inimigos: a incredulidade e o fanatismo que, coisa estranha, se dão a mão para abatê-lo!

Pressentem seu futuro e sua ruína: é porque o temem, porque o veem já plantar, sobre as ruínas do velho mundo egoísta, a bandeira que deve ligar todos os povos. Na divina máxima: Fora de caridade não há salvação, leem a sua própria condenação, porque é o símbolo da nova aliança fraternal proclamada pelo Cristo (Vide O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XV.). Ela se mostra a eles como as palavras fatais do festim de Baltazar. E, no entanto, esta máxima deveria bendizê-la, porque os garante de todas as represálias da parte daqueles que persegue. Mas não, uma força cega os impele a rejeitar a única coisa que poderia salvá-los!


Que poderão contra o ascendente da opinião que os repudia? 

O Espiritismo sair á triunfante da luta, disto não duvideis, porque ele está nas leis da Natureza, e por isto mesmo imperecível. Vede por que multidão de meios a ideia se difunde e penetra por toda a parte; crede bem que esses meios não são fortuitos, mas providenciais; o que, à primeira vista, parecia dever prejudicá-lo, é precisamente o que ajuda a sua propagação.

Logo se verão surgir os combatentes altamente devotados entre os homens mais consideráveis e os mais acreditados, que o apoiarão com a autoridade de seu nome e de seu exemplo, e imporão silêncio aos seus detratores, porque não se ousará mais tratá-los de loucos. Estes homens o estudam no silêncio e se mostrarão quando o momento propício tiver chegado. Até lá, é útil que se mantenham à parte.

Logo também vereis as artes dele tirar como de uma mina fecunda, e traduzir seus pensamentos e os horizontes que descobre pela pintura, pela poesia e pela literatura. Foi vos dito que haveria um dia a arte espírita, como houve a arte paga e a arte cristã, e é uma grande verdade, porque os maiores gênios nele se inspirarão. Logo disto vereis os primeiros esboços, e, mais tarde, tomará o lugar que deve ter.

Espíritas, o futuro é vosso e de todos os homens de coração e de devotamento. Não temais os obstáculos, porque deles não há nenhum que possa entravar os desígnios da Providência. 

Trabalhai sem descanso, e agradecei a Deus por vos ter colocado na vanguarda da nova falange. É um posto de honra que vós mesmos pedistes, e do qual é preciso vos tornar dignos pela a vossa coragem, vossa perseverança e vosso devotamento. Felizes aqueles que sucumbirem nessa luta contra a força; mas a vergonha será, no mundo dos Espíritos, para aqueles que sucumbirem por fraqueza ou pusilanimidade. As lutas, aliás, são necessárias para fortalecer a alma; o contato do mal faz apreciar melhor as vantagens do bem. Sem as lutas que estimulam as faculdades, o Espírito se deixaria ir a uma negligência funesta ao seu adiantamento. As lutas contra os elementos desenvolvem as forças físicas e a inteligência; as lutas contra o mal desenvolvem as forças morais.



Paris, abril de 1866. Méd. Sr. M. e T., em sonambulismo.
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Notas 1 e 2 de Allan Kardec 

1 - A maneira pela qual se opera a transformação é muito simples, e, como se vê, ela é toda moral e não se afasta em nada das leis da Natureza. Por que, pois, os incrédulos repelem essas ideias, uma vez que nada têm de sobrenatural?
É que, na sua opinião, a lei de vitalidade cessa com a morte do corpo, ao passo que, para nós, ele prossegue sem interrupção; eles restringem sua ação e nós a estendemos; é porque dizemos que os fenômenos da vida espiritual não saem das leis da Natureza. Para eles, o sobrenatural começa onde acaba a apreciação pelos sentidos. 
2- Que os Espíritos da nova geração sejam novos Espíritos melhores, ou os antigos Espíritos melhorados, o resultado é o mesmo; desde o instante em que trazem melhores disposições, é sempre uma renovação. Os Espíritos encarnados formam, assim, duas categorias, segundo as suas disposições naturais: de uma parte, os Espíritos retardatários que partem, de outra os Espíritos progressivos que chegam.  O estado dos costumes e da sociedade será, pois, em um povo, em uma raça ou no mundo inteiro, em razão destas duas categorias que tiver a preponderância.
Para simplificar a questão, seja dado um povo, num grau qualquer de adiantamento, e composto de vinte milhões de almas, por exemplo; a renovação dos Espíritos se fazendo sucessivamente as extinções, isoladas ou em massa, há necessariamente um momento em que a geração dos Espíritos retardatários se imporá em número sobre a dos Espíritos progressivos que não contam se não com raros representantes sem influência, e cujos esforços para fazer predominar o bem e as ideias progressivas estão paralisados.
Ora, uns partindo e os outros chegando, depois de um tempo dado, as duas forças se equilibram e sua influência se contrabalança. Mais tarde, os recém-chegados são em maioria e sua influência se toma preponderante, embora ainda entravada pela dos primeiros; estes, continuando a diminuir ao passo que os outros se multiplicam, acabarão por desaparecer; chegará, pois, um momento em que a influência da nova geração será exclusiva Assistimos a essa transformação, ao conflito que resulta da luta das ideias contrárias que procuram se implantar; uns caminham com a bandeira do passado, as outras com a do futuro.  
Examinando-se o estado atual do mundo, reconhece-se que, tomado em seu conjunto, a Humanidade terrestre está longe ainda do ponto intermediário onde as forças se contrabalançam; que os povos, considerados isoladamente, estão a uma grande distância uns dos outros nessa escala; que alguns tocam nesse ponto, mas que nenhum não o ultrapassou ainda. De resto, a distância que o separa dos pontos extremos está longe de ser igual em duração, e uma vez transposto o limite, o novo caminho será percorrido com tanto mais rapidez, que uma multidão de circunstâncias virá aplainá-lo.
Assim se realiza a transformação da Humanidade. Sem a emigração, quer dizer, sem a partida dos Espíritos retardatários que não devem retornar, ou que não devem retornar senão depois de estarem melhorados, a Humanidade terrestre não ficará por isto indefinidamente estacionaria, porque os Espíritos mais atrasados avançam por sua vez; mas teriam sido precisos séculos, e talvez milhares de anos, para alcançar o resultado que um meio século bastará para realizar. Uma comparação vulgar fará compreender melhor ainda o que se passa nesta circunstância. Suponhamos um regimento composto em grande maioria de homens turbulentos e indisciplinados: estes a ele levarão, sem cessar, uma desordem que a severidade da lei penal, frequentemente, terá dificuldade para reprimir. Estes homens são os mais fortes, porque são os mais numerosos; eles se sustentam, se encorajam e se estimulam pelo exemplo. Alguns bons não têm influência; seus conselhos são desprezados; eles são abafados, maltratados pelos outros, e sofrem com esse contato. Não é a imagem da sociedade atual?
Suponhamos que se retirem esses homens do regimento um por um, dez por dez, cem por cem, e que se os substitua à medida por um número igual de bons soldados, mesmo por aqueles que tiverem sido expulsos, mas que se emendaram seriamente: ao cabo de algum tempo, ter-se-á sempre o mesmo regimento, mas transformado; a boa ordem terá sucedido à desordem. Assim o será com a Humanidade regenerada.
As grandes partidas coletivas não têm somente por objetivo ativar as saídas, mas transformar mais rapidamente o espírito da massa, desembaraçando-a das más influências, e dar mais ascendências às ideias novas. É porque muitos, apesar de suas imperfeições, estão maduros para essa transformação, que muitos partem a fim de irem se retemperar numa fonte mais pura.
Enquanto permanecem no mesmo meio e sob as mesmas influências, persistirão em suas opiniões e em sua maneira de ver as coisas. Uma estada no mundo dos Espíritos basta para lhes descerrar os olhos, porque ali veem o que não podiam ver sobre a Terra. O incrédulo, o fanático, o absolutista, poderão, pois, retornar com ideias inatas de f é, de tolerância e de liberdade. No seu retorno, encontrarão as coisas mudadas, e sobretudo o ascendente do novo meio onde terão nascido. Em lugar de fazer oposição às ideias novas, delas serão os auxiliares. 
A regeneração da Humanidade não tem, pois, absolutamente necessidade da renovação integral dos Espíritos; basta uma modificação em suas disposições morais; esta modificação se opera em todos aqueles que a ela estão predispostos, quando são subtraídos à influência perniciosa do mundo. Aqueles que retornam, então, não são sempre outros Espíritos, mas, frequentemente, os mesmos Espíritos pensando e sentindo de outro modo.
Quando essa melhoria é isolada e individual, ela passa desapercebida, e é sem influência ostensiva sobre o mundo. O efeito é todo outro quando se opera simultaneamente sobre grandes massas; porque, então, segundo as proporções, em uma geração, as ideias de um povo ou de uma raça podem ser profundamente modificadas. É o que se observa, quase sempre, depois dos grandes abalos que dizimam as populações.
Os flageles destruidores não destroem senão o corpo, mas não atingem o Espírito; eles ativam o movimento do vai-e-vem entre o mundo corpóreo e o mundo espiritual, e, consequentemente, o movimento progressivo dos Espíritos encarnados e desencarnados.
É desses movimentos gerais que se opera neste momento, e que deve conduzir à modificação da Humanidade. A multiplicidade das causas de destruição é um sinal característico dos tempos, porque elas devem apressar a eclosão de novos germes. São as folhas de outono que caem, e às quais sucederão novas folhas cheias de vida; porque a Humanidade tem suas estações, como os indivíduos têm suas épocas. As folhas mortas da Humanidade caem transportadas pelas rajadas e os golpes de vento, mas para renascerem mais vivas sob o mesmo sopro de vida, que não se extingue, mas se purifica.
Para o materialista, os flagelos destruidores são calamidades sem compensações, sem resultados úteis, uma vez que, em sua opinião, aniquilam os seres sem retorno. Mas para aquele que sabe que a morte não destrói senão o envoltório, não têm as mesmas consequências, e não lhe causa o menor temor, porque lhe compreende o objetivo, e sabe também que os homens não perdem mais morrendo juntos do que morrendo isoladamente, uma vez que, de uma maneira ou de outra, é preciso sempre lá chegar.
Os incrédulos rirão destas coisas e as tratarão como quimeras; mas, o que quer que digam, eles não escaparão à lei comum; cairão por sua vez como os outros, e, então, o que será deles? Eles dizem: nada; mas viverão apesar de si mesmos, e serão forçados um dia a abrir os olhos. 
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Nota. - A comunicação seguinte nos foi dirigida durante a viagem que acabamos de fazer, da parte de um de nossos queridos protetores invisíveis; se bem que ela tenha um caráter pessoal, liga-se também à grande questão que acabamos de tratar e que ela confirma, e, a este título, está tanto melhor colocada aqui, que as pessoas perseguidas por suas crenças espíritas nela encontrarão úteis encorajamentos.

"Paris, 1o de setembro de 1866.

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Viúva F...


"Já há muito tempo que não faço ato de presença em vossas reuniões dando uma comunicação assinada com o meu nome; não creiais, caro mestre, que seja por indiferença ou por esquecimento, mas não vejo necessidade de me manifestar, e deixo a outros mais dignos o cuidado de dar úteis instruções. No entanto, eu estava lá e seguia com o maior interesse os progressos desta cara Doutrina à qual devo a felicidade e a calma dos últimos anos de minha vida.

Eu estava lá, e o meu bom amigo, o Sr. T.....vos deu, mais de uma vez, a segurança durante suas horas de sono e de êxtase. 


Ele inveja minha felicidade, e aspira também a vir para o mundo que habito agora, quando o contempla brilhando no céu estrelado e que ele transporta seu pensamento sobre suas
rudes provas.

"Eu também, tive-as bem penosas; graças ao Espiritismo, suportei-as sem me lamentar e as bendigo agora, uma vez que lhes devo o meu adiantamento. Que ele tenha paciência; dizei-lhe que ele virá um dia, mas que deve antes retornar ainda sobre a Terra para vos ajudar no inteiro cumprimento de vossa tarefa. Mas, então, quanto tudo estará mudado! Ambos vos crereis num mundo novo.

"Meu amigo, enquanto o podeis, repousai vosso espírito e vosso cérebro fatigado pelo trabalho; amontoai forças materiais, porque logo tereis muito a despender. 

Os acontecimentos que vão doravante se suceder, com rapidez, vos chamarão para a luta; sede firme de corpo e de espírito, a fim de estar em estado de lutar com vantagem. 


Será preciso, então, trabalhar sem descanso. Mas, como já vos foi dito, não estareis sozinho para carregar o fardo; auxiliares sérios se mostrarão quando disto for o tempo. 


Escutai, pois, os conselhos do bom doutor Demeure, e guardai-vos de toda fadiga inútil ou prematura. De resto, estaremos ali para vos aconselhar e vos advertir.


"Desconfiai dos dois partidos extremos que agitam o Espiritismo, seja por entravar o passado, seja por precipitar seu curso para a frente. Temperai os ardores nocivos, e não vos deixeis deter pelas hesitações dos medrosos, ou, o que é mais perigoso, mas o que não é infelizmente senão mais verdadeiro, pelas sugestões dos emissários inimigos.

"Caminhai com passo firme e seguro como haveis feito até aqui, sem vos inquietar do que se diz à direita ou à esquerda, seguindo a inspiração de vossos guias e de vossa razão, e não vos arriscareis em fazer cair o carro do Espiritismo na rotina. 

Muitos o empurram, este carro invejado, para precipitar a sua queda. Cegos e presunçosos! ele passará apesar dos obstáculos, e não deixará no abismo senão seus inimigos e seus invejosos desconcertados por terem servido ao seu triunfo.

"Os fenômenos vão surgir de todos os lados sob os aspectos mais variados, e já surgem. Mediunidade curadora, doenças incompreensíveis, efeitos físicos inexplicáveis pela ciência, tudo se reunirá num futuro próximo para assegurar a nossa vitória definitiva, para a qual concorrerão novos defensores.

"Mas quantas lutas será preciso ainda sustentar, e também quantas vítimas! não sanguinolentas, sem dúvida, mas atingidas em seus interesses e em suas afeições. Mais de um enfraquecerá sob o peso das inimizades desencadeadas contra tudo o que leva o nome de Espírita. Mas também, felizes aqueles que terão sabido conservar sua firmeza na adversidade! Disto serão bem recompensados, mesmo neste mundo materialmente.

As perseguições são as provas da sinceridade de sua fé, de sua coragem e de sua perseverança. A confiança que terão posto em Deus não será em vão. Todos os sofrimentos, todos os vexames, todas as humilhações que terão suportado pela causa, serão títulos dos quais nenhum será perdido; os bons Espíritos velam sobre eles e os contam, e saberão fazer a parte dos devotamentos sinceros e a dos devotamentos artificiais. Se a rodada fortuna lhes trai momentaneamente e os precipita no pó, logo ela se levanta mais alto do que nunca, rendendo-lhes a consideração pública, e destruindo os obstáculos amontoados em seu caminho. Mais tarde, se regozijaram por terem pago seu tributo à causa, e quanto mais esse tributo for grande, mais sua parte será bela.

"Nestes tempos de provas, vos será preciso prodigalizar a todos vossa força e a vossa firmeza; a todos será preciso também encorajamentos e conselhos. Será preciso também fechar os olhos sobre as defecções dos tépidos e dos frouxos. 

Por vossa própria conta, tereis também muito a perdoar...


"Mas me detenho aqui, porque se posso vos pressentir sobre o conjunto dos acontecimentos, não me é permitido nada precisar. Tudo o que posso vos dizer é que não sucumbiremos na luta. Pode-se cercar a verdade nas trevas do erro, é impossível abafá-la; a sua chama é imortal e se faz luz cedo ou tarde."

Viúva F...
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Nota. - Transferimos para o próximo número a continuação de nosso estudo sobre Maomé e o Islamismo, porque, pelo encadeamento das ideias e a inteligência das deduções, era útil que fosse precedido do artigo acima.

Allan Kardec - Revista Espírita de Abril de 1866

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