Conversar com Deus
Richard Simonetti
A prece é um ato de adoração a Deus.
Está na lei natural, e é o resultado de um sentimento inato do homem, assim como é inata a ideia da existência do Criador.
As reuniões mediúnicas organizadas sob os padrões da Doutrina Espírita, tendo por orientação O Livro dos Médiuns, revelam que há multidões de Espíritos desencarnados com dificuldade de adaptação à Vida Espiritual.
Trazem a mente conturbada, tão envolvida por interesses, pensamentos e sentimentos relacionados com a existência física, que sequer conseguem perceber sua condição.
Sonâmbulos que falam e ouvem, comportam-se como doentes mentais, alienados da realidade espiritual.
Não são necessariamente pessoas de má índole, criminosos, assassinos, viciados... Apenas estavam despreparados para a grande transição.
A reunião mediúnica funciona como um pronto-socorro.
Em contato com as energias do ambiente e dos médiuns, experimentam alguma lucidez, deixam por momentos a conturbação em que vivem; habilitam-se a conversar, a receber orientações e esclarecimentos.
Há nesses Espíritos algo em comum, algo que os identifica.
Não estão habituados à oração.
Não acenderam em seu mundo íntimo a chama de espiritualidade que suaviza os caminhos da Vida e ilumina as veredas da morte, como exprime Davi (Salmo 23):
O Senhor é o meu Pastor,
Nada me faltará.
Deitar-me faz em verdes pastos,
Guia-me mansamente
A águas mui tranquilas,
Refrigera minh’alma,
Guia-me nas veredas da justiça
Por amor do seu nome.
Ainda que eu andasse
Pelo vale das sombras da morte,
Não temeria mal algum,
Porque Tu estás comigo...
Sem a oração o Espírito inibe suas percepções. Não consegue identificar a presença de mentores espirituais e amigos que procuram ajudá-lo na grande transição.
É como alguém que enfrenta dificuldades de comunicação em face de inesperados problemas de visão e audição.
Ou alguém atolado num charco, incapaz de estender a mão ao socorrista que vem salvá-lo.
O que de mais eficiente o dirigente da reunião pode fazer, além de conversar com ele com carinho e boa vontade, é estimulá-lo à oração.
Se ele orar, tudo ficará mais fácil.
***
Inúmeros problemas, dificuldades e dissabores surgem porque as pessoas não cultivam a oração.
Oramos para consertar estragos que produzimos em nossa vida.
Raramente o fazemos para evitá-los, para não cairmos em tentação, como ensina Jesus. E seguimos por caminhos tortuosos que não interessam à nossa economia espiritual.
A linda jovem era assediada por impertinente rapaz. Dizia-se apaixonado. A pretexto de iniciar namoro, pretendia levá-la a um motel.
É uma infeliz tendência atual, que subverte a ordem natural, transformando o sexo, que deve vir depois do amor, em condição para ele.
Ela sentia atração pelo rapaz, mas lhe dizia com firmeza:
— Não irei. Minha mãe não ficaria feliz com isso. Jamais lhe darei esse desgosto.
O indecoroso insistia:
— Sua mãe não precisa saber...
E ela:
— Decididamente, você não convém. Pede que eu faça algo que minha mãe não aprovaria e pretende transformar-me numa mentirosa.
Talvez nossos pais tenham falecido ou nos pareçam quadrados, alienados da realidade atual.
Talvez não possamos ou não queiramos consultá-los...
Indispensável, porém, que nos habituemos a consultar Deus.
Quantas tolices, quantos comprometimentos evitaríamos, se antes de qualquer iniciativa, buscando a inspiração divina, perguntássemos à própria consciência:
— Deus aprovaria?
Ao sul da Índia e a leste da África, há um país cujo território é feito de pequenas ilhas, mais de mil, espalhadas numa extensão de oitenta mil quilômetros quadrados.
Seu nome, Maldivas, vem do sânscrito maladiv, que significa guirlanda de ilhas, todas belíssimas, como uma grinalda de flores.
Os visitantes confirmam: as ilhas são maravilhosas, uma rara combinação de céu azul, mar límpido, águas mansas, alvas praias, peixes em profusão, frutos e flores — verdadeiro paraíso.
O que mais impressiona é a tranquilidade dos maldivenses.
Não obstante a pobreza do país, vivem felizes, sem os problemas de violência, roubo e vício que conturbam as sociedades atuais.
Em princípio se poderia dizer que o caráter risonho e cordial do povo maldivo vem da placidez do oceano, da beleza das ilhas, da exuberância da natureza.
Não é só isso, porquanto em outros lugares a Natureza mostra-se. igualmente generosa, mas a existência é conturbada.
Exemplo típico temos no Rio de Janeiro, uma das cidades mais belas do Mundo.
Quando contemplamos a Baía da Guanabara, do alto do Corcovado, e nos deslumbramos com a magnificência da paisagem, sentimos a presença de Deus e compreendemos a exaltação do sambista ao cantar a cidade maravilhosa, cheia de encantos mil...
No entanto, o Rio enfrenta graves problemas, que envolvem drogas, assassinatos, assaltos, prostituição...
A cidade maravilhosa continua linda, como sempre, mas a vida está cada vez pior.
Qual seria, pois, o segredo dos maldivenses?
Os pesquisadores têm constatado que a fórmula mágica que lhes sustenta a cordialidade, o bom humor e a urbanidade, é a oração.
Cinco vezes por dia, em horários determinados, a população, formada por muçulmanos sunitas, entrega-se à oração, nos templos e pequenas igrejas que existem em grande quantidade.
Não dura mais que alguns minutos, mas é o suficiente para iluminar o dia, mantendo-os conscientes da presença de Deus e da necessidade de cumprir os preceitos morais de sua religião.
Certamente passaríamos por uma mudança radical, se, ao longo do dia, lembrássemos de Deus.
Muitos problemas seriam evitados, muitas dificuldades superadas, se nos habituássemos a conversar com Deus com maior frequência.
Espíritos sofredores que se manifestam nas reuniões mediúnicas e pessoas que procuram ajuda no Centro Espírita não raro alegam uma dificuldade — não sabem orar.
Geralmente estão se reportando a fórmulas verbais. Não conhecem as rezas.
Mas não é preciso ter memória apurada para sustentar uma conversa com Deus, abrindo nosso coração ao Senhor, falando de nossas dúvidas e anseios...
Se estivermos atentos e submissos, ouviremos o que Ele tem para nos dizer, na intimidade de nossa consciência, indicando-nos o caminho mais acertado, a iniciativa mais proveitosa.
***
Há um problema curioso com a oração.
A pessoa conversa com Deus e parece que tudo piora.
— Não sei o que acontece comigo. Quando oro parece que minha cabeça fica conturbada, sinto-me estranho.
Ocorre que a oração funciona como um mergulho na intimidade de nossa própria consciência, uma espécie de varrer e colocar em ordem a casa mental.
Quando usamos a vassoura, sobe a poeira. Pode nos incomodar em princípio, mas depois o ambiente fica melhor, mais limpo, mais saudável.
A introspeção, esse voltar para dentro de nós mesmos, revolve o entulho de nossas fraquezas, de nossos pensamentos negativos, das más palavras, e em princípio poderemos sentir algum desconforto.
Com perseverança, buscando cumprir a vontade do Senhor, expressa nas lições de Jesus, em breve teremos muita paz em nosso coração.
A oração, dizem os mentores espirituais, deve ser algo tão natural, tão instintivo em nossa vida, como a respiração.
Devemos lembrar de Deus em todas as horas de nossos dias, para que sintamos sua presença em todos os dias de nossa vida.
Principalmente na hora de dormir é importante pensar em Deus, pedindo sua proteção para um sono reparador e um despertar tranquilo.
Estaremos, então, preparados para o novo dia, como está na singela oração de Robert Louis Stevenson, famoso escritor americano:
Senhor.
Quando o dia voltar,
Quando o dia voltar,
Fazei que eu desperte
Trazendo no rosto e no coração
A alegria das alvoradas,
Disposto ao trabalho,
Feliz se a felicidade for o meu quinhão,
Resignado e corajoso,
Se me couber, nesse dia,
Uma parcela de sofrimento.
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