O código celeste
Richard Simonetti
Todas as leis da Natureza são leis divinas, pois que Deus é o seu autor. Abrangem tanto as leis físicas como as leis morais.
Desde que se empenhou em devassar os mistérios da Natureza, o Homem constatou que o Universo é regido por leis naturais que sustentam seu equilíbrio.
A história da Ciência envolve, sobretudo, a descoberta dessas leis.
Procurando explicar o movimento dos astros ou o fato de retornarem ao solo os objetos atirados ao alto, Newton, grande físico inglês do século XVII, escreveu:
"- Os corpos se atraem na razão direta de suas massas e na razão inversa do quadrado das distâncias que os separa."
Enunciava um dos princípios fundamentais da Física — a Lei de Gravitação Universal.
A própria Terra, com seus sistemas ecológicos, geológicos, climáticos, hidrográficos, é um imenso organismo, orientado por leis naturais que sustentam a vida.
E cada vez mais os cientistas vão se compenetrando da imperiosa necessidade de respeitar a Natureza, que sempre reagirá aos abusos do Homem com males variados, resultantes do chamado desequilíbrio ecológico.
Uma das mais estranhas contradições do comportamento humano está em variadas correntes científicas e filosóficas que negam a existência do Criador.
É algo como apreciar um relógio sem reconhecer a existência do relojoeiro.
Voltaire, grande filósofo francês do século XVIII, não obstante sua irreverência, proclamava:
"- Se Deus não existisse seria preciso inventá-lo."
Reconhecia que é impossível explicar o Universo sem a presença de um ser supremo que o idealizou e sustenta.
O estado caótico da sociedade humana, com seus desajustes e injustiças, misérias e sofrimentos, é a grande motivação para o materialismo.
Que Criador é esse que se compraz em maltratar suas criaturas?!
As religiões tradicionais concebem que os tormentos terrestres preparam o homem para as bem-aventuranças celestes.
Argumento pouco consistente.
Se o aceitamos fica difícil explicar por que Deus submete alguns de seus filhos a privações e sofrimentos acentuados, enquanto concede a outros a riqueza, a saúde, a inteligência e, mais estranho ainda, o senso moral que lhes inspira virtuoso comportamento.
Tentando justificar essa disparidade de situações, Martinho Lutero formulou a fabulosa doutrina das graças, segundo a qual Deus teria suas preferências e seus eleitos.
Um Deus assim não mereceria a nossa crença e o nosso respeito, levando-nos a considerar com Epicuro, filósofo grego:
" - Ou Deus quer impedir o mal e não pode, ou pode e não quer.
Se quer e não pode, é impotente.
Se pode e não quer, é malvado.
Se não pode nem quer, é impotente e malvado.
Se quer e pode, por que não o faz?"
Perfeito! Aparentemente incontestável!
Mas Epicuro faria melhor se pensasse como Einstein, o maior físico que o mundo produziu:
"- Deus pode ser sutil, mas não maldoso."
Estamos longe de compreender os programas de Deus.
Daí vermos injustiças em seus desígnios.
Caberia à Doutrina Espírita dar nos uma visão mais ampla sobre o assunto, permitindo-nos confirmar a revelação maior de Jesus — Deus é o Pai Celeste, de infinito amor e misericórdia, que trabalha incessantemente pela felicidade de seus filhos.
O Espiritismo resolve com propriedade a questão das desigualdades e sofrimentos, informando que a Terra é um planeta habitado por Espíritos em estágios primários de evolução.
Mal saímos da agressividade que caracteriza os brutos, orientados unicamente pela satisfação de suas necessidades. E ainda nos comportamos como crianças preocupadas com o próprio bem-estar, incapazes de assumir responsabilidades.
A existência terrestre, com as exigências de subsistência, a necessidade do trabalho, o guante do sofrimento, os conflitos de relacionamento, as surpresas do destino, as situações dramáticas, funciona como uma lixa grossa a desbastar nossas imperfeições mais grosseiras.
Em favor de nossa evolução operam leis naturais que um dia serão reconhecidas pela ciência oficial, destacando-se:
• Reencarnação
As experiências na carne serão repetidas tantas vezes quantas forem necessárias, até que aprendamos as lições da Vida.
• Causa e Efeito
Colheremos, invariavelmente, o fruto de nossas ações, aprendendo a distinguir o certo do errado, o que nos é lícito ou não fazer.
• Sintonia Psíquica
Somos inspirados e conduzidos por influências espirituais que podem nos precipitar no abismo ou elevar às alturas, mas sempre de conformidade com o rumo que imprimamos à nossa vontade.
Tudo isso para vencer o egoísmo e nos prepararmos para a vivência do Amor, a Lei suprema de Deus, que equilibra o Universo e sustenta a Vida.
Em O Livro dos Espíritos, Kardec, sob orientação dos mentores espirituais, formula dez princípios que ele denomina Leis Morais, um trocar em miúdos a Lei do Amor, em seu sentido mais abrangente.
• Lei de Adoração
A comunhão com Deus é um imperativo em favor da harmonia e da serenidade. Estaremos a cumpri-la sempre que exercitarmos a oração e a reflexão sobre a divindade.
• Lei do Trabalho
Fundamental que nos mantenhamos ativos, física e mentalmente, em favor da subsistência do corpo e do progresso da Alma.
• Lei de Conservação
Há uma interação entre todos os seres vivos. É preciso cultivar uma consciência ecológica, colaborando com a Natureza ao invés de devastá-la. Sem esse empenho estaremos semeando males que fatalmente colheremos.
• Lei de Reprodução
A sexualidade humana é delicado instrumento que favorece a comunhão afetiva e a perpetuação da espécie. Se convertida em mero instrumento de prazer nos induzirá a perigoso envolvimento com a promiscuidade e o vício.
• Lei de Destruição
Morte é sinônimo de renovação. Todos os seres vivos estagiam, alternadamente, em dois planos — na Terra e no Além, submetidos aos choques biológicos da reencarnação e da desencarnação, que se situam por indispensáveis experiências em nosso atual estágio evolutivo.
• Lei de Sociedade
O equilíbrio de uma comunidade depende de nosso empenho em participar dela, respeitando suas normas e desenvolvendo iniciativas que visem ao bem coletivo.
• Lei do Progresso
Somos seres perfectíveis. Em favor de uma existência feliz e produtiva, é imperioso o aprimoramento moral e intelectual, buscando uma compreensão mais ampla dos mecanismos da Vida e de nossa posição no Universo.
• Lei de Igualdade
Somos todos filhos de Deus. Inconcebível, portanto, qualquer preconceito. Quem discrimina alguém, em face de sua condição física, social, cultural ou racial, poderá ver-se, em existência futura, na posição daquele que discriminou.
• Lei de Liberdade
Deus nos concede o livre-arbítrio, a fim de valorizarmos nossas aquisições e desenvolvermos nossas potencialidades, mas seremos cobrados por nossas iniciativas, com rigor crescente, compatível com o desenvolvimento do senso moral, a capacidade de discernir entre o bem e o mal.
• Lei de Justiça, de Amor e de Caridade
Resume princípios fundamentais ao cumprimento das demais leis morais: respeitar o próximo (justiça); querer o seu bem (amor); fazer o melhor em seu benefício (caridade).
Sempre que nos desviarmos dessa orientação básica, experimentaremos sanções disciplinadoras, a se exprimirem em desajustes e sofrimentos.
As Leis Morais são tão claras e objetivas, na apreciação de Allan Kardec, que poderemos identificar qual delas deixamos de observar, no presente ou no pretérito, simplesmente analisando nosso íntimo.
Sentimo-nos:
Inseguros?
— Lei de Adoração.
Desanimados?
— Lei do Trabalho.
Enfermos?
— Lei de Conservação.
Inquietos?
— Lei de Reprodução.
Amedrontados?
— Lei de Destruição.
Solitários?
— Lei de Sociedade.
Discriminados?
— Lei de Igualdade.
Limitados?
— Lei do Progresso.
Atormentados?
— Lei de Liberdade.
Desmotivados?
— Lei de Justiça, de Amor e de Caridade.
À exceção dos marginais, geralmente as pessoas procuram cumprir as leis do país em que vivem.
Compreendem que isso é fundamental, em favor de sua própria tranquilidade, evitando complicações.
Descuidam-se, entretanto, das leis morais.
Deveríamos, em benefício próprio, ao colocar a cabeça no travesseiro para o repouso noturno, examinar nossas ações.
Estamos vivendo como respeitáveis cidadãos do Universo, observando a legislação maior e habilitando-nos a uma existência plena de paz e harmonia?
Ou somos contumazes infratores, às voltas com penosas sanções impostas por nossa própria consciência?
Richard Simonetti do livro: Espiritismo, uma nova era.
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