sexta-feira, 19 de maio de 2017

Deslizes ocultos

Deslizes ocultos

Joanna de Ângelis




“167. Qual o fim objetivado com a reencarnação?
“Expiação, melhoramento progressivo da Humanidade. Sem isto, onde a justiça?” 
L.E. - O LIVRO DOS ESPÍRITOS



Punge-te o coração o sofrimento do hanseniano lacerado, com amputações, carpindo rude expiação.

Aflige-te o espírito o obsesso emparedado nos corredores escuros do desalinho psíquico.

Angustia-te a sensibilidade o canceroso com prazo marcado na contingência carnal...

Faz-te sofrer o cerceamento social imposto ao delinquente, que se comprometeu por infelicidade momentânea, arruinando outrem e a si mesmo infelicitando.

Constrange-te a visão do deformado físico, teratogênico ou vítima circunstancial de um desastre ou tragédia, que arrasta a ruína orgânica, em viagem de longo curso.

Suscita-te piedade o espetáculo deprimente dos órfãos ao desamparo e dos velhinhos sem agasalho, exibindo a miséria nas ruas do desconforto.

Confrangem-te o peito os caídos ao relento, que fizeram dos passeios e portais rústicos de ruelas escuras o grabato de dolorosas provações.

Dói-te a patética das mães viúvas e esfaimadas e dos enfermos sem medicamentos ou, ainda, dos esquecidos pelo organismo social.

Todos são passíveis do teu melhor sentimento de amor e compunção.

Ao fitá-lo, recordas-te dos “filhos do Calvário” e evocas, naturalmente, Jesus...

Eles, porém, estes sofredores, estão em resgate, dependendo deles mesmos a felicidade para o amanhã.

Já foram alcançados pelo invencível poder da Lei Divina.

Outros há que passam distribuindo simpatia e cordialidade, merecedores, no entanto, da mais profunda comiseração.

Alguns têm o corpo jovem, e fazem dele mercadoria de preço variável na insegura balança das emoções negociáveis.

Muitos sorriem e são tiranos da família, que esmagam impiedosamente.

Vários são disputados nas altas rodas das comunidades e vivem do fruto infeliz das drogas estupefacientes.

Diversos mantêm bordéis e aliciam jovens levianos.

Uns jogam na bolsa da usura e ludibriam corações invigilantes e arrebatados...

Outros comercializam a honorabilidade do lar ou envilecem a dignidade dos ascendentes.

Inúmeros são agiotas corteses, conquanto inescrupulosos e cruéis.

Incontáveis caluniam, amaldiçoam, apontam as falhas do próximo e, aparentemente, são justos, leais e bons.

Alçados alguns às posições invejáveis das artes, da política, das religiões são mendazes e empedernidos, delicados por profissão e criminosos disfarçados.

Uma infinidade destes, porém, ao nosso lado ou sob o nosso teto parecem nobres e honrados, sadios e corretos, mas não são...

Aqueles, os em resgate, possivelmente encontram-se arrependidos, ou, sob o látego da dor predispõem-se às tarefas de recomeço feliz, mais tarde.

Estes, como são ignorados pelas leis dos homens, desconhecidos dos magistrados, prosseguem na carreira insidiosa da loucura que os arrasta à meta do autocídio direto ou indireto.

Ludibriando sempre, esquecem-se de si mesmos.

Não os esquecerá, todavia, a Lei.

O que fazem e como o fazem, o que pensam e contra quem pensam inscrevem-no, gravam-no no perispírito com rigorosa precisão, para depois...

Todas as culpas ocultas se transformarão em feridas que clamarão pelo tempo e espaço medicamentos eficazes e dolorosos.

Espoliadores dos bens divinos, experimentarão o fruto da falácia e da zombaria.

Ouviram, sim, através dos tempos, os apelos da verdade e da vida.

Conheceram e sabem qual a trilha da retidão.

Podem agir com acerto.

Preferem, no entanto, assim. São os construtores do amanhã.

Ora e apiadas-te, meditando neles e nos seus crimes disfarçados e ocultos, para te acautelares.

A queda e o erro, o ato infeliz e o compromisso negativo que os demais ignoram, todos podem conduzir em silencioso calvário. É necessário, porém, o esforço para a reeducação da mente e a disciplina do espírito.

Todas as vezes em que o Mestre ofereceu misericórdia e socorro a alguém no sublime desiderato do seu apostolado redentor, foi claro e severo quanto à não continuidade no erro.

Pensando nisso, dilata o amor aos sofredores, a piedade aos geradores de sofrimentos, mas cuida de não te comprometeres com a retaguarda, porquanto amanhã, diante da consciência liberta, as tuas sombras serão os fantasmas a criarem problemas contigo ante a Lei Sublime do Excelso Amor.


Joanna de Ângelis por Divaldo Franco do livro:
Espírito e Vida
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