domingo, 7 de maio de 2017

O Sudário de Turim

O Sudário de Turim I e II

Hermínio C. Miranda


O Sudário de Turim I

Revista Reformador de Mar. 1979


Fotografia é a ciência e a técnica de reproduzir imagens pela ação da luz em uma superfície previamente sensibilizada por substâncias apropriadas. Qualquer bom dicionário dirá que a palavra se compõe de dois termos gregos, photos (luz) e graphein (escrever), o que produz esta linda expressão: Escrever com luz! Nenhuma outra seria tão adequada para caracterizar o fenômeno da imagem reproduzida no tecido do chamado Sudário de Turim.

Embora de longa data - na realidade desde o tempo dos alquimistas - se conhecesse a ação da luz sobre certos compostos químicos, foi somente em 1822 que J. Nicephore Niepce conseguiu fixar a primeira fotografia no papel. Alguns anos depois, ele e Daguerre levaram a técnica fotográfica a ponto de merecer uma apresentação oficial de François Arago à Academia de Ciências, em 19 de agosto de 1839. No final do século a fotografia atingira seus primeiros estágios de maturidade.

Contudo, foi relutantemente que o Rei Umberto I, da Itália, proprietário oficial da peça, na qualidade de chefe da família de Saboia, autorizou que o Sudário fosse fotografado pela primeira vez, em 1898, durante uma das raras exposições ao público, em comemoração ao cinquentenário da constituição Italiana, "II Statuto", Havia uma condição: o trabalho não deveria ser feito por profissional. Foi escolhido para a honrosa missão o Conselheiro e advogado Secando Pia, fotógrafo amador já premiado em várias oportunidades.

Em 25 de maio, primeiro dia da exposição, ele se preparou para o importante acontecimento, mas não foi feliz: o vidro protetor de suas lâmpadas estalou e as inutilizou. Ele voltou na noite de 28, depois que o último visitante havia partido. Desta vez o Sudário se encontrava protegido por uma moldura envidraçada. Pia montou o seu equipamento, cuja peça principal era uma "geringonça" parecida com uma ampla caixa de madeira - que ainda existe como peça de museu - provida de uma lente Voigtlander. Às 23 horas Pia "bateu" a primeira foto com um tempo de 13 minutos e logo a seguir, outra com 20 minutos de exposição.

Era quase meia-noite quando ele se fechou no cômodo destinado a servir de câmara escura. Pouco a pouco a imagem começou a aparecer no vidro e, em breves, momentos, a surpresa de Pia chegou ao assombro. Em lugar da figura fantasmagórica que ele esperava, como em qualquer negativo fotográfico, surgia na Chapa o retrato em positivo de um homem. O desenho do corpo destacava-se claramente do fundo, como que em relevo, enquanto as manchas de sangue apareciam, não menos misteriosamente, em negativo, como marcas claras em campo escuro. Secondo Pia estava literalmente aturdido e não podia deixar de pensar que era ele o primeiro ser humano em quase 19 séculos a contemplar a face de Jesus.

- Foi, naturalmente, essa foto - escreve Ian Wilson- (em: The Shround of Turin, edição Doubleday, 1978, New York) - que introduziu o Sudário no século XX por um processo que ninguém até então poderia ter imaginado.

Secondo Pia acabava de copiar com o seu equipamento o autorretrato que o Cristo escrevera com a (sua) luz...

As fotos de Secondo Pia são atualmente consideradas de qualidade inferior, em confronto com as que se obtêm com a moderna tecnologia. Já em 1931 foram superadas pelas excelentes fotos obtidas por um profissional de alto conceito, o Comandante Giuseppe Enrie, que trabalhou com uma equipe de cerca de cem especialistas. Inclusive Secando Pia. Já septuagenário.

É sobre as múltiplas especulações em torno do Sudário de Turim que vamos tratar neste artigo. Valho-me, para isso, não apenas do livro de Wilson, como também da admirável obra do Dr. Pierre Barbet (1), médico francês, bem como do livro-reportagem de Robert K. Wilcox (2). Não disponho, infelizmente, do relatório de Pia, intitulado "Memoria sulla riproduzione fotográfica della Santissima Sindone" (1907).
  1. - A Paixão de N.S. Jesus Cristo segundo o Cirurgião, do Dr. Pierre Barbet. Tradução (excelente) do Cônego José Alberto de Castro Pinto, Editora Santa Maria, RJ, 1954.
  2. - Shroud, de Robert K. Wilcox, Edição Macmillan, 1977 e Bantam, 1978, EUA.

***
Começaremos pelo princípio.

Sudário, do latim sudarium, é um lenço que, como o nome indica, destina-se a enxugar o suor do rosto. É o que se lê no “Novíssimo Dicionário Latino-Português", de Santos Saraiva, edição Garnier. 1924. Secundariamente seria também mortalha. Esta leve diferença de matiz semântica reveste-se de importância maior do que se poderia supor, como veremos adiante. O Dr. Barbet informa que teve esse nome "uma comprida peça de pano com que se envolvia o corpo por debaixo da túnica e que se conservava como roupa noturna". Era, pois, uma peça de roupa intima que também servia para dormir.

O Sudário de Turim, no qual aparece estampada a imagem de uma figura humana de costas e de frente, mede 1,10m de largura por 4,30m de comprimento. “É uma tela de linho puro, cerrada e opaca - escreve Barbet - executada com fio grosseiro e de fibra crua”, com a urdidura conhecida como "espinha de peixe". Os vincos indicam que a peça foi arrumada em quarenta e oito dobras.

Quanto à figura ali estampada, trata-se de um homem relativamente jovem - não menos de 30 anos de idade, não mais de 45 - de 1,81 m de altura, pesando cerca de 77 quilos, dono de "poderoso e bem proporcionado físico", na expressão de Wilson. O médico inglês Dr. David Willis, um dos competentes estudiosos do Sudário, relaciona os seguintes ferimentos na face impressa no pano: 
1) inchação em ambos os supercílios; 

2) dilaceração da pálpebra direita; 


3) grande inchação abaixo do olho direito;


4) tumefação no nariz;


5) ferimento de forma triangular na face direita; 


6) inchação na face esquerda; 


7) inchação à esquerda do queixo.

Barbet chamou a atenção para a "surpreendente expressão de relevo" da imagem que, realmente, parece tridimensional. (Ainda falaremos disso mais tarde.) Mais impressionante, porem, é a imperturbável serenidade daquele rosto que, a despeito do verdadeiro massacre que os hematomas testemunham, não guardou um traço de dor, medo ou aflição. Aquele homem morreu em paz...

As manchas de sangue, mais pronunciadas em torno das principais chagas e ferimentos mais profundos, aparecem em negativo, ou seja, figuram como áreas mais claras sobre o fundo escuro da Imagem fotográfica antes de ser copiada no papel. Barbet ficou impressionado com a aparência de relevo dessas manchas, demonstrando, a seu ver, terem sido produzidas por decalque pelos coágulos sanguíneos em contato direto com o tecido.

- Sobre a Mortalha - escreve ele - não há sangue que tenha escorrido; só há coágulos decalcados.

O homem do Sudário morreu, segundo o médico francês, por asfixia, pregado numa cruz, à qual foi suspenso por três cravos, um em cada carpo (na altura dos pulsos) e o terceiro atravessando os dois pés superpostos, o esquerdo sobre o direito.

Ian Wilson confrontou da seguinte forma as pesquisas cientificas sobre o Sudário com o que narram os evangelistas:
1. O corpo está literalmente coberto de ferimentos causados por severo açoitamento, conforme narram Mateus (27,28), Marcos (15,1-5) e João (19,1).

2. Inchações na face documentam as bofetadas de que nos falam Mateus (27,30), Marcos. (15,19), Lucas (22,63) e João (19,3).

3. Sangramento abundante do couro cabeludo indica que uma coroa de espinhos (em forma de gorro ou boné) lhe foi imposta na cabeça, segundo Mateus (27,29). Marcos (15,17) e João (19,2).

4. O crucificado teve que carregar uma pesada peça de madeira, conforme indicam os ferimentos no ombro provocados por atrito prolongado. É o que diz João (19,17).

5. Este crucificado caiu várias vezes sobre os Joelhos que aparecem bastante machucados. Conferir com os relatos de Mateus (27,32), Marcos (15,21) e Lucas (23,26).

6. A crucificação foi feita por meio de cravos pregados nas mãos e nos pés, tal como atestam os ferimentos nos locais próprios, conforme se infere de João (20,25).

7. As pernas deste crucificado não foram partidas, enquanto que o tórax foi penetrado por uma lança, segundo João (19,31-37), testemunha ocular da tragédia da cruz.

Especulativamente, poderíamos eliminar alguns desses pontos, por serem habituais no bárbaro ritual da crucificação e, portanto, comuns à maioria, senão a todos os crucificados. De fato, o açoitamento era rotineiramente praticado antes da crucificação. Bofetadas e pauladas deviam ser - e eram - tratamento uniforme para todos os condenados, entregues indefesos à sanha de criaturas insensíveis e violentas. Era costume, também, obrigar cada condenado a carregar a cruz até o local do suplicio. (Aliás, ele carregava apenas o patibulum, ou seja, a parte superior, que depois seria enganchada no stipes, o mastro, que já estava fincado no chão à espera da vítima). Embora se praticassem crucificações amarrando os condenados à cruz por meio de cordas, o mais comum era mesmo pregá-los com fortes e grossos cravos nas mãos e nos pés. Era hábito, também, quando a família ou os amigos do crucificado solicitavam seu corpo para sepultar, meter-lhe uma lança ou punhal no coração, isso servia para confirmar a morte, a fim de não correr-se o risco de ser criminoso recuperado posteriormente. Este lançaço tanto poderia ser, portanto, um "golpe de misericórdia" para acabar com a vítima de uma vez, quanto a forma de verificar se ele estava realmente morto.

Dois pontos, não obstante, nos indicam que este era crucificado muito especial. Em primeiro lugar, os ossos das pernas não estavam quebrados. como, aliás, prescreveu o autor dos Salmos. ("Todos os seus ossos serão preservados; nem um só se quebrará" - Salmos – 34,20.) A fratura das pernas era, de certa forma, também um golpe de misericórdia, porque resultava em abreviação da morte. Isto porque, segundo explicou o Dr. Barbet, a morte se dava por asfixia, pois o crucificado somente podia respirar nos breves Instantes em que, suportando dores atrozes, apoiava-se no cravo que o prendia pelos pés para levantar o corpo e assim poder movimentar os músculos do tórax que, pela sua rígida contratura, não permitiam expelir o ar dos pulmões. Em seguida, o supliciado deixava cair novamente o corpo, apoiando-se nos cravos das mãos. Novamente sufocava e tudo recomeçava... Assim ficava enquanto aguentasse ou até que lhe quebrassem as pernas - usualmente com uma barra de ferro. Impedido, afinal, de apoiar-se no cravo dos pés e, portanto, de erguer o corpo para renovar o ar dos pulmões, o condenado morria.

Com o crucificado do Sudário não foi preciso quebrar-lhe as pernas, porque a punhalada revelara momentos antes que ele já havia falecido. Confira-se com a narrativa dos Evangelhos:

- E Pilatos admirou-se de que Jesus houvesse morrido tão depressa e, chamando um centurião, perguntou-lhe se efetivamente estava morto. (Marcos, 15,44.)

Aliás, diga-se de passagem, nem mesmo os pequenos ossos das mãos e dos pés foram quebrados, pois, segundo experiências incontestáveis do Dr. Barbet, nos lugares onde foram pregados os cravos, tanto nas mãos como nos pés, há passagens naturais por onde se encaminham os pregos, fenômeno esse que ao próprio Barbet surpreendeu. Outra inesperada descoberta do Dr. Barbet - já que estamos abordando este ponto - foi a de que, ao pregar o cravo no chamado "espaço de Destot'" na mão de um cadáver, não apenas o sentiu "obliquar um pouco para dentro (e) penetrar sem resistência", como ainda, notou que "o polegar se dobrava bruscamente", fechando-se sobre a palma, forçado pela contração de um nervo, aliás, extremamente sensível. De fato, as mãos do crucificado do Sudário indicam que os polegares estão fechados sobre as palmas.

Outra importante observação: Os cravos não poderiam ser pregados na palma das mãos porque o tecido se romperia, conforme comprovou Barbet em experiências com cadáveres, deixando cair o corpo.

Confirma-se, portanto, que este crucificado não teve nem um osso sequer fraturado, como afirma o Evangelho. Isto poderia ter sido, porém, mera coincidência, pois é possível que outros hajam sido poupados da fratura nas pernas por já haverem expiado em vista da verificação feita com a lança ou punhal.

Resta a coroa de espinhos. Dificilmente alguém se lembraria de impor a um condenado vulgar esse trágico símbolo da realeza.

Confira-se novamente com o Evangelho:

 - És tu o rei dos judeus?

Além do mais, lá estava a tabuleta indicativa a anunciar precisamente que o homem ali crucificado fora acusado de pretender ser o rei de sua gente.

É preciso observar, ainda, que a coroa não tem a forma sob a qual aparece representada em inúmeros quadros, gravuras e esculturas sobre a crucificação. Não foi um pequeno feixe de espinhos em círculo em torno da cabeça, mas uma espécie de touca que a cobriu toda, fazendo-a sangrar abundantemente, como atestam os coágulos perfeitamente visíveis na testa e presos à massa dos cabelos. Vê-se isto na face e na imagem dorsal.


***

Ante esse brevíssimo e muito incompleto resumo da situação, muitas perguntas se colocam obrigatoriamente neste ponto. Limitemo-nos, não obstante, a duas especulações fundamentais:


Primeira: Teria sido mesmo o Cristo o homem envolvido naquele pano?

Segunda: Qual a história dessa misteriosa peça de linho?

Pio XI dizia que o Sudário estava ainda cercado de "muitos mistérios". O Dr. Barbet repete na quarta edição do seu livro - a que serviu à tradução do Cônego Castro Pinto - aquilo que escrevera na primeira:

- "O futuro ainda nos reserva, sem dúvida, bom número de surpresas".

Tanto o Papa como o médico estavam certos. As surpresas continuam a surgir, enquanto certos mistérios persistem.

***

Tomemos a primeira pergunta.

- Somente isto é certo - escreveu John Walsh (The shroud, Edição Random House, 1963), citado por Robert Wilcox - o Sudário de Turim é a mais espantosa e instrutiva relíquia de Jesus Cristo existente - mostrando-nos, na sua sombria simplicidade, qual a sua aparência ante os homens - ou é um dos produtos mais engenhosos que se conhece, mais inacreditavelmente hábeis da mente e da mão do homem. É uma coisa ou outra: não há meio termo.

A propósito, conta o Dr. Pierre Barbet que, ao publicar a primeira edição do seu folheto "Les Cinc Plaies" (As cinco chagas), levou um exemplar ao seu mestre e amigo Professor Hovelacque, convicto e brilhante cético.

- Quando (ele) acabou de ler - escreve Barbet - depositou o opúsculo e, meditando, ficou em silêncio por alguns momentos. Depois, explodindo de repente, com aquela bela franqueza que consolidara nossa amizade, exclamou: "Mas, então, meu velho, Jesus-Cristo ressuscitou!"

Barbet confessa que foi uma das mais profundas e doces emoções da sua vida aquela espontânea reação de um incrédulo a quem ele estimava e respeitava.

Creio ser necessário dizer, a esta altura, que o Doutor Barbet foi católico praticante, de uma belíssima e pura fé. O leitor espírita encontrará na sua notável narrativa a singela aceitação dos dogmas como, por exemplo, o da divindade de Jesus. Seria, no entanto, clamorosa injustiça faltar-lhe ao respeito ou colocar sob suspeita suas valiosas observações e conclusões. Em nenhum ponto da sua meticulosa obra ele procura acomodar o severo espírito científico a preconceitos ou desinformações, mesmo que partam de figuras respeitáveis da sua própria Igreja, que hajam examinado o assunto antes dele. Ademais, seu livro é obra de imenso carinho pelo Cristo e de uma sensibilidade rara, que ilumina todo o seu indiscutível saber, suas intuições, seus "achados", suas soluções.

A meditação que constitui o capítulo 12 do seu livro é uma peça de impacto, que se lê com extraordinária emoção. É tão vibrante e tão autentica que transmite ao leitor espírita a impressão de ter sido escrita sob inspiração mediúnica. Ou, quem sabe, seria um documento anímico? Certas passagens parecem justificar esta ultima hipótese, ao colocar-se o autor como testemunha da tragédia da cruz. Vejam, por exemplo, esta transcrição, que parece redigida por quem esteve lá:

- Um ajudante estica os braços com a palma da mão voltada para cima; o carrasco toma o cravo (um comprido cravo pontudo e quadrado, que perto da grande cabeça tem 8 (oito) mm de largura) e assenta-lhe a ponta sobre o punho, naquele vinco anterior, que tão bem conhece pela experiência. Uma única martelada, e o cravo já está fixado na madeira onde mais algumas outras acabarão de fixá-lo sólida e definitivamente. Jesus não gritou, mas seu rosto se contraiu horrivelmente. E, sobretudo, vi ao mesmo tempo, Seu polegar, com um movimento imperioso e violento, colocar-se em oposição, na palma: o nervo mediano fora atingido. Mas, então, ressinto o que experimentou Ele: uma dor inenarrável, fulgurante que se espalhou por seus dedos, subiu como uma língua de fogo até a espádua e prorrompeu no cérebro. (Os destaques são meus).

Mais adiante ele escreve: "ali estarei eu ao pé da cruz, com Sua Mãe e João e as santas mulheres que O serviam"; ou então: "Vejo agora bem de frente Vossa fisionomia distendida... etc." E mais: "Prostro-me de joelhos diante de Vós, beijando Vossos pés perfurados, de onde o sangue corre ainda, indo coagular-se nas extremidades".


***

A convicção de Barbet sobre a autenticidade do Sudário, com base em experiências rigorosamente científicas, é hoje partilhada por muitos cientistas da mais variada gama de especializações: médicos, radiologistas, criminologistas e até físicos nucleares ou técnicos em computação eletrônica.

Tomemos, por exemplo, o Dr. Max Frei, cientista já aposentado, ex-chefe do laboratório da Polícia Científica de Zurich. É ele, autoridade mundial na dificílima técnica de identificar minúsculos grãos de pólen. Convém explicar que, ao disseminar-se por toda parte, o pólen é encontrado até em objetos muito bem guardados. Identificada a planta de origem, não é difícil saber em que região esteve aquele objeto; no caso, o Sudário.

Pois bem, o Dr. Frei teve acesso ao Sudário, talvez por causa da extrema e desconcertante simplicidade do seu processo de coleta de material para exame; ele cortou alguns pedaços de fita adesiva, pressionou-os sobre o pano e os foi colocando em envelopes. Suas conclusões, embora cautelosas, como convém a um cientista responsável e respeitável, foram, não obstante, altamente positivas. Ele está convicto de que há no Sudário grãos de pólen de seis espécies de plantas "exclusivamente palestinas", bem como outras da Turquia e, a maior parte, das estepes da Anatólia. Em suas próprias palavras, citadas por Ian Wilson:

- Isto autoriza a conclusão definitiva de que o Santo Sudário não é uma adulteração.

Vejo, porém, que inadvertidamente entramos no âmbito da segunda pergunta, que consiste em deslindar a história do Sudário. Desculpe o leitor se lhe peço que retomemos por mais algum tempo a primeira, que questiona a autenticidade da imagem ali impressa. 

===============================

O Sudário de Turim II


Revista Reformador Abr. 1979


É preciso dizer aqui que zelosíssimas autoridades religiosas guardam o Sudário e velam pela sua integridade, embora tecnicamente ele ainda pertença à família de Saboia, ora representada pelo ex-Rei Umberto I, da Itália. Não é fácil, por motivos óbvios, conseguir que a preciosa peça de linho seja colocada à disposição dos inúmeros cientistas nela interessados. Por mais que sejam assegurados os guardiães da peça quanto ao rigor das cautelas ao manuseá-la, há sempre riscos da danificação irreparável.

É certo que as surpresas previstas pelo Dr. Pierre Barbet continuam a surgir, mas a evidência hoje acumulada sobre a autenticidade da imagem como sendo mesmo a de Jesus, é praticamente indestrutível, ainda que certos mistérios permaneçam insolucionados.

Um deles: como teria sido produzida a imagem?

Não foram poucos - e até sacerdotes - que adotaram e propagaram a hipótese de ter sido obra de um pintor. A hipótese está hoje completamente desacreditada. Barbet demonstrou a fantástica precisão da imagem do ponto de vista anatômico e fisiológico. Nem o mais poderoso gênio artístico teria condições de criar a imagem tal como está. Pode-se demonstrar isso ante os inúmeros e grosseiros erros cometidos ao longo dos séculos nas telas e nas esculturas: cravos nas palmas das mãos, sangue a escorrer em contradição com as leis da fisiologia, posição errada da cabeça (pendida para a direita), estilização de coroa de espinhos e outras anomalias menores. Ademais, quem se lembraria de pintar uma Imagem humana em negativo? Ainda que se lembrasse, quem seria capaz de fazê-lo? A noção negativo somente apareceu no século XIX com a fotografia. Outro detalhe Importante: não há o menor traço de tinta no Sudário.

A próxima pergunta seria esta: Há sangue no Sudário?

Parece que não. Seja o que for que produziu a imagem não é uma substancia que haja penetrado na intimidade das fibras do tecido; coloriu apenas a camada superior da fibra, sem penetrar, sem haver, portanto, embebido o linho que é altamente absorvente, como se sabe. Alias, verificou-se em 1973 que, de fato, a imagem não aparece no avesso do pano, o que confirma estar impressa apenas levemente na superfície das fibras. A imagem foi, pois, criada "a seco", na expressão de Wilson. Estas verificações foram feitas mediante exame microscópico com aumentos de 17 mil e 50 mil vezes.

As reações químicas para testar a existência de sangue, por sua vez, resultaram negativas, "indicação muito, multo forte de que não há sangue no Sudário", conforme escreve Wilson. Outra curiosidade: os grânulos que produzem a coloração sépia da Imagem no tecido, tratados quimicamente, revelaram-se insolúveis.

Ante a dificuldade de explicar o fenômeno da formação desse autorretrato, os cientistas começam a apelar para os computadores, para a física nuclear e tudo o mais que a tecnologia moderna tem a oferecer como contribuição à decifração do enigma.

Enquanto isso, a transcendental nobreza daquela face e a serena beleza de seus traços continuam a irradiar estranho e misterioso fascínio. Sem dúvida alguma, trata-se da imagem de um ser superior.

Observem bem a face impressa. Nenhuma deformação ou distorção. A imagem corresponde à que se obteria na superfície plana de uma película ou chapa de vidro sensibilizado e não a que se formaria num pano em torno da cabeça. Além disso; é um negativo em si mesma. Um pano enrolado mostraria nas suas dobras pedaços da imagem com "vistas" tomadas da frente e dos lados simultaneamente, como se uma ou várias câmaras fossem acionadas de ângulos diversos, o que, evidentemente, não é o caso. Por outro lado, as manchas de sangue mostram-se, contraditoriamente, em reverso quanto à figura propriamente dita.

Não se admira, pois, que os pesquisadores modernos estejam, a esta altura, decididamente inclinados à aceitação de um fenômeno raro que alguns classificam como "parapsicológico" e outros de “paranormal’’ ou mesmo “nuclear”, Wilson deu ao capitulo final do seu fascinante livro o título sugestivo de “The Last Miracle” - “O Último Milagre”. Sem dúvida alguma, aquela imagem foi produzida por um esforço consciente de vontade do ser que ali esteve envolvido naquela peça de linho.

Processando pelo estudo acurado e pela meditação prolongada os dados que até o momento foram documentados, creio que a reconstituição seria mais ou menos assim:

O corpo do Cristo - não parece pairar mais dúvidas sobre sua autenticidade – foi removido da cruz e transportado horizontalmente, ainda pregado ao travessão (patíbulo), esgotando pelo caminho praticamente todo o sangue que lhe restara. (O Dr. Barbet ensina enfaticamente que o sangue não se coagula dentro das veias, mesmo no cadáver.) Depositaram-no no chão, provavelmente sobre a famosa pedra que lá está em Jerusalém dentro da Igreja do Santo Sepulcro. (Eu a vi em 1977.) Ali os braços foram despregados. Ante o avançado estado da rigidez cadavérica, os braços tiveram que ser forçados a tomar a posição em que aparecem, com as mãos cruzadas e apoiadas sobre o púbis, como se vê na imagem. Para mantê-los ali foi preciso atá-los com tiras. Também o queixo foi preso por uma tira e, talvez, os pés, muito embora, estes, pela posição em que foram pregados, não precisassem de ataduras para se manter unidos; a própria rigidez o faria. Há sinais evidentes das ataduras sob o queixo e nas mãos. O corpo não foi lavado, nem ungido, como prescrevia o ritual Judaico, porque não havia mais tempo. (O Dr. Barbet lembra a profecia de Isaías: "Da planta do pé até o alto da cabeça não há nele nada de são: não há senão ferimentos, sangue e chagas entumecidas que não foram ligadas, nem limpas, nem ungidas com óleo.") O tempo urgia. "Era o dia da Preparação - escreve Lucas (23:54) - e já brilhavam as luzes do Sabá", pois era costume acenderem-se as lâmpadas votivas ao cair da tarde de sexta-feira. A lei não permitia qualquer atividade no sábado, ainda mais com cadáveres. Apressadamente foram tomadas as providências mínimas possíveis, deixando-se para depois o cumprimento das exigências do ritual que começava com a lavagem do corpo e a seguir, a sua unção, antes de vesti-lo. Limitaram-se a estender o corpo sobre uma das metades do linho e dobraram a outra metade por cima da cabeça, cobrindo-o até os pés, como se vê da gravura que reproduz o quadro de Giulio Clovio. O recentíssimo desdobramento tridimensional da imagem em complexos analisadores eletrônicos parece indicar que uma pequena moeda foi colocada em cima de cada pálpebra para mantê-las cerradas. Colocaram junto do corpo grande quantidade de especiarias destinadas a preservá-lo até a manhã de domingo, quando, encerrado o Sabá, voltariam para concluir o sepultamento. Ali ficaria o corpo durante as próximas trinta e seis horas, mais ou menos, ou seja, desde a duodécima hora de sexta-feira (6 horas da tarde) até à primeira hora de domingo (6 da manhã). Nesse intervalo, porém, algo aconteceu de totalmente inesperado e extraordinário. Algo como súbita e, não obstante, controlada desintegração nuclear desmaterializou o corpo e chamuscou o pano apenas o suficiente para estampar nele, com absoluta fidelidade, a imagem do ser que ali estivera. (É este o relato de Wilson, bem como o de Wilcox.)

Com o direito que me confere a ignorância sempre atrevida dos que não sabem, mas ousam, suponho que, ao atingir o tecido, a energia que imprimiu o retrato em negativo encontrou aderidos ao pano os coágulos e, ao desmaterializá-los, reverteu-lhes a imagem, transformando-os em manchas positivas. Esse flash energético é a única maneira até agora admissível de explicar a aparência chamuscada da imagem. (Os autores de língua inglesa usam a palavra scorching).

Esse relato sucinto elimina sumariamente antigas controvérsias. Por exemplo: O corpo foi ou não foi lavado, como prescreve o rigoroso ritual judaico? Não chegou a sê-lo por falta de tempo, como vimos, e no domingo pela manhã não havia mais corpo ali para ser lavado, ungido e sepultado. Estava assim realizada a profecia de Isaías lembrada pelo Dr. Barbet. Por outro lado, o corpo não foi roubado, como sugere, entre outros, Frank Morison, no seu livro “Who Moved the Stone?” - "Quem Removeu a Pedra?", edição Faber, 1958. Quem o roubasse, certamente teria levado também o pano que o envolvia. Por outro lado, se o corpo houvesse permanecido no pano por tempo muito longo, teria destruído a imagem, mesmo que precariamente formada. É o que supõe Wilcox, que examinou pessoalmente no Louvre dezenas de mantos mortuários egípcios, nos quais, corpos humanos haviam sido depositados.

Quanto aos panos, vistos por Pedro e João, o debate é puramente acadêmico e resulta de interpretação ou tradução defeituosa das palavras de João. O que havia no túmulo eram o Sudário e as tiras que serviram para atar o queixo e as mãos e (provavelmente) os pés. Nada confirma que tenha havido também um lenço que cobrira o rosto. É certo que a imagem poderia ter atravessado o suposto lenço e Imprimir-se no tecido da mortalha, Há exemplos documentados em herbários nos quais a fiel reprodução da planta aparece não apenas na página de contato como na seguinte. Não parece, no entanto, que seja este o caso do Sudário.

***

Seria longo discorrer ainda sobre as minucias suscitadas pela segunda pergunta que formulamos, ou seja, da historicidade do Sudário. Apenas um sumaríssimo comentário, pois. E nesse ponto, o trabalho de Ian Wilson é realmente fabuloso e suas ilações nada menos do que geniais.

A primeira noticia documentada sobre o Sudário é de Robert de Clari, cavalheiro francês que participou da tomada de Constantinopla em 1204. Ele o teria visto lá.  Antes disso, o que Wilson descobriu - e isto parece perfeitamente admissível - é que há um intrincado baralhamento da história do Sudário de Turim com a lenda - hoje plenamente reconhecida como tal - do Sudário da Verônica. Seguindo as pistas históricas do suposto lenço da Verônica, conhecido sob o nome do Mandylion, Wilson levantou todo o seu percurso através da história e da geografia, a partir de Edessa, até que fosse parar, já identificado como o Sudário, em mãos de Godofredo de Charny, outro cavalheiro francês, em 1357. Esse "branco" de século e meio, entre 1204 e 1357, Wilson explicou com uma hipótese tão audaciosa quanto engenhosa (e, a meu ver, perfeitamente aceitável) de que o Sudário teria permanecido em poder dos Templários. Os integrantes dessa ordem veneravam em misteriosas e secretíssimas sessões, a figura de uma cabeça, à qual raríssimos tinham acesso em ocasiões muito especiais. Suas meticulosas pesquisas e seu exaustivo relato são convincentes.

Segundo ele; são Bernardo de Clairvaux teria sido aquele que lançou as bases do culto do Sudário, considerando-o a mais preciosa relíquia da cristandade. Bernardo como se sabe, teve profundo envolvimento com os Templários, chegando mesmo a escrever-lhes uma espécie de estatuto, pelo qual se regiam. Não se sabe, porém, se ele chegou a ver o Sudário. Se o viu, conservou o segredo.

O estudo comparado de Wilson demonstra que, pelo menos a partir do século sexto, os retratos do Cristo ainda hoje preservados foram evidentemente inspirados na imagem gravada no Sudário, senão copiadas diretamente dele. Algumas têm os olhos abertos; há, porém, um rosto pintado num pano que data ao século segundo. Está reproduzido na Enciclopédia Britânica (1963) e se encontra na sacristia da Igreja de S. Pedro, em Roma. Este rosto é, obviamente, uma cópia da imagem estampada no Sudário. Em muitos desses quadros aparecem marcas e características inconfundíveis e perfeitamente identificáveis com o rosto do Sudário. Outra coisa curiosa é que, a exceção de apenas dois ícones, a cabeça do Cristo apareça pintada em formato ‘paisagem’ e não em formato ‘retrato’.

Esses fatos confirmam que não poucos pintores tiveram acesso ao Sudário que, por ser exibido sempre dobrado, mostrava somente a face através da dimensão menor do pano. Por Isso mesmo, muita gente julgou que o pano continha apenas a reprodução da face e não de todo o corpo. Isso teria contribuído para a confusão com o chamado Sudário da Verônica.

Muito ainda se teria a dizer sobre este sugestivo problema, mas é impraticável, no espaço de um artigo, abordar as especulações de toda uma vasta literatura que existe em muitas línguas e continua a crescer.

 ***

Embora ainda não estejam desvendados todos os mistérios do Sudário, a mensagem preservada nele situa-se precisamente no centro vital de transcendentais indagações. Relembre-se a espontânea expressão do Prol. Havelacque: "Então, mon viex, o Cristo ressuscitou!" A força dessa evidência move até a fria dureza do ceticismo a da descrença.    

Paulo entendeu com toda a clareza a importância do episódio. Em sua Primeira Carta aos Coríntios ele escreveu:

- Porque se os mortos não ressuscitam, então o Cristo também não ressuscitou, E se o Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé e permaneceis presos aos vossos pecados. (I Cor. 15:16-1 7.)

O Apóstolo dos Gentios assentou, pois, o edifício da fé e a doutrina do resgate na evidência histórica hoje documentada no testemunho do Sudário - do que se convencionou chamar de ressurreição.

Que é, no entanto, ressurreição? Que é ressuscitar? Que conceito formulavam os autores desses relatos - Evangelhos e Epístolas - acerca da ressurreição?

Há aqui alguns aspectos a esclarecer.

Kardec informa em "O Evangelho segundo o Espiritismo", capitulo quarto, número 4 que:

- A reencarnação fazia parte dos dogmas dos judeus sob o nome de ressurreição. Só os saduceus, cuja crença era a de que tudo acaba com a morte, não acreditavam nisso.

E mais adiante:

- (...) a ressurreição dá ideia de voltar à vida o corpo que já está morto, o que a Ciência demonstra ser materialmente impossível.

E ainda:

- A palavra ressurreição podia assim aplicar-se a Lázaro, mas não a Elias, nem aos outros profetas.

De fato, Lázaro foi retornado ao seu corpo, que "voltou à vida", enquanto João Batista é a reencarnação (em outro corpo, portanto) do Espirito Elias.

Não é, pois, no sentido aceito pelos Judeus da época que os autores dos Evangelhos e das Epístolas empregam o termo ressurreição em relação a Jesus.

Ao formular seus dogmas, a Igreja entendeu considerar a ressurreição como recomposição ou reanimação do corpo. Curiosamente, porém, o texto básico da fé católica – o Credo – ensina que Jesus “ressurgiu dos mortos”, o que está longe de equivaler a ressuscitou, no sentido dogmático da palavra.

Buscando o termo correspondente no texto grego (Edição da "The British and Foreigh Bible Society", 1949, sob o título "Diatheke") encontro, por exemplo, em Marcos 9:9 e 10, a palavra anastre no versículo 9 e anastenai no 10, que correspondem a levantar e erguer, segundo meu modestíssimo dicionário de Bolting (Imprensa Nacional, 1941). Transcrevo o texto citado:

- "9. Quando desceram do monte ordenou-lhes que a ninguém contassem o que haviam visto até que o Filho do Homem ressuscitasse (anastre) de entre os mortos. 10. Eles observaram esta recomendação, discutindo entre si que era "ressuscitar (anastenai) de entre os mortos".
O termo latino correspondente - resuscitare traduz-se no já citado Dicionário Santos Saraiva, como despertar, reanimar. Valendo-me novamente do direito da ignorância, ouso supor, não obstante, que os verbos propostos pelo dicionário latino para traduzir a palavra estão influenciados pelo seu reiterado e bimilenar emprego como expressão para descrever a chamada ressurreição do Cristo. Isso porque a palavra suscitare - sem o prefixo tem a significação que é dada normalmente no grego, ou seja, levantar, erguer, elevar.

Se isto é assim, então, há realmente uma grande diferença entre dizer que o Cristo despertou ou reanimou-se depois de morto e afirmar que ele levantou-se ou ressurgiu dos mortos, como diz o Credo. O primeiro significado pressupõe despertamento ou reanimação (trazer de volta a alma) ao mesmo corpo sepultado, enquanto o segundo pode facilmente conter o sentido de que ele abandonou um corpo - ou desintegrou-o - para levantar-se ou ressurgir em outro.

Este último conceito com o suporte do texto grego – língua em que escreveu Marcos – é aquele que claramente adotou Paulo, ao explicar, a partir do versículo 35, capitulo 15, da Primeira Epístola aos Coríntios, "como ressuscitam os mortos".

Nesse texto distingue ele com precisão didática a existência de dois corpos, um corruptível – a que chama natural - e outro incorruptível, ao qual ele chama de corpo espiritual. Este é o que herda o Reino dos Céus e não "a carne e o sangue", diz ele.

Seja qual for, não obstante, a posição de cada um nessa problemática, tanto nos arraiais da fé como nos da descrença, o Sudário é a silenciosa e eloquente testemunha do que se passou no túmulo da família Arimatéia no angustiado silêncio daquele Sabá, entre a duodécima hora da trágica sexta-feira e o alvorecer do radioso domingo.

É uma pena que não possamos aceitar as belas palavras que Ian Wilson escolheu para marcar o fenômeno, ao intitular o seu capitulo final de "O Último Milagre". E isso, por duas razões indiscutíveis. A primeira é esta: milagre é um termo que tem sido muito abusado, no sentido de que representa uma derrogação das imutáveis leis divinas. Poderíamos aceitá-lo, porém, no seu sentido etimológico, primitivo, original que significava prodígio, maravilha, coisa prodigiosa (miraculum). Mesmo assim, não seria aquele o último “milagre” - e esta é a segunda razão - da mesma forma que não foi o primeiro, pois ele continua a produzir coisas prodigiosas de amor, sabedoria e devotamento à sua causa divina, ou seja, à causa de cada um de nós.

De minha parte, pois, se é que o leitor paciente está interessado em minha opinião, não tenho dúvida em aceitar que a imagem estampada no Sudário de Turim é a de Jesus.

Certamente o autorretrato que Jesus escreveu e gravou com a sua luz tem ainda muito a nos dizer, mas o que já disse àqueles que conseguiram entender a sua linguagem muda e eloquente basta para confirmar a colocação do problema da chamada ressurreição no centro e na base da fé que, com o Espiritismo, adquiriu foros de convicção porque passou a ser iluminada pela razão. Afinal de contas, se o Cristo não houvesse “ressurgido dos mortos”, vã seria toda a nossa fé e continuaríamos, no dizer de Paulo, presos aos nossos erros.

***

E podemos, com isso, relembrar a emocionante cena vivida no jardim, naquele doce amanhecer de domingo.

A luz do dia ainda hesitava entre as últimas brumas da noite, quando Madalena viu duas figuras vestidas de branco exatamente ali onde estivera depositado o corpo do Mestre.

- Mulher, por que choras? – perguntaram-lhe.

- Porque levaram o corpo do meu Senhor e não sei onde o puseram - respondeu ela, desolada.

E ao dizê-lo, olhou para trás e viu outra figura que no lusco-fusco da madrugada, supôs ser o jardineiro. Este também lhe perguntou:

- Mulher, por que choras? A quem procuras?

- Senhor, se tu o tiraste dize-me onde o puseste e eu o levarei.

Era uma súplica. E o "jardineiro":

 - Maria!

Ela virou-se num só impulso, para entrar na História da Humanidade como a primeira testemunha da sobrevivência do Mestre. Nem sei como imaginar a expressão do seu rosto, o impacto da sua emoção e a explosão da sua ternura. Somente conseguiu dizer uma palavra, na qual punha toda a sua indescritível felicidade:

- Raboní!

Era ele; havia cruzado e descruzado as fronteiras da morte. Tal como havia prometido. Ele pediu-lhe que não o tocasse, como ela desejava, e ordenou com doçura:

- Vai a meus irmãos e dize-lhes que vou para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus.

Ele que aceitara o título de Mestre e até de Rei ("Tu o disseste!"), punha-se agora como irmão.


Um dia, à luz radiosa de um domingo primaveril, estarão expulsas de nós as últimas sombras, e, tal como nosso Irmão Maior, também nos ergueremos da tumba em corpos de luz...

Hermínio C. Miranda do livro:
 As Duas Faces da Vida. 

Nota: Artigo publicado originalmente em duas partes na
Revista Reformador de Mar. 1979 e Abr. 1979 - FEB, posteriormente incluído no livro:
As Duas Faces da Vida.

Curta nossa página no Facebook:

Declaração de Origem

- As mensagens, textos, fotos e vídeos estão todos disponíveis na internet.
- As postagens dão indicação de origem e autoria. 
- As imagens contidas no site são apenas ilustrativas e não fazem parte das mensagens e dos livros. 
- As frases de personalidades incluídas em alguns textos não fazem parte das publicações, são apenas ilustrativas e incluídas por fazer parte do contexto da mensagem.
- As palavras mais difíceis ou nomes em cor azul em meio ao texto, quando acessados, abrem janela com o seu significado ou breve biografia da pessoa.
- Toda atividade do blog é gratuita e sem fins lucrativos. 
- Se você gostou da mensagem e tem possibilidade, adquira o livro ou presenteie alguém, muitas obras beneficentes são mantidas com estes livros.

- Para seguirmos corretamente o espiritismo, devemos submeter todas as mensagens mediúnicas ao crivo duplo de Kardec, sendo eles,  a razão e a universalidade.

- Cisão para estudo de acordo com o Art. 46 da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98 LDA - Lei nº 9.610 de 19 de Fevereiro de 1998.
- Dúvidas e contatos enviar e-mail para: regeneracaodobem@gmail.com 


Acima foto das publicações originais na Revista Reformador e abaixo, o livro onde foram incluídas.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário, sugestão, etc...