Esperança e conforto
Joanna de Ângelis
Sofres, porque se sucedem os dias da tua existência física sem que alcances o patamar da plenitude que almejaste por todo o tempo.
Estabeleceste que assim se daria com a posse e a conquista de recursos variados que apaziguassem as ânsias da mente ambiciosa, bem como as necessidades do sentimento, por meio do coração.
Examinas as conquistas de que dispões e a melancolia, defluente do quase vazio existencial, apresenta-se na condição de indumentária asfixiante das emoções.
Não te podes apartar da tristeza, que sempre te acompanha os passos e balbucia melancólicas mensagens ao teu sentimento.
As pequenas alegrias decorrentes das expectativas tisnam a limpidez do teu sorriso e lágrimas aljofram nas comportas dos olhos, como pequenos fios líquidos de dor, que não cessam de escorrer.
Gostarias, sim, de amar e de ser amado.
Vês o mundo risonho, os parceiros joviais e encantadores, uns em alacridade incomum, outros em festivais de emoções e alguns tristes, distanciados do fenômeno da ilusão, muitos amargurados e cheios de tormentos.
Existe a ebriez do sentimento e a das paixões, mescladas com tormentos que desconheces.
É necessário discernimento para compreender as ocorrências humanas e, por melhor que seja, não logra alcançar a profundeza da realidade. Cada ser é especial, com experiência muito pessoal, diversa de todas as demais existentes, embora a aparência que venha a existir.
Inicialmente, porque nem tudo que se deseja na Terra se consegue alcançar, conforme as aspirações mantidas. Tem-se o que é necessário, mas nunca falta a ambição pelo excesso, especialmente quando não é aplicado em favor do Bem.
Há, também, imensa mole humana que padece escassez de tal natureza, que morrem, muitos de fome e abandono.
Também existem aqueles que se deixam arrastar pelos acontecimentos, como se deles não participassem.
Reflexiona, em tua solidão, que as estradas libertadoras, as que conduzem ao paraíso - as da Úmbria e do Calvário -, somente podem ser percorridas com êxito em solidão. Aqueles que tiveram a coragem de seguir os que as iniciaram, entregaram-se à renúncia e à soledade, não olhando para trás, nem se permitindo os sonhos defluentes das aspirações infantis e dos ricos de ilusórios.
O roteiro solitário é feito sobre espinhos e abrolhos, que a imaginação transforma em pétalas de rosas e tapetes macios.
Anelavas por companhia amorosa e sonhas com sorrisos de júbilos a ti dirigidos.
Mantém a esperança e aguarda, porque tudo é efêmero no mundo, incluindo o corpo, e nada pertence a ninguém, inclusive a roupagem carnal que usa.
Sorri para as dificuldades que te ferem, trabalhando em favor do teu amanhã risonho.
*
Sim, é provação que carpes, que solicitaste antes do renascimento atual, a fim de dares conta das atividades que deverias abraçar durante a jornada terrestre.
Há muita diversão na Terra, atraente e perturbadora.
Fascinam as cenas do prazer e encantam as paisagens do delírio.
Redescobre a beleza imortal, a realidade legítima que constituem patrimônio da vida.
Mergulha a tua decepção nas águas correntes da esperança de que amando, mesmo sem receberes resposta, enriquecerás as emoções com beleza e cor.
O que a vida te nega hoje é provável que te doe amanhã. Tudo pode acontecer, caso não desistas de perseverar, de agir corretamente.
Continua amável e afetuoso, especialmente em relação a outros infelizes que ignoram a tua aflição e até mesmo te invejam a jornada, que supõem recoberta de facilidades e sorrisos.
Quanto consigas em resistência moral, sorri, escondendo a tua melancolia e solidão nas divinas asas da prece que elevarás a Deus.
Se não possuis o que queres, agradece o que está ao teu alcance.
Milhões de criaturas gostariam de estar em teu lugar, que trocarias pelo que alguns deles são possuidores.
Assim, valoriza a tua dor, abençoando os outros com bondade e ternura, sem que reveles as angústias que te assaltam.
Podes fazer ditosos outros que se escondem nos conflitos, que te invejam porque desconhecem o ferro em brasa que te queima e requeima as aspirações e as emoções.
Caso conseguisses o que almejas, por certo te faltariam outros recursos que te dão beleza e sabedoria.
Vive, pois, os teus dias com paciência e sem expectativas humanas.
Deixa que a paz e o consolo de Jesus te penetrem o coração e aí repousem, contribuindo para a tua tranquilidade.
Descansa da ilusão que decepciona e aceita os acontecimentos que te maceram como sendo respostas de Deus às tuas solicitações.
*
Estrada acima está o Calvário.
Sê firme e confiante.
Acostumado à dor, tua libertação será gloriosa e plena, porque Jesus te receberá diluindo todo o sofrimento que vens vivenciando.
Alegra-te, portanto, com o teu testemunho silencioso de amor, e cresce no rumo da tua real felicidade.
Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica da noite de 12 de outubro de 2016, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.
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