quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Nunca a sós

Nunca a Sós

Joanna de Ângelis





Não te creias em abandono, por mais rude te pareça a solidão e por mais doridas as provas que hoje te dilaceram...

Ninguém que expunja em regime de esquecimento.

Na tua soledade, onde as noites te parecem mais cruas e as provações mais exigentes, alguém participa da tua angústia acompanhando as penas que te convidam a reflexões profundas e diferentes. 

Gostarias de privar, novamente, das primaveras abençoadas e ridentes em que os júbilos se te agasalhassem no coração, falando-te de sorrisos e de novas ilusões, já que supões encontrar nas quimeras o presente ditoso da vida. 

Acompanhas com a alma em mágoa o sorriso que transita pelos lábios do mundo e sentes no imo o travo de inquietude e desesperação. 

Desejarias, como eles, volver ao túmulo das horas vazias... 

Percebes que te falam de alegrias que já não podes fruir. 

Tens a impressão de que a liberdade que experimentam constitui o verdadeiro licor da vida. 

No entanto, para, medita, modifica o conceito. 

Eles não são ditosos quanto gostariam. 

Na Terra todos nos encontramos em regime de recuperação, em ministério reeducativo. 

Nosso Planeta não é, por enquanto, o decantado Éden, tampouco o refúgio exclusivo da amargura. 

Dor é prova. 

Sofrimento é desafio. 

Solidão é bênção. 

Os que ora se encontram com aparência de felicidade volverão... 

Os que transitam em dor se recuperam e retornarão... 

Todos marchamos para a liberdade.

Não te detenhas na lamentação. 

Não os invejes, a esses equivocados sorridentes, àqueles ansiosos que ignoram o amor em profundidade ou aos que vagueiam na busca do nada. 

São crianças espirituais. 

Ama, confia desde hoje e espera mais. 

Quem O visse em extremo abandono, dilacerado, esquecido, os braços rasgados em duas traves toscas, o coração lancetado, o olhar baço pelas lágrimas de sangue, e a coroa de espinhos infectos na cabeça sublime, não diria que Ele era o Governador da Terra e que, por amor, trocara as estrelas rutilantes pelas sombras do mundo, a fim de tornar-se para os tristes e confiantes, os sofridos e amantes uma via-láctea de redenção, pelos rumos do Infinito. 

Confia n'Ele, alma sofrida, e não sofras mais, não te desesperes, nem te creias a sós.


Joanna de Ângelis por Divaldo Franco do livro: 
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