terça-feira, 20 de outubro de 2020

Repartir para ser feliz

Repartir para ser feliz

Ignotus



Concluída a conferência que versara sobre a felicidade, o cavalheiro distinto acercou-se do palestrante e sem mais delongas, interrogou:

- O senhor crê, realmente, no que acaba de dizer?

- Sim. Integralmente.

- Concebe, possível, a felicidade?

- É claro que sim.

- Pois eu não acredito nela. Imagine que eu possuo haveres de alta monta, depósitos e títulos bancários expressivos, fábricas e bens, no entanto, o câncer, que me devora por dentro, apagou-me a luz da felicidade que eu supunha possuir. Fez uma pausa e prosseguiu:

- Sempre fui patrão justo e bom, esposo cumpridor dos deveres, amigo leal, todavia... Cofiou os bigodes bem cuidados e arrematou:

- Hoje duvido de Deus, da divina justiça, da alma... Por que sou tão infeliz?

- A questão, meu amigo, está colocada em termos errados.

- Felicidade não é posse externa, porém um estado interior perante a vida. Malgrado suas posses, a sua aparente bondade, o senhor procede de um pretérito espiritual que lhe cobra, no corpo, os erros morais contraídos contra ele. Não obstante, é rico. Pior seria se o câncer que o vitima não pudesse, por falta de recursos de sua parte, receber o conveniente tratamento. 

- Extraí o estômago, e apesar de possuir tudo o que o dinheiro pode comprar, perdi a saúde, marchando inexoravelmente para a morte.

Morrer – retrucou o pregador espírita – é ocorrência natural de todos que estamos no corpo avançamo-nos para desencarnação, que nos alcançará, sem execução. Imprescindível encarar a morte como fenômeno da vida, tendo em mente, porém, que a vida, começa, realmente após a morte... 

O elegante cidadão sorriu, depois gargalhou.

- O senhor acredita nisso? – Inquiriu, zombeteiro.

- É evidente.

- Vejamos: Em minhas indústrias ergui uma cooperativa para servir aos meus empregados, uma creche para os filhos dos meus empregados, um restaurante para os meus empregados, uma escola para os filhos dos meus empregados... Sendo um homem generoso, por que sofro?

- O senhor deseja uma resposta sincera ou prefere que eu concorde conforme está acostumado?

- É claro que desejo a verdade!

- Sem dúvida, o senhor é um excelente investidor, ambicioso, porquanto a sua cooperativa, não obstante servindo aos seus operários, dar-lhe lucro, mínimo que seja; a creche, que atende aos filhos dos seus trabalhadores, é um investimento, desde que o servidor, que tem filhos menores resguardados, produz mais e o senhor ganha mais; o operário que se alimenta bem realiza mais e o senhor tem maior soma de lucro; o pai, cujos filhos estão em educandário, em calma atua mais e os resultados são a sua prosperidade...

 -Como, então, eu poderia ser bom?

- Para ser-lhe franco, bom, no sentido integral, não lhe será possível lograr, conforme Jesus acentuou num diálogo mantido com o jovem rico, que o chamará bom. “A ninguém chameis bom, senão ao Pai Celestial”. Disse-lhe o Senhor.

- A fim de conseguir ser generoso e justo, parece-me que a melhor maneira seria repartir a fortuna que tem, com os operários e trabalhadores, tornando-os sócios de seu patrimônio...

- Está louco?! Isso seria...

- Seria generosidade. Temos o que dividimos e possuímos o bem que realizamos. De qualquer forma o senhor terá que deixar tudo, hoje ou amanhã, para este ou aquele, porquanto os bens materiais transitam, mudam de mão...

- E a minha saúde?

- Quiçá não retorne, mas a felicidade enriquecê-lo-á com certeza.

O cavalheiro resmungou, cismou, sorriu, pediu licença e saiu meneando a cabeça, decepcionado. Dois anos depois, no mesmo recinto, após a conferência, no momento das saudações fraternas, o homem rico aproximou-se do orador e o interrogou:

- Recorda-se de mim? 

Após alguma reflexão, repostou o opositor:

- Sim, recordo-me. Conversamos aqui mesmo, há algum tempo...

- Gostaria de convidá-lo a visitar uma das minhas fábricas.

- Rogo-lhe escusas, todavia, não posso. Compromissos doutrinários...

- Eu insisto...

- Não posso!

- Por favor!

- Examinaremos uma possibilidade. 

Posteriormente, um dia e hora determinadas, em automóvel de luxo foram visitar a fábrica. 

Ao portão de entrada uma comissão de senhoras obsequiou o convidado com um ramalhete de rosas. Na sala da gerência, após abrir a persiana de ampla janela, referiu-se o milionário: 

- Ali estão minha creche, meu restaurante, minha cooperativa, minha escola, o novo hospital que acabo de edificar...

Depois de breve pausa: 

- Atendi seu conselho. No fim do ano atrasado reparti expressiva soma das minhas ações e os lucros eu reverti em interesse dos meus empregados. Agora todos são meus sócios. 

Na sala referta pelos chefes de departamentos, funcionários, alguns operários, os sorrisos eram gerais.

- Fiz bem?

- Claro que sim. Apenas uma retificação: O conselho não me pertence e sim ao Cristo.

- Está bem. Diga-me lá: sou um homem generoso?

- Deseja que eu lhe responda com a verdade ou que concorde??

Sorrindo, redarguiu: 

- Com a verdade.

- Bem, o senhor continua excelente investidor, desde que, após o triunfo na Terra, agora investe no futuro espiritual, aliás, realizando a sua melhor proeza. 

Havia alegria espontânea em todos.

Saíram. Anoitecia. Uma criança aproximou-se e entregou ao senhor da indústria modesta flor do campo. Ele se comoveu. 

- Sou hoje um homem feliz. No meu egoísmo de antes nunca permitira que qualquer criança se acercasse de mim. Não tenho filhos; não fruí essa honra... Após a decisão de repartir as ações com meus operários, certo dia saí da fábrica, quando uma criança como esta se acercou de mim e disse-me:

- Deixe-me abraçá-lo titio. Quis recusar. Era filha de alguém dos meus serventes. Algo fazia-me fugir, então, de todas as crianças.

Sem o saber ela prosseguiu:

- Lá em casa antigamente mamãe falava muito de você, agora não...

- Ela disse que hoje é o dia do seu aniversário e todos, pela manhã oramos pelo senhor. 

- Fiquei petrificado. A criança atirou-se às minhas pernas e abraçou-as. Abaixei-me. Beijou-me. Renasci. Chorei como há muito não me ocorria. Encontrei a felicidade desde então.
Comecei a estudar o espiritismo. Melhorei intimamente, a saúde está quase equilibrada. Tenho paz. 

- Não poderia deixar, portanto, de dizer-lhe: Muito obrigado!

No zimbório da noite coruscavam estrelas.

- Oremos a Jesus meu amigo, a ele agradecendo a felicidade de O conhecer e O amar.

Ignotus por Divaldo Franco do livro:
Espelho Dalma

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