sábado, 16 de janeiro de 2021

De como os Estados Unidos continuaram unidos

De como os Estados Unidos continuaram unidos

Hermínio C. Miranda



Lincoln com a família

Sabe-se hoje, positivamente, que o grande Presidente Abraham Lincoln, dos Estados Unidos, recorreu com certa frequência aos conselhos de seus amigos espirituais, especialmente, pela mediunidade de Nettie Colburn Maynard, que narra ela própria, como as coisas aconteceram (1). 

Segundo esse depoimento, não há dúvida de que as sessões realizadas na Casa Branca e em outros locais, exerceram decisiva influência em eventos do maior relevo na história dos Estados Unidos.

Significativamente, um dos capítulos do livro chama-se WE MAKE HISTORY, isto é, FAZEMOS HISTÓRIA, precisamente o que relata um dos mais importantes episódios daquele conturbado período de definições da nacionalidade americana.

A desgastante guerra da secessão arrastava-se penosamente, com pesadas perdas de vidas e as tropas do governo, que combatiam pela preservação dos ideais de unidade e liberdade do Presidente Lincoln, já se mostravam pouco dispostas a continuar a luta. Tudo indicava que o país acabaria mesmo dividido, pois os sulistas lutavam pela separação, como indica o nome que foi atribuído àquela guerra civil. (Secessão significa separar o que estava unido).

Os espíritos fizeram um diagnóstico objetivo e nada otimista, pois a situação era, de fato, muito precária, ao assumir o General Hooker o comando das operações.

- O exército está completamente desmoralizado - disse o Espírito incorporado em Nettie - os regimentos estão ensarilhando as armas, recusando-se a obedecer às ordens ou cumprir o dever. Ameaçam uma retirada geral, com declarado propósito de voltarem para Washington.

Lincoln, que ouvia atentamente, concordou com o diagnóstico e comentou:

- Você parece bem informado da situação. Poderia indicar o remédio? 

- Sim - disse o Espírito, firme - se você tiver a coragem de usá-lo. 

Lincoln sorriu e comentou com simplicidade:
- Experimente-me.

O Espírito indicou a única solução ainda possível, a seu ver: o Presidente deveria ir imediatamente ao front, visitar os soldados. Não como figura distante, com todo o aparato do cargo, cercado de ministros e generais, apenas para passar revista às tropas, mas com o mínimo possível de gente, levando sua família. Deveria caminhar entre os soldados, conversar com eles, saber de suas queixas e dificuldades.

- Mostre-se tal qual é: "O Pai de seu Povo". Faça-os sentirem que você está interessado em seus sofrimentos e que você não é indiferente às dificuldades que eles enfrentam na marcha através dos pantanais, onde, tanto em coragem como em número, eles têm sido desfalcados.

A providência era tão urgente, no entender do Espírito, que Lincoln deveria mandar anunciar imediatamente sua decisão de ir, enquanto preparava a viagem, que demoraria alguns dias.

Ao cabo de uma longa exposição, o Presidente disse uma só frase:

- Isso será feito.

A conversa continuou, porém, abordando outros aspectos.

O Presidente e o Espírito manifestado em Nettie discutiram assuntos de relevo que somente aos dois interessava e, naturalmente, à nação americana que ensaiava seus primeiros passos como a grande potência mundial que seria dentro de algum tempo.

Lincoln fez a viagem sugerida pelo seu amigo espiritual e a sorte da guerra mudou prontamente porque, agora sim, os soldados que lutavam pelos seus ideais estavam motivados. Com muitos deles o Presidente falara pessoalmente. Deixara de ser o vago e desconhecido figurão político que, de Washington, mandava ordens. 

Assim, graças a uma sessão mediúnica, os Estados Unidos continuaram unidos. Sem Nettie Colburn Maynard provavelmente teríamos hoje dois países ali, em lugar de um só.

E mais: foi também em atenção a uma mensagem mediúnica de seus amigos espirituais que o Presidente resolveu promulgar a famosa Proclamação da Emancipação que acabava com a escravatura no país, contrariando interesses mesquinhos de muitos, mas promovendo os interesses da lei divina na terra. Dizem mesmo que até na redação final desse documento histórico colaboraram pessoalmente os espíritos. Lincoln empenhou praticamente sua vida nessa lei. Era uma das suas mais importantes tarefas, depois de manter a unidade política, geográfica e social da grande nação que lhe fora confiada pelo voto popular.

Parece, aliás, que o mundo espiritual tinha planos importantes acerca dos Estados Unidos, pois foi ali, em Hydesville, em 1847, que se deslanchou como que "oficialmente" a fenomenologia mediúnica moderna, servindo de médiuns as meninas da família Fox.

Pelo menos sob o governo de Lincoln, portanto, importantíssimas decisões foram tomadas depois de sugeridas ou discutidas com seus amigos desencarnados. Até a morte do Presidente lhe foi revelada num sonho. Sonhou ele, certa noite, que pesava sobre a Casa Branca uma atmosfera de tristeza e luto. Procurando saber o que se passava, chegou a um dos salões, onde estava exposto um caixão de defunto guardado por vários soldados. O Presidente, em sonho, aproximou-se de um deles e perguntou:

- Quem é o morto?

- É o Presidente - disse-lhe o soldado. Foi assassinado.

Era o recado vindo através do mecanismo do sonho, para que ele estivesse de sobreaviso, não para impedir que a tragédia se consumasse, mas para que seu destino se cumprisse, como se cumpriu.

Dentre as muitas "coincidências" entre episódios da vida de Lincoln e a de John F. Kennedy, podemos acrescentar mais esse - a do aviso da morte súbita. No caso de Kennedy o veículo foi a Sra. Jane Dixon, que com bastante antecedência foi informada mediunicamente da tragédia de Dallas, que ela via como uma nuvem negra como que pousada sobre a Casa Branca.

Por intermédio de amigos comuns, ela tentou avisar ao Presidente Kennedy, mas, tal como no caso de Lincoln, bem como no de Júlio César, havia uma fatalidade a ser cumprida.

Hermínio C. Miranda
Do livro: O que é fenômeno mediúnico?

Bibliografia
(1) Nettie Colburn Maynard - Was Abraham Lincoln a Espiritualist?, Ed. Spiritualist Press, Londres, 1970. 
(Traduzido para o português como:  - Sessões mediúnicas na Casa Branca, ed. O Clarim).

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