Como conseguir a felicidade
Joanna de Ângelis
No momento quando se materializa a felicidade, isto é, quando se a considera como resultado de posses econômicas, de poder social, político, religioso, artístico, científico ou cultural, ela se faz frustrante, em decorrência das oscilações que existem nos relacionamentos humanos e das circunstâncias existenciais que se alteram a cada momento.
O conceito de uma felicidade estática é equívoco do sentimento, porquanto o processo da evolução é inestancável e as variações do amadurecimento psicológico são contínuas, em face das experiências que são armazenadas no trânsito existencial.
Em cada faixa biológica da vida física, em decorrência do desenvolvimento orgânico e intelectual, os conceitos alteram-se, e tudo quanto, em uma fase, é significativo e relevante, portador de grande expressão, logo depois cede lugar a novas aspirações e a conceitos mais profundos. Assim ocorre também em relação à felicidade, que, de acordo com a faixa etária e as conquistas morais, espirituais do ser humano, passa a adquirir significado diferente.
Quando se é jovem, as metas por alcançar, parecem constituir-se como essenciais à aquisição da felicidade.
Nada obstante, logo que são logradas, perdem a empatia de que se revestiam antes de conseguidas.
Por isso, a felicidade é um sentimento que deve ser trabalhado em padrões de harmonia emocional, de complementação sexual, de realização profissional, de vitória sobre os conflitos, de interiorização espiritual, a fim de saber-se o que realmente tem sentido, em relação àquilo que é de natureza secundária, e momentaneamente desfruta de especial significação.
O místico alcança a felicidade no momento do seu êxtase; os genitores, quando os filhos logram a realização social e profissional; o cientista, quando consegue entender e decifrar o enigma da sua busca; o artista, no instante em que a obra é reconhecida ou tem-na como concluída e perfeita, e assim, sucessivamente...
A felicidade do agricultor apresenta-se quando o mesmo contempla a plantação enriquecida de flores, frutos, sementes, abrindo-se à colheita.
O indivíduo, de acordo com os objetivos que estabelece para a existência, empenhando-se em nunca desistir dos seus sonhos - claro que dos ideais de enobrecimento - consegue permanecer fiel, mesmo quando não compreendido, perseguido ou desprezado, experiência a felicidade durante todo o período em que se demora devotado na luta pela sua realização.
Nem sempre, portanto, a felicidade estará presente apenas no término, quando se logra o objetivo anelado, mas essencialmente durante todo o transcurso da sua realização.
A felicidade é conseguida quando cada qual se torna administrador da própria existência, podendo estabelecer os métodos de conduta saudável e segui-los, edificando-se e realizando outras vidas.
Há fatores sociológicos, econômicos, políticos, que contribuem em favor da aquisição da felicidade individual e coletiva.
Nos pequenos e prósperos burgos onde o estresse não aflige, porque se dispõe de tempo para todas as realizações, inclusive para os divertimentos renovadores, onde as competições cedem lugar à cooperação, diante de regime democrático, no qual todos são convidados a participar da administração e das decisões locais, certamente os fatores propiciatórios à felicidade são muito maiores do que nas urbes desgastantes, onde todos são desconhecidos e inimigos fraternos, indiferentes uns aos outros, ambiciosos e agressivos.
Nos reduzidos núcleos de atividade, há interesse pela vida do próximo, participação nas suas realizações e solidariedade nos seus sofrimentos, enquanto que, nas grandes populações tudo é automático, os encontros são rápidos e superficiais, as amizades quase inexistem, porque parece haver uma necessidade emocional de todos estarem vigilantes em relação pessoal com os demais.
De certo modo, a postura de vigilância é saudável, ante as tragédias do quotidiano, as ocorrências desastrosas, os relacionamentos perturbadores, no entanto, essa cautela não deve ser levada a extremos geradores de inquietação e de estresse. Quando cada membro da sociedade procura adaptar-se ao sistema, melhorando-o com a sua contribuição e ampliando o círculo de amizade sincera, modificam-se os quadros de ocorrências negativas, favorecendo o bem-estar possível.
Quando a pessoa sente-se desamparada, ignorada, sem possibilidade de encontrar entendimento, logo se apresentam os componentes da inquietação e da revolta íntima, quando não resvala para a depressão. Torna-se necessário que se expandam o sentimento de solidariedade e o contributo da amizade para que o grupo social seja mais ativo em relação aos seus membros, buscando ampará-los em um tipo de amplexo espiritual que dê ideia e seja realmente de segurança e de proteção.
Quando a solidariedade é cultivada, proporciona ampliação da capacidade de conviver com as diferentes condutas sem prejuízo para a harmonia do grupo. Compreendendo-se, que cada indivíduo traz conflitos graves, expressos ou disfarçados, à semelhança daqueles que são do seu Self, essa sombra se dilui, cedendo lugar à claridade da alegria de viver e da esperança de ser-se feliz.
A ausência de controle sobre o próprio destino, a incerteza em torno do futuro, a insegurança no comportamento constituem processos geradores de infelicidade, conhecimento da impossibilidade de conseguir-se realizações prazenteiras, objetivos libertadores.
A mente, sempre ela, é convidada ao equilíbrio, à fixação de pensamentos edificantes, reservando-se a irrestrita confiança em Deus, o Pai afável de todas as criaturas...
Uma conduta, portanto, religiosa, destituída de qualquer tipo de fanatismo e de exclusivismo, é fator de segurança para o encontro com a felicidade, mesmo que sob injunções difíceis que se tornam suportadas com resignação dinâmica e coragem para superá-las.
Nunca será demais repetir-se que o espírito elabora o seu destino, sendo o semeador e o colhedor de tudo quanto realize.
No âmago do ser, encontra-se em germe o tesouro que lhe cabe conquistar, impresso nos genes, exteriorizando-se nos neurotransmissores, expressando-se no comportamento psicológico ou na organização fisiológica.
Alterar esse destino a cada momento faz-se possível, em razão da neurogênese, que ora assevera que os neurônios se renovam, nascem em todas as épocas da existência e cuja função pode ser orientada pela mente.
O hábito salutar da meditação e da oração, de caminhadas e exercícios que liberam toxinas cerebrais e renovam a oxigenação do encéfalo, predispõe às realizações enobrecedoras, mediante o esforço físico bem direcionado, propiciando felicidade.
Uma vida ativa, assinalada pela produção equilibrada de serviços, produz pensamentos favoráveis ao bem-estar, por expressar autorrealização, utilidade existencial.
Herdeiro de conceitos equivocados sobre o destino na Terra, tida, por muito tempo, como vale de lágrimas, lugar de degredo, paraíso perdido, o ser humano criou arquétipos de infelicidade para ser feliz, num comportamento masoquista e doentio, sem nenhum sentido ético.
A Terra é escola de renovação espiritual e de dignificação moral, onde todos aprendemos a descobrir os valores adormecidos no íntimo, o Deus em nós, o Arquétipo primordial.
As preocupações desordenadas com a aparência como fator de autorrealização vêm desviando as pessoas da sua realidade, da beleza interior que se reflete no exterior, assim como as exigências descabidas dos padrões de beleza estimulando o surgimento da anorexia e da bulimia de efeitos devastadores na conduta psicológica, respondem por atitudes infelizes que não se justificam racionalmente. Esses pacientes, sem dúvida, encontram-se dominados por conflitos de inferioridade, procurando realizações externas ante a autodesconsideração em que se firmam, realizando projeções do que gostariam de ser ou de como estar, impondo-se aflições punitivas.
A felicidade, porém, apresenta-se com simplicidade, destituída de atavios e complexidades que somente a enfeitariam sem produzi-la em realidade, qual mecanismo de fuga em relação à sua conquista verdadeira.
Assim, é possível desfrutar-se de felicidade em qualquer situação, desde que não se estabeleça que terá de permanecer duradoura, incessante, sem desafios emocionais e físicos, de trabalho e de renovação interior, tornando-a monótona e tediosa.
Afinal, a vida física é de efêmera duração, sendo uma escolaridade para ser alcançada a plenitude espiritual em definitivo após o trânsito carnal.
Joanna de Ângelis por Divaldo Franco do livro:
Encontro com a paz e a saúde.
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