Atendimento fraterno
Manoel Philomeno de Miranda
Quando alguém se propõe a auxiliar o seu próximo, colocando-se à disposição para o atendimento fraterno, desenvolvem-se-lhe os sentimentos de elevação moral e espiritual, possibilitando-lhe a bênção da sintonia com o mundo transcendente superior.
Entidades nobres, encarregadas de contribuir em favor do progresso da sociedade, acercam-se-lhe e passam a inspirá-lo e protegê-lo com mais assiduidade, a fim de que sempre se encontre em condições seguras para o mister.
Quando se aprende a ouvir com serenidade, especialmente as queixas e reclamações, os brados de desespero e os profundos silêncios da angústia, ou simplesmente permitir que haja uma catarse de quem sofre, interessado em socorrer bondosamente, nunca lhe faltam os valiosos recursos do auxílio dos mentores, que vão além das palavras consoladoras e calmantes, como também por meio dos processos fluidoterápicos valiosos.
Os grandes problemas e desafios humanos encontram-se ínsitos na própria criatura, desestruturada para os enfrentamentos, no debate de inúmeros conflitos não resolvidos e procedentes do passado espiritual, que se transformam em terríveis algozes, acicatando o cerne da alma e aturdindo a mente, colocando fantasmas aparvalhantes onde existem somente frustrações e insegurança.
Quaisquer pequenas ocorrências desagradáveis são transformadas em tremendos sofrimentos, que aumentam na razão direta em que a falta de equilíbrio e maturidade para resolvê-los induz à autocompaixão, à revolta, à insanidade.
Todos os males que aturdem o ser humano procedem do seu íntimo e somente na sua raiz devem e podem ser solucionados.
Por essa razão, cada Espírito é o somatório das suas experiências evolutivas por meio do curso das reencarnações.
A ignorância desse mecanismo sublime permite ao indivíduo manter-se em deplorável situação existencial, o que lhe proporciona a instalação de conflitos e tormentos desnecessários à evolução, mas que são o inevitável efeito dos comportamentos insanos.
A consciência exige a reparação de todo e qualquer atentado às Leis Cósmicas de harmonia, e, por essa razão, mantém, no períspirito, os arquivos de todas as ocorrências existenciais.
Oportunamente, tudo aquilo que lhe constitui culpa, leviandade, violência, extravagância na conduta, agressão à vida sob qualquer aspecto, emerge, a fim de que se lhe permita a elevação ao nível mais significativo, portanto, à capacidade de registros mais profundos e menos grosseiros, defluentes da animalidade por onde transitou no passado.
É comum, portanto, que as aflições emocionais prolongadas terminem em mecanismos de somatização, o que dá surgimento a enfermidades orgânicas muito complexas, ao mesmo tempo que enseja contaminações de vírus, bactérias e outros micro-organismos danosos à saúde.
Tendo-se em vista a necessidade da reparação dos erros pretéritos e próximos, ocorrem, inevitavelmente, as interferências espirituais negativas que mais agravam a problemática afligente.
Noutras vezes, e não em número inexpressivo, toda ocorrência de sofrimentos tem origem na presença e imantação fluídica de adversários espirituais do ontem, que não conseguiram superar os ressentimentos e optam pela infeliz cobrança, como se fossem transformados nos braços da divina justiça, iniciando as sutis ou abruptas obsessões de efeitos danosos e de complexidade terapêutica muito grande, por depender essencialmente do enfermo.
Em quaisquer casos, no entanto, a compreensão do atendente fraterno torna-se essencial.
A não pressa em dialogar, os cuidados com as colocações propostas, o evitar sempre diagnósticos depressivos ou informações alarmantes sobre perseguições de ordem espiritual, que os necessitados ignoram, são essenciais, a fim de não lhes produzir mais danos que benefícios.
A discrição do ouvinte, na condição de cooperador espiritual, torna-se relevante, sem expor a outrem, sem comentar as experiências dolorosas do seu próximo, enquanto mantém cuidados no diálogo esclarecedor à luz da meridiana sabedoria do Espiritismo.
Jamais sugerir terapias fora daquelas recomendadas pela Doutrina Espírita, seja orientar a busca de profissionais na área da saúde, seja propor superstições em voga ou aquelas que são heranças do passado, assinalando o atendimento pela serenidade, compreensão e gentileza, não devendo, tampouco, prolongar por muito tempo a conversação psicoterapêutica, para evitar criar dependências emocionais e afetivas com o cliente.
De bom alvitre manter-se o cuidado de não receber o mesmo enfermo continuamente, cuidando antes, após instrumentalizá-lo para os esforços pessoais que devem ser aplicados na busca da saúde, de encaminhá-lo às reuniões doutrinárias, bem como de receber os auxílios fluídicos.
Cuidar de não prometer curas e soluções mirabolantes, porque cada caso é especial, sua estruturação no Espírito tem uma longa história de difícil compreensão num rápido lance, nem encorajar ilusões difíceis de se tornarem realidade.
O atendimento fraterno não substitui o confessionário das antigas religiões nem deve permitir que o entrevistado revele segredos de que se arrependerá, para que o ouvinte não se transforme num cofre de revelações dispensáveis para o mister.
Algumas pessoas têm falsa necessidade de narrar aos dramas interiores, envolvendo os membros da família, especialmente os parceiros ou afetos, como responsáveis pelo que lhes ocorre, e isso acarreta problemas mais sérios, por causa do comportamento intencional de usar os conselhos como arma contra aqueles que supõem serem os seus algozes.
Os dramas existenciais de heranças, de infidelidade conjugal, de rebeldia de amigos e familiares devem sempre ser ouvidos com silêncio, desviando o tema para as consolações que a Doutrina propõe, assim como para o estudo de O livro dos espíritos, de Allan Kardec, a fim de fazê-las entender as razões das ocorrências que assinalam.
Trata-se, portanto, o atendimento fraterno, de um valioso e grave compromisso que se constitui num importante desafio a que a pessoa se submete.
Nele encontra-se também a mensagem da caridade no aspecto delicado da assistência moral e espiritual, sempre dignificando aquele que chega atormentado e carente de afetividade, não se permitindo, porém, arrebatamentos e emoções que possam transformar-se em sentimentos de paixões subalternas ou de excessiva compaixão.
Quando o atendente está consciente dos fatores que respondem pelas provações, esclarecido pelo conhecimento da reencarnação em nome da Divina Justiça, não perde a serenidade diante dos mais escabrosos acontecimentos, não se choca com narrações exageradas ou graves, a fim de que a sua palavra e a sua emoção sob controle possam sustentar o combalido, em vez de desviar-se do essencial para os comentários paralelos sem significado.
Nunca dizer de improviso que o problema é resultado de obsessões espirituais nem fazer narrações aterradoras, ou que se trata de mediunidade não cuidada, por falta da prática da caridade, já derrapando em julgamentos que não têm cabimento.
Fortalecer o ânimo do visitante com jovialidade e ternura, ao mesmo tempo que lhe demonstre a necessidade de responsabilizar-se pelas ocorrências e conseguir superá-las com paciência, com mudança das paisagens mentais e com a consequente alteração do comportamento moral para melhor.
O atendimento fraterno objetiva diluir informações equivocadas que o paciente traz sobre o Espiritismo, retirar-lhe a ideia mágica ou sobrenatural, deter-se no problema central, sem desvios narrativos inecessários, com demonstração de solidariedade, mas sem parecer que, a partir daquele momento, tudo se modificará ou pretender assumir o compromisso de passar a carregar-lhe a problemática.
Jesus, o exemplo máximo de atendimento fraternal aos infelizes, na sua superioridade moral, evitava os diálogos longos e as interrogações secundárias, sendo direto no exame da questão, quando perguntava aos que O buscavam: Que queres que eu te faça? ou Tu crês que eu te posso curar?
E, de maneira incisiva, após operar a mudança no transtorno de qualquer natureza do enfermo, completava: Vai e não tornes a pecar, a fim de que não te aconteça nada pior.
Impossibilitado de agir de igual maneira, o atendente espírita deve sempre dispor-se a ajudar, favorecendo o visitante com as diretrizes para a autoajuda, para a sua renovação e saída do erro gerador do distúrbio que o aflige.
Orientar com sabedoria e bondade é uma difícil arte de amar.
O ser humano de hoje conduz interiormente todas as heranças do longínquo passado, por cujos territórios passou armazenando experiências nem sempre edificantes. A predominância das paixões primitivas remanesce forte, dificultando-lhe o desenvolvimento moral que é mais lento e mais importante.
Por essa razão, os diálogos durante o breve contato entre paciente e atendente devem constituir-se de singulares cuidados, especialmente preservando a integridade moral de ambos os dialogadores.
Todos aqueles que chegam atormentados em busca de conforto moral trazem, às vezes inconscientemente, as respostas que gostariam de ouvir, especialmente os queixosos e depressivos, sendo indispensável manter-se cuidado com as palavras que se lhes dirijam e sem nenhuma presunção de convencê-los, mas sim, responder às indagações que sejam feitas, ao mesmo tempo que favorece com os caminhos a percorrer a partir daquele momento.
Jamais sugerir o abandono das terapêuticas médicas a que vêm sendo submetidos, não interferindo numa área que não lhe diz respeito, nem tem condições de pronunciar-se. Pelo contrário, vale o cuidado de interrogar-lhes se recebem assistência especializada e mesmo diante da reclamação de que ela não tem dado os resultados desejados, estimulá-los a prosseguir ou até, se for o caso, procurar outro facultativo.
O Espiritismo não vem combater nenhuma ciência, especialmente a médica, antes contribui em favor de resultados mais amplos, por demonstrar que o Espírito é o ser do qual procedem todas as manifestações existenciais.
Essa união das duas doutrinas – a médica e a espírita – é de fundamental significado para o bem-estar da criatura humana e, por extensão, da sociedade.
Nas recomendações que se deve apresentar ao paciente, é necessário elucidar o valor dos passes, da água magnetizada ou fluidificada, da oração e do comportamento saudável como indispensáveis à sua recuperação.
Em circunstâncias mais embaraçosas, não perder a calma, não reagir da maneira como seja agredido, tendo em vista que o socorro não se pode converter em revide, porque o doente nem sempre tem noção exata de como se está conduzindo durante o atendimento.
São muitas as angústias que desnorteiam o ser humano e, em razão disso, os desequilíbrios emocionais tornam-se mais comuns e repetitivos, merecendo mais cuidado e entendimento fraternal, acalmando-o com vibrações de ternura e ondas de caridade, que constituem especial elemento de recuperação.
Cuide o atendente fraterno de orar com unção, experienciar contínuas emoções de alegria pela alta honra de poder servir, mantendo-se em sintonia com o Divino Médico de todos, que se encarregará dos resultados finais.
Por fim, aplicar-se o sublime ensinamento:
Fazer ao próximo como gostaria que o mesmo lhe fizesse.
Nisso reside o êxito do empreendimento de amor, resultando na caridade numa das suas mais sublimes manifestações.
Manoel Philomeno de Miranda
Psicografia de Divaldo Franco, na manhã de 4 de novembro
de 2013, na Mansão do Caminho, em Salvador, Bahia.
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