Lesões ignoradas

Benedita Fernandes

O homem moderno, distraído das responsabilidades espirituais, frui até a exaustão os prazeres transitórios com os quais busca a embriaguez dos sentidos.

Deixando, à margem, os compromissos que lhe dizem respeito em torno do autoburilamento, considera a ética do Evangelho ultrapassada e quaisquer tintas do pensamento religioso como passadismo e fuga às frustrações.

No entanto, logo se lhe apresentam os sintomas do sofrimento físico, a presença de enfermidades, busca pressuroso, soluções, mediante exames complexos e tratamentos especializados, com tormentoso temor de perder o veículo carnal, no qual se compraz.

A qualquer presença de infecção, de desconforto físico, de constrição orgânica e de dor, agasta-se, e procura, precipite, o auxílio próprio, a fim de voltar ao palco fascinante do gozo,' despreocupado de si mesmo, na condição de ser eterno que é, em processo de evolução.

Certamente, há exceções, mesmo entre pacientes que por rebeldia se obstinam em cuidar da organização física, tombando em suicídios indiretos.

De igual modo procedem outros, que são vítimas dos distúrbios psicológicos e psiquiátricos, cuja raiz do mal se encontra nos comportamentos morais do passado espiritual ou da presente reencarnação, que não souberam ou não quiseram valorizar.

No báratro das aflições humanas, defrontamos inúmeras lesões que, embora ignoradas pelos seus portadores, merecem cuidados especiais para a erradicação das suas causas, pois que, não lhes produzindo dores imediatas, não despertam a atenção necessária.

O egoísmo, capitaneando o grupo das mazelas morais, é o grande responsável pelas lesões que se instalam na alma e se refletem no corpo, oportunamente.

A maledicência e a calúnia urdem desgraças morais, que terminam por atingir aqueles que as acionam.

A mentira e a infâmia estabelecem a intranquilidade por onde passam, culminando por enredar aqueles que as propagam.

A inveja e o despeito produzem desconfiança, arrastando os seus áulicos a estados de alucinação lamentável.

A sensualidade e a cobiça exaurem o sistema emocional, gerando dependências e desarmonias em quem se lhes submete.

A irritação e o medo já são síndromes das doenças em instalação nos tecidos sutis da alma, dando sinal de alarme.

Como não doem essas enfermidades naqueles que as vitalizam, tomam-se lesões que se demoram ignoradas, até quando os seus efeitos exigem cuidados, um tanto tardiamente.

Antídoto correto é a auto-análise de início, no processo de preservação da saúde, de modo que o paciente reconheça a própria deficiência, esforçando-se por recompor as paisagens íntimas à luz meridiana do pensamento do Cristo, que tem por base o amor, partindo para as experiências de renovação moral e trabalho edificante em favor de si mesmo e do próximo, sustentando-se nas abençoadas estruturas da caridade.

As lesões ignoradas ceifam milhões de vidas, agravando a existência de outras tantas e contaminando incalculável número de distraídos.

Reconhecendo, o homem, a temporariedade do corpo e a alta finalidade da existência na qual se encontra incurso, deve aprender a utilizar-se da terapia preventiva e, se já é portador de mazela, a exercer os cuidados retificadores mediante os quais renasce para a saúde e a paz.

Uma conduta equilibrada, portanto, decorrente da educação moral, conforme os padrões espíritas, constitui meio eficaz para todas as criaturas, que poderão desincumbir-se á contento dos testes e provações da reencarnação, eliminando, por antecipação, futuras dores, cujas matrizes serão, desde agora, destruídas.

Benedita Fernandes por Divaldo Franco do livro:

Antologia Espiritual

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