quinta-feira, 19 de junho de 2025

Problemas inevitáveis

Problemas inevitáveis

Deolindo Amorim


O Espiritismo não exige profissão de fé. Ninguém é obrigado a fazer declaração pública, prestar juramento, assinar termo de compromisso ou submeter-se a qualquer cerimônia de iniciação. Tudo é espontâneo, natural. A profissão de fé, se assim podemos chamar, consiste apenas na atitude que cada qual assume quando sente que já está identificado com os ensinos da Doutrina e quer segui-los conscientemente. É uma atitude que tanto pode ser tomada na vida particular como em público. Não há, porém, uma prescrição formal, uma regra fixa.

Nem todos, porém, chegam ao Espiritismo pela Doutrina, através da reflexão e da análise. Muitos, por exemplo, fizeram leituras diversas, antes de conhecerem as obras espíritas, procuram o Espiritismo ainda com dúvidas e dificuldades decorrentes da falta de uma orientação segura. Quando chegam a tomar contato com a literatura espírita, querem conferir certas ideias com a Doutrina, mas são ideias bebidas noutras fontes e, por isso, às vezes criam problemas desse tipo; ou ficam confusas, porque não sabem que opção possam fazer, ou acham que as ideias espíritas é que são obscuras. Mas não têm um rumo claro, justamente porque se ressentem da falta de elucidação doutrinária. E muita gente fica nessa situação, sem saber, conscientemente, se é espírita ou se ainda está navegando noutras águas, como se diz.

Outro problema que ocorre frequentemente é o das ideias religiosas.

Há pessoas que, embora queiram integrar-se na Doutrina sinceramente, ainda sentem certa dificuldade, porque não se desligaram de suas crenças, a não ser superficialmente. Trazem naturalmente um lastro de ideias, oriundas da fé em que se educaram, cultivam uns tantos hábitos religiosos e, por isso mesmo, não absorvem logo o verdadeiro pensamento da Doutrina em sua simplicidade e sua racionalidade. Ainda esperam milagres, ainda têm medo de castigos do céu, ainda pensam em termos de graças dos anjos, e assim por diante. São cristalizações de ideias, que se formam no espírito, por força da educação de origem, e não se desfazem de uma hora para outra. Não é apenas problema de tempo, conquanto o tempo seja um fator inestimável. Mas é um problema de orientação, acima de tudo, pois se essas pessoas não são bem orientadas nos centros que frequentam, e onde aprendem Espiritismo, continuam com as mesmas ideias pela vida inteira, pedindo favores a Deus, rezando por devoção, sem saber o que representa o esforço próprio como elemento de transformação da criatura humana. Desconhecem a lei do merecimento, ensinada pelo Cristo. Justamente por isso, os centros espíritas devem transmitir as informações doutrinárias com a necessária clareza, pois eles são, em última análise, as escolas de orientação.

Há outra categoria, talvez mais exigente. É a daqueles que, tendo lido um pouco de tudo, ou de quase tudo, e não tendo encontrado um ponto de apoio nem um elemento de convicção, querem que a Doutrina Espírita dê, imediatamente, todas as respostas, já prontas e acabadas. Andam certamente à procura de uma fórmula nova ou de alguma coisa diferente! Julgam-se frustrados algumas vezes, quando não descobrem logo uma solução imediata, uma espécie de chave mágica no Espiritismo.

É uma noção falsa, não há dúvida. Mas o certo é que essas pessoas trazem problemas que não podem ser postos de lado. Temos que dialogar a fim de que se esclareça o verdadeiro caráter da Doutrina.

Não nos esqueçamos de que a Doutrina Espírita fala em maturidade ou madureza do senso moral. Muita gente quer dominar certa ordem de conhecimentos sem a necessária maturidade de espírito. O fato de alguém possuir instrumentos e cultura que permitem penetrar a fundo no campo da Psicologia, como da Psicanálise, ou de outras disciplinas científicas, não quer dizer que esteja bem aparelhado para devassar o mundo espiritual. O domínio do espírito constitui uma esfera de conhecimento que depende de outros instrumentos e, além de tudo, exige disposição especial e ainda certas qualidades, que precisam ser aprimoradas. Por isso mesmo, o Espiritismo não pode atender a todas as exigências, nem tampouco modificar os seus pensamentos fundamentais para ir ao encontro das conveniências transitórias.

Em verdade, nem todos podem captar o ensino da Doutrina ao mesmo tempo e do mesmo modo, pois cada qual vive sua própria existência em relação ao passado e ao presente. O Espiritismo não tem o segredo da felicidade, mas fornece elementos com os quais a criatura humana aprende a sentir-se feliz. Não faz promessas, mas aponta a mensagem do Cristo como fonte de esperança. Mas é necessário que o diálogo se realize em linguagem condizente com a realidade atual, mostrando que a mensagem do Cristo não está distante, pois se aplica aos fatos da vida presente também.

Jornal Mundo Espírita— Curitiba — PR — março de 1976.

Deolindo Amorim do livro:
Análises Espíritas - Compilação de artigos de Deolindo Amorim , organizada por Celso Martins.

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