quarta-feira, 15 de abril de 2020

A Parábola

A Parábola

Divaldo Franco e Joanna de Ângelis 




Em 1962, Divaldo passou por uma grande provação, ficando vários dias sem condições de conciliar o sono, hora nenhuma, o que lhe trouxera constante dor de cabeça.

Numa ocasião, não suportando mais, quando Joanna lhe apareceu, ele lhe falou:

– Minha irmã, a senhora sabe que eu estou passando por um grande problema, uma grande injustiça, e não me diz nada?

– Por isso mesmo eu não te digo nada, porque é uma injustiça. E como é uma injustiça, não tem valor, Divaldo.

– Tu és  quem está dando valor e quem dá valor à mentira, deve sofrer o  efeito da mentira. Porque, se tu sabes que não é verdade, por que estás sofrendo? Eu não já escrevi por tuas mãos: - “Não valorizes o mal”?

– Não tenho outro  conselho a dar-te.

– Mas, minha irmã, pelo menos me diga umas palavras de conforto moral, porque eu não tenho a quem pedir.

Então, ela falou:

– Vou dar-te palavras de conforto. Não esperes muito.

E contou-lhe a seguinte parábola:

– Havia uma fonte pequena e insignificante, que estava perdida num bosque. Um dia, alguém por ali passando, com sede, atirou um balde e retirou água, sorvendo-a em seguida e se foi.

A fonte ficou tão feliz que disse de si para consigo:

– Como eu gostaria de poder dessedentar os viandantes, já que sou uma  água preciosa!

E orou a Deus:

– Ajuda-me a dessedentar!

Deus deu-lhe o poder. A fonte cresceu e veio à borda. As aves e os animais começaram a sorvê-la e ela ficou feliz.

A fonte propôs:

– Que bom é ser útil, matar a sede. Eu gostaria de pedir a Deus que me levasse além dos meus limites, para umedecer as raízes das árvores e correr a céu aberto.

Veio então a chuva, ela transbordou e tomou-se um córrego.

Animais,  aves, homens, crianças e plantas beneficiaram-se dela.

A fonte falou:

– Meu Deus, que bom é ser um córrego! Como eu gostaria de chegar ao  mar!

E Deus fez chover abundantemente, informando:

– Segue, porque a fatalidade dos córregos e dos rios é alcançar o  delta e atingir o mar. Vai!

E o riacho tomou-se um rio, o rio avolumou as águas. Mas, numa curva  do caminho, havia um toro de madeira.

O rio encontrou o seu primeiro impedimento.

Em vez de se queixar, tentou passar por baixo, contornar, mas o tronco de madeira cerceava-lhe os passos. Ele parou, cresceu e o transpôs tranquilamente.

Adiante, havia seixos, pequeninas pedras que ele carregou e outras inamovíveis, cujo volume ele não poderia remover. Ele parou, cresceu e as transpôs, até que chegou ao mar. Compreendeste?

– Mais ou menos.

– Todos nós somos fontes de Deus – disse ela.

– E como alguém um dia bebeu da linfa que tu carregavas, pediste para chegar à borda, e Deus, que é amor, atendeu-te.

– Quiseste atender aos sedentos, e Deus te mandou os Amigos Espirituais para tanto. Desejaste crescer, para alcançar o mar e Deus fez que a Sua misericórdia te impelisse na direção do oceano. Estavas feliz.

– Agora, que surgem empecilhos, por que reclamas?

– Não te permitas queixas.

– Se surge um impedimento em teu caminho, cala, cresce, transpõe-no, porque a tua fatalidade é o mar, se é que queres alcançar o oceano da Misericórdia Divina.

– Nunca mais lamentes a respeito de nada.


Do livro: A veneranda Joanna de Ângelis / Celeste Santos e Divaldo Franco

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