Gaiola
Valérium
Na sala faustosa, o pássaro triste e cabisbaixo está na gaiola enfeitada.
O visitante entra, observa e pergunta ao dono da mansão:
— Que tem o canário? Solte-o, meu amigo, ele está muito tristonho!
E o anfitrião responde, abrindo a porta do pequeno cárcere:
— Veja, ele não sai... É canário de gaiola.
Aí foi criado desde que nasceu. Não sabe viver fora dela...
E fecha a portinhola da prisão do pássaro triste que, mudo e quieto, respira chumbado à gaiola enfeitada, na sala faustosa...
Quantas criaturas humanas existem iguais a esse pássaro?!
Pessoas criadas desde a infância na riqueza e no luxo vivem presas aos empréstimos transitórios do mundo, durante toda a existência na Terra, e, mesmo depois da morte, não se desvencilham de seus antigos pertences e propriedades.
Por mais se lhes abram as portas da liberdade espiritual, não se sentem com força suficiente para desferirem o voo largo da independência, na amplidão das Esferas Superiores...
E ficam chumbados à carne passageira, em suas gaiolas mentais de ouro, por muito tempo, muito tempo mesmo, ante o Grande Futuro.
Saiba assim, meu irmão, usar os empréstimos da vida, desapegando-se realmente do conforto escravizante, na certeza de que você chegou sozinho à estação do corpo e que sozinho há de sair dela.
Valérium por Waldo Vieira do livro: Bem-Aventurados os simples
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