O discípulo se liberta
Eros
O cansaço toma conta de mim.
Corri sempre em busca de valores que agora descubro serem coisa nenhuma.
Afadiguei-me sem necessidade. Acumulei coisas frias, e constato que estão mortas. Chamei-as de tesouro e atribuí-lhes expressões que não merecem, pois nada significam, sequer, o quanto lhes concedo.
Silenciosas, pesadas, não participam da vida, e, ao invés de sustentá-la, reunidas em montes, empobrecem outras criaturas.
Acreditei-me ser carne e osso, quando, na realidade, sou Espírito livre.
Emparedei-me no corpo e submeti-me aos seus caprichos sem sentido.
Encarcerei a consciência nos cubículos dos sentidos, transitando pelos espaços exíguos do ego atormentado.
Movimentei-me demasiadamente, sem sair do lugar. Girei em torno de nada.
Descubro, por fim, meu Mestre, a delícia da liberdade.
Liberto-me, suavemente, do organismo físico, superando a fome, a sede, a dor, a enfermidade e a morte.
Vivo, agora, para a Vida, sem aprisioná-la.
Respiro e me expando. Abro os braços e afago a Natureza, abraço a Humanidade.
A mente voa, livre das paredes do cérebro, e se não submete mais a limite algum.
Tudo é luz em mim, e em luz me uno a todas as vidas. Esta luz brilha em toda parte; nela me envolvo, com ela viajo, conquisto os corações, as mentes e as pessoas.
Já não tenho pressa, nem ansiedade, nem medo.
Aquieto-me, e cresço além de mim, da prisão que não mais me detém.
Relaxo todo o corpo e o comando em silêncio, a fim de ouvir a música divina da Criação, impregnando-me da sua harmonia.
Amo, e o meu é o sentimento de doação, de felicidade, de serviço a todas as formas vivas, intentando torná-lo santo e puro como a luz, poderoso e rápido como a chama que molda os metais e queima os detritos em abandono. Assim, amo o corpo sem pertencer-lhe, para amar a Humanidade, sem me afligir.
Mergulho no oceano da sabedoria e desperto para a plenitude, a totalidade.
Deixo-me arrastar livremente, qual pássaro no ar ou pólen na brisa.
Esta liberdade é bênção do teu amor que me chega, que me penetra e me felicita.
Rogo-Te, meu Mestre, que o fogo da liberdade prossiga ardendo, porque já não vivo para mim, desde que Tu passaste a viver em mim.
Por isto, Teu escravo que sou, me liberto de tudo.
Eros por Divaldo Franco do livro: A um passo da imortalidade
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