O Prato Principal
Richard Simonetti
(Lucas, 14:16-24)
Certo homem deu uma grande ceia e convidou a muitos.
A hora da ceia, enviou, seu servo para dizer aos convidados.
- Vinde, porque tudo já está preparado.
Mas todos, um a um, começaram a se desculpar.
O primeiro disse:
- Comprei um campo e preciso ir vê-lo. Peço-lhe que me dês por escusado.
Outro disse:
- Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-las. Peço-te que me dês por escusado.
E outro disse:
- Casei-me há pouco, por isso não posso ir.
Voltando, o servo relatou tudo ao seu senhor. Então o dono da casa, indignado, disse ao seu servo:
- Vai depressa pelas praças e ruas da cidade e traz-me aqui os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos.
Disse-lhe o servo:
- Senhor, o que ordenaste já foi feito, e ainda há lugar.
E disse o senhor ao servo:
- Vai pelos caminhos e ao longo dos cercados e obriga-os a entrar, para que a minha casa fique cheia. Pois eu te digo que nenhum daqueles que foram convidados provará da minha ceia
***
Bem, caro leitor, não é difícil identificar Deus como o anfitrião desta história A ceia representa a comunhão com os valores espirituais.
O convite divino manifesta-se de duas formas:
Objetivamente: Envolve a tradição familiar, a crença do berço.
Subjetivamente: Exprime-se nas dúvidas existenciais, na inquietação inexprimível, no indefinível anseio do sagrado.
Poucos são receptivos.
Jesus reporta-se a três escusas:
O que comprou um campo e vai vê-lo.
Está envolvido com o cotidiano, num somatório de atividades, interesses e prazeres. Impedimentos se sucedem - a novela, o cinema, o futebol, a visita, o passeio, o contratempo, o compromisso inadiável...
Não tem tempo!
O que comprou uma junta de bois.
Enrosca-se na atividade profissional, o ganha-pão, o dinheiro do mundo. O expediente que se prolonga, o compromisso marcado, a convocação inesperada...
Não tem tempo!
O que acabou de se casar.
Prende-se às solicitações familiares. Não encontra espaços vazios na agenda Há sempre alguém a atender...
Não tem tempo!
Parecem ignorar o óbvio;
Tempo é uma questão de preferência
Sempre encontramos espaço no cotidiano para fazer o que desejamos.
***
Vendo que seus apelos são inúteis, o Senhor decide convidar os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos.
Lembra um pensamento corrente nas lides espíritas:
Aproximamo-nos do Espiritismo por convite do amor ou por convocação da dor.
Amor ao conhecimento: a vontade de aprender, desdobrar horizontes, equacionar a existência...
Há, também, o amor romântico. No jogo da sedução vale tudo, até a adesão à crença do ser amado. Isso antes do casamento. Depois, é outra história. A maioria vem pela dor.
Têm problemas, estão doentes, perturbados, desajustados, infelizes, deprimidos... São representados pelos estropiados da parábola
Talvez você, leitor amigo, tenha procurado o Espiritismo por amor.
Parabéns!
Saiba que é uma exceção.
Lembro minha própria experiência. Embora filho de família espírita, até os vinte anos estive totalmente alheio. Foi a partir de grave lesão num olho que me aproximei.
Como toda mãe espírita diante de um filho com problema de saúde, minha genitora logo pediu, em reunião mediúnica, o apoio de um mentor espiritual. Ele se propôs a ajudar.
Fiquei animado, até saber a condição imposta:
Era preciso que eu comparecesse ás reuniões públicas do Centro, que eram diárias.
- Todos os dias?!
-Sim.
- Poxa, mamãe! Nenhuma folga, nem mesmo no domingo?!
- Meu filho, a dor e a necessidade não escolhem dias. Sempre há gente precisando de socorro.
Achei absurda a exigência. Não obstante, a enfermidade é extremamente persuasiva, principalmente quando envolve um dos dons mais preciosos — a visão.
Cumpri minha parte. O guia cumpriu a dele. Sarei.
Melhor que a cura - tomei gosto pelo Espiritismo.
Hoje participo por amor, com ajudazinha da dor, de vez em quando, que é para a gente não se distrair.
Segundo a parábola, os convidados desinteressados não provarão a ceia
Acrescentaríamos que isso ocorrerá até que estejam também estropiados, o que, certamente, modificará suas disposições.
No banquete da espiritualidade, oferecido no Centro Espírita, temos as entradas.
E o alimento leve e imediato: o atendimento fraterno, o passe magnético, o tratamento espiritual, o receituário mediúnico, as vibrações dirigidas...
Curioso que muitos ficam apenas nesse antepasto. Melhoram, experimentam algum bem-estar; o problema de saúde parece superado, mente pacificada...
E logo procuram a saída!
Deixam o melhor, o prato principal, representado pelo conhecimento espírita. É esse que realmente nos alimenta e fortalece, ajudando-nos a viver de forma mais tranquila e feliz.
Se estivermos dispostos a experimentar, devemos saber que esse maná dos céus precisa ser bem mastigado para ser digerido.
Isso envolve o legítimo desejo de aprender, marcado pela leitura, o estudo, a assiduidade às reuniões, superando a mera intenção de receber benefícios.
***
No Japão há curioso costume.
As pessoas compram, em restaurantes e supermercados, determinados alimentos, acondicionados em pequenas caixas, o que lhes permite tomar sua refeição na rua, na praça, no local de trabalho, no metrô...
Algo semelhante pode ser feito com o banquete da espiritualidade. Acondicionar o prato principal em prática embalagem - o livro espírita!
A qualquer momento, em qualquer lugar, podemos mangiare, como diz o italiano, finas iguarias que saciam nossa fome de espiritualidade, proporcionando-nos momentos de leitura edificante.
***
Ao ouvir sobre a importância de ter o livro espírita ao alcance das mãos, uma senhora comentou:
- Infelizmente, não tenho o hábito da leitura.
Bem, sabemos que hábito é uma tendência adquirida com a repetição de determinadas ações.
Há alguns extremamente prejudiciais:
Fofocar.
Impressionante o prazer mórbido que as pessoas sentem em comentar; aspectos negativos do comportamento alheio. Autoafirmação às avessas. Ao invés de se realizarem pelo que são, pretendem fazê-lo depreciando os outros.
Esbravejar.
Há quem resolve tudo no grito. Ergue a voz, impondo medo, sem conquistar respeito ou estima. Quando detém cargos de mando, sai de perto!
Xingar.
Há pessoas que escovam os dentes, sem escovar a conversa Principalmente quando, irritadas, pronunciam obscenidades, a se expandirem em vibrações virulentas que conturbam qualquer ambiente.
Mentir.
Parece segunda natureza. Está tão incorporado ao comportamento humano, que o profeta Isaías proclama, taxativo: todo ser humano é mentiroso.
Melhor cultivar bons hábitos.
Um deles, gratificante: ler livros espíritas!
Inicialmente, alguns minutos diários, se há dificuldade.
Aos poucos iremos ampliando a capacidade de nos fixarmos na leitura, substituindo as horas vazias, desperdiçadas, jogadas fora, por uma excursão no deslumbrante universo espírita.
Tenhamos ao alcance das mãos as abençoadas caixas com o alimento principal, capaz de saciar nossa fome de paz e conforto, a qualquer momento, em qualquer lugar!
Richard Simonetti do livro:
Histórias que trazem felicidade
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- Para seguirmos corretamente o espiritismo, devemos submeter todas as mensagens mediúnicas ao crivo duplo de Kardec, sendo eles, a razão e a universalidade.
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