quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

O Prato Principal

O Prato Principal

Richard Simonetti



(Lucas, 14:16-24)

Certo homem deu uma grande ceia e convidou a muitos.

A hora da ceia, enviou, seu servo para dizer aos convidados. 

- Vinde, porque tudo já está preparado. 

Mas todos, um a um, começaram a se desculpar.

O primeiro disse: 

- Comprei um campo e preciso ir vê-lo. Peço-lhe que me dês por escusado. 

Outro disse: 

- Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-las. Peço-te que me dês por escusado. 

E outro disse: 

- Casei-me há pouco, por isso não posso ir. 

Voltando, o servo relatou tudo ao seu senhor. Então o dono da casa, indignado, disse ao seu servo: 

- Vai depressa pelas praças e ruas da cidade e traz-me aqui os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos. 

Disse-lhe o servo: 

- Senhor, o que ordenaste já foi feito, e ainda há lugar. 

E disse o senhor ao servo: 

- Vai pelos caminhos e ao longo dos cercados e obriga-os a entrar, para que a minha casa fique cheia. Pois eu te digo que nenhum daqueles que foram convidados provará da minha ceia 

*** 

Bem, caro leitor, não é difícil identificar Deus como o anfitrião desta história A ceia representa a comunhão com os valores espirituais. 

O convite divino manifesta-se de duas formas: 

Objetivamente: Envolve a tradição familiar, a crença do berço. 

Subjetivamente: Exprime-se nas dúvidas existenciais, na inquietação inexprimível, no indefinível anseio do sagrado. 

Poucos são receptivos. 

Jesus reporta-se a três escusas: 

O que comprou um campo e vai vê-lo. 

Está envolvido com o cotidiano, num somatório de atividades, interesses e prazeres. Impedimentos se sucedem - a novela, o cinema, o futebol, a visita, o passeio, o contratempo, o compromisso inadiável... 

Não tem tempo! 

O que comprou uma junta de bois. 

Enrosca-se na atividade profissional, o ganha-pão, o dinheiro do mundo. O expediente que se prolonga, o compromisso marcado, a convocação inesperada... 

Não tem tempo! 

O que acabou de se casar. 

Prende-se às solicitações familiares. Não encontra espaços vazios na agenda Há sempre alguém a atender... 

Não tem tempo! 

Parecem ignorar o óbvio; 

Tempo é uma questão de preferência 

Sempre encontramos espaço no cotidiano para fazer o que desejamos. 

*** 

Vendo que seus apelos são inúteis, o Senhor decide convidar os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos. 

Lembra um pensamento corrente nas lides espíritas: 

Aproximamo-nos do Espiritismo por convite do amor ou por convocação da dor. 

Amor ao conhecimento: a vontade de aprender, desdobrar horizontes, equacionar a existência... 

Há, também, o amor romântico. No jogo da sedução vale tudo, até a adesão à crença do ser amado. Isso antes do casamento. Depois, é outra história. A maioria vem pela dor. 

Têm problemas, estão doentes, perturbados, desajustados, infelizes, deprimidos... São representados pelos estropiados da parábola 

Talvez você, leitor amigo, tenha procurado o Espiritismo por amor. 

Parabéns! 

Saiba que é uma exceção. 

Lembro minha própria experiência. Embora filho de família espírita, até os vinte anos estive totalmente alheio. Foi a partir de grave lesão num olho que me aproximei. 

Como toda mãe espírita diante de um filho com problema de saúde, minha genitora logo pediu, em reunião mediúnica, o apoio de um mentor espiritual. Ele se propôs a ajudar. 

Fiquei animado, até saber a condição imposta: 

Era preciso que eu comparecesse ás reuniões públicas do Centro, que eram diárias. 

- Todos os dias?! 

-Sim. 

- Poxa, mamãe! Nenhuma folga, nem mesmo no domingo?! 

- Meu filho, a dor e a necessidade não escolhem dias. Sempre há gente precisando de socorro. 

Achei absurda a exigência. Não obstante, a enfermidade é extremamente persuasiva, principalmente quando envolve um dos dons mais preciosos — a visão. 

Cumpri minha parte. O guia cumpriu a dele. Sarei. 

Melhor que a cura - tomei gosto pelo Espiritismo. 

Hoje participo por amor, com ajudazinha da dor, de vez em quando, que é para a gente não se distrair. 

Segundo a parábola, os convidados desinteressados não provarão a ceia 

Acrescentaríamos que isso ocorrerá até que estejam também estropiados, o que, certamente, modificará suas disposições. 

No banquete da espiritualidade, oferecido no Centro Espírita, temos as entradas. 

E o alimento leve e imediato: o atendimento fraterno, o passe magnético, o tratamento espiritual, o receituário mediúnico, as vibrações dirigidas... 

Curioso que muitos ficam apenas nesse antepasto. Melhoram, experimentam algum bem-estar; o problema de saúde parece superado, mente pacificada... 

E logo procuram a saída! 

Deixam o melhor, o prato principal, representado pelo conhecimento espírita. É esse que realmente nos alimenta e fortalece, ajudando-nos a viver de forma mais tranquila e feliz. 

Se estivermos dispostos a experimentar, devemos saber que esse maná dos céus precisa ser bem mastigado para ser digerido. 

Isso envolve o legítimo desejo de aprender, marcado pela leitura, o estudo, a assiduidade às reuniões, superando a mera intenção de receber benefícios. 

*** 

No Japão há curioso costume. 

As pessoas compram, em restaurantes e supermercados, determinados alimentos, acondicionados em pequenas caixas, o que lhes permite tomar sua refeição na rua, na praça, no local de trabalho, no metrô... 

Algo semelhante pode ser feito com o banquete da espiritualidade. Acondicionar o prato principal em prática embalagem - o livro espírita! 

A qualquer momento, em qualquer lugar, podemos mangiare, como diz o italiano, finas iguarias que saciam nossa fome de espiritualidade, proporcionando-nos momentos de leitura edificante. 

*** 

Ao ouvir sobre a importância de ter o livro espírita ao alcance das mãos, uma senhora comentou: 

- Infelizmente, não tenho o hábito da leitura. 

Bem, sabemos que hábito é uma tendência adquirida com a repetição de determinadas ações. 

Há alguns extremamente prejudiciais: 

Fofocar. 

Impressionante o prazer mórbido que as pessoas sentem em comentar; aspectos negativos do comportamento alheio. Autoafirmação às avessas. Ao invés de se realizarem pelo que são, pretendem fazê-lo depreciando os outros. 

Esbravejar. 

Há quem resolve tudo no grito. Ergue a voz, impondo medo, sem conquistar respeito ou estima. Quando detém cargos de mando, sai de perto! 

Xingar. 

Há pessoas que escovam os dentes, sem escovar a conversa Principalmente quando, irritadas, pronunciam obscenidades, a se expandirem em vibrações virulentas que conturbam qualquer ambiente. 

Mentir. 

Parece segunda natureza. Está tão incorporado ao comportamento humano, que o profeta Isaías proclama, taxativo: todo ser humano é mentiroso. 

Melhor cultivar bons hábitos. 

Um deles, gratificante: ler livros espíritas! 

Inicialmente, alguns minutos diários, se há dificuldade. 

Aos poucos iremos ampliando a capacidade de nos fixarmos na leitura, substituindo as horas vazias, desperdiçadas, jogadas fora, por uma excursão no deslumbrante universo espírita. 

Tenhamos ao alcance das mãos as abençoadas caixas com o alimento principal, capaz de saciar nossa fome de paz e conforto, a qualquer momento, em qualquer lugar! 

Richard Simonetti do livro: 
Histórias que trazem felicidade

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