Simples álgebra
Richard Simonetti
— Está tudo em ordem. Falta apenas o selo para autenticação — informou, gentil, a recepcionista do posto de assistência médica.
— Onde posso comprar?
— No cartório.
— É longe?
— Algumas quadras...
— Que maçada! Estou sem condução e devo regressar ao serviço...
— Bem, eu tenho alguns aqui. Posso vender-lhe.
Resolvido o problema, o requerente agradece e sai, apressado. Aproxima-se um homem de meia idade que, nervoso, reclama asperamente sobre deficiências do serviço.
— O senhor tem toda razão — responde a moça, cordata — Queira nos perdoar. Tentaremos resolver o assunto.
Faz as anotações e promete providenciar imediatamente. Desarmado pela simpatia da atendente, ele perde o ânimo belicoso.
— Desculpe senhorita, se fui agressivo. É que estou uma “pilha”, enfrentando problemas variados.
— Tudo bem, não se preocupe. Todos temos maus momentos...
Aproxima-se idosa senhora, vestida humildemente:
— Minha filha, estou doente do coração. Parece que é grave. O médico deu-me a receita recomendando que inicie imediatamente o tratamento. Mas não tenho dinheiro. Será possível receber aqui os remédios?
— Bem, vovó, não temos esse tipo de atendimento. No entanto, verei se é possível ajudá-la.
Rapidamente ela telefona para uma farmácia, informa-se do preço dos medicamentos e autoriza o aviamento da receita, responsabilizando-se pelo pagamento.
O próximo a ser atendido, homem inteligente e observador, fala admirado:
— Moça, estou impressionado! Você resolveu sem dificuldade três casos, poupando tempo a um homem apressado, acalmando outro irritado e ajudando sofredora mulher... Que prodígios de força e dedicação a inspiram? Qual seu segredo?
Sorriso iluminado, a jovem responde:
— Não há segredo nenhum. É apenas uma questão de álgebra.
— Álgebra?
— Sim, aquela operação em que menos um somado a mais um faz zero. Valores positivos anulam valores negativos. O requerente sem tempo, o reclamante nervoso e a senhora sem recursos, tinham problemas — valores negativos. Conservar alguns selos para emergências, usar de serenidade e se dispor a uma “vaquinha” entre os colegas para aviar receita médica, são valores positivos que os anulam, favorecendo as pessoas...
— Mas acha que compensa? Ninguém se interessa pelo próximo e há muita ingratidão...
— Engano seu. Muitos gostariam de ajudar, apenas não têm iniciativa.. Se lhes dermos exemplo nos acompanharão. Quanto ao reconhecimento alheio, não significa nada diante da incomparável satisfação que experimentamos ao ajudar o próximo. Quando nos empenhamos nesse propósito é como se sorvêssemos milagroso elixir de alegria e bem-estar, que nos mantém felizes e equilibrados...
E sempre sorridente:
— Por falar nisso, em que posso servi-lo?
* * *
Há muitas angústias na Terra, muitos problemas de relacionamento entre os homens.
Parece que vivemos num deserto árido, vazio de valores morais, abrasados pelo sol do egoísmo que viceja nos corações.
Todavia, nem tudo está perdido.
Há oásis verdejantes sustentados por companheiros dedicados que distribuem fartamente a água abençoada do conforto e da paz.
Também podemos saciar nossa sede, contribuindo para que o deserto se torne menor.
Basta que nos disponhamos a abrir, na intimidade de nosso coração, o poço promissor da boa vontade.
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