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sábado, 30 de março de 2024

A ficha

A ficha

Irmão X.



João Mateus, distinto pregador do Evangelho na seara espírita, na noite em que atingiu meio século de idade no corpo físico, depois de orar enternecidamente com os amigos, foi deitar-se.

Sonhou que alcançava as portas da Vida Espiritual, e, deslumbrado com a leveza de que se via possuído, intentava alçar-se para melhor desfrutar a excelsitude do Paraíso, quando um funcionário da Passagem Celeste se aproximou, a lembrar-lhe, solícito:

- João, para evitar qualquer surpresa desagradável no avanço, convém uma visita de olhos em sua ficha...

E o viajante recebeu primoroso documento, em cuja face leu espantadiço:
- João Mateus.
- Renascimento na Terra em 1904.
- Berço manso.
- Pais carinhosos e amigos.
- Inteligência preciosa.
- Cérebro claro.
- Instrução digna.
- Bons livros.
- Juventude folgada.
- Boa saúde.
- Invejável noção de conforto.
- Sono calmo.
- Excelente apetite.
- Seguro abrigo doméstico.
- Constante proteção espiritual.
- Nunca sofreu acidentes de importância.
- Aos 20 anos de idade, empregou-se no comércio.
- Casou-se aos 25, em regime de escravização da mulher.
- Católico romano até os 26.
- Presenciou, sem maior atenção, 672 missas.
- Aos 27 de idade, transferiu-se para as fileiras espíritas.
- Compareceu a 2.195 sessões de Espiritismo, sob a invocação de Jesus.
- Realizou 1.602 palestras e pregações doutrinárias.
- Escreve cartas e páginas comoventes.
- Notável narrador.
- Polemista cauteloso.
- Quatro filhos.
- Boa mesa em casa.
- Não encontra tempo para auxiliar os filhos na procura do Cristo.
- Efetuou 106 viagens de repouso e distração.
- Grande intolerância para com os vizinhos.
- Refratário a qualquer mudança de hábitos para a prestação de serviço aos outros.
- Nunca percebe se ofende o próximo, através da sua conduta, mas revela extrema suscetibilidade ante a conduta alheia.
- Relaciona-se tão-somente com amigos do mesmo nível.
- Sofre horror às complicações da vida social, embora destaque incessantemente o imperativo da fraternidade entre os homens.
- Sabe defender-se com esmero em qualquer problema difícil.
- Além dos recursos naturais que lhe renderam respeitável posição e expressivo reconforto doméstico, sob o constante amparo de Jesus, através de múltiplos mensageiros, conserva bens imóveis no valor de Cr$ 600.000,00 e guarda em conta de lucro particular a importância de Cr$ 302.000,00.
-Para Jesus, que o procurou na pessoa de mendigos, de necessitados e doentes, deu durante toda vida 90 centavos.
-Para cooperar no apostolado do Cristo, já ofereceu 12 cruzeiros em obras de assistência social.
-Débito.............................................................
Quando ia ler o item referente às próprias dívidas, fortemente impressionado, João acordou.

Era manhãzinha...

À noite, bem humorado, reuniu-se aos companheiros, relatando-lhes a ocorrência.

Estava transtornado, dizia. O sonho o modificara-lhe o modo de pensar. Consagrar-se-ia doravante a trabalho mais vivo no movimento espírita. Pretendia renovar-se por dentro, reuniria agora palavra e ação.

Para isso, achava-se disposto a colaborar substancialmente na construção de um lar destinado à recuperação de crianças desabrigadas que, desde muito, desejava socorrer.

A experiência daquela noite inesquecível era, decerto, um aviso precioso. E, sorridente, despediu-se dos irmãos de ideal, solicitando-lhes novo reencontro para o dia seguinte.

Esperava assentar as bases da obra que se propunha levar efeito. Contudo, na noite imediata, quando os amigos lhe bateram à porta, vitimado por um acidente das coronárias, João Mateus estava morto.

Irmão X. por Chico Xavier do livro:
Contos e Apólogos

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domingo, 17 de janeiro de 2021

Eu contra eu

Eu contra eu

Irmão X.



Quando o Homem ainda jovem desejou cometer o primeiro desatino, aproximou-se o Bom Senso e observou-lhe.

- Detém-te! Por que te confias assim ao mal?

O interpelado, porém respondeu orgulhoso:

- Eu quero.

Passando, mais tarde, à condição de perdulário e adotando a extravagância e a loucura por normas de viver, apareceu a Ponderação e aconselhou-o:

- Para! Por que te consagras, desse modo, ao gasto inconsequente?

Ele, contudo, esclareceu jactancioso:

- Eu posso.

Mais tarde, mobilizando os outros a serviço da própria insensatez, recebeu a visita da Humildade, que lhe rogou, piedosa:

- Reflete! Por que te não compadeces dos mais fracos e dos mais ignorantes?

O infeliz, todavia, redarguiu colérico.

- Eu mando.

Absorvendo imensos recursos, inutilmente, quando poderia beneficiar a coletividade, abeirou-se dele o Amor e pediu:

- Modifica-te! Sê caridoso! Como podes reter o rio das oportunidades sem socorrer o campo das necessidades alheias?

E o mísero informou:

- Eu ordeno.

Praticando atos condenáveis, que o levaram ao pelourinho da desaprovação pública, a Justiça acercou-se dele e recomendou?

- Não prossigas! Não te dói ferir tanta gente?

O infortunado, entretanto, acentuou implacável:

- Eu exijo.

E assim viveu o Homem, acreditando-se o centro do Universo, reclamando, oprimindo e dominando, sem ouvir as sugestões das virtudes que iluminam a Terra, até que, um dia, a Morte o procurou e lhe impôs a entrega do corpo físico.

O desditoso entendeu a gravidade do acontecimento, prosternou-se diante dela e considerou:

- Morte, por que me buscas?

- Eu quero-disse ela.

- Por que me constranges a aceitar-te? - gemeu triste.

-Eu posso - retrucou a visitante.

-Como podes atacar-me deste modo?

- Eu mando.

- Que poderes te movem?

- Eu ordeno.

- Defender-me-ei contra ti - clamou o Homem, desesperado -, duelarei e receberás a minha maldição!...

Mas a Morte sorriu imperturbável, e afirmou:

- Eu exijo.

E, na luta do "eu", contra "eu", conduziu-o à casa da Verdade para maiores lições.

Irmão X. por Chico Xavier do livro:
Contos e Apólogos

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domingo, 9 de fevereiro de 2020

Justiça de cima

Justiça de cima

Irmão X.





Quatro operários solteiros quase todos da mesma idade compareceram ao tribunal de Justiça de Cima, depois de haverem perdido o corpo físico, num acidente espetacular.

Na Terra, foram analisados por idêntico padrão.

Excelentes rapazes, aniquilados pela morte, com as mesmas homenagens sociais e domésticas.

Na vida espiritual, contudo, mostravam-se diferentes entre si, reclamando variados estudos e diversa apreciação.

Ostentando, cada qual, um halo de irradiações específicas, foi conduzido ao juiz que lhes examinara o processo, durante alguns dias, atenciosamente.

O magistrado convidou um a um a lhe escutarem as determinações, em nome do Direito Universal, perante numerosa assembléia de interessados nas sentenças.

Ao primeiro deles, cercados de pontos escuros, como se estivesse envolvido numa atmosfera pardacenta, o compassivo julgador disse, bondoso:

-De tuas notas, transparecem os pesados compromissos que assumiste, utilizando os teus recursos de trabalho para fins inconfessáveis. Há viúvas e órfãos, chorando no mundo, guardando amargas recordações de tua influência.

E porque o interpelado inquirisse quanto ao futuro que o aguardava, o árbitro amigo observou, sem afetação:

-Volta à paisagem onde viveste e recomeça a luta de redenção, reajustando o equilíbrio daqueles que prejudicaste. És naturalmente obrigado a restituir-lhes a paz e a segurança.

Aproximou-se o segundo, que se movimentava sob irradiações cinzentas, e ouviu as seguintes considerações:

-Revelam os apontamentos a teu respeito que lesaste a fábrica em que trabalhavas.

Detiveste vencimento e vantagens que não correspondem ao esforço que despendeste.

E, percebendo-lhe as interrogações mentais, acrescentou:

-Torna ao teu antigo núcleo de serviço e auxilia os teus companheiros e as máquinas que exploraste em mau sentido. É indispensável resgates os débitos de alguns milhares de horas, junto deles, em atividade assistencial.

Ao terceiro que se aproximou, a destoar dos precedentes pelo aspecto em que se apresentava, disse o juiz, generoso:

-As informações de tua romagem no Planeta Terrestre explicam que demonstraste louvável correção no proceder. Não te valeste das tuas possibilidades de serviço para prejudicar os semelhantes, não traíste as próprias obrigações e somente recebeu do mundo aquilo que te era realmente devido. A tua consciência está quite com a Lei. Podes escolher o teu novo tipo de experiência, mas ainda na Terra, onde precisas continuar no curso da própria sublimação.

Em seguida, surgiu o último. Vinha nimbado de belo esplendor. 

Raios de safira claridade envolviam-no todo, parecendo emitir felicidade e luz em todas as direções.

O juiz inclinou-se, diante dele, e informou:

-Meu amigo, a colheita de tua sementeira confere-te a elevação.  Serviços mais nobres esperam-te mais alto.

O trabalhador humilde, como que desejoso de ocultar a luz que o coroava, afastou-se em lágrimas de júbilo e gratidão, nos braços de velhos amigos que o cercavam, contentes, e, em razão das perguntas a explodirem nos colegas despeitados, que asseveravam nele conhecer um simples homem de trabalho, o julgador esclareceu persuasivo e bondoso:

-O irmão promovido é um herói anônimo da renúncia. Nunca impôs qualquer prejuízo a alguém, sempre respeitou a oficina em que se honrava com a sua colaboração e não se limitou a ser correto para com os deveres, através dos quais conquistava o que lhe era necessário à vida. Sacrificava-se pelo bem de todos. Soube ser delicado nas situações mais difíceis. Suportava o fígado enfermo dos colegas, com bondade e entendimento. Inspirava confiança. 

Distribuía estímulo e entusiasmo. Sorria e auxiliava sempre. 

Centenas de corações seguiram-no, além da morte, oferecendo-lhe preces, alegrias e bênçãos.

A Lei Divina jamais se equivoca.

E porque o julgamento fora satisfatoriamente liquidado, o tribunal da Justiça de Cima, encerrou a sessão.

Irmão X. por Chico Xavier do livro: 
Contos e Apólogos

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quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Nos domínios da sombra

Nos domínios da sombra

Irmão X.



Em compacta assembleia do reino das sombras, um poderoso soberano das trevas, diante de milhares de falangistas da miséria e da ignorância, explicava o motivo da grande reunião.

O Espiritismo com Jesus, aclarando a mente humana, prejudicava os planos infernais.

Em toda parte da Terra, as criaturas começavam a raciocinar menos superficialmente!

Indagavam, com segurança, quanto aos enigmas do sofrimento e da morte e aprendiam, sem maior dificuldade, as lições da Justiça Divina. Compreendiam, sem cadeias dogmáticas, os ensinamentos do Evangelho. Oravam com fervor. Meditavam na reencarnação e passavam a interpretar com mais inteligência os deveres que lhes cabiam no Planeta.

Muita gente entregava-se aos livros nobres, à caridade e à compaixão, iluminando a paisagem social do mundo e, por isso, todas as atividades da sombra surgiam ameaçadas...

Que fazer para conjurar o perigo?

E pediu para que os seus assessores apresentassem sugestões.

Depois de alguns momentos de expectativa, ergueu-se o comandante das legiões da incredulidade e falou:

- Procuremos veicular a crença de que Deus não existe e de que as criaturas viventes estão entregues a forças cruéis e fatais da Natureza...

O maioral das trevas, porém, objetou, desencantado:

- O argumento não serve. Quanto mais avançamos nos trilhos da inteligência mais reconhece o homem a Paternidade de Deus, sendo atraído inelutavelmente para a fé ardente e pura.

Levantou-se, no entanto, o orientador das legiões da vaidade e opinou:

- Espalharemos a notícia de que Jesus nada tem que ver com o Espiritismo, que as manifestações dos desencarnados se resumem num caso fisiológico para as conclusões da Ciência, e, desnorteando os profitentes da Renovadora Doutrina, faremos com que gozem a vida no mundo, como melhor lhes pareça, sem qualquer obrigação para com o Evangelho e, assim, serão colhidos no túmulo, com as mesmas lacunas morais que trouxeram do berço.

O rei das sombras anuiu, complacente:

- Sim, essa ilusão já foi muito importante, contudo, há milhares de pessoas despertando para a verdade, na certeza de que as portas do sepulcro não se abririam para os vivos da Terra, sem a intervenção de Jesus.

Nesse ponto, o diretor das falanges da discórdia pôs-se de pé e conclamou:

- Sabemos que a força dos espíritas nasce das reuniões em que se congregam para a oração e para o aprendizado da Vida Espiritual, e nas quais tomam contato com os Mensageiros da Luz... Assim sendo, assopraremos a cizânia entre os seguidores dessa bandeira transformadora, exagerando-lhes a noção da dignidade própria. Separá-los-emos uns dos outros com o invisível bastão da maledicência. Chamaremos em nosso auxílio os polemistas, os discutidores, os carregadores de lixo social, os fiscais do próximo e os examinadores de consciências alheias para que os seus templos se povoem de feridas e mágoas incuráveis e, assim, os irmãos em Cristo saberão detestar-se uns aos outros, com sorrisos nos lábios, inutilizando-se para as obras do bem.

O chefe satânico, todavia, considerou:

- Isso é medida louvável, contudo necessitamos de providência de efeito mais profundo, porque sempre aparece um dia em que as brigas e os desacordos terminam com os remédios da humildade e com o socorro da oração.

A essa altura, ergueu-se o condutor das falanges da desordem e ponderou:

- Se o problema é de reuniões, conseguiremos liquidá-lo em três tempos. Buscaremos sugerir aos membros dessas instituições que o lugar dos conclaves é muito longe e que não lhes convém afrontar as surpresas desagradáveis da via pública. Faremos que o horário das reuniões coincida com o lançamento de filmes especiais ou com festividades domésticas de data fixa. Improvisaremos tentações determinadas para os companheiros que possuam maiores deveres e responsabilidades junto às assembleias, a fim de que os iniciantes não venham a perseverar no trabalho da própria elevação. Organizaremos dificuldades para as conduções e atrairemos visitas afetuosas que cheguem no momento exato da saída para os cultos espiritas-cristãos. Tumultuaremos o ambiente nos lares, escondendo chapéus e bolsas, carteiras e chaves para que os crentes se tomem de mau humor, desistindo do serviço espiritual e desacreditando a própria fé.

O soberano das trevas mostrou larga satisfação no semblante e ajuntou:

- Sim, isso é precioso trabalho de rotina que não podemos menosprezar. Entretanto, carecemos de recurso diferente...

O responsável pelas falanges da dúvida ergueu-se e disse:

- As reuniões referidas são sempre mais valiosas com o auxílio de médiuns competentes. Buscaremos desalentá-los e dispersá-los, penetrando a onda mental em que se comunicam com os Benfeitores Celestes, fazendo-lhes crer que a palavra do Além resulta de um engano deles próprios, obrigando-os a se sentirem mentirosos, palhaços, embusteiros e mistificadores, sem qualquer confiança em si mesmos, para que as assembleias se vejam incapazes e desmoralizadas...

O mentor do recinto aprovou a alegação, mas considerou:

- Indiscutivelmente, o combate aos médiuns não pode esmorecer, entretanto, precisamos de providência mais viva, mais penetrante...

Foi então que o orientador das falanges da preguiça se levantou, tomou a palavra, e falou respeitoso:

- Ilustre chefe, creio que a melhor medida será recordar ao pensamento de todos os membros das agremiações espíritas que Deus existe, que Jesus é o Guia da Humanidade, que a alma é imortal, que a Justiça Divina é indefectível, que a reencarnação é uma verdade inconteste e que a oração é uma escada solar, reunindo a Terra ao Céu...

O soberano das sombras, porém, entre o espanto e a ira, cortou-lhe a palavra, exclamando:

- Onde pretende chegar com semelhantes afirmações?

O comandante dos exércitos preguiçosos acrescentou, sem perturbar-se:

- Sim, diremos que o Espiritismo com Jesus, pedindo às almas encarnadas para que se regenerem, buscando o conhecimento superior e servindo à caridade, é, de fato, o roteiro da luz, mas que há tempo bastante para a redenção, que ninguém precisa incomodar-se, que as realizações edificantes não efetuadas numa existência podem ser atendidas em outras, que tudo deve permanecer agora como está no íntimo de cada criatura na carne para vermos como ficarão depois da morte, que a liberalidade do Senhor é incomensurável e que todos os serviços e reformas da consciência, marcados para hoje, podem ser transferidos para amanhã... Desse modo, tanto vale viverem no Espiritismo como fora dele, com fé ou sem fé, porque o salário de inutilidade será sempre o mesmo...

O rei das sombras sorriu, feliz, e concordou:

- Oh! até que enfim descobrimos a solução!...

De todos os lados ouviam-se risonhas exclamações: 

- Bravos! Muito bem! Muito bem!

O argumento do astucioso condutor das falanges da inércia havia vencido.

Irmão X. por Chico Xavier do livro:
Contos e apólogos

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sábado, 5 de outubro de 2019

A capa de Santo

A capa de Santo

Irmão X.




Certo discípulo, extremamente aplicado ao Infinito Bem, depois de largo tempo ao lado do Divino Mestre recebeu a incumbência de servi-lo entre os homens da Terra.

Desceu da Esfera Superior em que se demorava e nasceu entre as criaturas para ser carpinteiro.

Operário digno e leal, muita vez experimentou conflitos amargurosos, mas, fervoroso, apegava-se à proteção dos santos e terminou a primeira missão admiravelmente.

Tornou ao céu, jubiloso, e recebeu encargos de marinheiro.

Regressou à carne e trabalhou assíduo, em viagens inúmeras, espalhando benefícios em nome do Senhor.

Momentos houve em que a tempestade o defrontou ameaçador, mas o aprendiz, nas lides do mar, recorria aos Heróis Bem-Aventurados e entesourou forças para vencer.

Rematou o serviço de maneira louvável e voltou à Casa Celeste, de onde retornou ao mundo para ser copista.

Exercitaram-se, então, pacientemente, nos trabalhos de escrita, gravando luminosos ensinamentos dos sábios; e, quando a aflição ou o enigma lhe visitaram a alma, lembrava-se dos Benfeitores Consagrados e nunca permaneceu sem o alívio esperado.

Novamente restituído ao Domicílio do Alto, sempre louvado pela conduta irrepreensível, desceu aos círculos de luta comum para ser lavrador.

Serviu com inexprimível abnegação à gleba em que renascera e, se as dores lhe buscavam o coração ou o lar, suplicava os bons ofícios dos Advogados dos Pecadores e jamais ficou desamparado.

Depois de precioso descanso, ressurgiu no campo humano para exercitar-se no domínio das ciências e das artes.

Foi aluno de filosofia e encontrou numerosas tentações contra a fé espontânea que lhe sustentava a alma simples e estudiosa; todavia em todos os percalços do caminho, implorava a cooperação dos Grandes Instrutores da Perfeição, que haviam conquistado a láurea da santidade, nas mais diversas nações, e atravessaram ilesas, as provas difíceis.

Logo após, foi médico e surpreendeu padecimentos que nunca imaginara. Afligiram-se milhares de vezes ante as agruras de muitos destinos lamentáveis; refugiou-se na paciência, pediu socorro dos Protetores da Humanidade e, com o patrocínio deles, venceu, mais uma vez.

Tamanha devoção adquiriu que não sabia mais trabalhar sem recurso imediato ao concurso dos Espíritos Glorificados na própria sublimação.

Para ele, semelhantes benfeitores seriam campeões da graça, privilegiados do Pai Supremo ou súdito favorecidos do Trono Eterno. E, por isso, prosseguiu trabalhando, agarrando-se-lhes à colaboração.

Foi alfaiate, escultor, poeta, músico, escritor, professor, administrador, condutor, legislador e sempre se retirou da Terra com distinção.

Vitorioso em tantos encargos foi chamado pelo Mestre, que lhe falou, conciso:

- Tens vencido em todas as provas que te confiei e, agora, podes escolher a própria tarefa.

O discípulo, embriagado de ventura, considerou sem detença:

- Senhor, tantas graças tenho recebido dos Benfeitores Divinos, que, doravante, desejaria ser um deles, junto da Humanidade...

- Pretenderias, porventura, ser um santo?- indagou o Celeste Instrutor, sorrindo.

- Sim... - confirmou o aprendiz extasiado.

O senhor, em tom grave, considerou:

- O fruto que alimenta deve estar suficientemente amadurecido... Até hoje, na forma de operário, de artista, de administrador e orientador, tens estado a meu serviço, junto dos homens, junto de mim. Há muita diferença...

Mas, o interlocutor insistiu, humilde, e o mestre não lhe negou a concessão.

Renasceu, desse modo, muito esperançoso, e, aos vinte anos de corpo físico, recebeu do Alto o manto resplandecente da santidade.

Manifestaram-se nele dons sublimes.

Adivinhava, curava, esclarecia, consolava.

A inteligência, a intuição e a ternura nele eram diferentes e fascinantes.

E o povo, reconhecendo-lhe a condição, buscou-lhe, em massa, as bênçãos e diretrizes.

Bons e maus, justos e injustos, ignorantes e instruídos, jovens e velhos, exigiram-lhe, sem consideração por suas necessidades naturais, a saúde, o tempo, a paz e a vida.

Na categoria de santo, não podia subtrair-se à luta, nem desesperar, e por mais que fosse rodeado de manjares e flores, por parte dos devotos e beneficiários reconhecidos, não podia comer, nem dormir, nem pensar, nem lavar-se. Devia dar, sem reclamação, as próprias forças, à maneira da vela, mantendo a chama por duas pontas.

Não valiam escusas, lágrimas, cansaço e serviço feito.

O povo exigia sempre.

Depois de dois anos de amargosa batalha espiritual, atormentado e desgostoso, dirigiu-se em preces ao Senhor e alegou que a capa de santo era por demais espinhosa e pesava excessivamente.

Reparando-lhe o pranto sincero, o Mestre ouviu-o, compadecido, e explicou:

- Olvidaste que, até agora, agiste no comando. Na posição de carpinteiro, modelavas a madeira; lavrador determinava o solo; médico, ordenavas aos enfermos; filósofo arregimentava ideias; músico, tangias o instrumento; escultor cinzelava a pedra; escritor dispunha sobre as letras; professor instruía os menos sábios que tu mesmo; administrador e legislador interferiam nos destinos alheios. Sempre te emprestei autoridade e recurso para os trabalhos de determinação... Para envergares a capa de santo, porém, é necessário aprender a servir...

A fim de alcançares esse glorioso fim, serás, de ora em diante, modelado, brunido, aprimorado e educado pela vida.

E enquanto o Mestre sorria complacente e bondoso, o discípulo em pranto, mas reconfortado, esperava novas ordenações para ingressar no precioso curso de obediência.

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