segunda-feira, 7 de abril de 2025

A falência da antiga fé religiosa

A falência da antiga fé religiosa

Vianna de Carvalho


Recorte do teto da Capela Sistina no Vaticano, pintura de Michelangelo.

Os filósofos racionalistas dos séculos XVIII e XIX vaticinaram, pessimistas, o descrédito, a falência da fé religiosa, porque, então, era destituída da mínima estrutura de lógica para resistir às investidas do bom senso e das conquista científicas.

Fé lavrada na base audaciosa de decretos medievais e bulas esdrúxulas, que soterrou, por séculos a fio, as esperanças humanas da liberdade de consciência e de ação, ao tempo em que postergou as admiráveis realizações do progresso, fator inevitável no fenômeno da evolução e da destinação humana.

Submeteu a cultura à ignorância, o fato à fantasia, escravizou, matou centenas de milhares de vidas, fomentou guerras cruéis, extorquiu e amealhou tesouros fabulosos, não obstante pregando a luz, a liberdade, a vida, a paz, a pobreza, assim escarnecendo da inteligência e do inevitável imperativo da razão humana.

Tentou impedir o raciocínio e impôs-se, a ferro e fogo, a sucessivas gerações enquanto o sopro da renovação varria as suas construções opulentas e frias, que se apresentavam indiferentes ao destino das multidões esfaimadas e desorientadas.

Formulando teses bem urdidas sobre o reino dos Céus, facultava banquetearem-se os seus príncipes, nobres e apaniguados no reino da Terra, a que sempre concedeu primazia e disputou com sofreguidão.

A partir da Reforma Protestante, e mesmo um pouco antes, com os Descobrimentos, depois com a Renascença e o dealbar dos primeiros avanços na área da Astronomia, da Física e da Química, surgiram as brechas nos seus alicerces fortes, que começaram a arrebentar-se, embora tentando silenciar as vozes que proclamavam as extraordinárias conquistas da Vida.

São irrefreáveis as leis do progresso, e o homem, destinado à glória estelar, mesmo com sacrifício, após elaborar o cárcere e as algemas da aflição, liberta-se, a pouco e pouco, avançando no rumo da sua destinação luminosa.

Sentindo o brilho da inteligência e o apelo da fé, ao invés de amparar o seu próximo, explorou-o, no passado, tripudiando sobre a sua ingenuidade, tornando-se, depois, vítima da própria agressividade.

As construções sustentadas sobre os dogmas arbitrários, e as leis injustas que formulou ruíram, cobrindo de desalento aqueles que nelas confiaram, ferindo-os fundamente.

Desmascaradas as maquinações, a realidade desponta, poderosa, e conclama o pensamento a uma revisão histórica, a uma releitura do seu acervo cultural, com discernimento científico, a fim de eliminar as superstições e fetiches que privilegiavam uns, em detrimento de outros.

O estridor inexorável do Conhecimento, qual cinzel insuperável que gasta o bloco de mármore frio do orgulho, nele insculpe a sabedoria e o amor, de modo a assinalarem o novo momento da Humanidade, ávida de liberdade, de justiça, de paz, sem as sombras e os bloqueios da dominação medieval do passado.

Ainda remanescem algumas daquelas situações lamentáveis, decorrentes dos períodos infelizes, em que essa fé cega reinava arbitrária e soberana, como sequelas que degeneram em anarquia e descrença, violência e cinismo que ora varrem o Ocidente, considerado, equivocadamente, cristão.

Sem terem absorvido o espírito do Cristo, os povos e nações que se diziam e afirmavam seguir-Lhe a Doutrina, apenas adaptaram-se à formalística religiosa, que foi estabelecida pelas Igrejas do passado, esquecendo-se totalmente da promoção e dignificação da criatura humana, da elaboração de leis justas e compatíveis com as necessidades da evolução, antes gerando guerras, extorsões e condenando as pessoas às condições mínimas de vida, sem respeito, nem liberdade, em fragorosos atentados à Vida e aos ensinos do Mestre.

Constatada, pelas atuais gerações, a fraude de Deus, isto é, o artifício de usar-Lhe o nome para ocultar a hediondez e o aviltamento moral daqueles que se afirmam Seus servidores, a descrença ganhou as ruas do mundo, estimulando os vícios e a desordem geral, apregoando a decadência dos valores éticos sobre os quais a sociedade erigiu as suas edificações. Proclamou-se, então, a seguir, que o matrimônio, a família, o amor e o respeito pela vida são páginas ultrapassadas da história do homem e que somente o gozo desenfreado, o poder arbitrário, a força argentária e o sexo em desalinho, podem e devem conduzir os destinos humanos em substituição aos anteriores conteúdos morais da sociedade...

Nesse báratro, porém, surpreendendo os profetas da Era da loucura e da geração sem rumo, a dor escarnece das suas arremetidas e os conduz a paroxismos e frustrações inesperadas, tornando-os galés nas barcas da ilusão com as quais pretendiam singrar os mares da existência corporal. Uma sensação de vazio domina-os, e o desencanto atormenta-os, sem conceder-lhes perspectivas de equilíbrio nas filosofias imediatistas do comportamento que abraçam. A onda do desespero cresce e os modismos sucedem-se, sem resultado, deixando-os mais pessimistas e vencidos.

A alma, que havia sido expulsa dos seus painéis mentais, lentamente volta a apresentar-se como indestrutível na sua realidade intrínseca, e a sua presença na vida se faz tão preponderante, que passa a ser reexaminada sob óptica nova.

A escala de valores éticos e humanos é revista, e surge uma fé estribada nos fatos, induzindo a novo e inesperado comportamento emocional e social.

Cansado da descrença, da ilusão e de si mesmo, o homem moderno indaga à ciência a respeito da própria imortalidade e recebe como resposta que esta é a única realidade inevitável, fatalista. Utilizando-se de instrumentos sensíveis, quais a mediunidade humana ligada a delicados aparelhos eletrônicos, demonstram-lhe a sobrevivência do espírito à morte corporal, e a sua destinação, que é a conquista da felicidade, da perfeição.

Diante das evidências, que suportam e vencem todas as cargas de cepticismo que se lhe opõem, a fé inata, sempre presente nos seres, irrompe, ilumina-se com os testemunhos da razão e reassume o seu papel superior na construção do homem novo e da nova sociedade.

O homem redescobre-se e constata que a sua existência na Terra não transcorre ao azar, e que há, em tudo, um fatalismo inevitável, estabelecido por Deus, que será logrado em breve, médio, ou longo prazo, conforme a opção de cada qual.

O progresso moral é impostergável, nesse conjunto de Leis, e as aparentes defecções, quedas e recuos no quadro da civilização, constituem momentâneos estágios para consolidação das bases do pensamento, que sempre arrebenta as algemas com que a ignorância e a prepotência tentam retê-lo. Liberado, permite que os excessos do oposto se assenhoreiem das mentes antes aprisionadas, após o que retomam ao equilíbrio, à conduta saudável.

O Espiritismo, porque descomprometido com as Igrejas, os grupos políticos e os interesses sociais, objetivando o homem e seu progresso, é o portador da nova ética que é a mesma de Jesus Cristo, porém consentânea com os tempos atuais, inaugurando a fé pela razão e o sentimento religioso através da consciência responsável e atuante, na construção do presente digno, pensando no futuro pleno.

Vianna de Carvalho por Divaldo Franco do livro:
Reflexões Espíritas

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